Meu objetivo inicial era apenas encontrar Draco e me distrair por uma hora, talvez duas no máximo... Mas acabou sendo o dia todo. Apesar de tudo que nos separava, começando pelas nossas casas, havia algo que nos unia: O sangue. As pessoas costumam a dizer que sangue não é nada, e que família é nós mesmos que fazemos, mas com nós dois não era bem assim. Eu odiava o modo que Draco tratava as pessoas ao seu redor, principalmente aqueles que ele considerava inferior, mas ele era um Malfoy como eu e a única pessoa que entendia como eu me sentia. Eram tantas expectativas que colocavam nele e em mim, eram tantos planos para o futuro... Eu sempre soube que Lucius queria me casar futuramente com algum pretendente que ele considerasse de sangue puro. Também sabia que eu deveria seguir a tradição da família, ficar longe dos considerados sangue-ruim e muito longe da Grifinória. Eu já havia explodido com a imagem que Lucius queria que eu tivesse, a imagem que ele queria mostrar a todos os amigos importantes. Apesar de tudo isso, ele ainda parecia ter esperanças que eu mudasse de ideia, por algum motivo que eu não entendo. Draco não aprovava minhas decisões, pelo ao menos não a maioria delas, e eu também não aprovava a deles. Ele não achava certo eu me misturar com o Harry. Odiava o fato que eu andava com a Hermione e o Ron, ele mesmo já havia me dito que só porque eu era da Grifinória não significava que eu deveria andar com os leões. Quando eu ainda estava na França, as coisas eram diferentes, nós dois éramos diferentes. Não, Draco Malfoy nunca foi um ser amável e, provavelmente, nunca seria. Quando éramos crianças as coisas eram mais fáceis, eu fazia de tudo para agradar os Malfoy e eu realmente achava que estava sendo eu mesma quando na verdade estava apenas sendo o que queriam que eu fosse. Naquele dia, naquelas várias horas, eu senti como se fossemos crianças outra vez. Não senti que estávamos conectados porque eu estava sendo outra pessoa, mas sim porque era como se nada mais existisse. Éramos Draco e Rosalee Malfoy. Eu nem ao menos me sentia como uma Black, uma abandonada pelo pai e renegada pelo mundo. Não havia Sirius Black, o pai ausente que nem se quer havia me contatado. Não havia Harry Potter, o garoto que sabia mais da minha vida do que eu mesma, o garoto que eu estava começando a sentir algo. Não existia a rivalidade entre casas. Naquelas horas, era como se o mundo fosse perfeito, éramos primos normais conversando e rindo. Eu sentia tanta falta disso, de alguém que me ouvisse e me entendesse. Tinha a Fleur, mas ela ainda estava se recusando comigo e as outras alunas de Beauxbatons começaram a me ignorar também, como se tomassem a dor de Fleur - uma dor desnecessária -. Ninguém conseguia entender um Malfoy, a não ser um Malfoy. Não era só o cabelo loiro e os olhos claros que tínhamos em comum. Foi um dia diferente, provavelmente o dia mais tranquilo que tive em Hogwarts desde o dia em que cheguei aqui. E tudo que eu esperava era que mais dias como esse viessem.