Dreamcatcher escrita por Beilschbitch


Capítulo 3
Weekend


Notas iniciais do capítulo

Demorei um pouquinho para postar, mas hoje tive um surto de ideias. Espero que gostem!



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Sapatos de salto alto batiam no chão ruidosamente, como se a dona quisesse anunciar sua chegada. De fato, não havia quem não deixasse de fazer o que estava fazendo, virar a cabeça ou esticar o pescoço para observar quem vinha. Mas não é só pelo barulho que a garota chamava a atenção. Sua beleza peculiar era algo comentado pelos corredores do colégio.

A estudante de intercâmbio alemã era o contrário do que se esperava de uma estrangeira em uma cidade, estado, país e continente novos: tímida e recolhida. Entretanto, Julchen Maria Beilschmidt não era nada acanhada, pelo contrário: em pouquíssimo tempo já havia deixado vários garotos com os corações abalados, e num tempo menor que esse, havia quebrado os corações daqueles que ousavam se aproximar.

Matthew é um desses garotos que ficou com o coração despedaçado, mas não por ter levado um fora. Ele não tinha quaisquer esperanças que um dia a garota dos olhos rosados olharia para si. Mas não cansava de suspirar toda vez que via aqueles longos cabelos prateados que bailavam ao sabor do vento, mesmo Alfred aconselhando-o a sair dessa.

– Sejamos realistas, você jamais faria o tipo dela. Esqueça, é o melhor para você.

Matthew amuava. Os livros que tanto amava diziam a ele que o amor sempre reina, que o cavaleiro ou herói sempre deve lutar pela mocinha indefesa... Mas no caso, a alemã não era nada indefesa. Se fosse um conto de fadas, lá estaria Julchen, arriscando a pele perfeita e esfoliada para salvar Matthew de algum monstro literário. É, nada favorecia a paixão platônica do canadense.

Mas a albina não chamava a atenção apenas dos rapazes. As garotas do colégio dividiam-se na admiração e no ódio, sendo seguida ou vaiada. Seja alguma novidade que usava, como um shampoo que prometia mais brilho aos cabelos ou uma maquiagem que fosse mais firme na pele, uma legião a copiava, enquanto outra parte procurava difama-la nas redes sociais.

Amelia a odiava com unhas e dentes, pois a via como rival. Antes era ela a amada, agora fora rebaixada a... “Segunda” mais amada, e isso a deixava furiosa. Se por um lado Amelia a detestava, por outro Julchen a ignorava. Enquanto não sofresse confrontos diretos, preferia não descer do salto agulha desnecessário que usava na escola.

Alfred tentava manter-se alheio de todas as confusões que a irmã aprontava, mas era praticamente impossível. A loura de olhos azuis não parava de tagarelar dentro do carro, em casa, e fazia questão que toda a rua a ouvisse falando no celular. Amelia exigia a atenção de qualquer pessoa que fosse, mesmo que ele seja seu amado irmãozinho, que facilmente se irritava com ela.

O rapaz sentia-se sufocado e queria uma válvula de escape o quanto antes. Drogas? Já fumara uma vez e desistiu na terceira tragada. Bebidas? Sabia que se aparecesse bêbado em casa, teria muitos problemas. Por fim, admitia que aquilo iria cavar mais ainda sua cova, e sentia que seu caixão estava encomendado.

Os finais de semana para Arthur eram sempre cheios. Trabalhava numa das barracas da feirinha hippie da cidade fazendo os famosos apanhadores de sonhos. Arranjara o ofício com uma simpatizante da natureza, e conseguia uma boa porcentagem para ajudar na casa. Conseguira permissão para trazer Peter consigo desde que ele ficasse quietinho. O garotinho gostava de observar o irmão trançando os fios coloridos, as sementes e as penas. O bruxo aproveitava a ocasião para ensinar as cores ao caçula, solicitando pegar os novelos de tal cor que precisasse. Peter fuçava na caixa de papelão cheia de fios tão lindos a procura da cor desejada. Quando acertava, Arthur afagava os cabelos louros e finos do menino, e quando errava, o corrigia pacientemente. Comprava o almoço de ambos numa cantina que ficava há algumas barracas da dele – geralmente um ensopado de legumes – e o almoço da senhora, que vendia suas bijuterias carregadas de pedras e significados o tempo todo. O almoço demorava meia hora e olhe lá.

Arthur sabia que ao produzir o filtro dos sonhos tem que pensar em coisas boas e alegres, para que os fios captassem sua energia positiva e pudessem captar outras que encontrassem no ar, caso contrário o objeto seria apenas um enfeite de quarto.

Se bem que... Ultimamente as vendas aumentaram muito, devido a febre que se tornou aquelas teias coloridas, e temia que perdessem o verdadeiro significado. Algumas vezes levava o trabalho para casa, para fazer durante a semana, quando não estava muito ocupado. Aperfeiçoava a técnica a cada nó dado e isso o deixava feliz. Há muito tempo não sentia raiva ou tristezas extremas. Ele tinha vários motivos para se tornar amargurado com a vida, mas encontrou na religião a sua liberdade. Alguns se sentem livres com o cristianismo, budismo ou quaisquer outras religiões. Ele se sentira confortável com a que escolhera, mas nem por isso deixava de aprender alguma coisa com as demais. Havia frases até mesmo citações cristãs que guardava em seu coração, e lamentava por aqueles que se diziam seguidores, mas não praticavam o amor, respeito e compaixão que Jesus Cristo falava.

Peter, quando não estava em meio a novelos, brincava com uma pequena bola de borracha que ganhara do irmão mais velho. Às vezes, jogava-a no ar e a bolinha batia na cabeça, gerando risos no bruxo.

– Peter, você deve jogar e pegar a bola, assim – e ensinava ao pequenino, que com os olhos arregalados, admirado com a genialidade do irmão. Arthur achava extremamente fofa a imitação do irmãozinho.

Não mais que de repente, sentira algo estranho. Alguma energia triste rondava por perto.

Amelia tinha decidido arrastar Alfred para a feirinha. Desejava um colar de palha que namorava há algum tempo numa das barraquinhas. Acordara cedo, arrumara a cama, maquiou-se toda (apesar de não exagerar de manhã, preferia escolher cores mais claras, como toda garota fashionista, é claro) e esperou o irmão levantar, como calmamente seu cereal com marshmallows para poder perturbá-lo à vontade. Alfred estava exausto, tivera outros pesadelos, desejava passar o fim de semana inteiro de pijamas, comendo pudim de baunilha e assistindo filmes de faroeste. Mas não, seus pais não se contentaram só com um lindo bebê, tinham que ter uma menina! E chata ainda por cima. Quando o garoto não estava desejando que a irmã não existisse ou desaparecesse, desejava que ela ficasse feia. Alguém lhe diria um dia sobre o poder das palavras...

Quando já não aguentava mais ouvir o a voz estridente da loura, decidiu entregar os pontos e leva-la na feira. Decidira por comprar o tal filtro dos sonhos mais barato que tivesse. Estava um pouco descrente, mas faria de tudo para que Amelia parasse de falar naquilo a cada minuto.

A feirinha estava movimentada, tal como sempre. Havia pessoas bem singulares perambulando pelas barracas, incluindo punks a populares. O fato é que apesar de ser chamada de hippie, a feira abrangia os mais diversos gostos, para atender os jovens e suas peculiaridades. Por ser popular, Amelia cumprimentava vários colegas ou conhecidos, muitas vezes sua voz estava envenenada com a falsidade. Alfred se sentia enojado.

Já havia andando bastante na feira, e o louro de óculos estava começando a ficar exausto. A irmã ia de barraca em barraca, experimentando cada acessório que encontrava, seja um colar, uma pulseira ou coisas que Alfred nem sabia o nome. Após a enésima barraca, os olhos azuis do Jones fitaram os penduricalhos cheios de penas numa barraca a metros dali. Puxou a Amelia, que estava distraída encantada com um broche de coelhinho de pedras verdes até os filtros dos sonhos.

Amelia queria que o apanhador combinasse com o quarto do irmão. Alfred permitiu que ela escolhesse, desde que fosse barato. Enquanto se distraía observando os colares, ouviu uma voz delicada de criança.

– Boia? – Peter oferecia a esfera de borracha.

– O quê?

– Té a boia? – Peter esticava as perninhas, tentando entregar a Alfred, que ainda não entendia.

– Ele está te oferecendo a bola, Alfinho. – Amelia sorrira para o bebê. – Oi coisinha fofa, tudo bem?

– Ah? – Peter colocara dois dedinhos na boca e olhava para a moça bonita a sua frente. Ofereceu a bolinha a ela, mas Amelia apenas afagou sua cabeça.

– Você é uma gracinha!

– Peter! – ralhava Arthur – volte para cá!

– A boia, Thu! – Peter continuava insistindo na bolinha.

– Oh, deixe-o brincar... - Amelia continuava a fazer carinho no pequeno – ele é tão fofo... É seu filho?

Arthur enrubesceu com a pergunta.

– É meu irmão caçula... Peter, por favor, volte aqui! Você está atrapalhando os clientes! – estava claramente nervoso; e se isso resultasse numa demissão? Mas a boa senhora parecia se divertir. Se eles estivessem gostando daquele garotinho amável, era ótimo!

– Não está, não! – Amelia raramente sorria daquele jeito. – que garotinho mais lindo! Qual o seu nome?

– Pit – sorrira com os dentinhos de leite ainda crescendo.

– Que coisa mais linda! Eu quero! – Arthur sorrira. Adorava quando o irmão recebia a atenção e principalmente, quando estava feliz.

Peter voltara para o lado do irmão, abraçando-o, querendo ainda mais elogios vindos da moça bonita. Amelia surtava exageradamente com a fofura daquele garotinho. Por outro lado, Alfred analisava o semblante do mais velho, não lhe era estranho...

Arthur também sentia que as energias tristes se concentrava nos olhos azuis do rapaz, que julgava conhecer de algum outro lugar.


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Notas finais do capítulo

Ufa! Aconteceu muita coisa no capítulo, não? Nos vemos nos reviews!



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