Cinde...rela? escrita por Devvy


Capítulo 4
De volta ao passado


Notas iniciais do capítulo

Estou num bloqueio criativo dos infernos, nenhuma ideia boa a semana inteira nem desenhar estou conseguindo ;-;
Tentei escrever o melhor que pude e desculpem a demora!
Muitíssimo obrigada a Samy Chan por favoritar a história!
E pelo seu comentário e o da Adry Lynch



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A brisa do inicio do inverno encheu meu quarto inteiro me fazendo respirar fundo aquele cheiro maravilhoso de pão recém-tirado do forno, acordei com um pouco de frio e com preguiça, tinha ido dormir tarde no dia anterior.

Levantei o toque dos meus pés descalços no chão frio, fez-me arrepiar toda. Eu adorava o frio. Caminhei até o enorme espelho que ficava perto da banheira velha que elas deixaram para mim e que aproposito, tentaram me afogar lá quando eu havia apenas 12 anos. Naquela época eu achava que as coisas não podiam ficar piores. Achava.

Enquanto a água aquecia tirei minha roupa e olhei meu corpo nu, arrepiado por causa do frio, no espelho. Meu olho enfaixado estava ensopado de sangue, lembrar-me de poucos dias atrás me deu uma leve dor de cabeça. Virei-me de costas e observei as marcas em minhas costas. Profundas marcas de chicoteadas, porém elas já estavam velhas, ficando somente uma cicatriz profunda, passei a mão nelas relembrando aquelas chicotadas em mim, relembrando a profunda dor, relembrando o sangue que brotava na minha pele. Era como se no espelho eu estivesse relembrando aquela cena, os gritos e os risos perfeitamente reais, suspirei saindo do transe. A água já estava quente o suficiente.

[...]

–É hoje mamãe, é hoje!- Anna e Hellen falavam juntas assim que acordaram, correndo pela casa até o quarto de sua mãe.

Depois de alguns segundos me recordei que dia que era. Era o dia do baile.

[...]

Achei que como era o dia do baile, elas me deixariam mais tranquilas, acho que sou muito idiota às vezes.

–Costura isso Cinderela, se estragar, arranco seu outro olho com a agulha-Anna dizia rindo como se fosse a melhor piada que já tinha escutado.

Passei reto por ela segurando o vestido que ela havia me dado e ignorando a piada ridícula que ela havia feito.

[...]

Olhei para a janela, a noite tinha caído há pouco tempo e o frio havia ficado mais intenso. Hellen e Anna desceram das escadas exibindo os vestidos lindos que elas haviam comprado junto com a mascara já presa em seus rostos.

Fechei as janelas a pedido da minha madrasta e então a carruagem chegou, um homem já idoso desceu dela levando pela mão Anna e Hellen, minha madrasta foi por ultimo.

–Não temos horário para voltar, não espere a gente e se fizer qualquer gracinha... Bom, acho que não é louca de fazer isso não é querida?-Ela disse enquanto o dono da carruagem estava perto dela esperando-a para leva-la. Como ela estava de costas para ele, ele não pode ver a cara de brava que ela vez para mim.

Antes que todos partissem escutei o senhor falando:

–O que houve com o olho da jovem?

–Acidente enquanto limpava, meu bom homem.

Ele não pareceu acreditar muito nas suas palavras, mas fez questão de dar os ombros e foram-se embora.

[...]

Coloquei o velho xale preto da minha mãe que me servia como um capuz e meu vestido vermelho que devido às manchas ele ficara mais escuro que meu cabelo e sai pela porta dos fundos, não queria que ninguém desconfiasse de nada. Andei em becos escuros e em atalhos poucos conhecidos, tomando cuidado para não ser vista e finalmente cheguei ao cemitério.

Estava pouco iluminado, apenas umas lamparinas com um fogo fraco que se deixava dançar em meio à escuridão. Não havia muitas pessoas que gostavam de investir em luz em cemitérios. Peguei uma lamparina jogada na terra e a usei para me locomover pelo cemitério.

[...]

O tumulo de mamãe, finalmente o encontrei, sozinho. Isolado dos outros, tão luxuoso e tão triste, o oposto dela. Minha mãe era feliz e gostava de vestir roupas claras e alegres como o seu sorriso. Dançar em meio das flores de primavera, em meio ao calor. Olhei para aquele tumulo, não conseguia acreditar que minha mãe estava lá, aquele tumulo frio, escuro, sem flores ou alegria, apenas um cinzento anjo estava debruçado nele.

Um vento passou correndo por mim e tive que segurar o xale para ele não cair. Olhei para o céu, a lua estava encoberta pelas nuvens, estava uma noite triste.

Do céu caiu um floco branco que pousou na minha mão com delicadeza e não se dissolveu em minha mão como se ele quisesse me dizer algo. De repente flashbacks vieram na minha cabeça à tona:

Minha mãe, ela estava rindo. Estávamos brincando no enorme jardim que costumávamos ter. A cena muda: Dessa vez minha mãe estava triste com a mão na grande barriga. Ela estava gravida de mim? Mas como eu podia me ver sem ao menos ter nascido? Ela conversa alguma coisa com meu pai, mas não consigo entender, a voz deles é como um barulho ensurdecedor para mim. Tapo meus ouvidos com as mãos tentando conter o barulho. A cena muda de novo: É algum tipo de imagem desfocada de uma família de quatro pessoas. A cena muda, uma ultima vez: A visão de agora é em primeira pessoa, estou encostada em uma cadeira de balanço, mas não sinto vento ou escuto alguma coisa, mas posso sentir algo escorrendo de mim. Estou sangrando. Estou sangrando muito...

Acordo desse sonho que eu tive. Estou assustada. Olho em volta, está frio. Eu estava de novo em casa, na minha casa antiga. Em meu quarto cheio de bonecas de porcelanas, para ser mais exata. Meu corpo é infantil como se eu tivesse ainda 7 anos.

Sai do meu quarto. Quero ver mamãe. Quero sentir meus braços em volta dela novamente e escutar: “Está tudo bem querida, tudo vai ficar bem.”

Era noite de chuva, a lareira estava desligada. O barulho de um trovão me assustou, era como se ele estivesse caído ao meu lado. Ao passar pelo corredor luxuoso de casa, encaro cada quadro, somente naquela noite eles me davam medo. Era como se eles estivessem com pena de mim. A madeira estala em meus pés descalços, fazendo eu me assustar a cada passo que eu dava.

Estou perto do quarto de mamãe e papai, sei que só mamãe está lá, pois papai foi viajar e somente voltaria semana que vem.

Será que tudo aquilo que eu vivi foi um sonho? Um pesadelo?– penso

–Mamãe?!- a chamo – Mamãe, eu tive um pesadelo.

Sem resposta.

A porta do quarto dela estava encostada a abro fazendo um barulho esquisito me assustando ainda mais. Sua caixinha de musica estava tocando (escute essa musica enquanto lê), achei esquisito ela estar acordada a essa hora mais entrei. Ao entrar me assusto. Mamãe...

Mamãe estava com os olhos em sangue e sendo segurada apenas por uma corda firmemente presa em seu pescoço a cadeira da penteadeira jogada ao chão.

–Mamãe... O-oque você está fazendo ai em cima?!-lagrimas dançavam em minha bochecha. - Vamos mamãe saia daí de cima, você está me assustando. Vem mamãe, me conte uma história... Mamãe...

A visão fica turva para mim, não consigo enxergar muita coisa.

Coloco o ursinho que eu estava segurando no chão e sento em cima da cama de minha mãe e fico a observando, apenas esperando mamãe acordar.

Como eu gostaria de esquecer aquela cena. Aquela cena que marcou minha infância. Estava revivendo aquela atrocidade que minha mãe fez consigo mesma. Aquela imagem que demorei tanto para esquecer estava estampada em minha mente. Mas, porque ela fez isso? Porque não conseguia me lembrar?

Acordo estou deitada no chão em cima do tumulo de minha mãe, voltei a realidade, sinto algo frio em minha mão como uma lamina gelada. Onde antes havia caído um floco de neve, há agora uma chave de prata. Respiro fundo. Depois de tudo que aconteceu, encontrar a chave em minha mão foi o de menos. O vento frio volta a me perturbar, tentando levar novamente meu xale. Pego a lamparina e tento me aquecer com o fogo fraco. Não consigo. Deixo as flores colhidas de manhã no tumulo me viro e me vou, antes que minhas irmãs e minha madrasta voltem, afinal já é meia noite.

Enquanto saia os flocos de neve eram meus únicos companheiros na noite.


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Notas finais do capítulo

E então o que vocês acharam?
Muito obrigada por lerem!
E como eu disse, não planejei nada essa semana então foi tudo improvisado, desculpem!

Vestido da Anna e da Hellen para quem quiser ver:
https://pbs.twimg.com/media/BupshOlIYAECUnY.jpg

Se a imagem não aparecerer:
http://1.bp.blogspot.com/-toUq_UrtIOE/Te26hpQlfbI/AAAAAAAAAJs/knBcNGluD0I/s400/anjotumulo.jpg



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