Dezesseis Anos e Meio escrita por Lady Padackles


Capítulo 14
Capítulo 14


Notas iniciais do capítulo

Para compensar a demora do capítulo anterior... Este está vindo rapidinho! Espero que gostem!



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Era Terça-feira. Dean acordou cedo pela manhã. Precisava procurar Brian e desabafar... Alguém precisava saber o que se passava com ele... Era normal que estivesse apaixonado daquela maneira por um professor? Seria melhor tentar mostrar seu interesse, ou escondê-lo a todo custo? E se Sam percebesse. Será que riria dele? Já estava conformado em ser gay, mas não queria ser motivo de piada...

Por mais nervoso que estivesse em abrir seu coração, o menino estava tão confuso que não queria mais adiar a conversa. Abordaria Brian um pouco antes do treino de basquete. Em geral o homem ficava de bobeira, fazendo hora perto da quadra.

Dean se trocou com dificuldade. Ainda não estava acostumado com a perna engessada. Andar de muletas, sem tocar o pé direito no chão, era também bastante cansativo. Mas nada disso iria impedi-lo de procurar Brian Scott... Para sua sorte, não custou muito a encontrá-lo.

– Bom dia, treinador - cumprimentou Dean.

– Bom dia, Dean!

– Err... Eu queria conversar com você... Tem um tempinho agora, antes do treino? - pediu o garoto, se enchendo de coragem.

Brian estufou o peito. Desde o dia anterior não conseguia pensar em outra coisa senão em como arrancar a verdade de Dean. Sam precisava pagar por corromper aquele menino, e ainda ser violento com ele... Agora sentia-se embevecido por não ter precisado fazer nada a respeito. Dean, pelo jeito, estava prestes a contar-lhe tudo por vontade própria. Era óbvio, pela seriedade no tom de sua voz, que era esse o assunto a ser tratado. E ele, Brian, treinador e mentor do garoto, fora escolhido para o desabafo...

– Preciso buscar um material no meu gabinete. Vai indo para a quadra que a gente conversa por lá, em algum canto reservado. - respondeu então o homem, sem esconder o contentamento. Depois disso, Brian saiu apressado. No caminho, esbarrou com Sam Winchester...

– Você está ferrado, Sam. Ele vai me contar tudo, e vou te colocar na cadeia... - ameaçou em voz baixa e entre dentes.

Sam olhou para ele estupefato. O homem estava louco... Pirara de vez... O sorriso estranho e as palavras sem sentido eram prova disso... De uma certa forma Sam sentiu-se aliviado de Dean não poder jogar basquete por uns tempos...

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Dean já estava cansado quando chegou até a quadra. Demorou uma eternidade para fazer uma caminhada que antes levaria poucos minutos. Era provável que Brian, que viria andando por outro caminho, já tivesse até chegado. Para seu desânimo, não viu o treinador por ali. Quem sabe não estivesse no vestiário? O louro seguiu até lá e avistou o Brian de longe. Bingo! Já ia chamar por ele quando notou que este, com a voz alterada, parecia estar dando uma grande bronca em alguém. Talvez fosse melhor esperar...

– Vocês não podem fazer isso! Não sabem que é pecado? Dois homens juntos... Dois homens... - berrava Brian.

Arregalado, Dean não resistiu e deu uma espiadinha. Pablo, o "Navalhada", e Christian, o garoto mais baixinho do time, estavam diante do treinador e pareciam brancos de susto.

– Desculpa, treinador - Pablo falou com a voz trêmula. - Nós não deveríamos ter feito isso aqui no vestiário...

– Não, garoto... Você não entendeu! Vocês não podem fazer isso aqui e nem em lugar nenhum! Deus criou o homem e a mulher, dois sexos diferentes, com objetivo de procriação. Isso que vocês estão fazendo é pecado! É errado! É contra a vontade de Deus.

Dean teve vontade de fugir dali... Ao mesmo tempo, estava curioso. Então Brian tinha pego Pablo e Christian juntos? O discurso que fazia para os dois não era nada agradável... Pela primeira vez na vida o louro simpatizou com "Navalhada". Coitado... Brian pelo jeito era totalmente averso a relações homossexuais.

Nos segundos que se seguiram, ouviu-se apenas silêncio. Com mais uma espiadela Dean notou que Christian chorava.

– Olha, eu não estou brigando com vocês... É que eu me importo. Não quero meus alunos indo pelo caminho do pecado... - disse então Brian com a voz mais mansa.

– Eu sei que existem tentações. - continuou. - É normal... É humano... Mas vocês precisam arranjar um jeito de resisti-las... Conversem com um padre, peçam perdão. Deus é piedoso e haverá de guiá-los pelo caminho do bem.

– Obrigado professor... Nós vamos seguir seu conselho...

Dean não soube se Christian agradeceu para se livrar do treinador, ou se realmente estava agradecido pelo puxão de orelha que acabara de receber... Antes que pudesse tirar uma conclusão, o louro ouviu passos em sua direção. "Navalhada" e seu namorado passaram por ele tão depressa que nem notaram sua presença ali.

– Dean? Você chegou agora?

Era o treinador Scott. O menino estremeceu.

– Sim, acabei de chegar. Essa perna me deixa lento como uma tartaruga... Aliás, tartaruga não... Que tartaruga nem é tão lerda assim... Mais tipo uma lesma, e... - o louro gaguejava.

– Tudo bem... Vamos sentar aqui no vestiário mesmo. Está vazio. - disse o homem apontando para um dos bancos mais próximos.

Dean sentia-se trêmulo. E agora? Falar sobre seus sentimentos por Sam seria suicídio. Não estava ali para ser jogado na fogueira...

Brian olhava para o menino com seriedade e compaixão. Estava a espera de alguma revelação catastrófica.

– Errr... Professor... É... Eu queria pedir desculpas por ter sido tão descuidado... E ter que sair do time por causa dessa perna...

– Dean, a culpa não foi sua... - respondeu o professor mansamente. - Vamos, pode me contar a verdade.

Dean arregalou-se.

– Que verdade? Eu escorreguei...

– Não. Eu sei que quer me contar tudo, mas está sem coragem... Vamos menino... Você não pode guardar isso pra você. Desabafa! Vai se sentir melhor... Quem empurrou você da escada?

Como Brian sabia que ele tinha sido empurrado? Dean permaneceu calado e boquiaberto. Não sabia exatamente o que dizer.

– Pode me dizer, Dean... - insistiu o homem. - Quem te empurrou não te ama. Quem ama não faz o que fez... Você poderia ter batido a cabeça. Até morrido, sabia?

Dean já estava com os olhos úmidos. Mackenzie não o amava mesmo... Pouco se importava se ele estava vivo ou morto. Nem mesmo ligar para saber dele ela fez... Desapareceu do mapa desde a noite do incidente.

– Alguém abusou de você, não foi? - Brian, vendo que Dean agora mal conseguia segurar as lágrimas, bufava de ódio. Odiava Sam Winchester da pontinha dos pés até a raiz dos cabelos.

O menino balançou a cabeça, negando a afirmação.

– Ele não chegou a abusar de mim... A minha irmã chegou bem na hora!

O professor arregalou os olhos. Do que Dean estava falando? Ele não estava sozinho com o Winchester? Por que a irmã não delatou o professor pedófilo, se chegou a vê-los juntos?

– E foi ela... - o queixo do menino tremia sem parar e as lágrimas agora escorriam com abundância. Era duro dizer a verdade. - Foi Mackenzie que me empurrou. Ela achou que eu tivesse dando em cima do namorado dela...

Brian ficou abismado quando o garoto finalmente contou toda a história. Por essa ele não esperava... No fundo estava aliviado por Dean não ter sido ainda tocado por outro homem. O louro era inocente como um querubim recém-nascido. Sua irmã, em compensação, era uma pessoa odiável. Merecia estar na cadeia juntamente com o seu namorado: Sam Winchester.

– O namorado da sua irmã trabalha aqui nessa escola, não é? Pode falar, Dean. Eu estou ao seu lado.

– Saul? - por essa Dean não esperava. - Não... Pelo que eu saiba ele está desempregado já há algum tempo. Antes trabalhava em uma lanchonete, mas foi demitido...

Saul? Como assim, Saul? Brian olhou aturdido. Então o que Sam Winchester tinha a ver com essa história toda?

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– Errr, Sam...

Oh não... Brian de novo não... O dia estava tão agradável...

– Fala, Brian... - Sam olhou para o treinador de basquete com pouca paciência.

– Errr... Desculpa o que te falei hoje cedo... Esquece aquilo, tá? - disse sem graça.

– Já esqueci...

E Sam já tinha esquecido mesmo. Tinha alguma coisa a ver com "ir para a cadeia". Mas o que loucos falam não se escreve...

– Toma... Eu trouxe um chocolate quente pra você... Eu sei que você gosta e... - Brian estendeu o copo em direção ao colega.

Sam não estava entendendo mais nada, mas adorava chocolate quente... Agradeceu. Estava gostoso. Brian sorriu para ele, da maneira mais amável possível, e se retirou. Talvez o Scrotto não fosse uma pessoa tão odiável assim afinal...

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Foi na terça-feira a tarde, durante a reunião da peça de teatro, que Sam finalmente pode examinar melhor o estrago no lindo corpinho do seu amado. Tinha sido uma queda e tanto... Hematomas pelo braço e no queixo, um corte na lateral do pulso, e um raladão na testa, fora a perna quebrada... Sam estremeceu só de pensar no susto e na dor que Dean haveria de ter sentido.

– Essa cadeira não está desconfortável? Coloca a perna aqui em cima... Espera, vou buscar uma almofada...

O professor saiu apressado. O louro, apesar de envergonhado com toda a atenção que recebia de seu amado, sentiu-se nas nuvens. Além de lindo, inteligente, talentoso e tudo mais, Sam era também atencioso e prestativo.

Sam correu para o seu quarto e buscou uma almofada bem fofinha. Aproveitou também para pegar o que restava de um saquinho de balas que tinha guardado. Elas eram importadas da Alemanha, e deliciosas. Se Brian podia sair por aí distribuindo chocolate quente, ele podia distribuir balas...

– Aqui... Veja se está melhor assim... Se você deixar sua perna no alto, evita que ela fique inchada... - explicou o homem, assim que voltou com o objeto macio e o ajeitou pessoalmente embaixo na perna do menino. - Ahhh... E eu trouxe essas balas pra você... Ajudam a distrair...

Dean corou e sorriu sem graça. Seria possível se apaixonar ainda mais por Sam Winchester? Segurou as balas, com as mãos trêmulas. Nunca recebera um presente tão especial. Por um momento, era o garoto mais feliz do universo.

– Obrigado. - Disse quase aos sussurros. Sua voz simplesmente não saia...

– Me dá uma? - pediu Ruby.

Dean não queria ser grosso, mas não queria também dividir nada que ganhasse de Sam. Aquelas balas seriam saboreadas na calada na noite, ao som de músicas de amor. Não eram para o bico de ninguém mais. Principalmente daquela morena oferecida... O louro fingiu não ouvir. Começou a falar sobre qualquer outra coisa e guardou todas elas em sua mochila.

– Almofadinha... Balinhas... Assim até eu queria quebrar a perna... - Dean ainda ouviu Ruby resmungar. Teve vontade de rir, mas se controlou. Melhor ignorar.

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De noite, em seu quarto, Dean se dividia entre pensar em Sam e lembrar da conversa que tivera com Brian. Sentia-se um pouco aliviado por ter contado toda a história para o treinador. Era ruim ter que guardar para si um segredo tão terrível... Ao mesmo tempo estava nervoso com a reação que teriam seus pais. Brian Scott convenceu-o que eles precisavam saber a verdade, e disse que o ajudaria com isso. Marcara uma reunião com os Campbell na sexta-feira, quando fossem ao colégio buscar o filho.

Ahhh, mas melhor parar de pensar nisso... Sam lhe dera balinhas de presente. Segurara sua perna e ajeitara cuidadosamente em cima de uma almofada... Podia existir felicidade maior? O garoto sentia vontade de pular pelo quarto todo. Mas seria errado ele se sentir assim? Apaixonado por alguém do mesmo sexo? Talvez... O professor Brian acreditava que sim... O louro suspirou. Bem, problema. Ele não mandava em seu coração... Era só não contar sobre isso para ninguém.

Dean fechou os olhos e enfiou uma das balas na boca. Era macia e suculenta, com gostinho de uva. Dean nunca mais esqueceria o sabor que ela tinha...


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