A última Noite escrita por rosetta


Capítulo 1
Capítulo Único




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Já anoitecera quando um rapaz de longos cabelos negros e olhos escuros estava dentro de um carro, recostado contra a porta. Mirava o banco da frente, olhando para seu meio irmão, Sesshoumaru. Este estava sentado ao lado do motorista, impassível como sempre. Os olhos pequenos e levemente puxados, eram de um azul gélido. Usava os cabelos compridos que tinham quase a mesma tonalidade dos seus.

Chegaram ao seu destino, descendo do carro, em frente a uma enorme mansão. Incrédulo, parou ao lado do irmão mais velho, que tocou o interfone, identificando-se. Os portões imediatamente se abriram para eles. Adentraram a construção, sendo recebidos pelo anfitrião que tinha os cabelos negros e nos olhos uma coloração azulada, de tonalidade escura.

- Sejam bem-vindos. Fiquem a vontade. -  O grã-fino os guiou até uma mesa enorme, com três pratos postos - Que bom que vieram, assim poderemos discutir logo todos os detalhes da fusão de nossas empresas: a Jidai no Kakera e a Shikon no Tama.

O silêncio reinou durante a refeição, até o dono da casa se pronunciar:

- Vamos tratar dos assuntos importantes. No caso de aceitarem a fusão entre nossas empresas, eu investiria uma grande quantia em dinheiro na nossa empresa. Garanto que a Jidai no Kakera é uma empresa com alta lucratividade. Tenho aqui mesmo – Pegou uma pasta apontando-a para Sesshoumaru, que a pegou, analisando-amrem a fusquando o homemhomem se pronunciou:,iem, sabendo que no fim, tudo de ruim pelo que passaram para chegar aonde e – os lucros dos últimos meses.

- Porque esse interesse na Shikon no Kakera? – Foi a pergunta do primogênito, que nem levantou os olhos dos papéis.

- Apenas porque quero me expandir, e sua empresa tem tradição e tempo o suficiente no mercado para me garantir uma certa estabilidade.

- Bem, me parece tudo correto. Por mim, a fusão não seria problema...

- Não vamos concordar com nada – Interceptou InuYasha, encarando o irmão nos olhos, depois voltando-se para o outro homem – Se meu pai nunca viu a necessidade de aumentar a empresa, não tem porquê a gente fazer isso agora.

- InuYasha. – Sesshoumaru replicou, o olhar maligno – Somos nós que comandamos a empresa agora, e isso nos dará lucro.

- É, mas eu não concordo. – Teimou, os olhos faiscando de raiva – E você não pode fazer nada sem que eu aceite.

- Não se preocupem com isso. – Falou Naraku, os olhos indo de um para o outro – Lhes darei um tempo para pensarem. – Refletiu por alguns segundos, e InuYasha não gostou do olhar que lançou a ele – Já sei. Fiquem aqui durante essa noite. Serão meus hóspedes. Assim vocês podem pensar duarante a noite e me dar a resposta amanhã.

- Certo, faremos isso. – Foi a réplica de Sesshoumaru, cortando o irmão, antes que falasse

A sobremesa, então, foi servida. Uma mulher passou, olhando provocativamente para o convidado mais velho. Passou pelo anfitrião sem olhar para ele, embora ele a encarasse, como numa reprimenda, falando entre os dentes seu nome, Kagura. Parecia-lhe que ela não deveria estar ali. Mas porque o homem proibiria que ela aparecesse diante deles?

- Será um prazer recebe-los aqui. – Começou Naraku, observando Sesshoumaru – Farei de tudo para que se sintam confortáveis. Espero que pensem melhor – Voltou seu olhar para o caçula, fixando os olhos nos dele – e que tomem a decisão certa, aquela que será a melhor para vocês. – InuYasha encarou-o, sentindo a imposição que fazia. Sabia que não seria boa idéia aceitar a oferta, porque o idiota do seu irmão não via isso? – Bem, vou levá-los até seus quartos, para que se acomodem.

Virou-se e eles o seguiram, pelos intermináveis corredores da gigantesca morada. Subiram um lance de escadas, seguindo em frente por um longo corredor, adornado por diversos objetos históricos, provavelmente adquiridos de sua própria loja. A luz dos corredores era fraca, já que eram iluminados por lampiões. Naquela escuridão, no entanto, não puderam identificar quem seria o desconhecido que se aproximava, a passos trôpegos. Naraku arregalou os olhos, parecendo preocupado. Ele reconhecia a pessoa, mas não desejava que a vissem.

O individuo parou, por alguns segundos, tropeçando como se fosse cair. InuYasha, rapidamente aparou-o com os braços antes que caísse. Acabou descobrindo tratar-se de uma mulher. Ela levantou os olhos encarando-o, como se não o visse. Passou alguns segundos contemplando-a, sentindo um calor subir às faces, só de senti-la assim, próxima a si. Seus longos cabelos negros eram macios e os olhos negros, misteriosos. Observou, ficando com as faces rubras, que ela era linda. Continuaram na mesma posição até Naraku interceder a amparando pelos ombros e dizendo:

- Desculpem-me, me dêem um segundo. – Ele agarrou-a pelo braço arrastando-a para um canto. Aproximara-se do ouvido dela, dizendo algo que eles não puderam ouvir

O rapaz apertou as próprias mãos, imaginando-se, numa louca fração de segundo, dando um soco na cara daquele homem que a tratava desse modo. Recompôs-se, vendo que ela voltava, capengando, para o quarto do qual veio.

- Perdoem-me por fazê-los esperar... É que ela tem alguns probleminhas com bebida – Falou, tornando-se tão sereno quanto antes – Vamos, sigam-me, vou mostrar seus quartos. – Seguiram em frente, sendo guiados por aquele homem no qual InuYasha não conseguia confiar.

A porta do aposento se entreabriu e a mulher espiou, olhando os hospedes de Naraku, especialmente o rapaz que a segurara. Sentia a cabeça leve, e sabia o que isso significava. Ele tinha lhe dado aquela droga outra vez, por isso mal conseguia se manter de pé.

Caiu de joelhos, gemendo. Sua cabeça doía, provavelmente logo a substância perderia o efeito. Só conseguia sentir ódio, caída no chão, sem saber como reagir. Precisava fechar a porta, mas não conseguia. Rezou para que o homem não voltasse e encontrasse a porta aberta, e pior ainda, ela espiando por detrás dela.

- Kikyou! – Disse Kagura, correndo até lá e fechando a porta – Está tudo bem com você?

- A-acho que sim.

- Ele te deu aquilo outra vez, não é? – A mulher assentiu, olhando para o chão – Porque você não o obedece de uma vez? Ele vai acabar te matando.

- Não vou dar pra ele o que quer. Prefiro a morte. – Foi sua resposta com a respiração acelerada – Essa maldita tontura.

- Eu detesto fazer isso... Mas venha. – A suspendeu, levando-a até uma cama – Saiba que eu só te ajudo porque também sonho em ser livre de tudo isso um dia. Mas acho tolice isso que você faz... De que adianta resistir? Logo será uma de nós. Não é tão difícil de aceitar, é?

- Eu o odeio.

- Todas o odiamos. Mas resistir não vai resolver nada e...

Parou de falar, quando a porta se abriu. Por ela entrou Kanna, o olhar perdido de sempre. Ela sentou-se num canto, silenciosa. Era a mais fiel serva dele, quase uma escrava. Somente ela conhecia alguns de seus segredos.

- O que há com ela? – Perguntou calmamente a jovem que era a mais nova delas – Desobedeceu suas ordens outra vez?

- É foi isso mesmo. – Replicou Kagura, passando a olhar-la como se fosse uma criminosa – Um dia ela vai ser uma de nós e vai parar com essa bobeira, mas por enquanto, vai sofrer assim.

- Kanna... Por que você faz isso? Por que estragar sua vida por tão pouco? – A outra pronunciou-se, com a voz tranqüila.

- Eu gosto dele, e não me importo. – Ela replicou, mesmo que não houvesse nenhum vestígio de alegria em sua voz ou em seu rosto. Aliás, desde que elas a conheciam, nunca houvera.

O silêncio reinou no local, e lentamente Kikyou sentia-se melhor, certamente que logo se veria livre do efeito.  Aterrorizava-se ao pensar que logo Naraku viria buscar alguma delas para servi-lo. E sabia que ela havia sido a eleita essa noite, depois de tudo.

A porta rangeu, abrindo-se. Um homem adentrou o quartinho,  com os olhos malignos agora bem visíveis para elas. Não fazia mais sala para os hóspedes, agora iria voltar a ser ele mesmo.

- Preciso falar com vocês. – Aquele timbre perturbava Kikyou, que não parava de olhar para os olhos dele – Sabem que temos hóspedes essa noite. Eu pedi para vocês ficarem quietas... Mas, nem a isso vocês obedeceram, não é, Kagura? – Soltou uma risadinha maligna, encarando-a nos olhos, notando que eles se enchiam de pavor a cada palavra que falava, e isso o divertia – Sabe o que acontece quando vocês são meninas más?

- Mas, Naraku-sama... Eu não tive a intenção.. E-eu tinha me esquecido... Me perdoe..

Não houve tempo para qualquer outra ação. Naraku aproximou-se dela, dando-lhe um tapa no rosto, tão forte que as marcas de seus dedos ficaram no rosto da moça que caiu no chão, gemendo. Ele puxou-a, suspendendo-a pelo braço. Ela resmungou, sabendo que gritar seria pior. O homem a beijou, com intensidade, outro tapa. Desta feita a mulher ficou no chão, imóvel, rezando para que ele parasse logo com aquela tortura. Ele virou-se como se a tivesse descartado.

- Vamos a você agora. Eu lhe disse, minha jóia, para não sair daqui – Falou, aproximando-se de Kikyou, perigosamente – Você me jurou que não iria fazer nada de errado. Você sabe que é minha preferida, que eu não consigo ser mau com você. Então, eu não vou ser mau. Eu vou te levar pra ficar comigo hoje. Vai fazer tudo o que eu gosto e hoje me dará o que eu quero. Vamos, venha comigo. – Ele a pegou pelo braço, arrastando-a consigo para fora do quarto.

- Estamos aqui. – Disse Naraku, observando a moça que arrastara até ali e soltando-a a no chão. Ela deixou-se cair, os olhos tão frios quanto sempre foram ao olhar para ele – Se você for uma boa menina, eu vou te perdoar pelo que aconteceu hoje. Afinal de contas eu sei que você me ama...

- Eu tenho nojo de você – Ela levantou-se, cheia de desprezo, afastando-se dele cada vez mais.

- Vamos, me dê o que eu te peço a tanto tempo. Seja boazinha como as outras, minha jóia.

-Nunca... Eu prefiro a morte do que uma noite com você.

- Vamos, eu  te desejo, não vou ficar aqui esperando – Se tornara ameaçador e ela não demonstrava quaisquer sinais de medo – Beije-me, agora mesmo.

- Não!

Empurrou-a contra a parede, apertando-a com força, já que ela tentava escapar. Ele forçou os lábios a encostarem nos dela e ela sentiu as lágrimas de ódio encherem seus olhos. Mordeu os lábios dele, correndo, ofegante, para um outro canto. O homem deu um sorriso maligno, perseguindo-a e dando-lhe um forte tapa, que fez com que caísse no chão. Tentou novamente, puxando-a e forçando-a a beija-lo. Novamente escapou, dando alguns passos atrás, vendo-se encurralada.

Então teve uma idéia, que fez com que as pontas de seus lábios se repuxassem, num leve sorriso. Gritou, olhando no fundo dos olhos dele:

- Socorro! Ele quer me matar! Alguém me ajuda! – Seus gritos ecoaram.

Ela viu o pavor nos olhos dele. Por um segundo pensou que ele fosse fugir. Mas ele investiu, furioso, esbofeteando os dois lados de seu rosto. Pegou-a pelos ombros, sacudindo-a e jogando-a contra uma parede. Sentiu uma dor lancinante. Ele continuou a bater-lhe, até ela desabar, resfolegando, os olhos cheios de lágrimas..

- Odeio fazer isso com você e esse seu rostinho lindo – Ele disse, segurando-a pelo queixo. Ela desviou os olhos e ele apertou seu pescoço. Viu que havia, agora, desespero nos olhos dela – Você passou dos limites essa noite. Espero que isso não se repita. – Largou-a e ela respirou, aliviada, os olhos marejados - Vai dormir aqui sozinha essa noite, pra pensar no que fez. – Saiu do quarto, trancando-a lá dentro.

Ela sentiu as lágrimas percorrerem seus olhos. Estava viva, por pouco. Tinha que sair daquele lugar não podia mais agüentar aquilo por muito tempo. Olhou ao redor, sem saber como faria para fugir, ou mesmo para levantar. Alçou-se, com dificuldade, apoiando-se na parede. Pegou um grampo de seu cabelo, colocando-o na fechadura. Não fazia idéia de como arrombar aquela porta, mas tinha que conseguir, se quisesse continuar viva.

Demorou, mas a fechadura destrancou e Kikyou respirou, aliviada. Abriu uma fresta da porta, espiando. Não havia ninguém, então correu, o mais silenciosamente que pôde. Ouviu passos, ecoando junto com os seus. Notou, com pavor, que Naraku vinha em sua direção. Certamente que a havia notado. Ela então correu,desabalada. Ele acelerou também. A moça correu mais ainda, olhando para trás. Virou uma esquina, adentrando o primeiro quarto que vira e fechando a porta. Olhou para dentro notando que havia alguém na cama. Seus olhos então encontraram os do garoto, aliviando-se ao ver quem era ele. Quem sabe a ajudasse?

- O que está fazendo aqui? - Parecia surpreso pela invasão.

- Por favor, não diga nada... Me deixa ficar aqui. – Implorou, apavorada, olhando-o nos olhos – Eu prometo que te explico depois, mas tranque a porta.

- Ta bem. Mas da próxima vez bate antes de entrar. – Resmungou, obedecendo e tornando a olhá-la, com os braços cruzados – Então, explica. Começando de quem é você. – Parecia irritado.

- Me chamo Kikyou – Ela falou, notando que a dor que sentia voltara.. Deixou-se cair sobre os joelhos – É difícil contar isso, mas... O Naraku, ele é um louco. Ele mantêm algumas mulheres aqui, para se divertir com elas.. Eu sou a única que continua a resistir a ele ... – Respirou fundo – Hoje ele me bateu e me trancou num quarto. É por isso que eu quero fugir, eu não posso viver assim. Preciso da sua ajuda, senão ele vai me matar.

-Keh! Eu não tenho nada haver com isso. – Ele replicou, recostando-se à parede, com os olhos fechados e os braços cruzados, como se protestasse – Mas, eu acho ele muito estranho. – Disse, os olhos perscrutando os dela, para saber se o que dizia era verdade – Então... Acho que posso te ajudar, se for só te esconder aqui por hoje. Mas não vai se acostumando!

- Muito obrigada. – Agora estava calma. Sentiu no fundo do peito que, apesar de suas grosserias, poderia contar com ele – E então, qual é seu nome?

- InuYasha

- Certo.

O silêncio se prolongou, durante muito tempo. Kikyou recostou a cabeça contra a parede, exausta. Sentia muita dor, mas tentava ocultar dele. Fechou os olhos, tentando descansar um pouco.

- Ele... Fez isso com você? – Ele perguntou, olhando em outra direção.Estava preocupado com ela.

- Sim. Foi horrível.

E o sossego prosseguiu até a mulher adormecer, exaurida. Dessa feita, InuYasha aproximou-se, observando as marcas em seu rosto, horrorizado. Como um homem podia ser tão cruel, à ponto de fazer algo tão desumano? Sentiu o peito apertar, notando que estava encolhida de frio. Com um assomo de carinho que nunca antes sentira por qualquer criatura, pegou-a nos braços, depositando-a sobre sua cama. Cobriu-lhe o corpo com sua jaqueta, repuxando uma mecha de cabelo que lhe caía sobre o rosto. Sentiu os lábios repuxarem-se, no princípio de um sorriso, ao vê-la mover-se ainda em sono profundo.

Ele levantou-se, sentindo-se um idiota por estar sendo tão carinhoso. Era tão estranho. Nunca sentira-se assim diante de nada, mas sentia vontade de proteger aquela moça, acolhê-la nos braços, queria aninha-la em seu peito e protegê-la do mundo ao seu redor.

Contemplou-a mais uma vez. Estava agora resoluto. Iria ajudá-la a sair de lá. Sabia que seria difícil, mas sentia que devia enfrentar o que quer que fosse, desde que no fim ajudasse àquela garota. Sentou-se na cama esperando até o momento em que acordaria.

E isso não demorou. Logo ela despertou, respirando fundo e olhando pela janela. Tinha de fugir de algum jeito, tinha que saber como.

- Kikyou... – O rapaz começou confiantemente – Eu... Quero te ajudar a sair daqui.

Ela abriu a boca para responder, mas não ouve tempo. Ouviram-se batidas na porta. O rapaz levantou-se. Já ela, escondeu-se num lugar aonde ele não a encontraria.

– Naraku... O que faz aqui?

- Vim para discutirmos melhor a oferta – Entrou no cômodo, sem pedir licença – Bem... Agora que estou aqui, vamos direto ao assunto... – Encheu duas taças, botando uma nas mãos do hóspede, que aceitou-a, ainda observando-o – Porque não decide fundir logo nossas empresas? Qual é o problema?

- Eu não quero mudar nada na empresa. Não é nada pessoal, mas... – Conhecia a verdadeira face do homem, mas não podia deixar que isso transparecesse, ou teriam problemas – Eu simplesmente não quero.

- Mas mudanças costumam ser uma melhora. – Disse o homem, bebendo, ato que o rapaz imitou, imediatamente – Não concorda? – Pegou a taça, enchendo-a outra vez e devolvendo-a ao rapaz.

- Não estou disposto a aceitar – Ele bebeu outro gole, olhando para o homem. Se perguntava se ele pensava que o convenceria dessa maneira.

- Eu acho que seria melhor você aceitar – Falou, ao notar que ele começava a sentir mal-estar – Ou terei que tomar alguma atitude – O homem pegou uma faca, encostando-a na barriga do outro – Vamos, aceite de uma vez!

- Maldito – O rapaz disse, desviando-se dele e recuando. Sentiu uma dor forte, ajoelhando-se, arquejando de sofrimento – O que você pôs... Na bebida?

- Huhuhu... Algo que pode te silenciar para sempre.... Ou não, se decidir colaborar. Eu tenho um antídoto, mas só vou lhe dar se aceitar a oferta.

- Você... É louco... – Disse o rapaz, tentado olhá-lo, embora os olhos pesassem.

O outro riu, encostando a faca em seu pescoço. Desesperada, Kikyou saiu de trás da cama, agarrando um candelabro, sem nem pensar. Lançou-o sobre a cabeça do homem. Ele somente caiu, inconsciente.

- InuYasha – Chamou a moça – Não temos muito tempo. Precisamos sair daqui.

E o apoiou, pelo braço. Estava muito fraco e ela entendeu, subitamente o que havia acontecido. Era o veneno com o qual Naraku a ameaçara durante tanto tempo. Sabia exatamente como arranjar o contraveneno, mas precisaria sair dos limites da mansão. E com ele naquele estado, seria impossível.

Saíram pela porta. Ela o arrastou até seu esconderijo, uma cabana velha que ficava nos fundos do terreno. Adentrou-a, soltando o rapaz sobre um colchão de folhas. Já passara várias noites lá, quando tentava fugir.

- Como se sente?

- Como você acha? – Resmungou, contrafeito.

- Acho que está com febre. – Ela olhou-o nos olhos – Me desculpa, eu devia ter feito alguma coisa pra impedir...

- Não, eu fui um idiota... Eu devia ter imaginado... – Disse, o olhar abatido.

- Você está muita mal... Olha, esse veneno é muito forte e se espalha muito rápido. Precisamos de um antídoto logo. Somente Miroku-sama possui o remédio. Só que ele mora fora dos limites da mansão... Mas precisamos trazê-lo para cá.

- Eu acho que não consigo – Estava, visivelmente, preocupado com o que fariam.

- Não, tem de haver uma outra alternativa... Espera! A esposa dele, Sango, trabalha aqui. Preciso falar com ela... Você fica bem se eu sair um pouco? – Perguntou, notando que nunca se preocupara tanto com ninguém nessa vida.

- Vá – Ela levantou-se para obedecê-lo – Ah, e Kikyou! – Chamou, fazendo-a voltar-se – Obrigado... Por tudo isso. – Ruborizou, sem-graça. Nunca de fato agradecera a uma pessoa e o mais interessante era que não lhe doera nada fazê-lo.

Ela sorriu, em resposta. Aquele sorriso lhe valera mais do que mil palavras... Talvez até mais do que um milhão delas, pensou, satisfeito, ao vê-la deixar o local. A satisfação deu lugar à dor, no entanto quando sentiu outra pontada. Ela teria de ser rápida ou não haveria mais tempo.

Kikyou correu, porta afora. Adentrou o quarto das empregadas, rapidamente. Tinha de achar a mulher, a vida dele dependia disso... Sentia algo diferente por ele, seu coração perdia o compasso quando encontrava o olhar dele... Queria sentir aquilo para sempre.

- Quem está aí? – Perguntou uma voz,vinda do meio do escuro.

- Sou eu, Kikyou... Estou procurando pela Senhora Sango. – Havia desespero em sua voz.

- Espera aí. – A voz respondeu, acendendo as luzes. Pôs a mão em frente à boca, vendo os hematomas da moça – Kami-sama! Kikyou-san, aqueles gritos...? – Indagou, atingida por súbita compreensão.

- Sim. Comigo está tudo bem, mas... Eu preciso da ajuda de seu marido... Um rapaz foi envenenado, e... Só ele tem o antídoto. Por favor, chame-o aqui.

- Claro, agora mesmo. – Ela replicou, prestativa. Pegou o telefone, discando - Miroku? – Indagou, apressada – Querido, você pode vir aqui? Tem uma pessoa envenenada aqui, e Kikyou-sama disse que só você tem o antídoto... É, isso. Ta, fala com ela aqui. – Passou o fone para Kikyou.

- Kikyou-san, é aquele veneno de que você me falou, àquela vez?

- Sim, ele deu uma dose do veneno para um rapaz, que hospedou aqui. Por favor, venha rápido e vá direto para os fundos do terreno.

- Claro, farei tudo quanto for possível.

- Muito obrigada, não sabe como fico grata. – Desligou o telefone, aliviada.

- Vou esperar por ele lá fora. – Sango se retirou, correndo.

Dentro da cabana, InuYasha arfava, com a dor que sentia. Rezava para que a moça voltasse logo. A dor aumentava e a respiração era cada vez mais penosa. Fechou os olhos, com força. Queria vê-la lá, diante de si, quando os abrisse.

- InuYasha. – Ouviu a voz dela, abrindo os olhos, aliviado – Agüenta firme, o antídoto está chegando.

- Está tudo bem. – Ele falou, encarando-a com um olhar determinado – Esse veneno não vai conseguir me vencer tão facilmente.

A moça assentiu, pegando sua mão, carinhosamente. Ele ruborizou, de leve, notando como estava preocupada. Observou-a, mais uma vez. Só conseguia pensar em como ela era linda, e como estava sendo boa em se preocupar com ele. Ninguém em sua vida fora bom assim com ele como ela estava sendo, e era grato por isso.

- Não tenha medo. – Ele disse,  com mais severidade do que deveria – Estou lhe dizendo que está tudo bem. Eu vou te tirar daqui desse lugar horrível.

- Eu só quero que você fique bem. É isso que importa. – Ela olhou-o, tão tristemente como antes – Nunca vou esquecer de tudo o que está fazendo por mim.

- Bem... Eu... Na verdade eu não fiz nada... – Estava sem-jeito. Soltou a mão dela, fechando os olhos, querendo descansar.

- Vai ficar tudo bem. Vou esperar lá fora. – Saiu, ficando na porta da cabana. Apenas olhava para a frente, esperando, com toda a sua fé. Mesmo que ele quisesse se fazer de forte, era visível que sofria demais, e ela odiava ver isso.

Olhou para frente, vendo um casal se aproximar ao longe. Ao ver que eram eles acenou, gritando:

- Miroku, Sango, aqui!

Os três adentraram a cabana, receosos. Sango surpreendeu-se ao ver quem era o rapaz.

- É o InuYasha-sama... Foi ele que não quis aceitar o negócio com Naraku.. – Havia muito nervosismo em sua voz..

- Tudo bem, já chegamos. – Disse o homem, pegando um frasco, de dentro da bolsa – InuYasha, beba isso.- Entornou o conteúdo na boca do rapaz – Isso, tudo bem agora. Vamos esperar, logo ele vai melhorar.

- Quanto tempo deve levar?

- Não muito.

- Eu... Quero sair desse lugar. Não posso mais ficar aqui.

- Você está certa – Replicou a outra moça, com a voz mais serena – Eu também vou embora daqui. Se o Naraku é tão perigoso a ponto de envenenar pessoas e espancar mulheres, não acho seguro trabalhar mais aqui.

Esperaram enquanto Kikyou contava para eles todas as história que sabia do homem. Até que constatassem que o enfermo não tinha mais febre e estava bastante recuperado.

- Vamos sair daqui. – Disse InuYasha, olhando para os outros – Não podemos ficar esperando que ele nos encontre! Vamos, o que estão esperando?

- InuYasha. – A voz de Kikyou, serena, soou – Não podemos simplesmente ir saindo. Precisamos de um plano.

- Keh! Vocês se preocupam demais! – Sentou-se no chão, revoltado.

- Eu posso liberar o portão, só que o Naraku já deve estar acordado e provavelmente está procurando vocês dois, depois do que me contou. – Sango interveio, tentando achar uma solução.

- Não, Sango-chan, é arriscado entrar lá. – Miroku replicou.

- Ele não vai fazer nada contra mim, sou só a empregada. – Replicou a moça – Miroku-kun, não se preocupe, eu vou ficar bem.

O outro foi vencido pelos argumentos, beijando a moça e liberando-a para ir. Ela seguiu para dentro da mansão, decidida a resolver logo os problemas de todos.

Todos estavam próximos aos portões quando eles se abriram. Todos saíram, o mais rápido possível. Sango saiu de dentro do casarão batendo o portão. Com um sorriso, abraçou o marido, que a girou, no ar. Ela riu, dando-lhe um ardente beijo, e ele correspondeu, sorridente. InuYasha apenas cruzou os braços, recostando-se ao canto, como sempre fizera. Estava feliz. Não sabia porque, mas era outra pessoa, depois de ter passado por aquele lugar. Não se arrependeria jamais de ter vivido tudo aquilo. Afinal, ali pudera conhecê-la. Agora sentia um vazio no peito: teriam que se separar em breve, talvez nunca mais a visse.

- Vamos embora, querida. – Falou o homem que salvara a vida de InuYasha.

- Obrigada por nos ajudar, Miroku-sama. – Agradeceu Kikyou.

- Foi um prazer. Boa sorte. – Disseram, saindo, de mãos dadas. Sem dúvida aqueles dois se amavam de verdade.

- Bem, InuYasha, eu adorei te conhecer. Sou muito grata por tudo o que fez por mim..

- E-eu... Eu também, Kikyou – Ele falou, os olhos perscrutando os dela. Queria sentir que estava tão triste quanto ele, mas era tão enigmática quanto antes. Notou apenas uma coisa em seu semblante: sentia-se feliz e livre.

- Eu tenho que ir. – Notou que ela vacilava.

A mulher caminhou alguns passos. InuYasha paralisou, sem saber como fazer para impedi-la de abandonar o local. Sentiu o desespero acomete-lo. Ela não podia ir. Seu peito gritava para que não deixasse. Nunca sentira isso em toda a sua vida. Em um impulso correu, segurando o braço da moça, com força. Ela voltou o olhar chocado para ele. Havia uma muda súplica em seus olhos. Era quase como se pedisse para que fizesse o que estava em sua mente. Ele estreitou-a junto a si, acariciando seu queixo, os olhos fixos nos dela.

- Não vá. – Falou, nervosamente. Não reconhecia a si mesmo. Nunca se sentira de tal maneira e o pior era que gostava disso – Eu preciso te dizer uma coisa...

- Diga – Ela replicou, chocada, olhando-o nos olhos. Sentiu, alegremente, que ele queria dizer o mesmo que ela sufocara durante toda a interminável noite.

Ele não falou nada, apenas beijou-a, com intensidade. Ela sorriu, abraçando-o e beijando-o. Pela primeira vez se sentia amada, e não sentia repulsa de ser beijada. O sol começava a nascer, enquanto selavam aquilo que estivera em seus corações e que só descobriram ser mútuo naquele momento..

Nada disseram, apenas saíram juntos, lançando um último olhar apara a construção, que antes impressionara InuYasha por sua magnanimidade, mas que agora não passava de um monte de terras, com muitas histórias terríveis para contar. Abraçou a moça, tentando protege-la das lembranças, e ela sorriu, recostando a cabeça em seu ombro.

Logo depois de saírem de lá, Kikyou denunciou Naraku e ele foi preso. Suas ex-colegas foram libertadas e Kagura agora é tão livre quanto jamais sonhara ser. Quanto à Kanna, morrera pelas mãos do próprio homem. Fora essa sua recompensa por toda a sua dedicação em servir a seu mestre. Miroku e Sango ainda são casados, cada vez mais felizes juntos, com seus muitos filhos. Quanto a Sesshoumaru, desistiu da fusão logo depois de ver o futuro sócio sair algemado da própria casa.

InuYasha e Kikyou hoje são casados e muito felizes juntos. InuYasha continua o mesmo, com seu mau gênio e seus filhos adoram provocá-lo. Kikyou, agora mais feliz que nunca, teve dois filhos, um menino e uma menina. E até hoje, ao se lembrar daqueles momentos, os dois sorriem, sabendo que no fim tudo de ruim pelo que passaram para chegar ali valera muito a pena.


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Notas finais do capítulo

Obrigada a todos que leram e espero que tenham gostado. Em breve mais fanfics, aguardem ^~



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