Everything Has Changed escrita por Anne Atten


Capítulo 22
Capítulo 22


Notas iniciais do capítulo

Como eu sou uma ótima pessoa, vou postar capítulo hoje! Olha que boa pessoa sou, capítulo ontem, capítulo hoje kkkkk Fiquei com medo de me matarem por causa do capítulo de ontem hehehehe Preparem os forninhos pra esse cap! Quero agradecer a Devoradora de Fanfics por ter favoritado.
Não tem nada a ver mais: EU COMPREI SANGUE DO OLIMPO, SOCORRO!!!!! É O FIM DE PERCY JACKSON!!!!!!!!
Bom, agora boa leitura



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Meu coração parece que vai sair pela a boca.
–Eloisa! – fala meu tio sem abaixar a arma. –Achei que voltasse mais tarde.
–Arnaldo, sou eu, a sua irmã que tá te pedindo. Abaixe essa arma e vamos conversar. – pede a minha mãe com a voz meio tremida. –Você tá apontando uma arma pra cabeça da sua própria sobrinha! Você não é assim.
Ele parece hesitar por um momento.
–Eu não quero machucá-la Lydia, saia da frente e vamos terminar logo com isso.
Sinto uma lágrima escorrer pelo meu rosto.
–Tio eu não vou sair daqui até que você deixe o Thomas ir. – falo.
Meu tio solta uma curta e grossa.
–Quem mandou abrir o bico, Lydia? Agora o garoto vai pagar, é bom que aprende a não falar o que não deve.
–Você prometeu que não ia machucar ninguém da família. – falo mais uma vez. Sei que é inútil dizer isso, dando em conta que ele apontou uma arma pra mim sem hesitar.
–Ele não é da família. – diz meu tio rindo.
–É sim, ele é meu namorado.
Eu sei que ele não é, mas o que eu posso fazer? É só uma inútil tentativa de fazer as coisas não piorarem. Viro-me para Thomas e vejo que ele está bem surpreso pelo o que eu disse. Dou um beijo na sua bochecha. Não é muito convincente, mas eu não vou beijar ele de verdade!
–Não me interessa, é sua família não a minha. E você que disse pra ele sobre mim, mesmo eu te avisando as consequências. – e então, sem hesitar, ele dá um tiro no ombro do Thomas e este solta um grito de dor.
–Cala a boca! – grita o meu tio. –Cala a sua boca, garoto!
–Tio! – grito também e meu tio aponta a arma pra mim.
–Se der mais um pio, você vai ser a próxima.
Engulo em seco. Não quero nem imaginar a dor do Thomas, deve ser insuportável.
–Arnaldo, pra que matar o garoto? Não vai te levar a lugar nenhum! – argumenta a minha mãe. –Vamos entrar em casa e resolver isso com calma.
Será que ela já passou por isso antes? Não duvido.
–Logo logo alguém pode aparecer. – fala a minha mãe de novo. –Vamos entrar e resolver isso de forma civilizada. – pede ela.
Carlão e Machado olham para o chefe, que faz sinal positivo com a cabeça.
–Tudo bem, mas se alguém tentar fazer alguma coisa, eu atiro. – diz tio Arnaldo. –E dane-se em quem o tiro acertar.
Ele abaixa a arma e faz sinal para eu e Thomas entramos. Estou tremendo até os dentes de medo. Olho de relance para Thomas e vejo que ele está muito pálido, mais branco do que semana passada, quando roubaram a bicicleta do irmão dele.
–Me desculpe por isso. – sussurro.
–Sem conversinhas! – grita o meu tio e empurra o Thomas, que acaba trombando em mim e com isso, solta outro grito.
Sento-me no sofá e ele ao meu lado. Minha mãe senta-se no meu outro lado e me abraça.
–Vai ficar tudo bem. – sussurra ela no meu ouvido.
Carlão fica do lado de Thomas apontando uma arma para ele, Machado aponta uma para mim. Minha mãe se levada e fica na frente do tio Arnaldo.
–Escute, por que você quer matar o Thomas?
–Ele sabe que eu estou aqui. – diz ele simplesmente.
–Você não devia ter apontando a arma pra ele, ele nunca teria desconfiado. – fala a minha mãe e logo acrescenta. –Ele não vai falar nada pra ninguém, isso eu te juro.
–Como posso ter certeza?
Viro-me para Thomas.
–Não foi sua culpa. – sussurra ele e fecha os olhos com a dor que deve estar sentindo. –Eu quem insisti.
–Mesmo assim... – sussurro de volta. –Me desculpa, se alguma coisa acontecer, a culpa vai ser toda minha.
Ele balança a cabeça negativamente. Thomas parece prestes a desmaiar.
–Thomas já viu demais, já foi ameaçado demais, se ele falar ele estará correndo riscos. – diz minha mãe. –Arnaldo, não tem porque matá-lo.
Meu tio anda pela sala pensativo, com a mão no queixo e a testa franzida. Eu espero nunca mais ver esse homem na minha frente. Lembra quando eu disse que ainda gostava um pouquinho dele? Agora eu o odeio. Odeio ele por estar me fazendo passar por isso e fazendo Thomas passar por isso. Ele que foi burro de ser descuidado e apontado a arma pro menino de repente. Se ele ficasse quieto, podia só se passar por um tio visitante, mas não, ele quis intimidar o enxerido de uma vez!
–Por que você veio aqui? – pergunta minha mãe para o irmão dela.
–Eu estou fugindo, acho que foi avisada. – diz ele como se a resposta fosse obvia. –Eu vim até você, maninha, porque eu preciso de dinheiro pra fugir.
Ah, então é isso. Claro que é isso. Ele não viria pra cá só porque é longe do presídio. Ele veio atrás de dinheiro.
–E porque eu sabia que Cláudia iria ligar pra polícia se eu batesse na porta dela.
–Pois eu devia ter ligado! – explode a minha mãe. –Sabe uma coisa Arnaldo? Eu não te entendo, simplesmente não te entendo! Nossa mãe deu tudo que a gente quis, deu tudo que você quis, você teve todas as chances possíveis! Teve a mesma chance que eu e que a Cláudia, mas você preferiu roubar do que fazer uma faculdade!
Eu quero gritar pra ela parar, porque esse homem é perigoso, mas ela continua falando.
–E você começou a matar, Arnaldo, matar! Pra que isso? Você não precisava disso!
–Não fala o que eu devo fazer! – grita ele de volta.
Carlão e Machado se entreolham.
–Quanto você quer? – pergunta a minha mãe sem olhá-lo nos olhos. A decepção é clara em sua voz.
–O necessário pra uma passagem pra bem longe daqui.
–Pra onde você quer ir?
–Quero ir pra Amazônia.
Quase solto um grito protestando. Amazônia? Será que ele faz ideia de quanto custa uma passagem pra lá? Nós estamos no estado de São Paulo!
–Olha, eu não queria matar ninguém. – diz ele. –Mas se eu não receber o dinheiro, o que eu vou fazer? Vou voltar pro presídio e morrer lá! – tio Arnaldo faz uma cara de desgosto, parecendo se lembrar do lugar. –Então é eu proponho um trato.
Acho que eu vou me arrepender de perguntar, mas mesmo assim pergunto:
–Que trato?
–Ou me dão a grana, ou eu mato o menino. – diz ele dando de ombros como se fosse “ou me dá uma chiclete, ou conto pra professora que você tá mascando”. –E se a vida dele não te interessa, - fala ele pra minha mãe. - eu levo a Lydia comigo pra onde quer que eu vá, faço ela casar com um homem rico pra dar um golpe depois, e você não vai poder me impedir, se não eu te mato.
Ele ficou louco ou o que? Sinto um frio na espinha. Cadê o homem que disse pro capanga não encostar um dedo em mim?
–Você faria isso? Faria isso comigo e com a sua própria sobrinha? Sangue do seu sangue? – pergunta minha mãe praticamente cuspindo as palavras. –Você me dá nojo, Arnaldo!
Finco as minhas unhas na minha própria mão. Carlão mexe-se pronto para atacar a qualquer momento. Sinto a cabeça de Thomas encostar no meu ombro, mas ele se obriga a ficar sentado e encosta a cabeça na parede, sua mão está no ferimento.
–Eu não queria mexer com a minha família, mas vocês não me dão escolha. – diz Arnaldo sem expressar nenhum arrependimento. –E então? O que vai ser? O dinheiro pra três vidas serem poupadas?
Fecho os olhos e começo a rezar.
–Se eu te der o dinheiro, você some da minha vida e nunca mais aparece na minha frente? – pergunta ela. Percebo que ela está tremendo.
–Se esse for seu desejo. – diz ele e faz uma reverência exagerada.
Minha mãe olha para mim e força um sorriso, ela vai em direção do quarto para procurar o dinheiro. O fato é que eu sei que não temos tanto dinheiro assim. Algumas joias, talvez, mas e o que mais?
E se a gente simplesmente desse um jeito neles? Mas acho que é burrice. O que eu poderia fazer?
–Carlão, Machado, podem abaixar a arma. – fala o meu tio. –Eles não são idiotas que tentar alguma coisa, não é queridos? – diz ele falsamente.
Então, sem pensar dou um soco no nariz do Machado. Ele cambaleia, surpreso com o que eu fiz. Carlão aponta a arma pra mim, mas o Thomas dá um soco nele com o braço do tiro e então solta um grito de dor. Meu tio pega a arma e dá um tiro no teto. Solto um grito e a bala cai no chão.
–Acabou a palhaçada! – fala ele.
Machado me empurra no sofá com brutalidade e eu bato o braço no braço do sofá, que é de madeira. Ai que dor. Ele aponta arma pra mim de novo. Thomas está de pé, mas Carlão segura seus braços.
–Crianças, até que se saíram bem. Mas ainda tem muito a aprender. – debocha o meu tio.
–O que eu faço com ela? – pergunta o Machado. –Atiro?
Meu tio parece pensar por um momento.
–Lydia, pode escolher. – fala ele.
–Como assim? – pergunto com raiva. –Desde quando eu escolho as coisas?
Ele ri.
–Posso atirar em você ou no menino.
Sem hesitar, respondo:
–Atira em mim, então.
Ele me olha surpreso.
–O que disse?
–Disse pra atirar em mim. – respondo com convicção. –Você já atirou no Thomas, pra que fazer isso de novo? Vamos lá, titio. Eu aguento.
–Não, Lydia! – grita o Thomas. –Não, deixa ele atirar em mim. Eu já to todo ruim mesmo.
Meu tio olha para nós dois.
–Larga o garoto. – Carlão solta Thomas, que cai no sofá de qualquer jeito e solta um ganido de dor. –E Machado, não atire nela. – diz ele. –Posso ter ameaçado matá-la, mas vou receber o dinheiro, não preciso fazer isso com ela.
Os dois colocam a arma no bolso, caso precisem tirá-las de novo e sentam-se no outro sofá. Meu tio vem para perto de mim e senta-se ao meu lado. Sinto nojo só de sentir a presença dele perto de mim. Ele passa o polegar na minha mão e afasto-a dele grosseiramente.
–Sua mãe não te deu educação, não? – pergunta ele.
Finjo que não ouvi o seu insulto e continuo olhando para a frente.
–Acredite ou não, eu nunca quis ameaçar ninguém da família. – diz ele. –Mas as circunstancias levaram a isso.
Solto uma risada sem emoção.
–Que circunstancias? Você podia ter ficado quietinho, o Thomas nunca ia pensar que você era... – paro pra pensar. –Eu nem sei o que você é!
Thomas dá uma cotovelada leve no meu braço, como que me alertando para não falar demais e acabar levando um tiro desnecessário.
–Lydia, você não sabe como a prisão é ruim. Eu faria de tudo pra não ter que voltar pra lá.
–Mas nós somos família! Você podia ter pedido o dinheiro e arredado o pé daqui, mas você nos ameaçou. Ameaçou me levar, matar a sua irmã, matar esse garoto aqui. – falo apontando pro Thomas. –Ele é irritante pra raio, mas não é motivo pra matá-lo e nem pra dar um tiro no ombro dele!
Meu tio respira fundo.
–Sinto muito por ser quem eu sou, sei que não mereço o seu perdão, sei que não mereço nada, mas foi a única alternativa que eu encontrei. – diz ele parecendo sincero, mas a sinceridade dele é de 0,00000000000000001%
Minha mãe volta pra sala, em mãos ela tem uma bolsinha. Vejo que ela está com o rosto rígido e sem expressão. Ela estende a mão, vejo que está trêmula, e entrega a bolsa para o Arnaldo.
–Aí tem o suficiente pra sua passagem e pra comprar alguma coisa pra comer, é a única coisa que eu tenho. – diz ela com a cabeça baixa.
Meu tio estala os dedos para os dois capangas e eles se levantam do sofá. Depois ele próprio se levanta. Ele abre a bolsinha e só vejo as notas de cem reais em sua mão.
–Dá pro gasto. – diz ele. –Agora eu vou embora.
Ele aproxima o seu rosto do de Thomas e o fuzila com o olhar.
–Toma cuidado com quem se mete, garoto. – diz ele e então olha pra mim. –Você foi muito corajosa, coisa que eu nunca fui. Não seja como eu. – fala ele ironicamente e se afasta. Até parece que ele tá se importando comigo ou com como eu serei.
Minha mãe corre para o sofá e senta entre mim e Thomas. Ela passa o braço ao redor de nossos ombros e nos abraça. Então Thomas solta outro ganido de dor.
–Desculpa. – murmura minha mãe. –O que aconteceu aqui?
–E até nunca mais, minha irmã. – diz o Arnaldo.
Ela não responde e logo ouvimos a porta bater. Começo a soluçar, minha mãe também e o Thomas tá tão chocado, mas tão chocado, que ele não consegue nem chorar.
–Eu achei que tinha alguma chance contra esses caras, e ataquei eles. – falo.
–Eu fiquei com tanto medo do que poderia acontecer. – fala a minha mãe.
–Ele teria mesmo nos matado, mãe? – pergunto. É difícil acreditar que alguém da família seria capaz de me matar.
–Eu não duvido, Lydia. – diz ela.
–Isso foi tão... – Thomas deixa a frase pairar no ar. –Eu to me sentindo um idiota, eu que coloquei vocês nessa situação. – fala ele. –Me desculpem, eu sinto muito mesmo.
Estico o braço e dou um tapinha no seu braço.
–Não é sua culpa meu tio ser maluco. – falo e então franzo a testa. –E o seu ombro?
–Latejando demais. – resmunga ele e fecha os olhos de novo. –Nunca senti uma dor assim antes.
–Até que você foi forte. – diz minha mãe. –Não ficou gritando tanto.
Thomas permite-se soltar uma risada fraca.
–Se eu gritasse, era capaz do tal do Arnaldo dar um tiro na minha boca.
–Não duvido nada. – resmungo.
Minha mãe se levanta.
–Thomas, precisamos falar com a sua mãe.
–Não. – diz ele. –Se a gente falar que levei um tiro, ela vai ter que saber toda a história e talvez ela nunca mais deixe eu ver a Lydia.
Por algum motivo, sinto as bochechas esquentarem, mas retruco:
–Melhor não me ver mesmo, olha só o que eu te causei hoje.
Ele nada responde.
–Mas eles são sua família...
Thomas faz sinal negativo com a cabeça.
–Meu pai, ele não tá tão bem, não quero preocupá-lo com mais uma coisa.
–Tem certeza? – pergunta a minha mãe. –Se alguma coisa desse tipo acontecesse com a Lydia, eu gostaria de saber.
Thomas assente e minha mãe se retira da sala, pra pegar a bolsa e as chaves. Thomas olha para mim e analiso pela primeira vez o seu ombro. Tá sangrando muito. Desvio o olhar.
–Tá doendo tipo muito mesmo? – falo e então acrescento. –Foi a pergunta mais idiota que já fiz. Óbvio que tá doendo.
Ele solta uma risada fraca de novo.
–E o seu braço? – pergunta ele preocupado. –Parece que bateu ele forte.
Solto uma risada.
–Você tá com uma bala no seu ombro, eu bati o meu braço no sofá. Não dá pra colocarem esses fatos lado a lado.
–Mesmo assim, fiquei preocupado com você Lydia. Achei que ele ia mesmo atirar em você. – diz ele.
De novo, meu rosto esquenta. Minha mãe volta.
–Ainda to tremendo. – diz ela.
Eu também estou. Foi uma coisa surreal, parecia um pesadelo.
–Vamos pro hospital antes que essa ferida piore.
Nós três vamos para o elevador e o Thomas coloca o braço na ferida ensanguentada.
–Eu não sei como eu não desmaiei ainda. – fala ele. –Deve ter sido o pavor de talvez morrer, porque eu não suporto ver sangue.
Saímos do elevador e vamos rapidamente para o carro. Thomas e eu sentamos no banco de trás e minha começa a dirigir. Ele apoia a cabeça no meu ombro e percebo que sua testa está cheia de gotículas de suor.
Ouço minha mãe chorando, mas não falo nada. Não sei o tipo de dor que ela deve estar sentindo. Quero dizer, eu também fiquei muito arrasada com tudo isso, mas o Arnaldo é irmão dela, passaram a vida toda juntos.
–Mãe, eu sinto muito.
–Eu também sinto muito, Lydia. Eu fiquei tanto medo que ele matasse você e o Thomas...
Então lembro da quantia de dinheiro.
–Mãe, de onde tirou aquele dinheiro?
–Era tudo que eu trouxe pra cá, só tenho alguns trocados na minha bolsa. – diz ela. –Mas tudo bem, vocês estão salvos e é isso que importa.
Não falo mais nada durante o caminho. Thomas várias vezes solta gritos e volta a ficar inconsciente.
Chegamos no hospital, eu e minha mãe praticamente carregamos ele pra fora do carro e entramos no hospital.
–Emergência. – grita ela e deixa Thomas apoiado em mim. –Temos uma emergência aqui!
Logo uma enfermeira aparece, leva ele pra algum lugar e eu e minha mãe ficamos na salinha de espera. Nos sentamos e ela me abraça mais uma vez.
–Eu te amo, filha.
–Eu também te amo, mãe.
Tem café e biscoitos, mas eu não estou com vontade de comer nada. Perdi o apetite com as coisas que aconteceram hoje. Agradeço por estar viva.
Acabo cochilando na cadeira do hospital, até que minha mãe toca o meu ombro.
–Lydia, o Thomas pode receber visitas agora. – diz ela.
Faço que sim com a cabeça e esfrego os olhos com as mãos.
–Eu vou lá falar com ele. – falo. –Volto com ele pra irmos pra casa. Não vou demorar.
Ela assente. A enfermeira sorri para mim e me guia pelos imensos corredores do hospital. Entro no quarto do Thomas e ele abre um sorriso fraco. Ele ainda está pálido, mas pelo menos tá vivo.
Vou até ele e coloco as mãos no bolso. Tantas coisas aconteceram hoje, o que eu poderia falar?
–Como você tá? – falo por fim.
–Vivo e você?
Solto uma risada.
–Viva também. – falo. –E o ombro, como tá?
–A enfermeira disse que vai doer por dias, talvez semanas, mas que não foi tão grave.
–Isso é bom. – falo.
O fato é que hoje eu fui atrás dele por ele estar me ignorando, hoje o meu tio quase matou nós dois, hoje eu me ofereci pra morrer pra ele não morrer, e hoje também...
–Você falou que eu era seu namorado. – fala ele com um sorriso nos lábios.
Tava demorando... Meu rosto esquenta, mas então reviro os olhos.
–Só disse aquilo porque achei que ia salvar a sua vida. Levou um tiro no ombro do mesmo jeito, não adiantou nada. – ele vai responder, mas interrompo-o. –Agora é melhor você levantar, se não a sua mãe vai ficar preocupada.
Ele ainda sorri.
–Você salvou a minha vida. – diz ele. –Muito obrigado. Você não sabe como eu fiquei feliz, e morrendo de medo ao mesmo tempo, quando você entrou na minha frente numa tentativa de fazer seu tio não me matar. - meu rosto esquenta.
–Disponha. – falo e abro um sorriso. -Desculpa, mas a gente tem que ir.
–Dá uma mãozinha. – pede ele.
Vou até Thomas e puxo-o pelo pulso do braço bom. Ele se levanta com mais um ganido de dor e então começa a andar direito e não reclama tanto. Voltamos pra sala de espera, minha mãe parece aflita e logo se levanta.
–Está melhor? – pergunta ela pro Thomas.
–Estou sim, obrigado. – diz ele. –E quanto foi pra tirar aquela belezinha do meu ombro, fazer os curativos e tudo mais? Ah, quanto você deu praquele canalha?
–Não tem importância os valores. – diz ela e concordo com a cabeça.
–Mas...
Ela o interrompe.
–Nada disso, foi meu irmão que quase te matou, isso tudo aconteceu por causa dele. Era minha obrigação, e eu quis, ajudar você.
Ele abre um sorriso de agradecimento.
–De qualquer maneira, obrigado. – fala ele. –Se precisar de alguma coisa, é só falar.
Minha mãe faz que sim com a cabeça e entramos no carro, não trocamos nenhuma palavra até chegar no prédio. Subimos o elevador juntos, minha mãe entra em casa e eu acompanho Thomas até o quinto andar. Saímos do elevador quando ele se abre. Fico trocando o peso do corpo de um pé para o outro.
–Boa noite. – diz ele.
–Olha, Thomas, me desculpa, me desculpa mesmo por hoje. Você quase morreu, eu quase morri, minha mãe quase morreu, tudo porque eu fui estudar com você. É tudo minha culpa e eu sinto muito pelo seu ombro e por você ficar aterrorizado pelo resto da sua vida. – falo de uma vez. –Desculpa, desculpa mesmo. Pode parecer que eu não to nem aí, mas quando você tava lá, quase morrendo, foi muito ruim pra mim. – com isso eu sinto as bochechas esquentarem.
Ele vem até mim e coloca a mão do braço bom no meu ombro.
–Tá tudo bem, Lydia, é sério. Eu que me intrometi.
–Porque você é enxerido. – falo pra descontrair um pouco e ele ri então segura o meu rosto com uma mão e minhas pernas parecem perder o movimento. –Hum, eu tenho que ir... Você sabe, foi um dia bem cheio.
–Sei sim. – diz ele, mas não tira a mão do meu rosto.
Meu coração bate a mil, minha pele formiga e eu não consigo tirar meus olhos dos seus. Ele se aproxima mais de mim e eu arregalo os olhos, nervosa. Então ele dá um beijo na minha testa e se afasta de mim.
–Até amanhã então.
Será que eu vou ter que ir na aula amanhã? Não to com vontade, mas será bom pra me distrair dos fatos.
–Até. – falo e clico no elevador. –Boa noite.
Meu nervosismo repentino passa.
–Boa noite.
Clico no botão do terceiro andar, entro em casa. Tomo um banho e lavo até mesmo meus cabelos. Vou até o quarto da minha mãe.
–Mãe, posso dormir com você?
Ela abre um sorrisinho.
–Claro.
Vou até a sua cama com meu travesseiro e me deito, com os cabelos molhados mesmo. Não estou com vontade de falar sobre isso agora com as minhas amigas, acho que nunca irei falar. É perigoso falar. Vai ser um segredo entre eu, minha mãe, e o enxerido que por mais que eu ache terrivelmente irritante, não quero que leve tiros e nem que morra.


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