Cartas para Hope escrita por Skye Miller


Capítulo 1
One.


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem, e não esqueçam de olhar o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=OGBo0n54_YQ



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Eu realmente odeio inverno.

Segundo a minha mãe, eu não deveria odiar o inverno, já que é uma estação tão... “agradável”. Mas, sinceramente? Eu acho o inverno tediante. Tudo o que vemos pela rua são os flocos de neves caindo e as pessoas sendo obrigadas a usar roupas de frio. Qual é a graça disso? Na minha humilde opinião, a melhor estação do ano é a primavera, as ruas ficam lindas! Com aquele cheirinho de flor, aquele ar fresco batendo contra o rosto! Já no inverno, se você sair na rua a fim de pegar um “ar fresco”, acaba congelando.

Ainda mais se você morar em um lugar como o Canadá.

Eu estava muito acostumada com a temperatura da Califórnia, confesso, então quando os Adams me arrastaram até aqui eu tive que fazer o melhor possível para disfarçar a minha frustação. E isso já se faz exatos doze anos. Fui adotada com apenas quatro anos e em três meses eu vim parar aqui. Mas ainda não me acostumei, e nunca irei. Eu amo o calor.

– Hope – Ouço a voz da minha mãe e ela parece estar irritada. Reviro os olhos e puxo mais o cobertor – Você vai se atrasar para a escola, filha.

Solto um resmungo e viro para o lado. Outra coisa tediante: escola. Eu nunca gostei de seguir rotinas, achava – e acho – patético esse ciclo idiota em que todos nós, seres humanos, vivemos. Eu invejo os hippies, eles são criaturas tão livres. Fazem o que querem na hora que querem, não tem que seguir essa “doutrina” que a sociedade exige. Eu sempre tenho as seguintes perguntas em mente: Por que temos que ir para a escola tão cedo e sair tão tarde? Por que todo mundo que quer ter um bom emprego é obrigado fazer uma faculdade? Por que existem tantos idiomas? Não seria mais fácil se todos nós falássemos iguais? Por que temos que trabalhar durante quase, ou mais, doze horas por dia? Por que tudo é tão monótono, tão igual? Por que, por que, por quê?

Mas ninguém sabe sobre essas perguntas, ninguém entenderia.

Levanto-me e sacudo os braços, na tentativa falha de me despertar. Pelo canto do olho percebo que a porta do meu quarto está aberta e Henry está me encarando com seus grandes olhos castanhos cor de mel, com uma expressão desconfiada. Seu cabelo loiro está tão bagunçado que me recuso a não acreditar que vive nenhum roedor ali entre os fios.

– Bom dia – Sorrio amigavelmente, mas ele apenas revira os olhos. Henry não gosta de mim, ele deixou isso bem claro quando tínhamos oito anos. Ele jogou na minha cara que preferia que os seus pais nunca tivessem me adotado, só para não conviver comigo. Eu juro que sempre tentei ao máximo possível ser amigável com ele, mas ele não colabora. Odiava quando ele me chamava de “A órfã”, era uma tremenda de uma humilhação. Quando eu tinha dois anos, meus pais sofreram um acidente e morreram. Nenhum parente próximo queria ficar comigo. Eles diziam que eu iria dar trabalho demais e que não ganhariam nada em troca, já que meus pais não eram ricos e ainda não haviam planejado uma “herança” para mim. Então fui jogada em um orfanato, e dois anos depois Cassie e Jhon me adotaram. Deixei de ser “Hope Stonem” para ser “Hope Adams” e eu fiquei feliz por isso, feliz por ganhar uma família.

Não sou uma garota rebelde, longe disso. Aceito os fatos, aceito as coisas como elas são. Na verdade, sou bem feliz. Tenho amigos, gosto de tentar cantar um rap às vezes do nada, gosto de observar pela janela do meu quarto o outono chegar, que é minha segunda estação preferida. Sou uma adolescente perfeitamente normal, e Cassie e John ficam felizes por isso.

Após vestir o horrendo uniforme da Walter High School pego meu material e desço para a cozinha. Mamãe fez bacon com torradas nessa manhã, sorrio.

– Bom dia família! – Mando um beijo para minha mãe e abraço meu pai. Passo por Henry e dou uma batidinha em seu ombro. Ele fingi um sorriso amigável, como se estivesse feliz em me ver e me da um abraço fraterno. Fingimento. Sempre foi assim. Lembro-me de quando era natal e nós dois tínhamos que fingir estarmos brincando com algo, ou conversando, ou fazendo qualquer coisa que irmãos normais fariam, para que então nossos pais entregassem presentes para nós. Eles deixavam bem claro que se Henry e eu não fossemos “apegados”, eles não dariam nem ao menos mesada. Então, Henry e eu tínhamos uma trégua: éramos os irmãos mais apegados do mundo na frente de nossos pais, e quando havia apenas nós dois, era como se nem ao menos nos conhecêssemos.

– Eu estive pensando em fazermos um programa em família no sábado, nos quatro aqui de casa, os Jackson e seus tios, que tal? – Meu pai fala sorridente, olhando para mim e para Henry. Nós dois negamos.

– Vou sair com a Lília.

– E eu vou ficar no meu quarto, jogando videogame, mofando, enquanto os outros adolescentes – No caso, a Hope – estarão fazendo algo mais produtivo, como, hm, transar.

– Henry! – Nossa mãe exclama e ele arregala os olhos. Ela quase nunca ergue a voz. Quase. – Isso é coisa para se falar na frente dos seus pais? E ainda insinuar que a sua irmã estará fazendo algo tão impuro como sexo?

– Desculpa. Mas sexo não é impuro, é bom, gostoso, prazeroso...

– Henry!

– Desculpa!

– Cassie, quer saber o que eu acho? –Papai começa, olhando para Henry seriamente – O Henry pode falar qualquer coisa, pois se você não percebeu, ultimamente o Henry não tem falado absolutamente nada aqui dentro dessa casa. Ele tem parecido um fantasma, vive dentro daquele quarto, jogando aquele videogame idiota, debruçado sobre aquela maquina de escrever escrevendo sei lá o quê. Nem parece quem temos um filho.

– Sério que vocês vieram perceber agora? – Henry diz em deboche, e então olha para mim – Vocês deixaram de me tratar como filho quando ela chegou.

– Meu Deus, Henry. Pare de ser infantil! Vocês dois tinham quatro anos, escolhi uma garota da sua idade justamente para não haver confusão, amo vocês igualmente! – Nossa mãe fala, e olha para ele, que sussurra “Desculpe” – Mas, sim, Jhon, ele tem passado tempo demais dentro do quarto. Você tem que sair mais, Henry, fazer mais amigos. Conversar mais. Com quatorze anos eu te via andando com vários garotos, havia começado a “paquerar” algumas meninas, estava empolgada por você estar entrando na adolescência e agora você parece que está quase morto.

Eu pensei que Henry fosse concordar com a cabeça, dizer que iria começar a sair mais, a aproveitar mais a vida e blah blah blah, mas ele se levantou de supetão e pegou a sua mochila. Saiu de casa sem se despedir. O clima ficou tenso.

– Acho que, hm, já vou indo – Falo ao me levantar. Meus pais estão conversando baixinho, sobre algum assunto que não sei qual é.

Eu pensei, por um momento, que Henry estaria apenas chateado. Mas vi que tinha algo mais, porém decidi ignorar, como eu sempre fazia.

Vou para a parada de ônibus e me sento em meu banco. Sorrindo para algumas pessoas que passam por mim, eu gosto de sorrir. Sorrir me faz bem, me faz se sentir melhor. Eu sou muito maluca e retardada, mas eu não ligo. Eu gosto de ser feliz. Eu gosto de me comunicar com as pessoas.

Ao contrario de Henry, que entrou em um silêncio profundo dentro de si depois daquela manhã.

...

– Callie! Se liga nisso aqui! – Digo ao avistar Callie conversando com meus outros amigos. Eles vem até mim, e encaram-me esperando que eu continuo. Olho para Charlie. – Charlie, preciso que você comece a fazer uns sons de rap... isso! Então, vamos lá! Meu nome é Callie/ Sou a gatinha da Walter/ com minhas meias três quartos/ eu ando por aí, pegando uns gatinhos / yeah! Yeah! Se liga mermão, que eu to na tua/ yeah! yeah! a Hope é estranha, mas também é gente boa/ yeah! yeah! ela é gatinha, mais gatinha que eu, deveria ser a rainha, dessa tal WHS/ Yeah! Yeah!

– Hope, isso foi... – Callie começa a falar pausadamente, parecendo emocionada, então sorri – Ridículo! Você realmente precisa pegar umas aulas com o Charlie, na boa, você não sabe rimar!

– Ai! Confessem que ficou um pouquinho legal? – Faço biquinho e Jassie sorri, assentindo. Estamos nós seis em uma rodinha, comigo no centro: Callie, Charlie, Lília, Jassie, David e eu. – Estão vendo? Eu tenho talento!

– Seu talento não é rimar, nem fazer rap. Se conforme, Hope.

– Vocês são tão sem graça – Digo e depois reviro os olhos. Mas então sorrio ao constar que tem poucas pessoas no corredor, então tiro a minha jaqueta e coloco sobre a cabeça – Eu estava hoje no meu quarto, né, fazendo nada. Aí decidi fazer umas dancinhas loucas enquanto secava o cabelo. Prestem bem atenção.

Começo a remexer os quadris, olhando para cima, tentando equilibrar a minha jaqueta e meus livros em cima da minha cabeça. Jogo os braços para os lados e fico nas pontas dos pés. Meus amigos começam a rir. E é exatamente por isso que eu faço isso, que eu faço essas basteiras todas, porque eu amo sorrir e fazer os outros rirem. Amo arrancar um sorriso de todos eles, todos naquela escola. Menos do Henry, ele nunca ri de absolutamente nada que eu faço, e isso me deixa irritada.

Paro de dançar ao notar que Tyler Paskin está no corredor. Arregalo os olhos e tiro a jaqueta de cima da minha cabeça, organizo meus livros e estufo o peito.

Sim, eu sou muito a fim desse cara.

Qual é, todo mundo já tem ou teve uma paixonite pelo popular da escola.

Ou não?

Ah, esquece.

Ele passa ao meu lado e sorri, sorrio de volta, com minhas bochechas queimando. Coloco a mão sobre a testa, um pouco boba. O grupo se dispersa e fica apenas eu e Lília, caminhamos em direção ao nossos armários.

– Hoje houve uma briga lá em casa, bem tensa – comento – Como sempre é o Henry.

– Seu irmão é tão gato, mas tão deprimente. Eu fico meio boba quando olho para ele, com aqueles olhos lindos castanhos que parecem meio mel, os cabelos loiros bagunçados e incrivelmente sexys, aquelas sobrancelhas arqueadas, aqueles cílios longos, aquele corpo...

Lília para de falar ao perceber que eu estou olhando estranhamente para ela. Como ela pode achar o Henry bonito? Gente, ele é nojento! Não existe pessoa mais nojenta e melequenta que o Henry! E ele fede!

– Acho bom você parar com isso, tá. Não te quero como cunhada, o Henry não é o cara pra você. Você merece o melhor.

– Mas eu apenas estava dizendo que ele é lindo e...

– Tá, chega. Sabe quem é lindo? O Tyler! Ele passou por mim e sorriu – Falei animada abrindo meu armário, totalmente afobada para ir para a aula de física, a aula em que eu e ele tínhamos o mesmo horário – Ele passou por mim e olhou diretamente em meus olhos, eu fiquei tão encanta e...

Paro de falar ao notar que um bilhete caí no chão. Agacho-me e pego.

– Mas o quê...?

“Esperança... Sabia que seu nome significa esperança? Acho que sim. E isso é bom, porque você realmente passa esperança para as pessoas. Esperança de que o mundo seja melhor. Você, com esse sorriso de lado, essas dancinhas ridículas e essas rimas mal feitas. Você faz a diferença. Você traz... esperança.”

Arqueio uma sobrancelha. Mas o que diabos era aquilo?

– Você tem um admirador secreto! – Lília grita em meu ouvido, fazendo assim eu jogar rapidamente o papel no lixo – Por que você fez isso?

– Provavelmente é algum engraçadinho...

– E se for o Tyler?

– Não é, não viaja.

Ela assentiu e eu sorri, acreditando que realmente era uma brincadeira.

Mas, naquela noite, recebi minha primeira carta.


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Notas finais do capítulo

Comentem! :]



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