Behind The Lines escrita por mandiproost


Capítulo 5
1




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Estacionei o carro e olhei no retrovisor. Tentei secar meus olhos inchados e vermelhos, sem sucesso. A chuva deixava um clima mórbido no ar. Irônico. Era fim de tarde e minha aula começava em apenas vinte minutos. Respirei fundo e fechei os olhos. A música que tocava no rádio parecia entrar em minha alma. Tudo que eu conseguia sentir era dor. A dor vinha de diversos lugares. Dúvida, tristeza, arrependimento, desesperança. Coração, pulmão, cérebro, pele.

Coloquei as mãos no volante e apoiei minha cabeça. As lágrimas se tornaram incessantes e minha respiração, antes espaçada e controlada, começou a acelerar. O oxigênio de dentro do carro não era mais suficiente para meu corpo. Olhei novamente as mensagens no celular.

“Eu sempre vou te amar.”. “Nós não estávamos felizes juntos.”.

O desespero começou a tomar conta de mim. Desliguei o rádio, peguei minha mochila e abri a porta do carro, num impulso só. A água gelada da chuva não parecia incomodar meu corpo em choque. As gotas atingiam minha pele disformemente.

Com a mochila nas costas comecei a caminhar em direção à faculdade. Cada passo era uma lembrança.

 

“‒ Ei… - disse enquanto segurava meu rosto. ‒ A gente vai fazer dar certo. ‒ seus olhos claros procuravam os meus com ansiedade. Ele queria que eu acreditasse naquelas palavras tanto quanto ele queria acreditar.

‒ Eu sei. ‒ respondi passando as mãos nos cabelos pretos e fartos dele.

O caminho até São Paulo parecia mais curto do que eu lembrava. Nossas mãos se seguravam como se o mundo fosse desabar caso não nos tocássemos.

‒ Vai passar rápido. São só quatro meses.

Apoiei minha cabeça nos ombros dele e respirei fundo. Não aguentava mais ouvir alguém me dizer aquelas palavras. Eu sabia que seriam os piores e mais demorados quatro meses da minha vida.”

 

A chuva era como um castigo divino por eu estar sofrendo. E eu a aceitava. Olhei para o lado, dei mais um passo e mais uma lembrança.

 

“‒ Você é a mulher da minha vida! ‒ a emoção transbordava da voz dele enquanto me segurava em seus braços. ‒ Eu te amo como nunca amei ninguém.

Meus olhos se encheram ao ouvir aquelas palavras. Agarrei suas costas com mais força, tentando demonstrar meus sentimentos através do toque, pois era impossível pronunciar qualquer coisa.

As janelas estavam embaçadas, devido ao choque de temperatura dos ambientes. O calor do seu corpo preenchia minha alma. O amor que sentíamos um pelo outro preenchia o quarto. Não havia mais nenhuma necessidade física e mental. Somente eu e ele. Somente o amor e a paixão ardendo dentro e fora de nossos corpos.”

 

Enxuguei algo do meu rosto que não sabia se era lágrima ou chuva. Minha respiração já havia voltado ao normal, entrado em ritmo com o meu caminhar lento e pesado.

De repente parei. Há alguns passos eu encontraria o abrigo do prédio das salas de aula. Fechei os olhos.

 

“‒ Talvez isso não esteja mais dando certo. ‒ a mensagem era clara, mas eu ainda não conseguia entender.

‒ Você quer terminar? ‒ perguntei, olhando vidrada para a tela de celular.

‒ Não sei.

‒ Você conheceu alguém?

‒ Não. Isso é entre mim e você. Eu acho que não estamos mais nos fazendo felizes. Eu me sinto sufocado, você se sente abandonada. Talvez seja melhor darmos um tempo até eu voltar ou talvez seja melhor conversarmos sobre isso.

Meu mundo, naquele momento, deixou de existir. Eu lia e relia a mensagem. Imaginava, tentava processar. Não. Nós éramos pra sempre.”

 

‒ Oi. Você está bem?

A voz feminina me tirou do transe. Olhei para a menina desconhecida parada a minha frente e percebi que a chuva ainda caía sobre mim, talvez há alguns minutos já, me deixando praticamente encharcada.

‒ Sim. ‒ respondi com um sorriso, de maneira automática, entrando no prédio a minha frente.

 

A confusão percorria minha mente entre idas e vindas de lembranças boas e ruins. Momentos em que eu estive ao lado de alguém que me fez sentir a vida de maneira intensa. Alguém que não estaria mais ao meu lado. Em vez disso, somente um vazio, criado por mim mesma.


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