Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 6
Capítulo 6




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Quarta-feira a tarde, Misha e Justin sentaram-se juntos na biblioteca para pensar na história da peça. Provavelmente teriam escrito sobre monstros e piratas se as meninas não tivessem chegado a tempo.

– Ahhhh! Aí estão vocês! – Exclamou Ruby, ao avistar os garotos. – Já começaram a escrever alguma coisa?

– Íamos começar agora... – respondeu Justin sem muito entusiasmo.

– Ótimo! Eu queria pedir uma coisa... – Ruby pareceu um pouco sem graça, o que era um comportamento bastante incomum para ela.

– Pode falar... – dessa vez foi a vez de Misha se pronunciar.

– Eu queria fazer par romântico com o professor Winchester... – disse a menina corando.

– E eu com o Dean! – completou Jo, que até então permanecera calada.

Par amoroso? Os meninos se entreolharam negativamente surpresos. Quem disse que a peça seria um romance açucarado? Protestaram em seguida, mas as meninas insistiram tanto que eles acabaram por concordar. Seria um desafio e tanto escrever alguma coisa que prestasse e que incluísse dois casais... Mas fariam o possível se isso significasse que as duas parassem de encher seus ouvidos.

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Quando a quinta-feira chegou, Sam continuava tristonho. Via Dean pelos jardins e corredores do colégio ao lado de Jo, e isso só o fazia sofrer. Encontrar com ambos para falar sobre uma peça de teatro não o deixava nem um pouco animado... Sua vontade era desistir. Dizer para os meninos que não poderia ajudá-los no projeto... Mas não. Ele era um professor. Um homem adulto. Precisava ser profissional, mesmo que isso o machucasse por dentro.

– Boa tarde! – Exclamou ao ver o grupinho de alunos já esperando por ele.

– Boa tarde! – responderam os alunos.

Sam sentou-se então com os meninos para discutir a tarefa dada a Misha e Justin. Os garotos tinham consigo algumas anotações. Misha se prontificou a ler o que tinham escrito para que todos pudessem ouvir e opinar.

– Bem, ainda não escolhemos os nomes dos personagens – advertiu o moreno – então vou usar o nome dos atores, ok?

Todos concordaram com um aceno de cabeça.

– Bem, essa história é passada há muito tempo atrás, em um reino distante... Dean e Ruby eram dois irmãos órfãos. Eram jovens camponeses que viviam em uma casinha modesta perto de uma estrada, na beira de um belo bosque.

Sam era um nobre viúvo, que tinha uma filha única: Jo.

Sam e Jo sempre passavam de carruagem perto da casa dos camponeses.

– Eu que vou fazer papel do cocheiro! – avisou Justin, interrompendo o colega.

Misha já estava pronto a retomar a leitura quando foi novamente interrompido. Dessa vez, por Jo.

– Mas como a gente vai arranjar uma carruagem? – perguntou a menina.

Misha e Justin se entreolharam. Não tinham a menor ideia...

– Vocês mesmos devem criar os cenários. Usem a criatividade... Desenhem.... Usem cartolina... Tem várias possibilidades... – aconselhou Sam.

Dean suspirou. Desenhar os cenários parecia uma tarefa perfeita para ele. Algo que adoraria fazer... Com certeza teria se prontificado a contribuir com isso se fosse ficar na escola. Mas nem mesmo o papel do tal camponês ele faria... Afinal ele tinha apenas mais um dia de aulas no Saint Peter... Permaneceu calado.

Misha então continuou seu relato.

– Sam e Jo eram muito ricos, mas não eram esnobes. Sempre cumprimentavam os irmãos, e eram generosos. As vezes presenteavam Dean e Ruby com moedas ou frutas quando passavam por eles.

– Tudo ia bem... – prosseguiu Misha – até que Dean e Jo começaram a trocar olhares apaixonados. Um dia Jo foi passear sozinha de carruagem e parou para conversar com o rapaz. Eles então trocaram juras de amor e passaram a se encontrar sempre que possível, escondidos de Sam.

Sam suspirou. Não estava gostando nem um pouco daquela história... Será possível que ele não podia ser feliz nem na ficção?

– Por que precisava ser escondido? – dessa vez foi Ruby quem perguntou. – O Sam não era legal e tudo mais?

– Era... – respondeu Justin – Mas Jo era sua filha única, e mesmo que ele fosse um cara legal, não aprovaria o seu namoro com um pobre camponês...

– Deixa eu continuar! – reclamou Misha – Um dia, para azar dos namorados, Sam, não encontrando a filha em casa, saiu para procurá-la. Com a ajuda se seu cocheiro, ele acabou encontrando o casal namorando na beira de um riacho, no bosque. Enraivecido, Sam deu uma surra em Dean.

– Uma surra?! – surpreendeu-se Sam. Sorriu por dentro. Bem que o seu lourinho estava merecendo umas palmadas. Surra já era um pouco demais...

– É! Porque a gente quer um pouco de ação! – explicou Justin.

– Bem... – prosseguiu Misha – Dean saiu todo machucado. Sam, não satisfeito em proibir que a filha visse o rapaz, ainda se vingou. Com a ajuda de seu cocheiro, Justin, raptou a irmã de Dean: Ruby.

Ruby sorriu. Ser raptada por Sam parecia bastante excitante...

– E depois? – perguntou ansiosa.

– Ainda não acabamos de escrever. Ruby vai virar escrava de Sam, mas eles vão se apaixonar... Dean vai aprender a lutar com um grande mestre: eu! - Misha sorriu. – A história acaba quando Dean volta para lutar com Sam, salvar sua irmã e buscar sua amada. Ele está prestes a matar Sam quando Ruby pede para o irmão poupar a vida do homem que amava. No final os dois casais ficarão juntos.

Jo e Ruby adoraram. Era isso mesmo que elas queriam. Poder contracenar em uma história de amor com seus queridos. Sam achou a história boba e infantil... Mas fazer o que? Eles eram um bando de crianças mesmo... Quanto a Dean, este apenas sentiu-se culpado por ter que desapontar Jo. Ela teria que ficar com outro camponês, não ele...

– Muito bem... – disse Sam por fim. – Está ótimo. – mentiu. Vocês precisam agora escrever os diálogos para que a gente possa trabalhar um pouco na parte da atuação...

– Nós já escrevemos alguns... – respondeu Justin orgulhoso. Ele e Misha haviam trabalhado bastante.

Sam deu uma olhada. Os diálogos escritos eram juras de amor: entre Dean e Jo. A primeira vez que finalmente puderam ter seu primeiro encontro amoroso.

– Ahh vamos ensaiar! – exclamou a menina entusiasmada.

Quem estava na chuva era para se molhar... Sam concordou. Colocou Dean e Jo de frente um para o outro e pediu que lessem os diálogos da forma mais convincente possível.

Dean começou.

– Estou tão feliz de poder finalmente te encontrar... – o menino leu sem muito entusiasmo.

Jo empertigou-se e fez pose de donzela. Olhou o namorado nos olhos e segurou seu braço, como mandava o script.

– Oh, Dean. Você não sabe o quanto eu esperei por esse dia... Poder olhar nos seus... – a menina interpretou de forma tão afetada que Dean não se conteve. Começou a rir.

– O que foi? – revoltou-se Jo.

– Sei lá... Desculpa... Não é você! Esses diálogos que são meio ridículos... – desculpou-se o louro.

– Ridículos nada! – reclamou Misha.

Tentaram uma segunda e uma terceira vez. Mas não teve jeito... Toda vez que Jo fazia bico e cara de besta, Dean caia na rizada.

– Poxa, Dean! Assim não dá... – reclamou a garota.

Sam aproveitou para interferir. O problema não estava nos diálogos, e sim na interpretação de Jo. Se Dean era um ator pouco inspirado, a atuação da menina era totalmente péssima. Dean tinha até razão em rir...

– Jo, tente acreditar no que você fala... Está um pouco exagerado...

A menina tentou mais uma vez. Outro desastre... E as gargalhadas de Dean só serviam para deixá-la mais aborrecida.

– Professor, faz a cena no lugar da Jo... – sugeriu Misha – assim ela pode ver como melhorar...

Sam titubeou. Olhar nos olhos de Dean e segurar seu braço seria um tanto intenso.

– Vamos lá. – falou com coragem.

Dean estava um pouco mais descontraído que de costume, depois de rir da atuação da namorada. Assim que viu-se frente a frente com o professor, entretanto, sentiu seu coração bater mais forte. E se ele risse na cara do homem? Ia ser o maior vexame... Respirou fundo.

– Estou tão feliz em poder finalmente te encontrar... – o menino falou, forçando-se a olhar Sam nos olhos.

Sam estremeceu. Parecia que aquela fala tinha sido escrita para eles...

– Oh, Dean. Você não sabe o quanto eu esperei por esse dia... – o professor então segurou levemente o braço de Dean. O toque foi o suficiente para que o louro se arrepiasse por completo.

– Poder olhar nos seus olhos... – continuou falando, cheio de emoção. Dean não desviava o olhar. A atuação daquele homem era fascinante. Era intensa... Quando ele falava, os diálogos não pareciam ridículos. Eram bonitos... Não dava vontade de rir. E os olhos de Sam também eram tão bonitos... Impossível não notar...

– Poder tocar-te, Dean... Ficar assim, frente a frente contigo... – Os olhos de Sam marejaram. Era maravilhoso poder dizer aquelas palavras, mesmo que o mais jovem não pudesse entender que elas significavam mais que um script de uma peça amadora. Eram a mais pura verdade...

O coração de Dean batia descompassado. Demorou mais do que deveria para perceber que era sua hora de ler o diálogo.

– Pois agora que nos encontramos, eu.. eu.. – gaguejou – nunca mais vou sair de perto de ti... – a voz do menino embargou, e nem ele entendeu porque.

Ouvir Dean falar tais palavras, compenetrado e olhando em seus olhos, era pura emoção. Sam teve vontade de chorar. Engoliu em seco.

– Clap! Clap! Clap! Bravo! – exclamou Misha. Logo os demais alunos estavam aplaudindo também. Isso sim era atuação... O professor Winchester fora perfeito, e Dean, melhor que o esperado...

Os dois ainda se encararam por dois ou três segundos, sem conseguir desviar o olhar. Foram interrompidos por uma batida na porta. Era Brian... O professor de educação física tinha batido na porta e agora enfiara a cara para dentro do auditório.

– Estou interrompendo alguma coisa?

Todos os olhares se voltaram para ele.

– Eu queria conversar com os garotos... – falou. Parecia satisfeito por ter atrapalhado o que quer que fosse.

– Tudo bem, já terminamos por hoje... – respondeu Sam. Ainda estava abalado com o diálogo. Precisava mesmo de um tempo sozinho, para se recompor. - A gente continua na próxima terça-feira... Podem ir...

Dean olhou novamente para o professor, e Sam sorriu para ele. O menino notou duas lindas covinhas se formarem em seu rosto.

– Até segunda-feira. – falou o professor olhando diretamente para ele.

– A... Até segunda-feira... – gaguejou Dean, sentindo-se corar.

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O louro ainda estava trêmulo quando o professor Scott começou a falar sobre o time de basquete com ele e seus amigos.

– Sabia que eu fui colega do seu irmão? – perguntou Brian, entusiasmado, para o menino.

Dean balançou a cabeça negativamente.

Sam , que já ia se retirando, ainda ouviu essa parte da conversa... Por que não tivera essa ideia antes? Tanto quisera puxar assunto com Dean, mas nunca pensara em citar sua amizade com o irmão do menino... Talvez porque falar no primeiro Dean ainda doesse... Ou talvez porque não quisesse importunar o garoto falando sobre o irmão que morreu...

Olhou Brian de soslaio. Não gostava daquele homem tentando conquistar a simpatia do seu bebê. Torceu para que o menino não tivesse o menor interesse em participar do time de basquete. Não dessa vez... Brian e o time já haviam lhe importunado o suficiente quando era garoto.


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