Apenas Corte escrita por Aprimorada


Capítulo 7
Festa.


Notas iniciais do capítulo

Boa Leitura



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Eu só poder tirar toda essa dor de dentro de mim. Queria poder dormir e quando acordar ver que tudo aquilo era só um pesadelo terrível, mas eu não posso, e esse é o problema que eu estou começando a ficar sem forças para lutar. Grande pensamento que invade minha mente todas as manhãs, aquela grande guerra que travo comigo todos os dias, é uma luta, que eu vejo que estou começando a perder. Me levantei sem coragem alguma, e fiz como sempre de costumo faço, entro no banheiro e meu olhar sempre se pega no espelho, me assusto, alias o espelho não tem sido muito gentil comigo. Nunca foi, na verdade. Não gosto do que ele reflete mas parece tão complicado mudar. Pelo menos hoje é sábado e eu não tinha que aturar aquela escola, mas hoje tem aquela festa, do Alex e infelizmente eu tenho que ir. Será uma grande tortura, mas fazer o que. Desci para tomar café da manhã e meu celular tocou, não reconheci o numero, mas atendi.

Alo?

Sai ai.

Uma voz aguda e feminina saiu do outro lado da linha. Então fiz o que me foi pedido e sai. Me deparo com Charllote, irmã de Alex, com um grande sorriso estampado no rosto, aqueles dentes grandes e brancos que eu tanto invejava. Sai meu sem jeito, de cabeça baixa, enquanto passava uma mão sobre a outra, ela agarrou meu braço e me jogou dentro do carro, só me disse que Alex pediu para ela dar uma ajudinha para mim. Ela começou a dirigir, eu nem sabia que ela podia dirigir, em seguida aumentou o som, e foi em direção a uma casa. Saímos do carro e caminhamos até a entrada. Trocamos poucas palavras, ainda o assunto não fluía entre a gente. Charllote tirou um monte de tranqueira de dentro de seu guarda roupa, disse que ela iria me ARRUMAR, me fazer uma nova pessoa, fiquei surpresa, mas eu queria aquilo, queria ser igual a ela. Aquela menina tão linda de longos e lisos cabelos negros e olhos azuis. Nossa, como eu a invejo. Isso até me dói um pouco, querer ser tanto igual alguém. Então ela começou, fez luzes no meu cabelo, cortou as pontas, fez um trabalho muito bom, que me deixou surpresa no final. Ela trouxe o espelho e eu não acreditei no que vi, era eu, mas de um jeito diferente, até um pouco bonito.

Vai pra sua casa, toma um banho e vem pra cá. Tenho uma roupa pra ti emprestar, porque a gente vai naquela festa. Meu irmão vai se surpreender.

Alex, vai se surpreender? Como assim?. E fiz o que fui ordenada a fazer. Fui pra casa e entrei no banheiro. Um banho morno apreciando a temperatura da água, olhei para meus braços e vi as cicatrizes, e aquilo abriu o corte em meu peito, e as lágrimas escorreram. Não sei bem o motivo, mas doeu, como se fosse uma facada, literalmente, uma faca sendo enfiada em meu peito. Nossa como doía. O choro se alastrou e o abafei com a mão no rosto, enquanto as lágrimas se misturam com a água morna do meu velho chuveiro. Enquanto toda essa melancolia se alastrava em meu banheiro. Aquilo tudo me machucava ainda mais, mas tentei não me importar, coloquei uma roupa qualquer e sai de casa, sem se quer dar satisfação para o meu pai, ele não merecia saber. Fui até a Charllote e ela já estava se arrumando, ela jogou uma roupa sobre a cama e disse “É sua”. Olhei para aquelas peças e não faziam o meu estilo, mas as peguei e fui me vestir. Era um shorts curto, não tão curto, uma blusa que mostrava a barriga e um daqueles tênis snearkes, me vesti e até que gostei do que vi. Sai do banheiro e Charllote deu um grito “VOCÊ TA UMA GOSTOSA”. Ri sem jeito, enquanto ela me atirou na cadeira e começou a me maquiar, fiquei com medo de sair de lá igual uma puta, igual a Charllote parecia ser muitas vezes, mas depois. Eu não acreditei no que vi no reflexo do espelho. Como, eu estava diferente, me achei bonita, na realidade me achei linda, e era uma surpresa pra mim, já que sempre me achava ridícula, magrela e nojenta. Eu me senti bem, como a tempos não me sentia. Como era boa aquela sensação, a sensação de gosta de mim, nem que fosse só por uma noite. Saímos de casa para ir para a festa. Sentia borboletas no estômago e um frio incrível no mesmo lugar que era estranho de mais, era um tal de medo que me fazia se sentir assim. Assim que chegamos, todos os olhares se voltaram para mim, ouvia algumas conversas, como do tipo “Como ela mudou.” “Quem é essa?”. Coisa que eram até desgastantes de se ouvir, mas até ai tudo bem. Avistei Alex de longe e quando ele me viu, ele ficou meio bobo, com um sorriso lindo que eu nunca tinha reparo, em aproximei e lhe dei um abraço e ele me disse:

Você esta incrível! Mais tarde vou falar com você, ta?

Minhas bochechas coroaram e senti meu rosto queimar. Nossa, que vergonha eu senti, fiquei totalmente sem reação, fiquei boba. O que será que ele quer falar comigo? A festa até que estava legal e eu aproveitei o máximo que podia. Deu uma volta pela casa e me deparei com Jeremy, meu coração gelou, senti minhas pernas moles e bambas, minha boca ficou seca e minha respiração ofegante. Ele se aproximou de mim e disse:

Você esta tão diferente. Linda!

Obrigada, eu acho.

As palavras saíram falhadas de minha boca. Ele ficou me olhando, de um jeito diferente, nunca senti isso, parecia que ele havia gostado. Então era só isso, era só trocar de roupas, arrumar o cabelo, uma boa maquiagem, que eles vão ti querer? Que hipocrisia, fiquei até feliz, mas ao mesmo tempo triste. Não queria que alguém gostasse de mim pelo o que eu aparento, mas sim pelo o que eu sou. Fiquei mais algum tempo na festa e Jeremy não tirava os olhos de mim, fiquei até sem jeito. Sabe, o amor platônico é um amor à distância, que não se aproxima, não se toca, não se envolve, é feito de fantasias e de idealização, onde o objeto do amor é ser perfeito. Eu não sei ainda quanto tempo aguentarei esse amor, viver assim, em pequenos pedaços. Enquanto estava totalmente perdida em meus pensamentos, uma garota passou por mim e derrubou um copo de bebida em mim, me sujando toda.

FICA MESMO NO MEIO PIRANHA

Ela gritou tão alto, enquanto agarrava meus cabelos, que todos começaram a olhar e riram. Eu me senti humilhada, me senti um lixo e a única coisa que podia fazer, foi correr. Sai correndo por aquela rua escura e vazia, corri como nunca havia corrido. No meio do caminho, senti minha pernas falharem e eu cai no chão, e gritei “AHHH!PORQUE?” O choro continuo alto e eu me debrucei no chão, como aquilo doía. Talvez eu tivesse exagerando, mas sempre passar por aquilo, era muito difícil, muito doloroso, por toda aquela humilhação. Eu pensei que talvez fosse mudar, mas eu só estava me enganando, tudo isso, nunca vai mudar, nunca. Eu sempre serei essa merda toda que eu sou.

Consegui criar forças e fui até a minha casa, corri para o quarto e o tranquei, e fui ao banheiro, peguei minha bela lâmina. Afundei o pequeno objeto prateado em minha pele e senti a endorfina percorrer meu corpo e logo a sensação conhecida por mim, voltou a me tomar. Um alivio tão grande, consigo finalmente relaxar e finalmente esquecer a dor que há segundo atrás me consumia. As lágrimas continuavam a escorrer pelo meu rosto, que borrava toda a maquiagem impecável, mas elas não fazem mais efeito. Elas já fizeram efeito, um dia. Mas foi há tanto tempo. Peguei uma toalha para estancar o sangue que ainda teimava em escorrer de meu braço, depois deitei-me ali no chão gelado mesmo e fiquei encarando meu braço completamente marcado.

“Fraca!” uma voz em minha mente gritou. Hoje eu fiz dez cortes, revezei cinco para cada pulso. Eram grandes, mas não tão fundos como eu desejava. Eu queria que doesse cada vez mais, que perfurasse minha carne, que a dor me purificasse. Que o sangue me absolvesse. Continuei encarando as cicatrizes. Inúmeras. São grandes, feias. Elas precisavam de pontos, mas eu não fui ao hospital para fazê-los e nem iria. O que diriam, afinal? Que eu era louca? Ou que eu estava possuída? Talvez dissessem as duas coisas.

“Você deveria procurar ajuda” dizia a voz na minha cabeça, ignorei como sempre fazia. Porque eu estava perdida, cortada, machucada, se debulhando em lágrimas e agarrada a uma lâmina como uma criança ao seu cobertor de noite. Mas isso já era normal e fazia parte da minha rotina, só que essa voz não entendia que a tendência era piorar, se é que tinha como. Eu não entendia que não havia mais esperança, as coisas eram como eram e eu já havia aceitado isso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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