Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 41
Capítulo 40




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A sexta-feira amanheceu chuvosa, estragando o passeio de Justin, assim como o de várias outras pessoas que moravam nos arredores do Castelo. Sam, que estava a quilômetros de distância, ainda pôde desfrutar de um sol fraco e um passeio de caiaque no lago. O feriadão estava apenar começando e ele pretendia aproveitá-lo ao máximo! Seu coração doía, entretanto, ao lembrar-se do namorado. Pobrezinho... Sam torcia para que o jantar de ação de Graças não fosse muito desagradável na casa dos Campbell, e o menino não tivesse um dia assim tão ruim... Winchester jamais poderia supor, entretanto, o quão ruim de fato ele haveria de ser...

Quando Dean despertou, naquela manhã de feriado, a primeira coisa que sentiu foi uma dor muito forte na região das costelas. O menino abriu os olhos, incerto de onde estava e do que acontecera com ele. Não se lembrava mais da conversa que tivera com Brian no início da madrugada. Sequer se lembrava de ter visto o treinador por ali...

O garoto tentou levantar, mas a dor, tornando-se mais aguda, o impediu de se mexer. Foi só aí que ele viu que não estava sozinho. Em uma poltrona, a alguns passos de sua cama, Mackenzie estava sentada, e parecia entretida com uma revista.

Dean estava bastante assustado. Novamente se lembrou de estar dentro do carro de Roger, no meio de um temporal, perseguindo Winchester... E era só. Então tinham sofrido um acidente ou o quê?

– Mackenzie... - ele chamou baixinho. Respirar fazia aumentar a dor. Falar então, mais ainda...

Dean assustou-se ainda mais quando a mulher afastou o rosto da revista e olhou para ele. Mackenzie estava descabelada, com o nariz vermelho e os olhos inchados. Para piorar o aspecto assustador, ela o fitou com frieza e raiva. Como se ele tivesse feito algo de muito ruim...

O garoto estremeceu. Não gostava de se sentir tão vulnerável e impotente diante da irmã, que era capaz de tudo. Onde estavam seus pais para protegê-lo?

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Enquanto isso, Brian acordava em seu apartamento, sentindo-se ainda exausto pelo estresse do dia anterior. O homem então lembrou-se de Patrick Vantouch. Tinha deixado o rapaz dormindo no sofá da sala, depois que este expressou repulsa em voltar para a sua casa. Afinal, como haveria de tomar banho na mesma banheira onde encontrara o amigo ensanguentado, quase sem vida?

Patrick ainda dormia, e Scott, pé-anti-pé, passou por ele e foi preparar o café da manhã. Já tinha avisado aos seus pais que, infelizmente, não poderia passar o dia com eles. Não estava com cabeça para comemorações. O treinador não sabia os planos de Patrick, mas se o rapaz quisesse, poderia ficar por ali. Seria agradável ter companhia naquele triste feriado de ação de Graças...

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Dean olhava arregalado para Mackenzie, com medo de perguntar qualquer coisa.

– Bom dia, irmãozinho... - disse a moça, sem esconder o sarcasmo. - como está se sentindo? - ela perguntou então, aproximando-se do mais novo, e aplicando pressão em suas costelas.

Dean sentiu como se tivesse ido a lua e voltado. Devia estar todo quebrado por dentro... Seus olhos, involuntariamente, se encheram de lágrimas.

– Doeu? - quis saber a loura, mas o menino não respondeu. Não sabia porquê a irmã estava lá para torturá-lo, mas não pretendia mostrar nenhum sinal de fraqueza.

– Pois o que eu vou te contar agora, vai doer muito mais... - completou ela. Seus olhos faiscaram, fazendo Dean gelar por dentro. O menino apenas olhava a irmã, a espera do que quer que fosse.

– A mãe está morta, e o Roger também. Os dois. - disse ela, sem tato nenhum. - O idiota do seu pai com certeza estava nervoso demais pra dirigir, depois que descobriu que o santinho do filho namorava um homem mais velho...

Seus pais estavam mortos? Aquilo só podia ser uma brincadeira de muito mal gosto... Dean não quis acreditar.

– Me deixa... - pediu o louro, em um sussurro.

– Não! Não vou te deixar! - Mackenzie aumentou o tom da voz e parecia verdadeiramente magoada agora. - Por culpa sua a minha mãe está morta! E eu fui deserdada... Pra sempre...

Os olhos da moça enxeram-se de lágrimas, e Dean sentiu um enorme frio na barriga. Seus pais estavam mortos... Mortos de verdade... O menino sentiu como se seu coração tivesse parado de bater. Sentiu como se tivesse deixado de existir. Aquela era a trágica história de outra pessoa... Mas não, Mackenzie não podia culpá-la pela morte dos dois.

– Não! A culpa não foi minha! Eu não fiz nada de errado! - respondeu o garoto com a voz alterada, e esquecendo-se por completo da dor que sentia ao falar.

Mackenzie não discutiu. De um segundo para o outro voltou a mostrar-se fria.

– Pouco me importa... - sibilou ela. - A verdade é que a mãe nunca gostou muito de mim. Por que eu haveria de me importar? E o Roger... Me importo menos ainda... Irônico pensar que o filhinho que eles tanto amavam foi quem causou sua morte...

– Já falei que a culpa não foi minha! - Dean agora praticamente gritava. Mackenzie tinha que entender que ele não fizera nada que justificasse aquela acusação.

– Já falei que tanto faz... - insistiu ela, secamente. - Você vai herdar tudo, mas como é menor de idade, não faz a menor diferença. Eu sou sua guardiã legal. E dizendo isso, Mackenzie soltou uma rizadinha debochada e se retirou, deixando Dean sozinho para digerir tudo o que acabara de escutar.

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– Como mais uma panqueca, Patrick... Você comeu pouco... - insistiu Brian.

O rapaz não quis aceitar. Estava sem apetite... Queria voltar ao hospital para saber notícias de Skye, mas Scott convenceu-o que telefonar era a melhor opção. Não adiantava nada passar o dia todo na sala de espera... Se seu amigo acordasse, o que seria um milagre, aí sim, fazia sentido ir visitá-lo.

Scott ligou. Skye estava na mesma... O treinador perguntou também por Dean. Seu coração doía só em pensar o quando o menino sofreria ao receber a notícia da morte dos pais... Ficou feliz em saber que Mackenzie estava com ele. Talvez, mais tarde, pudesse dar uma passadinha para visitá-lo... Ou talvez não... Aquele era um momento delicado, e com certeza ele e irmã preferiam privacidade... A verdade é que Scott se culpava cada vez mais pelo acontecido, e tinha medo de encarar de frente o sofrimento do garoto.

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Quando Mackenzie saiu, Dean sentiu-se perdido. Seus pais estavam mortos... Os dois... Como assim? O menino estava em choque. Ele simplesmente não conseguia lidar com tamanha carga emocional. Sendo assim, apenas fitou o teto, com a mente limpa de qualquer pensamento. A dor nas costelas, que antes era quase insuportável, ele agora mal reparava. Era como se estivesse em estado de torpor, tanto físico quanto emocional.

E olhando para o teto ele ficou por quase duas horas, e poderia ter ficado por muito mais tempo se não tivesse sido interrompido.

– Vim te buscar para dar uma voltinha no pátio! - disse a enfermeira, sorridente. - Não está mais chovendo, e apareceu um solzinho gostoso. Vai te fazer bem... - completou.

Dean preferia ficar onde estava, por pura comodidade, mas dava mais trabalho reclamar com a mulher que aceitar sua proposta. Na verdade, para ele tanto fazia... No quarto ou no pátio... Tanto fazia.

Quando a moça pegou uma cadeira de rodas para acomodar seu paciente, assustou-se com a pergunte que ele lhe fez, de forma corriqueira, como se sua resposta tivesse pouca importância.

– Eu fiquei aleijado?

– Claro que não, menino! - respondeu a enfermeira, enfática. - Você quebrou duas costelas. Vai ficar bom logo logo... A cadeira é pra te dar mais conforto. É bom não se esforçar demais.

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– Eu sabia que Skye estava deprimido... Eu devia ter feito alguma coisa... Insistido pra ele procurar ajuda médica... - lamentava-se Patrick.

Brian olhou o rapaz com compaixão. Não tinha sido culpa dele... Ele, Brian, tinha muito mais culpa na morte dos Campbell, mas não sentia-se a vontade para desabafar a respeito. Melhor deixar que Patrick falasse mais sobre o que estava lhe incomodando.

O mais novo então contou sobre o quanto Skye parecia apático ultimamente. Não apreciava mais fazer as coisas que antes lhe davam prazer... Não tinha nem vontade de sair da cama...

– Skye é homossexual e se aceita do jeito que é... Mas imagino como deve ser difícil pra ele ter uma família que acha que isso é algo inconcebível... Acho que no fundo Skye se sentia todo errado... Não dava pra evitar... Muito triste o que o preconceito é capaz de fazer... - lamentava-se Vantouch.

Brian suspirou. No caso de Skye talvez fosse melhor mesmo que os pais tivessem simplesmente aceitado... Era difícil julgar. Seu estado emocional estava tão abalado... Brian sentia-se confuso com todos os acontecimentos trágicos que o rodeavam.

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Dean estava agora sentado na cadeira de rodas. Ao seu redor haviam outros pacientes, a maioria velhinhos, e em estado bem mais grave que o dele. Muitos estavam com um ou até mais acompanhantes. O menino não tinha nada para fazer a não ser olhar para eles e para os pássaros que ciscavam pelo chão de terra. Ele não pensava em nada. Não sorria. Não chorava. Simplesmente observava...

Uma mulher exercitava os braços, com ajuda da enfermeira. Um velhinho dava voltas pelo pátio, de mãos dadas com a esposa. Outras duas senhorinhas conversavam, lamentando-se das desgraças da vida.

Dean viu um menino ruivo, talvez da mesma idade que ele, com a expressão abobalhada, babando. Parecia ter sérios problemas motores e mentais... Um pássaro, recém saído do ninho, piava pedindo comida. Em seguida apareceu sua mãe, carregando algo no bico, pronta para alimentá-lo... E então uma menininha surgiu de repente, correndo, e sorrindo se jogou nos braços de um paciente.

– Papai! - exclamou a pequena, com entusiasmo.

Nessa hora a mãe do rapazinho ruivo foi até ele e lhe deu um beijo na testa. Ele riu, riu sem parar... E Dean finalmente aliviou-se da dor que tinha presa no peito... Lágrimas abundantes rolavam de seus olhos agora. Ele queria o seu pai. Queria a sua mãe. Queria poder correr para eles e receber beijinhos na testa também. Queria colo, abraço, amor e carinho. Queria ser protegido de toda a tristeza que não cabia mais dentro de si.

E então ele chorou, chorou e chorou, compulsiva e desesperadamente, percebendo o que significava a perda dos dois. Nunca mais os veria... Nunca mais os teria... Estava fadado a viver com um buraco no peito pro resto da vida. E ele não tinha nem dezesseis...

A culpa era sua... Mackenzie nisso, tinha razão... Poderia ter lhes contado a verdade... Poderia ter sido mais cuidadoso... De uma forma ou de outra, poderia ter evitado aquela tragédia.

Dean soluçava tão alto que não demorou a chamar a atenção da enfermeira, que o levou de volta ao quarto, tentando confortá-lo com palavras de apoio. Mas ele precisava de mais. Precisava do carinho e abraço de alguém que o amasse... E essa pessoa jamais seria Mackenzie... Dean precisava de Sam.

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Dean não custou a achar seu celular assim que resolveu procurá-lo. Encontrou-o em meio aos pertences que tinham sido retirados do carro. Estavam todos guardados em seu quarto, dentro de uma gaveta. A enfermeira, prestativa, lhe emprestou um carregador.

Agora doía tudo. Seu corpo inteiro latejava, e piorava ainda mais com o choro incessante. Mas ele não conseguia parar... Pensar que não veria seus pais novamente destruía-o por dentro.

Dean sabia que onde Sam estava não havia sinal. Mesmo assim, não custava tentar... Trêmulo, em meio às lágrimas, discou o número do namorado, mas caiu na caixa postal. O menino então mandou uma mensagem desesperada: "Volta agora, por favor. Preciso de você! Me liga."

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Enquanto isso, Sam, Megan e seus pais faziam um piquenique perto do lago. Ben não podia estar mais feliz, correndo de um lado pro outro e ganhando pedacinhos de carne.

– pi!!!

Aquele era o seu celular? Seria uma mensagem do seu neném? Sam surpreendeu-se. Não pensou que fosse conseguir sinal em momento algum durante aquela viagem. O homem tirou o aparelho do bolso e examinou-o curioso.


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