Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 29
Meus Motivos


Notas iniciais do capítulo

"Toda ação humana, quer se torne positiva ou negativa, precisa depender de motivação." - Dalai Lama



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Primeiro, Don olha confuso para mim, não conseguindo compreender. Em seguida, ele respira fundo e sorri.

–Eu... Eu nem sei o que dizer, Matt... Eu realmente não mereço nada além da morte agora cara.

–Deixe seus lamentos pra depois, Don. Mas se você ousar me enganar como Chang fez, pode se considerar um homem morto.

Ele ri.

–Parece que a cidade deixou você mais corajoso! Já está fazendo ameaças... Nem parece aquele cara que estava se derramando em lágrimas ao ver o corpo de Anette!

Reviro os olhos. Parece que ele voltou a ser o idiota de sempre. De qualquer forma, vou ter que me acostumar. Salvar Mateus e Anette sozinho aqui nessa cidade seria praticamente impossível, então eu tenho contar com toda e qualquer ajuda que conseguisse, mesmo que ela viesse de Don. Eles agora são a minha prioridade. Chega de procurar por mitologia ou coisas relacionadas à história. Preciso tirar ela e Mateus daqui e descobrir o que puder sobre minhas relações com esse lugar. Eu já sei que sou o protetor sagrado e que minha família tem alguma coisa a ver com a Ordem, mas preciso descobrir o porquê de tudo isso ter acontecido logo comigo, o porquê dos sonhos, o porquê de toda aquela vontade de descobrir o sobrenatural, de descobrir Silent Hill.

–Então... Pra onde vamos? – ele pergunta quebrando o silêncio.

Olho ao redor pelo Rosewater Park. Vejo a névoa e as cinzas caindo sobre aquele lugar dando a ele um clima completamente cinza esbranquiçada, como se fosse uma mente de alguém que não tem memória boa. Um lugar aonde as coisas iam sendo descobertas aos poucos. Tiro o objeto do bolso da calça e o olho atentamente. Ainda não era o momento de mudar a realidade do local. Precisava encontrar Mateus, ou pelo menos o espectro dele. Ele que me guiou da primeira vez e tinha me feito entrar na cidade novamente. Eu sei que tenho que chegar até o santuário, mas preciso dele pra me mostrar por onde devo caminhar. Foi aqui, nesse mesmo lugar onde eu o vi pela primeira vez. Ele carregava um pequeno ursinho nos braços e tinha cara de amedrontado, como se estivesse desesperado à procura do pai... Pai. É então que me lembro, finalmente me lembro: Mateus estava à procura do seu pai; Angela tinha problemas com seu pai e o matou; Anette perdeu o pai em Silent Hill; Don matou seu pai enquanto estava drogado... Restava eu. Eu estava aqui, e de alguma forma tinha algum problema que precisava ser resolvido, algum problema com meu pai! Como pude ser tão idiota e negligenciador das minhas próprias lembranças?! Era isso! Eu estava aqui em Silent Hill para encontrar meu pai, ou pelo menos o que restou dele em minhas memórias.

[Estamos parados de frente ao lago. Há alguns barcos parados, ancorados por cordas ao cais. A luz acima brilha com uma fraca intensidade, deixando o local com uma aparência mística. Meu pai olha atentamente pra mim, tentando sorrir.

–Filho, você vai gostar daqui quando vier pra cá.

Meu rosto está trancado. Estou com onze anos e meu pai fala sobre vir a Silent Hill ano que vem, morar com minha tia Yana. Particularmente, eu não quero. Meu pai caminha em direção ao barco e se senta. Era um domingo pela manhã, estava um pouco frio e a névoa tomava conta da cidade, deixando pouco visível o lago e até mesmo o outro lado, onde ficava o Lakeview Hotel, onde meus pais passaram sua lua de mel.

–Como assim pai? Vamos atravessar o lago sozinhos?

Meu pai sorri ao olhar pra mim.

–Entre dentro desse barco e quando estivermos flutuando pelo lago você não vai querer mais sair.

Ainda estou com um pouco de medo. Meu pai bebeu um pouco, então não sei como vai ser. Como Silent Hill é uma cidade com poucos habitantes, praticamente abandonada, não há mais ninguém por perto e se o barco afundar, estamos sem coletes salva-vidas, eu não sei nadar e não tem ninguém que possa nos ver ou pra quem poderíamos pedir ajuda. Meu pai sorri, mas me sinto tremer, tanto pelo frio como por medo. Começo a pensar se meu pai queria me mostrar a cidade, tentando me incentivar a morar aqui ano que vem. Sinceramente, não vejo o porquê disso tudo. Nunca precisei morar aqui, principalmente vendo que a cidade quase não era habitada. Eu não teria futuro aqui.

–Tudo bem rapazinho?

Entro no barco e me sento de frente pra ele, acenando com a cabeça e respondendo que sim. Meu pai começa a remar em direção ao outro lado, próximo ao cais. Ele sorri, mas eu pouco vejo alguma coisa no lago enevoado. O barco vai ganhando velocidade e a viagem começa a ficar mais agradável. Coloco a mão na água gelada do lago, agitando também o ar enevoado ao redor. Volto meu olhar pro meu pai, que me olha como se realmente sentisse por me fazer vir morar aqui ano que vem. Mas porque tudo isso? Não poderia simplesmente continuar morando com eles?

Durante cinco minutos ficamos em silêncio, ouvindo apenas o fraco barulho do barco navegando sobre a água do lago. Depois disso, um solavanco indica que chegamos ao cais e tiro meu olhar hipnotizado pela água cinza do lago e o volto para a grande construção, o Lakeview Hotel. Descemos do barco e subimos pelas escadas em direção ao jardim.

–Filho, depois desse hotel tem um parque muito legal. Você virá outras vezes com sua tia aqui.

Ele me leva pelo jardim, chegando até a porta principal e abrindo-a. Vejo o longo corredor vazio e escuro.

–Esse lugar já foi bem frequentado, sabia? Quando você vier pra cá, vai morar aqui nesse hotel.

Tento sorrir, mostrando pro meu pai que estou assimilando a ideia. Mas no fundo, eu não quero vir pra cá, não mesmo...]

De repente vejo Don me olhando.

–Cara, isso é comum? Quer dizer... Ficar assim no mundo da lua?

Com certeza Don voltou a ser o idiota de sempre. Fico por alguns minutos olhando para o lago, refletindo. Essa era a real lembrança, não a outra que tinha visto quando estava com Mateus no cais. Aquilo era uma farsa, uma farsa da minha memória. Tudo parecia ficar mais claro. Meu pai queria que eu viesse morar em Silent Hill, que já estava decadente naquela época. Eu não teria futuro aqui... Provavelmente conheceria Chang e seria mais um fanático pela Ordem e talvez eu mesmo estivesse queimando Anette. Mas coisas foram bem diferentes. Por algum motivo, ocorreu uma reviravolta que impediu com que meu pai me trouxesse pra Silent Hill: ele morreu. Depois de sua morte, mamãe não quis me deixar vir pra cá, adoeceu e tive que cuidar dela por um ano, até que ela veio a morrer também. Então fui morar com uma amiga dela, que cuidou de mim como se fosse um parente até que consegui me virar sozinho e ir pra faculdade, onde passei a ser completamente independente. Mas tudo isso tinha ficado para trás, ou pelo menos deveria ter ficado. Voltar a esse lugar e ficar relembrando cada memória de novo, tendo algumas...

–É isso!

–O quê?

–Mateus! Ele me faz ter memórias falsas! Na verdade, Mateus tem alguma coisa que me faz enlouquecer! Tudo isso na cidade, as coisas estranhas... Don, quem é Mateus de verdade?

–O quê?

Começo a relembrar dele. Eu o encontrei aqui, e então ele via os monstros e corria, corria de mim. Depois disso, ele fez um desenho prevendo a chegada do homem com a pirâmide, de Anette e do Selo de Metatron. Ele me arrastou até o lago e me trancou naquela igreja até que eu encontrasse tanto o objeto quanto Anette. Enquanto isso ele se lamentava por ter perdido o pai. Enquanto estava com ele, consegui dar ouvidos aos meus sentimentos de novo, consegui voltar a ser quem era antes da minha família se desmoronar. Quando estava sem ele, conseguia ser mais racional. De alguma forma, encontrar Mateus mudou o modo como eu via as coisas. Eu jamais voltaria pra cá, mas ele apareceu várias vezes pra mim, mesmo depois de ter “morrido”, me forçando a voltar e encontrar tudo de novo e, pra ter certeza de que eu voltaria, me arrastou até aqui pela trilha, depois pelos tuneis me trazendo ao mesmo ponto onde eu o encontrei. Sempre que estou com ele, é como se eu... Como se eu... Não, não pode ser possível... É como se eu estivesse comigo mesmo! Então Mateus é uma representação de quem eu era! Ele... Ele... Ele não é real, exceto dentro de minha memória! Eu vim a Silent Hill pra voltar a ser o que era!

–Don... Mateus não é uma criança real... Ele... Ele é EU!

–O quê? Quem é quem? Matt cara, acho que você está enlouquecendo!

–Não, não estou... – começo a andar pelo parque de um lado para o outro – Tudo agora faz sentido!

Sim, quem eu era. Eu era um garotinho, que amava a vida, que sentia, que tinha amigos, que era apaixonado pela família, por acampar... Eu era cheio de alegria e então com doze anos, a idade de Mateus, a minha vida desandou. Meu pai começou a beber e fazer tudo aquilo que me deixava revoltado. Ele espancava minha mãe e eu perdi a vontade de viver. Passava mais tempo em Silent Hill do que em casa, porque vinha pra cá todas as vezes que meu pai bebia, até o dia em que ele me espancou. Eu perdi o gosto por tudo, e então chegou o dia, o dia feliz onde o meu pai morreu, lembro claramente daquela cena. O velório e todos os outros procedimentos deixaram minha mãe muito triste e ela entrou em depressão. Depois disso, outra doença se manifestou, câncer e junto com a depressão, minha mãe durou apenas um ano. Depois disso, eu perdi o gosto pela vida, por tudo. Comecei a viver como se sentimentos não fossem importantes, comecei a ver o mundo de uma forma completamente racional e decidi fazer história e, mesmo acreditando na existência de algo sobrenatural, nunca consegui me entregar de novo a vida, nunca consegui viver novamente porque tudo aquilo me perseguiu, me perseguiu a vida inteira. A ruína da minha família, tudo por culpa do meu pai. Se ele nunca tivesse sido alcoólatra, poderíamos ainda estar felizes... Tyler, aquele idiota. Porque teve que fazer tudo aquilo? Porque a vida tinha que ser daquele jeito? Eu acabei sendo a pior vítima, convivendo com toda aquela dor e não me permitindo viver de novo. E agora estou aqui, pra pagar por isso e aprender a viver. Mateus sou eu, a criancinha que ainda tinha esperanças pela vida. Mateus. Por isso eu me sentia tão próximo dele, por isso eu queria ficar o máximo de tempo que pudesse. Ele é eu!

Não percebo, mas continuo com o objeto na mão. De repente, ele começa a vibrar e a brilhar. Sua intensidade aumenta e Don olha pra mim apavorado. O objeto brilha mais ainda, deixando tudo muito branco e quase não consigo ver nada. Então, lentamente ele vai apagando e revelando a outra realidade da cidade. Vejo o parque, o chão se deteriorando e dando lugar as já conhecidas grades enferrujadas e sujas de sangue. O cheiro de podre toma nossos narizes e agora vejo corpos pendurados por arame farpado aos muros sujos e desgastados do parque. Tudo fica escuro e corro até a mochila, tateando no chão. Encontro a lanterna ali dentro e a acendo, iluminando um pouco o lugar. Olho em volta e vejo os mesmos corpos. Tudo parece mais perturbador. Coloco a mochila nas costas, pegando e guardando a chave inglesa que estava no chão, tentando caminhar por ali. Don me segue. Vamos em direção a outra saída, a que Mateus tinha me mostrado da outra vez. O asfalto não existe, mas no lugar dele estão as mesmas grades. Eu não sabia exatamente pra onde ir, mas tinha que atravessar o lago Toluca. Pra chegar até o parque. Continuamos caminhando até que, diante de nossas caras, surgem do chão alguns monstros. São crianças, elas seguram facas. Crianças mortas, sem rosto e sem cabelo. Elas caminham lado a lado em nossa frente. Puxo a arma e miro em uma delas. São umas dez, mais ou menos. Don começa a ficar apavorado e aponta para uma loja ao lado.

–Não... Temos que chegar ao lago!

Entrego a arma pra Don e tiro a chave inglesa que havia guardei na mochila. Alguma coisa tinha me dado alguma coragem. As criaturas começam a se aproximar segurando suas facas afiadas, como se quisessem a nossa vida. Ele começa a atirar e acerta algumas, que caem no chão gritando. Pelo menos ele é bom de mira. Corro até uma delas e uso toda a minha força pra acertar sua cabeça com a chave, o que faz a criança cair no chão. Acerto mais umas duas, deixando apenas quatro de pé.

–Corre Don! Não vamos conseguir derrubar todas!

Ele começa a correr atrás de mim, seguindo rua a frente. Não sei para onde estamos indo, mas enquanto a rua continuar, estarei nela. Vejo mais algumas crianças espalhadas pela rua, mas não dou atenção e continuo correndo. Don segue logo alguns metros atrás de mim. Rapidamente, começo a enxergar uma pequena construção a minha frente. Era o lugar onde ficava o cais e eu tinha pulado o alambrando junto com Mateus. Continuo correndo até chegar lá e faço a mesma coisa: Pulo o alambrado seguido logo por Don. Caio do outro lado e pulo o segundo, caindo mesmo no cais. Há apenas um barco, como que esperando por nós. Do sorri ao vê-lo.

–Pelo menos temos transporte.

–É... Eu não fui inteligente. Vim pela Nathan Avenue. Foi muito cansativo.

De repente, vejo em pé no barco um menino vestido com um casaco verde. É Mateus. Ele parece sorrir.

–Mat... – tento falar, mas ele desaparece em meio à névoa.

–Cara, só não estou gostando desse cheiro – disse Don sem notar o que acabou de acontecer.

–Nem eu.

A lanterna ilumina o lago e em meio a névoa, vejo de onde vem o cheiro. A água do lago está completamente vermelha, como se muito sangue tivesse sido derramado. Ao olhar mais de perto, vejo algumas coisas flutuando e então percebo que são corpos.

–Aaarrghh – Don virou a cara ao vê-los. – Não é melhor voltar pela Nathan Avenue?

–Eu também não queria passar por aí, mas acho que vai ser mais rápido. Precisamos encontrar Anette o mais rápido possível, antes que ela morra ou aconteça algo pior.

–O que poderia ser pior do que morrer?

–Eu não sei, mas sei que tudo é possível nesse lugar... – falo subindo no barco.

Don também sobe e senta de frente pra mim. Vejo a pequena luz tremeluzir do outro lado, indicando o cais do Lakeview Hotel. Começo a remar lentamente, tomando cuidado pra não acertar os corpos, o que parece impossível. O barco vai ganhando velocidade. Estamos mais ou menos no meio do lago, que parece não acabar mais. Parece que ele cresceu e diâmetro. Don tenta colocar a mão em um dos corpos tentando ver se era de verdade. O cheiro é insuportável.

–MATT, SOCORRO!!

O corpo está segurando fortemente a mão dele e vejo outros corpos nadarem até o barco. Pouco a pouco, eles começam a cerca-lo e a balançar com as mãos. Começo a me desesperar e bater com os remos nas cabeças daquelas coisas, mas nada parece resolver.

–MATTHEW, ME AJUDAAA!!

Ele grita enquanto um dos corpos o puxa um pouco mais pra fora do barco, dando um forte balanço. Tento equilibrar com os remos, mas nada parece funcionar. As coisas tentam subir no barco, uma delas já colocou parte do tronco pra dentro. Eu empurro com o remo de volta.

–Drogaa... Mas que porcaria são essas coisas?

Elas ficam gemendo e tentando virar o barco. Pra minha sorte, eu não sei nadar. E sinceramente, saber nadar não parece ajudar quando se está em meio a uma água cheia de sangue e corpos vivos.

–MATT!!!

A criatura finalmente o puxa pra dentro d’água fazendo um grande barulho. Estou sozinho. Tudo fica calmo por mais alguns minutos. Talvez elas só quisessem Don e não eu... Fico desesperado. Não consigo encontrar os remos e então me dou conta de que não tenho como sair daqui, pois provavelmente os remos foram puxados por elas. Não sei o que fazer, não tinha pensado nisso. O Selo de Metatron está no meu bolso, talvez eu possa fazer algo...

Tento tirar o objeto, mas as criaturas retornam e começam a balançar o barco novamente. Seguro o objeto fortemente em minhas mãos, tentando mudar a realidade e então percebo que é muito tarde. Bruscamente, o barco vira no lago e caio desesperado, começando a engolir aquela água podre cheia de sangue. Tento subir, mas não sei nadar e as criaturas começam a me puxar pra baixo. Dou algumas ultimas tentativas de subir e respirar, mas sinto mais água entrar pela minha boca, água nojenta e podre. Começo a perder os sentidos.


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Notas finais do capítulo

Nota final: A relação que Matthew estabelece entre as duas lembranças parecidas está ligada ao que aconteceu no capítulo "Ilha No Lago Toluca".

Trecho referente à história de Anette.


Ele jamais tinha se esquecido de quem era ela, e por isso viviam fugindo de lugar em lugar. Então houve um momento em que não poderiam mais fugir sem que ele contasse quem ela era de verdade, então eles pararam de fugir. Estabelecidos nesse lugar, ela crescia com muito amor, dado a ela por seu pai. Anette sempre se dava bem com as matérias da escola, principalmente história e geografia. Certo dia ela chegou para o seu pai e disse que faria faculdade pra história. Ele chorava sempre, por medo do que poderia acontecer a ela, principalmente porque sabia quem era Carl, sabia que algum dia ele poderia encontra-la, até porque, Carl também estudava história. Entretanto, ele jamais falaria qualquer coisa que a deixasse preocupada ou com medo. Ele a faria feliz na medida do possível, lutaria pra que ela vivesse o mais longe daquela realidade, mais longe de Silent Hill. Ele sabia que se a encontrassem, fariam a ela o mesmo que fizeram pra sua quase esposa. E ele já amava Anette como sua filha, se é que de fato, ela era realmente sua filha. Mas isso pouco importava.

A menina loira chegou pra ele e sorriu.

—Pai, o senhor acredita em telecinesia?

Com doze anos, Anette ainda poderia acreditar em qualquer coisa que quisesse. Afinal, era uma criança como qualquer outra. Mas essa pergunta o assustou. Segundo a lenda, a menina responsável por trazer deus a Terra tinha que ter algumas capacidades especiais, tanto de si mesma como por ter deus em seu ventre.

—Er... Não muito...

—E se eu disser que eu tenho telecinesia, pai?

—Bem, eu te parabenizaria. – Disse sorrindo.

—Ai pai... O senhor não tá acreditando não é? Pois bem, eu vou lhe mostrar! – Ela subiu em cima do sofá e estendeu a mão pra um pequeno vaso de flores em cima da mesa de centro.

Ele temeu. Se ela tivesse telecinesia, então seria mesmo a menina que eles tanto querem...
Mas não deveria se preocupar, afinal, crianças imitavam tudo que viam nos filmes. Anette continuou com a mão estendida e ele ficou olhando para o vaso. Estranhamente, o vaso se mexeu e, ao invés de se erguer pelo ar com um belo movimento, foi forçado pra trás e caiu, quebrando e espalhando toda a areia que estava dentro junto com as plantinhas. Ele não acreditou no que estava vendo e quando deu conta de si mesmo, estava abraçando a garotinha e dizendo pra ela nunca mais fazer aquilo.

—Mas porque pai?

—Porque isso é errado! Me prometa que nunca mais vai fazer isso, Anette!

—Tá bem... Eu prometo!



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