Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 16
Amigo Novo


Notas iniciais do capítulo

"Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade." - Confúcio



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A maçaneta finalmente faz um giro completo e a porta se abre bruscamente. Eu, Don e Anette ficamos completamente horrorizados com a visão de um corpo musculoso, com algum tipo de veste estranha de cirurgião segurando uma espada a qual arrasta no chão com o peso e com um enorme triângulo enferrujado substituindo a cabeça. A criatura grita quando o tiro de Don acerta ele.

–Mas que diabos é isso cara?

Tento pensar rápido enquanto Anette se esconde atrás de mim. A criatura vai se aproximando aos poucos resistindo aos tiros de Don e aos meus. Recuamos para trás até batermos na janela.

–É isso! A janela! Don e Anette pulem a janela enquanto eu distraio essa coisa. Já consegui sair vivo uma vez, posso fazer isso novamente.

–Certo.

Don dá alguns tiros na janela e eu avanço para o Cabeça de Pirâmide que ergue a espada. Atiro nas pernas da criatura, mas não vejo muita reação a não ser os gritos da coisa. A espada deixa a criatura um pouco mais lenta e como sou magro, consigo me mover com agilidade um pouco além do normal, o que faz com que tenha certa vantagem contra a criatura. Olho em direção a janela e vejo Don e Anette pendurados na varanda.

–Vão logo! – Grito.

A criatura desfere um golpe com sua espada que não me acerta por pouco. Corro em direção ao corredor, fazendo com que a coisa me siga e é exatamente o que ela faz, demonstrando mais interesse em mim do que em Anette ou Don. O barulho da espada é ensurdecedor, causando dor aos meus tímpanos. Pra completar, o local está podre e enferrujado. Desço correndo as escadas e de repente os degraus se desfazem debaixo dos meus pés: estou caindo. Bato com a cabeça no chão desmaiando em seguida.

...

–Matthew?

Abro os olhos. O lugar está completamente escuro e o cheiro podre está espalhado por todo o lugar. Olho pra cima e não vejo absolutamente nada.

–Toma aqui...

Vejo uma luz se aproximando, a minha lanterna sendo segurada por alguém que não consigo ver exatamente quem é. A minha mochila também está em suas mãos.

–Eu peguei o Selo de Metatron que estava jogado ali no chão. Coloquei dentro da mochila.

–O... Obrigado.

Pisco os olhos enquanto pego a lanterna das mãos da pessoa. Pela voz, é Mateus e torço por vê-lo quando conseguir empunhar a lanterna e visualizar o rosto dele. Para a minha alegria, é exatamente o que acontece: Mateus está com a mochila nas mãos esboçando alguma espécie de sorriso.

–Pensei ter perdido você, rapazinho... – falo enquanto sento em meio às grades enferrujadas que substituem o chão – evite sumir de novo.

Mateus se aproxima de mim, sentando ao meu lado. Sinto-me impelido ao abraçar com um dos meus braços e afagar o cabelo cacheado do garoto com a outra mão. Ele sorri e ficamos ali por alguns minutos, sentados.

–Que bom que estamos juntos de novo – falo sem ter que pensar muito, apenas com base em minhas emoções.

–Também acho – ele sorri – é bom sairmos daqui antes que aquela coisa apareça. Essa porta do hotel está aberta. – Ele aponta para uma porta dupla dentro do hall principal, o mesmo lugar onde eu havia encontrado o diário.

–Okay... Deixe eu... – paro de falar, tomando fôlego para me levantar.

–Eu te ajudo.

Ele fica de pé e sinto sua pequenina mão segurar a minha. Sei que ele não tem lá muita força, mas consigo me apoiar nele para levantar. Chegamos até a porta dupla do hall e tento abrir... Nada.

–Matt, o Selo.

–Será um favor pra todos nós.

Abro mais uma vez a mochila e tiro o objeto circular, segurando-o fortemente em minhas mãos. Toco na maçaneta e imagino a Silent Hill que conheço, ou pelo menos a que tem um pouco de luz. O lugar vai se alterando aos poucos até que olho para trás e vejo a escadaria completa, tapete vermelho no chão e a maçaneta gira, abrindo a porta logo em seguida.

–Bem, precisamos agora encontrar Anette e Don...

–Eu os vi, Matt! Anette e outro homem seguiram em direção ao parque.

–Que parque? Aquele que nos encontramos?

Ele sorri junto comigo. É talvez encontrá-lo por aqui tenha sido uma das melhores coisas que já me aconteceram. De alguma forma, sinto-me muito atraído a ele, como se já o conhecesse, como se ele fosse familiar... Mateus.

–Nooopss! Foram em direção a um parque de diversões que tem por aqui. Anh... Acho que fica um pouco perto... – Ele começa a mexer na mochila – Ah! Aqui no mapa, fica na mesma avenida! Amusement Lakeside Park, acho que é esse.

Respiro fundo. Como eles podem ter saído aleatoriamente e nos abandonar aqui? Provavelmente deve ter sido mais um chilique de Anette junto com a estupidez de Don... Mas porque o parque?

–Não faço a mínima ideia...

Viro-me pra Mateus. Não me lembro de pronunciar uma palavra seque e o garoto respondeu como se tivesse ouvido tudo, absolutamente tudo o que eu disse. Isso me faz com que eu me sinta mais conectado a ele, sorrindo logo após o momento de surpresa.

–Vamos?

–Sim.

Saímos pela porta do hotel, dando de cara com um pequeno estacionamento e uma rua que tem como placa Stanford Street. Mateus segura em minha mão enquanto eu empunho a arma recém-tirada da mochila. Tenho medo de que Anette e Don não estejam bem. De repente, ouço uma espécie de uivo. Mateus se vira junto comigo para trás e vejo a expressão de terror do garoto, não desprezando o medo que ele sente, pois me sinto da mesma forma. Vejo dois lobos com alguns pedaços de carne na boca e eles parecem querer nos seguir.

–Matt... Eu tenho medo de lobos!

–Corre!

Começamos a correr em frente, não olhando para os lados. Os animais horríveis continuam correndo atrás de nós e fico me perguntando por que essa droga de cidade insiste em imprimir meus medos... Nunca havia visto um de verdade, mas sabia que poderiam ser agressivos.

–Matt... Eu não vou conseguir...

–Vai, continue correndo!

A medida em que corremos começo a ver o vulto de alguma coisa. É uma espécie de placa onde está escrito: Amusement Lakeside Park. Puxo Mateus pela mão com força, tentando-o fazer correr tanto o quanto eu. O garoto parece cansado.

–Falta pouco rapazinho, falta pouco.

O lugar vai ficando mais nítido e vejo um portão azul delimitando o lugar. Está aberto. Empurro Mateus para dentro, fechando logo em seguida e deixando os animais do lado de fora. Meu coração está a mil por hora e Mateus está sentado no chão escorado numa espécie de bilheteria. Sento ao lado dele e ficamos ali por alguns minutos descansando. Eu olho pra ele, afagando mais uma vez seu cabelo com minha mão direita. O garoto sorri um pouco e volta a ficar sério.

–Sabe Matt... Eu tenho certeza de que meu pai me abandonou. Mas que bom que tenho você, que bom que você vai me ajudar a sair daqui.

Tento sorrir. O assunto fez com que me lembrasse do meu próprio pai, aquele canalha que odeio.

–Pelo menos ele não foi como o meu...

–Seu pai?

–Sim. Ele... Ele morreu. Sofria de hipertensão.

–E o que ele fez de ruim?

–Bem... – penso, mas decido me abrir. Afinal, passei tanta coisa com ele que já nem fazia sentido esconder qualquer coisa... Até porque, realmente espero continuar com esse garoto, já que ele está sem pais, não vou deixa-lo sozinho. – Ele bebia muito, praticamente todos os dias. Ele gastava todo o dinheiro do mês em álcool, não deixava comida em casa... Minha mãe me mandava para a casa da minha tia em outra cidade porque não aguentava me ver com fome. Quando meu pai bebia, eles discutiam feio e várias vezes peguei ele batendo na minha mãe... Quando eu tinha doze anos, eu tentei enfrenta-lo, mas fui espancado também. Eu fui parar no hospital. No dia que ele morreu, lembro que nem consegui chorar no seu velório, mas deveria ter chorado. Minha mãe também era doente e o único dinheiro que entrava na casa era o dinheiro dele, que servia para comprar remédios e sem eles, a minha mãe morreu. Tudo por culpa daquele nojento! Então eu fui morar com minha tia e tentei refazer a vida. Entrei pra faculdade e estou aqui. Bem, essa é a minha história, pequeno rapaz.

–Ahan.

Ele me olha como se esperasse algo mais, porém não vejo outra coisa pra lhe contar então fico calado apenas observando-o. Lembrar do meu pai foi difícil, principalmente aqui nessa cidade, nesse lugar dos horrores.

–E você Mate...

Somos surpreendidos por um barulho no portão. Tento enxergar e vejo um rapaz da minha idade, um pouco baixo e com cabelo altamente liso: Chang. Tento sorrir ao vê-lo, mas ele faz uma cara de desespero.

–Matthew, abra isso!

Os lobos parecem se aproximarem dele, corro até o portão e abro. Chang passa correndo, mas não consigo evitar que um deles entre também. Puxo minha arma e miro pra coisa que tenta atacar Mateus. O lobo avança em cima dele e erro o tiro, permitido que ele avance no pescoço de Mateus. Vejo o sangue derramar pelo chão e sou tomado subitamente por muita raiva. O garoto tomba no chão gemendo enquanto eu uso todos os tiros da arma na coisa, matando-a e derramando mais sangue. Corro até o garoto tirando o corpo da coisa de cima dele. Meus olhos enchem-se de lágrimas e Chang observa.

–Mateus... Mateus!!

–Matt... – ele geme esboçando um sorriso, o que me dá mais desespero. Ele fecha os olhos e vejo sua respiração parar junto com o sangue que jorrava do seu pescoço.

–Mas... Mas...

Chang me levanta, mas me solto dele e me jogo desesperadamente em cima do corpo de Mateus. O corpo imóvel me deixa triste, fazendo com que lágrimas rolem pelo meu rosto abaixo. Eu ia ajuda-lo a sair daqui, eu tinha criado um amigo, e agora...

–Não Mateus, você não! Porque logo você? Por favor, não suma de novo, não suma de novo...

Chang tenta me levantar, tenta me fazer prosseguir...

–Matt, vamos embora. Precisamos encontrar Anette.

–Não... Eu não vou embora!

Chang me arrasta em direção a área mais interna do parque. Eu tento resistir, mas não sinto forças e sei que não a nada a ser feito... Como Angela havia dito, a morte era irrevogável. Deixo-me ser carregado por Chang enquanto as lágrimas escorrem sem parar pelo meu rosto. Não posso acreditar. Eu tinha que salvá-lo e agora...


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Notas finais do capítulo

Bem, espero que não haja desistência na leitura da fic por causa desse capítulo.