Silent Hill: The Artifact escrita por Walter


Capítulo 13
Briga No Lakeview Hotel


Notas iniciais do capítulo

"Toda a discussão reduz-se a dar ao adversário a cor de um tolo ou a figura de um canalha." - Paul Valéry



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Com o Selo na mão direita, toco na maçaneta com a outra mão. Sinto-me puxado pra dentro de alguma coisa e meu estômago revirar... De repente, o que parecia ser a luz do sol começa enfraquecer como se estivéssemos presenciando uma espécie de eclipse. Anette e Mateus olham pra mim como se eu tivesse culpa de alguma coisa. A porta ainda não se abre, mesmo com minhas tentativas constantes ao girar a maçaneta várias vezes. Toda a cidade começa a escurecer e vejo as paredes brancas do hotel se modificando em paredes negras e vermelhas pulsantes. Sinto Mateus e Anette se agarrarem as minhas mãos temendo por alguma coisa, tento não demonstrar medo, mas é difícil uma vez que já se sabe o que vai acontecer.

–Matt... O que está acontecendo?

–Sinceramente, Anette... Eu não sei!

Agora já está tudo escuro. Tiro a lanterna da mochila, soltando a mão de Mateus. O céu está negro, sem sinal nenhum de Lua ou estrelas. Anette tapa o nariz ao entrar em contato com o fétido cheiro de morte presente nessa realidade da cidade. Sinto o enxofre, a carne podre... Tudo entra no meu nariz revirando minha mente. Tento girar a maçaneta mais uma vez, agora da porta de metal enferrujado e para minha surpresa a porta se abre com facilidade. Olho pra Mateus me perguntando em como ele sabia sobre isso, mas ele dá de ombros. O garoto não parece mais estar com medo, mas demonstra certa segurança.

–Mateus, como você sabia disso?

O garoto fica em silêncio e decido não perguntar mais. Anette segura na minha mão e eu seguro a lanterna com a outra. Entramos.

Seguimos por um corredor escuro, pouco iluminado pela luz da lanterna. Um pouco mais a frente, vemos um espaço maior com a bifurcação do corredor, para a direita e esquerda com uma enorme escadaria que desce. O piso é feito das mesmas grades do hospital, revelando apenas um enorme abismo abaixo. As paredes, algumas feitas por grades e ouras tradicionalmente descascadas, enegrecidas e pulsantes. Nós nos entreolhamos, tentando decidir que rota pegar.

–Okay, vamos para... Hm...

–Espera, Matt... Havia um mapa bem na entrada.

Mateus pega a lanterna e corre até a porta de entrada. Eu fico observando o escuro ainda com a mão segurada pela de Anette. A garota parece tremer um pouco e ainda consigo sentir certo medo vindo dela, certa dor... Como suportar ver seu pai sendo torturado? E ainda mais pelo que parece ser uma projeção da pessoa que era o seu professor? Começo a me preocupar com Mateus. Afinal, é o mesmo corredor até a entrada, nem é tão longe e o garoto ainda não voltou. Me viro na direção de onde é a entrada e vejo a lanterna caída no chão, iluminando o nada.

–Mateus!

Solto a mão de Anette e corro até o lugar onde está a lanterna. Não vejo mais o garoto, muito menos o mapa. No lugar onde deveria estar, vejo um quadro vazio.

–Droga. Anette, Mateus sumiu!

–Como assim?

Ela corre ao meu encontro. Apanho a lanterna e saímos do hotel, correndo pelo jardim que não é muito grande. Olho pro cais e o barco ainda continua lá. Então para onde Mateus foi?

–Será que ele...

–Não, ele não pode ter pulado na água.

–E se alguém... Ou alguma coisa...

–Não, eu nem quero pensar.

Minha mente fica mais confusa. Eu havia prometido a ele que o levaria até o seu pai... Mas como posso fazer isso se o garoto some? Porém, também não dá pra sair vasculhando por ele agora que estou com Anette, pois ela corre perigo. Pular na água do lado seria perda de tempo, porque é bem provável que o garoto não tivesse feito isso...

–Okay, Anette... Vamos procurar uma saída daqui. Aposto que vamos encontrar ele em algum dos quartos desse hotel. Já aconteceu algo parecido. – Tento ser otimista, mas sei o que talvez aconteça.

Ela assente com a cabeça e voltamos para o hotel. Chegamos mais uma vez no ponto onde há as três rotas diferentes, direita, esquerda e pra baixo. Sem contar que aos lados da escadaria havia mais duas portas. Tento uma delas: trancada. Uso o canivete: nada. A outra está selada com tábuas e pregos, então decido nem tocar e pegar a escadaria central. Anette segura em minha mão e começamos a descer a escada aos poucos. A cada degrau, meu coração gela temendo por alguma coisa estranha que provavelmente possamos encontrar. O meu medo é evidente e o de Anette também. Ela aperta minha mão mais forte a cada vez que pisamos um novo degrau. O escuro se estende a frente e a lanterna não ajuda muito, iluminando apenas um pouco. A mão da garota escorrega de suor enquanto segura a minha...

–Vai ficar tudo bem, Anette...

–Espero que sim...

Finalmente chegamos. Não conseguimos ver absolutamente nada, pois a luz da lanterna parece não funcionar.

–Droga! É como se...

–O escuro absorvesse a luz. – Anette termina a frase ao nos darmos conta que, mesmo acesa, a lanterna não ilumina coisa alguma.

Respiro fundo. Tento desligar e ligar a lanterna e nada... Talvez não devíamos ter descido...

–Matt...

Olho pra ela mesmo sem conseguir vê-la.

–Se aquele objeto fez tudo isso acontecer... Não poderia reverter o processo?

Faz sentido. Mateus disse pra usar o objeto, mas a coisa não abriu a porta. Ela mudou a realidade de Silent Hill, mudando assim as coisas e nessa outra realidade a porta estaria aberta... Isso parece incrível! O objeto então funciona mesmo, não é apenas uma lenda... Silent Hill não é apenas uma lenda, então essa droga de objeto deve funcionar. Mas como?

Começo a vasculhar dentro da mochila e pelo tato encontro mais uma vez o objeto circular.

–Anette, vou tentar usar isto. Espero que nada aconteça além do que queremos.

Ela aperta um pouco mais minha mão, tentando demonstrar que concorda. Seguro o objeto firme em minhas mãos e tento imaginar o escuro indo embora e esse lugar tomando a forma de outra coisa, sei lá, voltando ao normal. Continuo com os olhos fechados, tentando mentalizar tudo isso, segurando com força o objeto e a mão de Anette.

Passam-se mais alguns segundos e sinto um frio na barriga. Abro os olhos e vejo as luzes se acenderem, as paredes e o chão se reconstituírem e as coisas tomando formas mais normais. As paredes agora, menos desgastadas e um pouco pintadas mostram a realidade do hotel. O chão coberto por um enorme tapete vermelho, característico de hotéis acima de três estrelas. Anette olha pra mim sorrindo, como se estivéssemos descoberto à coisa mais fascinante da Terra. Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto e uma súbita descarga de euforia. É tudo verdade, sim, tudo verdade. A lenda não é lenda, a cidade e o Selo de Metatron são reais. O professor Thompsom estava completamente errado quanto a isso. Anette sorri ainda a me ver chorando.

–Matt... Era o que você sempre quis, não é?

–Sim, Anette. Sempre quis. Desde que entrei pra faculdade que dedico boa parte da minha vida a caçar a veracidade de mitos e lendas, não pra provar que eles são mitos ou lendas, mas pra encontrar algum sentido na existência deles além de mentiras... E agora eu encontrei!

–Certo... Então pra você faz sentido ter passado por tudo isso só pra encontrar uma resposta para o seu questionamento?

De fato, eu vim até Silent Hill esperando respostas. Por causa disso é que Anette e nossos outros dois amigos que vieram para cá e ainda estão perdidos. Consigo entender a raiva de Anette, mas... Se eu não tivesse vindo, ficaria sem respostas para sempre. Entendo que fui egoísta, que não estou me importando com tudo o que aconteceu e inclusive com o pai dela... Mas... Eu agora me sinto mais feliz por saber que tudo realmente existe, que os meus questionamentos estão finalmente sendo respondidos! Silent Hill existe, o Selo existe...

–Matthew!

–Anette... Er... Me desculpa. Sei que foi meio que por minha causa que vocês vieram pra cá, mas... Não precisavam vir até aqui. Eu me viraria sozinho, sei lá. Na verdade, não acho que eu tenha sido realmente o culpado por aqui. Eram só ter esperado, eu falei na carta que talvez voltasse.

–O quê?! – Ela me olha com uma expressão de surpresa e raiva. – Então é isso? Nós arriscamos nossa vida vinda aqui atrás de você, eu perdi meu pai e o vi sendo torturado... Chang e Don... Sabe lá Deus onde estão e é isso que você tem a me dizer?

–Desculpa... Mas, não deviam ter vindo.

Ela coloca as mãos na cabeça.

–Arrgghh! Eu não acredito...

–Bem... Ainda podemos sair daqui...

–Seu idiota! Olha só tudo o que aconteceu e está acontecendo aqui! Vamos morrer e você aí todo felizinho porque resolve a droga de um capricho de sua infância enquanto não está nem aí pra mim, pro meu pai, pros nossos amigos! Matt, você enlouqueceu junto com essa cidade... Eu... Eu vou embora. Vou procurar Don, Chang, Mateus e a saída sozinha. Eu me recuso a continuar com você, seu imbecil!

–O quê? Não, você não pode. Eu tenho o Selo, eu tenho armas... Você precisa de mim pra sair daqui... Sem mim você vai morrer!

Ela olha pra mim, seu rosto está indignado. Vejo uma lágrima escorrer pelo seu olho. Ela respira fundo, sinto medo, raiva, tristeza e desespero no seu rosto.

–Eu... Não preciso de você. E ainda que eu precise... É melhor estar sozinha do que do lado de uma pessoa como você!

Ela coloca as mãos nos olhos e sobe as escadas rapidamente. Eu fico apenas olhando, sem saber ao certo o que fazer. Não entendo, não era pra ela ter surtado logo em uma hora dessas, poderia surtar quando saíssemos da cidade, ou quando estivéssemos seguros... Ela não vai muito longe sozinha, não mesmo. Não posso deixa-la morrer por aqui, nem ela, nem Mateus, nem Chang e Don... Seria um remorso grande de mais.

–Anette, volta aqui!

Grito enquanto corro escada acima.


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