Candidatos a Deuses escrita por Eycharistisi


Capítulo 85
Capítulo 85




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– Não vamos ficar aqui a assistir, vamos! – exclamou Saya, puxando Gina e L atrás de si, passando pela luta a correr.

Começaram a subir as escadas de mármore, cujos degraus pareciam, de facto, ser infinitos. L acabou por perder a noção do tempo, apenas concentrada em subir o próximo degrau e o seguinte, com os músculos das pernas a bradar por misericórdia.

– Não consigo mais – gemeu uma voz completamente distorcida pela respiração ofegante de cansaço – Estas escadas estão-me a matar!

– Só mais um pouco – pediu a voz suave de Darkness.

– Não… não consigo mais – decidiu a voz de Yngrid, parando de correr e deixando-se cair sentada num degrau.

Darkness parou também, para se certificar de que Yngrid estava bem, e todos os outros pararam logo de seguida.

– Vamos, Yngrid! – apressou Saya – Não podemos perder mais tempo! Não sabemos por quanto tempo o Burn, a Bella e o Ónix conseguirão segurar as Parcas e as gémeas.

– Eu não consigo subir mais – ofegou Yngrid, com a cabeça caída nas mãos abertas enquanto Darkness a obrigava a estender as pernas doridas, para lhas conseguir massajar.

– Vão sem nós – disse Darkness, olhando para Saya.

– Mas não sabemos o que fazer – disse L – Precisamos de si.

– Eu também não sei mais do que aquilo que já vos disse – negou Darkness – Sei apenas que, no topo destas escadas, está o Olimpo e que lá deverá estar o Livro dos Nomes. Não vos posso ajudar mais do que isto. Lamento.

– Vão – insistiu Yngrid – Nós ficaremos bem. Vocês é que precisam de se apressar, antes que as Parcas, ou as gémeas, vos encontrem.

– Ela tem razão – disse Hisui – Vamos continuar!

Hisui recomeçou a subir as escadas, logo seguida de Elpída, Tech e Dest.

Saya ainda ficou alguns momentos a olhar para Yngrid, com L a lançar-lhe um olhar preocupado e Gina a chorar baixinho a seu lado. Niko e Lilás permaneciam sem expressão, como se em transe, e Shark permanecia ao lado de L, os seus dedos entrelaçados nos dela.

– Vamos lá – murmurou finalmente Saya, recomeçando a subir as escadas.

Pareceu que demorou uma eternidade até finalmente verem algo para além de degraus no cimo das escadas. Começou por lhes parecer uma escuridão infindável, até que por fim começaram a distinguir as arestas iluminadas pelo luar do que lhes parecia ser um rochedo.

– Estamos quase lá – ofegou Saya, obrigando as pernas a um último esforço.

Finalmente, chegaram a terreno plano, alguns deixando-se cair de joelhos enquanto os outros se dobravam, com as mãos nos joelhos.

– Ufa! – exclamou Shark, passando uma mão pela testa, para limpar as pequenas gotas de suor lá formadas – Chegámos…

L, tal como todos os outros, estava cansada da subida vertiginosa e interminável. Porém, rapidamente esqueceu isso quando reparou onde de facto estava.

Encontrava-se diante de um enorme amontados de rochedos absolutamente gigantescos, curiosamente semelhantes a um vulcão. Havia uma entrada na base, sem porta ou qualquer outro tipo de proteção, parecendo ser somente uma gruta natural. No entanto, a passagem não era muito comprida. L consegui já ver um largo espaço vazio, ocupando o que parecia ser todo o interior dos rochedos. Parecia que a rocha estava cheia de pequenos buracos, como nichos, mas o que realmente lhe interessava era um pequeno círculo de pedras negras que existia no centro da divisão, alinhado com o cume dos rochedos e que parecia ser um poço.

– Uau – murmurou a voz de Elpída, completamente fascinada – Olhem só para isto…

Ao contrário de L, Elpída estava a fixar o lado oposto ao do rochedo, para o sítio de onde tinham vindo. Os amigos viraram-se todos para seguir o seu olhar.

Era de cortar a respiração.

O espaço plano que se estendia entre a entrada da gruta e as escadas não tinha muitos metros quadrados e somente tinha por onde seguir na parte em que se ligava às escadas. Nos outros pontos, terminava abruptamente num precipício sem fim. Estavam tão algo que conseguiam ver a suave curva arredondada do planeta Terra, a luz do sol brilhando do outro lado, surgindo por detrás da curva como o halo que envolve a cabeça de um anjo. O ambiente que essa luz não iluminava era negro, com milhares de estrelas a piscar, as quais se encontravam mais próximas do que nunca.

L atreveu-se a chegar um pouquinho à frente no precipício, olhando lá para baixo, e viu diversos edifícios de aspeto antigo a flutuar no ar, sobre algo que parecia ser uma nuvem branca com reflexos dourados.

– Isto é lindo – constatou Tech.

– Podes crer – concordou Elpída.

– Não temos tempo para ficar aqui a admirar a paisagem – cortou Hisui, fazendo-os regressar à realidade – L, vamos encontrar logo o Livro dos Nomes.

L desviou hesitantemente o olhar da paisagem, recuando para longe do precipício e assentindo com a cabeça na direção de Hisui, que lhe estava a lançar um leve olhar de reprovação.

– Vamos entrar – convidou Dest, que parecia mortinho para explorar o interior do amontoado de rochedos.

Apesar de todos estarem curiosos, entraram cautelosamente, perguntando-se que tipo de armadilhas as Parcas poderiam ter colocado ali. Felizmente, constataram que o caminho estava completamente livre.

A gruta desembocava numa câmara que, como L pensava, ocupava todo o interior do amontoado de rochedos. As paredes estavam completamente cobertas com nichos e, dentro de cada um deles, tinha um fuso. Os fusos junto ao chão estavam envolvidos por um fio branco sujo, acinzentado e desfiado, aparentando mesmo estar a apodrecer aos bocadinhos. No entanto, algumas fileiras de nichos mais acima, os fusos coloriam-se de uma luz dourada muito bonita e brilhante e rodavam lentamente sobre si mesmo, puxando e enrolando ainda mais fio. E, mesmo lá no alto, onde quase não se viam, estavam fusos cujos fios eram prateados, brilhando mais intensamente que quaisquer outros, sendo eles, de facto, a fonte da fraca iluminação da câmara. Eles rodavam também lentamente, alguns deles acumulando já uma quantidade de fio enorme, tão gordos que quase não cabiam no nicho.

– Isto… são os fusos da vida – murmurou Shark, estarrecido.

– Porque é que aqueles lá em cima são prateados? E porque é que estes não têm luz? – perguntou L.

– Os prateados são os dos deuses que já beberam Néctar – disse Elpída – São os fusos destinados a rodar eternamente. Ou assim deveria ser. Afinal, nada é eterno.

– Os que não têm luz e não rodam são os fusos cujos fios já foram cortados – murmurou Hisui – Das pessoas mortas.

– Porque é que ainda estão aqui? – insistiu L – Não deveriam tirá-los?

– Os fusos retiraram-se a si mesmo – disse Elpída – Pode não parecer, mas estas paredes movem-se, descem para baixo, enterrando os fusos mais velhos e dando espaço para novos lá em cima.

– Os fusos velhos permanecem aqui enquanto alguém se lembrar deles – explicou Gina, baixinho – São apenas memórias de quem já viveu. Pessoas de quem já ninguém se lembra de terem existido já foram enterradas no solo. As restantes permanecem.

A boca de L formou um pequeno “o” de espanto e compreensão.

– O que é aquilo? – perguntou então Lilás, aproximando-se do poço.

Todos o seguiram, dispondo-se em redor do poço, poisando as mãos no pequeno muro e espreitando lá para baixo.

Algo estava lá em baixo. Algo dourado que parecia uma mistura de algo líquido com algo gasoso, nenhum deles saberia dizer.

– Deve ser isto que faz aqueles fios – ponderou Niko, apontando com o polegar para os fusos dourados em rodavam inocentemente sobre as suas cabeças.

– Mas como? – perguntou Shark, confuso – O líquido está aqui em baixo e os fusos lá em cima…

– Há um sistema de tubagens por trás das paredes – disse Elpída – Estendem-se do teto ao chão e há uma abertura para cada nicho.

– Como sabes isso? – perguntou Hisui, admirada.

Elpída encolheu os ombros.

– Li livros sobre isso quando andava em Atlantis, há quinhentos anos atrás. Presumo que agora já todos tenham sido destruídos, para não revelar esses “segredos das Parcas”. Seja como for, sei também que estas paredes são mais grossas do que parecem e que há um corredor por trás de cada nicho, entre a parede em que está o fuso e a parede em que estão as tubagens. Os fios estão esticados no meio desses corredores, que é por onde as Parcas circulam para a sua manutenção… ou o seu corte.

Alguns engoliram ruidosamente em seco, sendo depois as suas atenções desviadas por L, que ainda fixava a substância dourada dentro do poço.

– Então… o Livro dos Nomes há de estar no meio daquilo.

– Supostamente – disse Elpída, encolhendo levemente os ombros.

L inspirou fundo, de olhos fechados, abrindo-os quando disse:

– Só há uma maneira de descobrir.

E trepou para cima do muro, fazendo as pernas passar para o outro lado, balançando na direção do fundo enquanto ela se sentava na borda, parecendo pronta a atirar-se. No entanto viu-se impedida por Shark, que correu a segurar-lhe os braços.

– Estás louca, não te podes atirar para ali! – negou ele, a voz fazendo eco no espaço quase vazio.

– Não há outra opção – negou L, sacudindo os ombros para se soltar.

– Podes morrer com essa loucura – fê-la ver Gina.

– Eu sei – estalou L, o nervosismo ameaçando levar-lhe a melhor – Mas não vejo nenhuma outra opção e nós temos de encontrar o livro. Portanto… até já.

– L, não…!

Shark correu para agarrar de novo a namorada, mas não foi a tempo. L deixou-se cair dentro do poço, rapidamente mergulhando na substância dourada.


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