Scape escrita por Burn


Capítulo 5
The Kill




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No caso, a definição de estar fodida era exatamente não saber o que esperar. O fato de eu o desconhecer tanto dadas as circunstâncias e desconhecer também o que havia acontecido nas ultimas horas fazia com que me sentisse prestes a ser mandada para a forca.

Talvez fossem meus últimos segundos de vida.

Foram mais dois espasmos até que tudo que estivesse em meu estômago fosse para fora. O cheiro azedo impregnou cada centímetro da minha pequena cela. Estalei com a língua toda salivação contida em minha boca umas três vezes tentando amenizar o gosto do vômito.

Apesar disso voltei meus olhos para Oliver. Ele permanecia na mesma posição ereta de braços cruzados. Sua expressão vazia combinava perfeitamente com suas roupas escuras. Se em vez de estar algemada em uma prisão eu estivesse encontrando-o casualmente na sala de nossa casa por causa de uma visita inesperada talvez até conseguisse sentir uma pitada de felicidade ou saudade. Apesar de nunca tê-lo entendido ao certo, eu o considerava meu irmão de verdade e esses sentimentos, ainda que em pequenas proporções, não me abandonavam de forma alguma. Porém, como podemos ver, o cenário aqui era completamente diferente.

Oliver coçou o queixo de forma sossegada e venceu o espaço que o separava do pequeno banco estofado sustentado por duas correntes presas à parede da cela, isso tomando o cuidado de não pisar com suas botas pretas na poça nojenta aos nossos pés. Só observei sem saber ao certo que posição tomar diante da sua presença.

– Olívia, Olívia … – falou calmo.

O ecoar de sua voz chegando aos meus ouvidos arrepiou minha nuca. Ela permanecia com o mesmo timbre apesar de mais rouca, adulta e inevitavelmente sensual. Forcei meu cérebro bloquear esse ultimo pensamento considerando-o extremamente proibido por se tratar de Oliver o dono da voz.

– Dona Am poderia ter sido um pouco mais criativa, não poderia? - indagou me encarando com uma expressão completamente indefinível. Não sabia ao certo se deveria respondê-lo ou se era algo retórico, de qualquer forma não encontrei minha voz e ele logo continuou a falar: - Nunca gostei de que seu nome fosse a versão feminina do meu – ele olhou para a grade esquerda da cela. - Oliver e Olivia – repetiu meu nome, dessa vez com desdem.

– Ela gostava de musica country – consegui dizer tentando defender a escolha de nossa mãe e de brinde defender minha dignidade, mas minha voz saiu tão esganiçada que preferia ter ficado quieta.

Oliver fingiu não me ouvir. Ele permaneceu encarando através da grade as várias outras celas que se seguiam até o fim do corredor.

– Você sabe o que aconteceu? - voltou a me encarar. Neguei mesmo sem saber ao certo se ele se referia ao fato de estar presa ou de sua visita extraordinária a cadeia. Afinal eu não sabia de nenhuma das duas coisas mesmo.

– Quer que eu te conte? - sua voz tomou um tom divertido, o que parecia completamente macabro vindo de alguém tão vazio.

Ainda assim não haviam alternativas melhores para alguém tão perdida como eu, por isso concordei e aguardei sua resposta.

– Bom, querida praguinha – começou irônico fazendo uma pausa só para prolongar um suspense ridículo. - Ontem, ao que parece, você perdeu sua … - ele apontou para logo abaixo de meu ventre e não levou nem um milésimo de segundo para que eu entendesse do que se tratava. Olhei horrorizada o sangue já seco entre minhas coxas e meu coração começou a bombear de pressa. - É, sua imaculada virgindade foi violada dentro da cabine suja de um banheiro – sua voz voltou ao tom vazio. - Eu esperava mais de você, O-lí-vi-a.

O choque de sequer lembrar como as coisas tinham acontecido fez minha mente latejar. Apoiei minhas costas na grade e evitei os olhos de meu irmão adotivo, sentindo-me completamente envergonhada e suja.

– Oh, não fique constrangida -atuou uma falsa condescendência. - A história não acaba por aí.

Sua frase fez com que eu erguesse o rosto. Pisquei os olhos com força a fim de derramar logo as lágrimas que embaçavam minha visão e impediam-me de enxergá-lo. Precisava saber o que vai havia acontecido, não importava a humilhação.

– O Drew? Sim, acho que era esse o nome dele – se respondeu assentindo com a cabeça. - Bem, o Drew está morto agora.

Morto?

O impacto da informação fez meus pulmões pararem de funcionar de imediato.

Ri histericamente desacreditando de algo tão absurdo.

– Não é possível.

Ele ergueu as mãos apontando ao redor de depois seguiu olhando minhas algemas.

– Você está presa – deu de ombros como se não importasse eu negar ou não.

E realmente não importava.

Minha visão voltou a ficar turva, mas dessa vez era misturado com a sensação de culpa por ter matado alguém. Uma sensação de arrependimento por algo que nem lembrava ter feito.

Aquilo também podia só ser um sonho louco. Eu com certeza rezaria para que fosse.

– Drew está morto, você está presa e eu estou aqui para te levar – Oliver organizou as informações calmo, levantando-se e tirando uma pequena chave do bolso. O observei se aproximar e, sem reação alguma, esperei que ele tirasse as algemas de mim.

Senti o alívio de não ter mais os ferros apertando meus pulsos e massageei o lugar agora vermelho.

– Papai e mamãe sabem que estou aqui? - sussurrei olhando para baixo. O pânico tomava minha mente só de pensar na filha assassina que eles tinham.

– Não – falou categórico enquanto segurava o portão aberto para que eu passasse.

O peso de minhas costas se atenuou um grama por essa informação e pela primeira vez agradeci a quem quer que tivesse avisado meu irmão ao invés de meus pais. Eu sabia que uma hora ou outra eles saberiam a verdade, mas imaginar que nesse segundo eles só estavam preocupados com o fato de eu ainda não ter chegado em casa fazia parecer que nada havia acontecido. Pelo menos de um lado da história.

– Não se preocupe, praga. Eu cuidei de tudo para que ninguém saiba que você passou pela cadeia municipal de Lexington.

Apesar de não ser certo matar uma pessoa e sair impune assim como eu estava saindo enquanto seguia Oliver pelo corredor das celas, a ideia de passar os próximos anos de minha vida mofando na cadeia me aterrorizavam de tal forma que no momento não conseguia pensar com clareza, só queria voltar no tempo e nunca ter saindo de casa.

Chegamos ao fim do corredor, onde uma porta de ferro mal pintada de marrom esperava aberta. Ao passarmos por ela estaquei vendo o policial montando guarda.

Oli se pôs a minha frente entregando a pequena chave com a algema e mais um bolo de dinheiro ao homem.

Ponderei por um breve segundo o quanto o que estávamos fazendo era errado e em seguida me veio a pergunta que realmente não queria calar:

Porque Oliver estava fazendo isso por mim?

Talvez essa não fosse a melhor hora para perguntar. Não queria que ele me achasse mal agradecida. Muito pelo contrário, pela primeira vez ele estava realmente fazendo algo por mim, mesmo que fosse errado.

Me mantive olhando para baixo o caminho inteiro até o carro. A culpa parecia ser minha sombra, me seguindo a cada passo que eu dava e qualquer conversa alheia que escutasse pensava ser sobre o fato de eu ser uma assassina.

Chegamos a um reluzente carro preto de vidros filmados. Quase não reconheci meu reflexo completamente acabado. Meus olhos eram manchas pretas que se entendiam pelas bochechas, meus cabelos emaranhados pareciam um ninho sujo e por fim meu vestido estava amassado e rasgado nas coxas - sem contar o sangue entre elas.

Oliver abriu minha porta de dentro do carro. Sentei no banco de couro e suspirei fechando os olhos para tentar esvaziar minha mente por apenas um segundo.

Senti quando ele deu a partida silenciosa e me afundei me concentrando apenas em minha respiração.

– Coloque o cinto, praga – ordenou de forma seca.

Suspirei sem abrir os olhos.

– Eu realmente não me importaria de morrer agora – falei com um sorriso irônico e fui surpreendida quando Oliver freou o carro com tudo, fazendo-me bater a cabeça no para-brisa.

Gemi quando meu corpo voltou a posição inicial. Meus dedos tocaram minha testa dolorida e olhei para meu irmão que agora coçava o queixo com o cotovelo apoiado na porta enquanto a outra mão ainda estava parada no volante.

– Que porra Olívia – murmurou de forma implacável.

– Qual é o seu problema? - indaguei confusa com sua reação bizarra.

–Qual é o SEU problema? - Oliver bateu com as mãos no volante.

Ri de forma irônica da pergunta mais idiota que ele poderia ter feito na vida.

–Qual é o meu problema Oli? O meu problema é que perdi a virgindade no banheiro de uma boate, matei o cara e agora acabei de sair da prisão porque um policial incapacitado de exercer sua função de proteger o bem estar da sociedade foi subornado pelo meu irmão que não vejo há seis anos e que antes disso nunca tinha sequer se importado com a minha existência. Mesmo que ninguém descubra o que realmente aconteceu com Drew eu vou viver o resto da minha vida carregando essa culpa inexorável em minhas costas. Esse é o MEU problema, O-li-ver – terminei imitando seu jeito de falar meu nome.

Ele gargalhou.

De todas as reações, essa era a única que eu não esperava do homem sentado ao meu lado.

Observei sua boca levemente aberta enquanto a gargalhada fluía de forma gostosa. Seus dentes eram brancos com os caninos protuberantes e sua bochecha direita permanecia com a mesma covinha que eu só vira raras vezes.

– Eu acho que perdi a piada – disse ficando irritada com tudo aquilo.

Ele limpou uma lágrima com o polegar da mão esquerda.

– Eu falei que Drew estava morto.

– É, eu ouvi – revirei os olhos. Era desnecessário repetir o que eu já havia entendido.

– Mas em momento algum falei que você havia matado ele – Oli deixou um riso escapar ao final da frase.

– C-como assim? - gaguejei perturbada.

Mesmo que ele não tivesse falado, estava mais do que claro nas entrelinhas afinal eu estava presa, não estava?

Não, não estava.

A cela estava aberta quando Oliver entrou.

Oliver virou para mim e tive que piscar três vezes para ter certeza de que aquilo era real.A íris dele, que minutos antes era castanha como sempre foi, agora estava completamente tomada por um vermelho vivo.

–O-oliver?- gaguejei me encolhendo no banco.

Ele abriu um sorriso absolutamente insano e assustador.

– Eu o matei, praguinha.


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Notas finais do capítulo

Apesar das muitas visualizações e dos poucos comentários do cap passado eu resolvi postar assim mesmo...
Essa semana foi muito difícil para mim e para minha família, minha tia que vinha lutando contra o câncer desde o final do ano passado não aguentou e foi descasar no céu. Ontem foi o enterro e hj eu precisava fazer algo para me distrair. Como sempre, escrever é minha terapia então espero que não julguem pelos erros, faltas de concordância etc e tal... Não estou com muita cabeça para ficar corrigindo, apenas escrevi o que vinha a mente e ficou isso aí que vocês leram.
Bom, não vou ficar implorando por comentários, quem quiser comenta, quem não quiser sinta-se livre para não comentar. Eu só queria pedir para quem estiver realmente gostando da fic favoritar. Isso ajuda muito a divulgar algo que eu gosto tanto de escrever. Quem puder me fazer esse favor, fico agradecida (:
Hmmm acho que é só isso.
Ah, queria saber que vai na bienal?
bjs