As mãos da Rainha escrita por Alihhh


Capítulo 1
Prólogo


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, muito bem vindos.Espero que gostem. Tem muito tempo que não escrevo, é muito bom voltar.



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O cheiro de mofo e alho era forte no pequeno porão. A única vela iluminando o cômodo estava quase no fim. As prateleiras ao redor continham velhas lembranças de um amor perdido. Cartas, presentes e cadernos cobertos de poeira. Um pedido de silencio sussurrado. Luzes bruxuleantes lançavam sombras dançantes nas paredes, bonitas aos olhos inocentes dos irmãos Gum.

– Qual o problema? - os olhos de Flavia Gum foram diretamente à porta obscurecida do porão. Tocou de leve seu irmão mais velho, Pedro Gum. Os olhos pretos arregalados na penumbra. Um pequeno gesto com a mão pede tempo. A menina divide olhares entre a porta e a palma estendida. Seus olhos logo se voltam ao rosto rechonchudo do irmão. - Pedro?

– Espere! - sussurra o rapaz. Alguns instantes depois os ombros relaxam e ele sorri. - Acho que não foi nada. Pensei ter ouvido alguém lá em cima.

– Isso é ridículo. - afirma a pequena menina de 13 anos. Os Gum eram conhecidos por toda a população. Seus enigmáticos olhos pretos achatados eram característica da família, assim como o cabelo liso da mesma cor dos olhos e baixa estatura. Para os irmãos, não era diferente. Flávia era muito magra, completamente diferente do irmão rechonchudo. - Nossos pais não irão retornar antes do dia clarear. Você sabe disso.

– Sim, eu sei. - os olhos demonstravam superioridade, a boca retorcida. Típica expressão de "eu sei mais que você". Flavia achava hilário quando o irmão agia desta maneira, ele sabia que ela era muito mais esperta que ele. Só não admitia. Por enquanto. Pensou astuta. - Mas pensei ter ouvido. Precaução nunca é demais. - sobrancelhas erguidas e o dedo indicador levantado. O jovem de 15 anos sempre tentava colocar algum juízo na cabeça da menor. Tentava. Ela achava que era mais esperta do que ele. Pobre criança. Sorriu com o pensamento. - Nunca! - Enfatizou concretizando.

– Continua sendo ridículo. - olhou para cima consternada. Que diferença fazia? Talvez sua irmã Sofi retornara à casa, mesmo tento partido no dia anterior. Fora aprovada para ser a nova dama da rainha. Tarefa idiota. Secretamente pensou. Secretamente. A pena para ofensas à coroa eram terríveis. Ouviu uma vez que um homem fora torturado a ponto de perder sua mente. Seu crime? Contar histórias terríveis sobre o rei, atrocidades que fazia a rainha. Mentiroso. Concluiu. O rei era bondoso, isso ninguém poderia negar. Somente seus inimigos. Corrigiu o pensamento. Aqueles que diziam e faziam algo contra a realeza acreditavam que o rei era um monstro. Mas ele adorava a rainha, nunca a teria como inimiga. O novo trabalho de sua irmã era prova disto. A função da dama da rainha nada mais era do que mimar a mulher real. Sofi estava indo para o castelo, não voltaria. - Tem medo de gatos agora? - pensou ser a única opção viável.

– Não, - respirou fundo antes de continuar - não tenho. Mas preciso te contar uma coisa. Algo que ouvi hoje na taberna do mosquito. - Sua voz era baixa, tom de segredo.

– Não quero ouvir uma história que precise ser contada no porão escuro de uma casa vazia. A não ser por um possível gato assustador.– Riu de sua piada. - Não quero ouvir mentiras de invejosos que querem usar a coroa. E - enfatizou a letra na frase inacabada - não quero ouvir nada que coloque dúvidas no meu coração, me faça dizer coisas idiotas depois. E principalmente, não quero ouvir nada que custe minha liberdade, ou até minha cabeça!

– Me ouça! Se for verdade, nossa irmã pode estar em perigo. Estão dizendo que...

– Por favor, não. - Flavia lamentou inutilmente. Seu irmão não parou de falar.

– ... a última dama da rainha foi assassinada. - concluiu. - Assassinada. - enfatizou com olhos amedrontados, ignorando completamente o pedido da outra. A segurança real não cometia erros, nunca. Eram compostos de guardas sobre-humanos. Dádivas recebidas do rei. Um assassinato só poderia ser cometido com o assentimento e ordem do próprio rei.

– Isso não faz o menor sentido, Pedro. Se ela foi morta de propósito, assassinada como diz, deve ter feito algo para irritar o rei. Mas se isso realmente aconteceu, porque foi anunciado que ela sofreu um acidente? Porque omitir a verdade? Não faz o menor sentido.

– Dizem, - sua boca se contorceu por alguns instantes antes de prosseguir - que ela descobriu um segredo. Um segredo guardado por sete chaves!

– Sete... chaves? - duvidou a menina. - Você deve perceber o quão ridículo isso soa, certo? Que tipo de segredo seria guardado assim?

– Você se acha tão esperta, irmãzinha. É só uma expressão. - sua postura de irmão esperto assumiu - Continuando, dizem que ela descobriu um segredo macabro. Ninguém sabe ao certo o que é. Alguns dizem que a rainha é deformada... aleijada! Outros afirmam que o rei é um bruxo, usa magia negra. Dizem que suas dádivas são malignas, pagas com sangue. Por isso as punições são tão severas, sangrentas e doloridas. Ouvi ainda que eles tem um dragão...

– O que? - sua voz saiu mais alta do que pretendia, esganiçada. Mas também! Um dragão? Como um dragão pode ser escondido? Como um dragão pode existir? Além de não fazer sentido algum, era completamente ridículo. Como já disse antes. Acrescentou em pensamento- Você só pode estar brincando. Estou subindo. - Flavia se levantou consternada. Não tinha paciência para as baboseiras do irmão. Não tinha paciência para quase nada, na verdade. Principalmente coisas que poderiam ser fatais, se caíssem nos ouvidos errados.

– Espere! Me escute! - suplicou o gordinho. Alguma coisa em sua expressão fez a pequena menina de olhos puxados congelar no lugar. Medo, ele está com medo. Medo por Sofi. Concluiu, incrédula. Como alguém que participa de sussurros mortais em tabernas, alguém que ainda concorda e compartilha opiniões e dúvidas sobre a realeza pode ter medo de um suposto assassinato? Um que não envolva agonia duradoura, tortura e terror. Um suposto assassinato silencioso, sem sentido algum. Sem lógica. Se alguém era pego descumprindo a lei, a punição aplicada era de conhecimento de toda a população. Dar exemplo, fazer com que as pessoas saibam o que irá acontecer com quem sair da linha.

Não, você me escute. - irritou-se. Os ombros tensos com a insensatez e até mesmo loucura do irmão. - Quer nos dar uma morte horrenda? Tem medo de um suposto assassinato que não aconteceu!, mas não tem medo de ser pego falando essas coisas e sofrer a punição. Você sabe que nem crianças escapam da punição. Temos que ser gratos pela bondade do rei. Ele nos dá comida, trabalho e segurança. É uma honra, tanto para Sofi, como para a nossa família. Você sabe que é! Pare de frequentar esses locais. Mas se quer tanto ser preso ou perder a vida, o problema é seu. Não me envolva. Eu agradeço aos céus a oportunidade da nossa irmã. A última dama da rainha sofreu um acidente, não foi assassinada. Sofi não será assassinada. Ninguém é assassinado sem motivo nenhum no castelo. Ninguém. Pare logo com isso. Essas abobrinhas estão preenchendo seu coração. É só questão de tempo para te pegarem. Para pegarem todos que conspiram contra o reino. - suas palavras eram acidas e decididas. Flavia se encaminhou esbaforida para a porta, a abriu e não olhou pra trás.

Pedro ficou parado, vendo a irmã sair do porão. Passar pela porta e subir as escadas.

– É melhor morrer pela verdade do que viver na mentira, irmãzinha. - sussurrou na solidão do cômodo. - Eu escolho a verdade. Não acredito na mentira que é a bondade do rei. Ele é um monstro. Isso, sim. - Respirou fundo, o medo apertando seu peito. Que os céus protejam Sofi. Ela vai precisar de toda proteção possível. Concluiu em pensamento.


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Notas finais do capítulo

É isso... não deixem de comentar. Isso é muito importante!Obrigada!E não tenham piedade de mim!! Ps: estou procurando uma Beta! Se alguém quiser, favor mandar um email para aline.juer@hotmail.com ou por mensagem mesmo.Obrigada novamente. :D