Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi
– L – suspirou Shark, visivelmente aliviado, correndo a abraçar a namorada contra o peito.
Os restantes aproximaram-se deles enquanto eles se abraçavam por alguns segundos.
– Então! – começou Saya, em jeito de conversa – O que é que aconteceu? – perguntou, na direção dos deuses da profecia.
Estes, por sua vez, trocaram olhares entre si.
– Sinceramente… – começou Tech.
– Não fazemos ideia – completou Dest.
– Mas a profecia realizou-se, certo? – procurou Niko confirmar.
– Não, ainda não – negou Hisui – Ainda vai demorar algum tempo até a profecia ficar completa.
– Completa? – repetiu Shark, com um braço poisado sobre os ombros de L para a manter aconchegada contra si.
– Sim, a profecia não é algo que se concretiza de repente – explicou Hisui – Nós ficámos a saber isso quando fomos para a Ordem…
– Ordem? – interrompeu Lilás.
Hisui acenou, apontando para o buraco no teto da câmara, para a vastidão negra salpicada de estrelas que existia do outro lado.
– Aquilo é a Ordem – disse Hisui.
– E, quando lá estivemos, ficámos a saber como é que a profecia verdadeiramente funciona – disse Dest – Antes de podermos realizar a profecia, temos de preparar tudo para que isso seja possível. Há que destruir.
– Ou seja, eu entro em ação – disse Hisui, com um sorriso perigoso que fez alguns mexerem-se nervosamente.
– Destruir o quê? – perguntou Saya.
– Estes nichos – disse Hisui, apontando para os nichos em que estavam os fusos – Os fios da vida estão mal organizados. Muito mal organizados, aliás. Temos de recomeçar tudo isto do zero.
– Mas tirar os fusos dali será algo complicado – disse Dest – Podemos matar acidentalmente alguém, se não tivermos cuidado com eles.
– É nessa altura que nós entramos – disse Tech – Eu e o Dest vamos tratar de nos assegurar que a mudança é feita em segurança, com a ajuda da L.
Olharam todos para L, que fez um sorriso.
– E, finalmente, a Gina irá organizar tudo de novo, tal como deve ser – disse L – Não é, Gina? – perguntou, virando-se para a rapariga que se mantinha silenciosa ao seu lado.
Gina não respondeu, mantendo o olhar baixo.
– Gina? – chamou L, preocupada.
– Não – disse ela, simplesmente.
– Não o quê? – perguntou Shark.
– Eu não vou reorganizar nada – negou Gina, erguendo os seus perturbantes olhos verdes para os fixar – Eu nunca pretendi, nem pretendo, fazer parte de profecia alguma.
– Mas do que é que tu estás para aí a falar? – perguntou Saya, chocada.
– Eu não pretendo participar em profecia nenhuma! – insistiu Gina – Não quero nada disto. Nada! Quero apenas voltar para o mundo humano e ter uma vida normal…
– Então porque estás em Atlantis? – perguntou Elpída.
Gina encolheu levemente os ombros.
– Quero somente aprender a controlar o meu poder. E assim que o fizer, gostaria de poder voltar para o mundo humano e morrer como humana…
– Tu não és humana – negou Dest – E nada mudará isso.
– O teu lugar não é junto dos humanos – insistiu Saya.
– E o que sabem vocês sobre qual é o meu lugar? – atirou Gina, erguendo o queixo, num claro desafio.
– Nada – disse Dest, num tom de voz duro – Mas eu e o Tech podemos rapidamente alterar isso.
– Não. Se atrevam – rosnou Gina, muito devagar.
– O teu lugar é connosco, Gina – insistiu Niko – Tu sabê-lo bem.
– O meu lugar é onde eu quiser estar! – negou Gina – E eu não quero estar aqui! Não quero nada disto, não quero ser nenhuma deusa, não quero saber de profecia nenhuma! Quero viver a minha vida, sozinha e em paz!
– És tão egoísta! – gritou Hisui, parecendo ter finalmente explodido, agarrando Gina pelas alças do novo vestido e abanando-a bruscamente – Achas que algum de nós quer estar aqui?! Achas que algum de nós quer carregar, literalmente, o mundo às costas?! Não, não queremos! Tal como tu, nós gostaríamos de ter tido uma vida normal, sem responsabilidades, problemas, sem Parcas a tentar matar-nos e sem ter de reorganizar o universo inteiro! Mas nós não tivemos escolha! Foi decidido que seria assim, que teríamos de ser nós a fazê-lo, e nós vamos fazê-lo. Não vou deixar que tu e o teu egoísmo estúpido e infantil deitem por terra aquilo por que nós tanto lutámos. Não vou deixar que deites por terra aquilo que nós quase morremos para ter! Entendeste?!
– Vá, já chega – intrometeu-se Niko, colocando-se entre Hisui e Gina, forçando esta primeira a soltar a Criação.
– Não, não chega! – negou Hisui, apontando um dedo ameaçador a Gina, que estava de cabeça baixa, semiescondida atrás de Niko – Essa idiota tem de aprender a pensar um pouquinho menos nela própria e um pouco mais nos outros! Para mais quando ela tem a responsabilidade de dar vida aos outros! Era de esperar que tu, Gina, sendo a Criação, sentisses um pouco mais de compaixão para com as outras pessoas, não achas?! Choraste baba e ranho por aquelas estúpidas árvores, mas quando se tratam de pessoas, a única coisa que fazes é ficar e vê-las morrer!
– Já chega, Hisui – murmurou Saya, colocando-se ao lado de Hisui e poisando-lhe uma mão no ombro.
O silêncio imperou no espaço, Hisui ofegando levemente dos gritos e lançando um olhar ameaçador a Gina, que continuava de rosto baixo, os cabelos escondendo a sua face, imóvel e silenciosa. Niko mantinha-se na frente dela, protegendo-a.
– O teu pai deve estar muito orgulhoso de ti, Gina – disse Hisui, com desprezo e ironia – Mesmo muito orgulhoso.
– Não – murmurou Gina, finalmente.
– Não o quê? – perguntou Hisui, em tom de desafio – Não o quê, diz lá!
– Não fales do meu pai – rosnou Gina, a sua voz erguendo-se perigosamente.
Hisui soltou uma gargalhada seca e provocatória.
– Eu falo de quem eu quero, como quero, quando quero! – atirou ela – Tenho todo o direito de falar no teu paizinho, para mais quando te estou a lembrar das últimas… aliás, das únicas palavras que ele te dirigiu. Não devias ter um pouco mais de consideração pelas coisas que ele te disse…
– Está calada! – gritou Gina, tentando sair detrás de Niko para se lançar a Hisui.
No entanto, o seu Adepto agarrou-a, virando-se de costas para os amigos enquanto abraçava Gina contra o peito, escondendo-a completamente da vista dos outros.
– Vão indo – disse Niko, esforçando-se por manter Gina junto de si enquanto ela se debatia para se soltar – Nós já vamos ter convosco.
Ficaram num silêncio admirado, os sons da luta de Gina para se soltar ficando cada vez mais fracos, até que a rapariga deu um último murro no peito de Niko e se deixou ficar.
– Vamos deixá-los sozinhos – disse Lilás, pegando na mão de Saya e puxando-a para a abertura da câmara.
Depois de algumas hesitações, todos saíram, começando a descer as escadas que os levariam de volta a Atlantis.
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