Perfume Vulgar escrita por Petit Belier


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Oie gente, olha eu aqui de novo :v
Então, em mais uma de minhas epifanias, acabei escrevendo uma fanfiction Dohko x Shion, pois imaginei umas cenas fofinhas entre eles (fofas pelo menos na minha concepção) e quis unir tudo em uma estorinha simples, já que eu não tenho muita habilidade em escrever enredos muito grandes. Comemoro aqui porque tive um tempinho para escrever - fim de período no curso tá tenso - e fiz especialmente para presentear uma guria fooooofa que eu super adoro, a MegamiAtena, que ama o casal e, pelo menos até onde eu sei, é o OTP dela (tô sabendo legal) Well, a fanfic também está participando da campanha #MovimentaFandom, iniciada no Facebook e que visa aumentar o fluxo de fanfics no fandom de Saint Seiya, uma ótima ideia, na minha opinião. Por último, gostaria de dizer que também cumpro aqui a minha promessa de escrever uma fanfic nesses dias, havia feito a umas pessoas aí que prefiro não citar nomes ¬-¬ Enfim, pago todas as minhas dívidas...
... Pelo menos desse fandom, não é?
Se alguém leu até aqui, espero realmente que curtam, have fun!



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Dohko POV

Finalmente em casa.

Destranco a porta de entrada com a calma habitual, ouvindo um clique vindo do trinco. As luzes da sala e do corredor estão acesas, isso significa que ele já está aqui.

Permito-me suspirar levemente ao entrar, sentindo o perfume de seus cabelos no ambiente, algo tão característico, mas que ainda não me permite estabilizar por completo.

Largo minha mochila em cima do sofá, tirando os sapatos logo em seguida, enquanto vasculho meu campo de visão à procura de mais sinais de sua presença. Está tudo tão silencioso que até me parece que ele foi embora e eu sinto um leve aperto no peito ao considerar essa possibilidade. Sua presença por vezes me intriga e me irrita, mas sua ausência me deprime.

Finalmente passo a, de fato, andar pela casa, deslizando de maneira ágil pelo corredor, logo chegando ao meu quarto. Um sorriso surge em meus lábios quase que inconscientemente, ao ouvir o barulho do chuveiro ligado no banheiro. “Então é aí que a fera se esconde?” penso, enquanto solto a gravata de meu pescoço, desabotoando a camisa de maneira automática, sentindo o corpo esquentar um pouco.

Poderia alegar o calor natural que se sente ao chegar em casa após um dia longo de trabalho, mas a verdade é que apenas a sua presença me causa esse efeito imediato. “Calor... como seu sangue...” Logo estou livre das roupas, ficando apenas de cueca, seguindo até a porta do banheiro, tendo a visão do vidro do box embaçado. Me pergunto sinceramente como ele consegue tomar banho quente nessa temperatura, eu já teria derretido, com certeza.

Sou tirado de meus pensamentos ao ouvir sua voz levemente rouca cumprimentar-me e então respondo de maneira um tanto atrapalhada.

— Boa noite, Shion. Como foi o dia? – eu me apresso a perguntar, não quero que ele note minha aterrissagem brusca.

Ouço um risinho baixo vindo do box, enquanto encaro meu próprio reflexo no espelho da pia. Pergunto-me se ele sabe o quão zombeteiro soa sua risada quando rasga o silêncio dessa maneira, mas constato ser quase óbvio seu conhecimento sobre o efeito do ato. Aliás, de todos os atos, pois essa não é a única maneira que ele arranja de provocar os outros. Novamente sou desligado dos devaneios ao ouvi-lo continuar.

— Não fui ao trabalho hoje, Dohko. Estava um pouco cansado psicologicamente. Resolvi sair e esvaziar a mente das preocupações habituais, me sinto muito melhor agora.

Eu suspiro ao ouvir seu comentário. Não que eu me irrite ou ache errado o fato de ele sair para aliviar a tensão, mas tinha que ser no horário de expediente? Me parece irresponsável e eu ia começar a contestar a atitude, quando ouço mais um risinho, ao mesmo tempo em que o chuveiro é desligado.

— Antes que diga qualquer coisa, Dohko, quero que saiba que ontem eu adiantei uma parte do trabalho, então não prejudiquei ninguém ao fazer isso. Acha mesmo que eu faria algo tão irresponsável assim, sem tomar providências? – sua última frase soa mais nítida e próxima, visto que ele já havia saído do box e se encontrava próximo a mim.

Vejo-o pelo reflexo no espelho, seu rosto levemente molhado, as gotas de água morna escorrendo sobre a pele suave e alva, do rosto ao pescoço... levemente, e então ao peito, que já está parcialmente coberto pelo roupão que lhe envolve no momento.

Pisco os olhos algumas vezes, lembrando-me de responder sua pergunta. Felizmente minha voz soa segura e firme e, graças ao fato de ser naturalmente grave, eu não preciso de muito esforço para demonstrar minha opinião.

— Eu não sei, sinceramente. Já o vi fazer muitas coisas irresponsáveis, Shion. Em experiência, uma atitude como essa não seria novidade.

Ouço-o soltar um muxoxo breve e acabo rindo com isso, me parece extremamente fofo e infantil.

— Quero que saiba, meu querido, que quando se trata de trabalho eu tenho o cuidado de ser sempre eficiente e não faria algo irresponsável. E se usar a experiência como argumento te vale de algo, então quero que saiba que por mais que algumas atitudes minhas te pareçam irresponsáveis, eu tenho completa consciência do que estou fazendo e, mesmo que nem sempre mantenha tudo sob controle, peso bem os riscos antes de fazer algo.

Ele me ataca. Eu acabo rindo novamente, pois é ridiculamente fácil deixa-lo irritado. Devo admitir que me divirto com isso e, por vezes, passamos semanas sem nos falar pela falta de temperança do meu companheiro.

Sinto-o me abraçar por trás e o xingo mentalmente de todos os nomes possíveis ao sentir seu queixo no topo da minha cabeça. Sempre é assim quando ele quer me tirar do sério, acaba apelando para a nossa diferença de altura que, ele sabe bem, sempre me incomodou bastante.

Nos completamos. Disso ninguém duvida. Até mesmo nas provocações, pois cada um sabe muito bem como cutucar o outro.

Eu fecho os olhos, calando qualquer voz interior que me incentiva a continuar as provocações e então, termino a conversa da maneira que mais o irrita. Por cima.

— Bom, se é realmente o que fez, então me sinto orgulhoso de você, meu amor. – não são as palavras que causam algum efeito e sim o tom usado nelas. Eu transpareço minha calma de maneira quase inocente, fazendo-o bufar atrás de mim. Nada o frustra mais do que saber que seus ataques não surtem efeito. Eu ganhei dessa vez.

Solto-me de seus braços, livrando-me da peça íntima ainda em meu corpo, em seguida me dirijo até o box, regulando o chuveiro para o frio antes de iniciar o banho.

Minha pele queima onde ele tocou, e um arrepio gostoso percorre meu corpo ao entrar em contato com a água fria. Não é excitante, exatamente, mas é impactante de certa forma. Faz com que eu fique pensando nele o tempo todo.

Ao longe ouço o barulho abafado do secador, enquanto sinto os músculos relaxarem sob a água fria. Shion está secando os cabelos “ainda bem que o faz antes de cair no sono...” penso, mas logo em seguida me ocorre que pelo fato dele não ter ido ao trabalho, provavelmente demoraria para dormir essa noite. O próximo pensamento me alcança como um raio, com toda essa “energia” acumulada, acabaria por inventar alguma brincadeira nova eu terminaria por ter um péssimo dia seguinte de trabalho. Definitivamente eu não aguento fazer nada muito animado hoje à noite, mas também não recusarei se aquele loiro safado tiver planos. O jeito é pedir a todos os deuses para que ele apenas deseje assistir um filme e ir dormir, ou então, no máximo, que queira fazer algo “normal”, sem muitos artifícios.

Logo termino o banho, secando o rosto e os cabelos e enrolando uma toalha na cintura. Novamente aquele silêncio estranho. Nos últimos tempos ele parece agir de maneira mais silenciosa do que o normal. Isso me é intrigante, mas eu acabo deixando de lado e sigo para o quarto.

Após vestir uma cueca e uma calça leve, volto a procurar Shion pela casa. Achando-o na cozinha, acabo me surpreendendo com a visão que tenho. Ele está encostado despreocupadamente no balcão, a mesa posta para uma pessoa, o cheiro da comida quente recém feita, e um silêncio acompanhado da imobilidade total do cômodo, silêncio este que logo é quebrado pela voz baixa do meu loirinho.

— Eu fiz seu jantar. Não sei se... você comeu algo no caminho, mas... sei lá... – olho-o. Ele parece hesitar e corar um pouco, estaria tentando ser gentil?

Sinto um calor diferente me tomar o coração. Ele se preocupou em fazer aquilo por mim, e não é todo dia que isso acontece, pois geralmente quem chega mais cedo em casa sou eu, acabo então por me ocupar em fazer o jantar, tendo a situação inversa como rotina.

Parece algo simples, mas me significa muito, ele se dedicou a isso. Eu acabo sorrindo, em seguida caminho em sua direção, parando a sua frente.

— Fez isso tudo pra mim? – eu pergunto em um sussurro. Ele cora ainda mais, assentindo sem olhar-me. Pelos deuses, como fica lindo assim. Me aproximo um pouco mais, prensando-o contra o balcão e então beijo seus lábios doces.

O ósculo inicia-se de maneira lenta e carinhosa, e eu logo sinto seus braços envolvendo meus ombros. Aperto-o contra mim, segurando-o pela cintura, enquanto aprofundo o beijo gradativamente, tocando sua língua com a minha, ouvindo-o gemer baixinho em resposta. Shion está começando a ficar excitado e por isso, antes que eu não tenha mais auto controle, acabo finalizando o beijo, dando selinhos em seus lábios e em seu queixo, ao que ele retribui com um suspiro frustrado. Eu sorrio, acariciando seus cabelos perfumados, e então sussurro em seu ouvido.

— Obrigado, Shion. Cansado do jeito que estou, provavelmente não teria coragem de fazer algo decente para comer hoje. E essa surpresinha me agradou bastante.

Por algum motivo que não sei dizer ao certo qual, ele me afasta um pouco, parecendo ofendido com algo. Cruza os braços em uma atitude que beira o infantil e fala um tanto quanto contido.

— Isso é uma indireta? – foi sua pergunta.

Eu acabo erguendo as sobrancelhas, confuso.

— Oi? Indireta, Shion? Que indireta?

Ele suspira novamente, dessa vez de forma impaciente.

— Isso de “estar cansado” é pra deixar claro que não quer que eu te toque essa noite, é isso? Olha, eu não faço tudo pra você com segundas intenções, okay? Você sempre pensa que eu quero algo de você. Quando não é isso, acha que eu vou manda-lo cuidar dos meus sobrinhos ou algo parecido, sempre pensa que eu tenho intenções ocultas ao ser gentil, mas não é verdade, às vezes eu faço apenas por querer te agradar de alguma forma, aí você fica com indiret... – eu interrompo seu discurso frustrado, beijando-o novamente. Com o ato repentino, acabo colando meu corpo ao seu, e ele resiste, tentando me fazer ouvir suas palavras agressivas, mas eu seguro suas mãos, mantendo o beijo quase forçado até que este se torna consentido, e ele para de tentar me afastar.

Ao término, eu lhe acaricio o rosto de maneira suave, vasculhando sua expressão à procura da resposta certa para sua pergunta, acabando por sorrir ao final.

Com a suavidade necessária ao se amansar uma fera, eu sussurro, enquanto olho em seus olhos profundos e claros.

— Não é nada disso, Shion. Sabe que eu amo as coisas que você faz e agora não é diferente. Eu realmente tive um dia difícil e estou cansado, mas nem por isso eu me recusaria a realizar qualquer plano seu para essa noite, pois gosto de te ver feliz também, meu amor...

Ele desvia o rosto, claramente constrangido pelo acesso de raiva, e eu mais uma vez lembro o porquê de gostar tanto desse loirinho complicado, esse contraste entre o carinho e a agressão que é seus atos, a dualidade dessa personalidade forte com toques doces, sempre me deixou cativo, por isso costumo dizer que amo todos os seus defeitos.

— Não quero que pense que eu sou gentil pra depois te usar de alguma maneira... – ele diz em um fio de voz, e então eu sorrio brevemente, respondendo.

— Eu nunca pensei isso de você, Shion. Bem conheço suas maneiras nada convencionais de dizer que me ama, mas isso levanta uma questão. Por que está tão sensível e silencioso, hn? Me parece estranho vê-lo agir assim.

Ele me olha por alguns segundos, em seguida me puxa para a mesa, conduzindo-me até meu lugar em frente ao prato preparado por ele. Em um gesto me pede para começar a comer, ao que eu o faço, e ele então fala, mais baixo do que o normal.

— Eu estou com saudade, Dohko. Sinto falta de quando ficávamos horas conversando juntinhos e quando tínhamos mais tempo para nós. Agora tudo parece tão corrido. – ouço-o suspirar enquanto como calmamente, notando o quanto estava gostoso.

Acabo por pausar o que fazia, respondendo.

— Eu entendo. Mas à medida que o tempo passa, você sabe que as responsabilidades aumentam, então isso era previsível. Não estamos mais na época da faculdade, mas isso não quer dizer que não possamos mais ficar juntinhos, Shion. Você deveria ter me dito que se sentia assim, eu arranjaria um jeito de resolver.

— Eu não queria atrapalhar você. – ele disse, simplesmente, enquanto mexia de forma distraída no porta-guardanapos sobre a mesa.

— Shion... sabe que eu amo a sua autossuficiência profissional e o admiro muito por isso, mas na vida pessoal, não adianta fingir indiferença. Você diz que era para não me atrapalhar, mas na verdade está querendo causar a impressão de que não precisa de mim para nada. Isso dói um pouco, principalmente porque eu sei que não é verdadeiro. – eu acabo rindo ao constatar o óbvio – Algumas coisas nunca mudam, não é mesmo?

Ele morde levemente o lábio, em um gesto inconscientemente sexy e mexe nos fios dourados de maneira impaciente, respondendo.

— É. Talvez você tenha razão.

E então me olha, esperando que eu zombe dele de alguma forma. Eu sorrio, tentando parecer doce, e então mudo de assunto. Sei o quanto ele pode se irritar quando se sente humilhado de alguma maneira, mesmo por brincadeira.

— Está muito gostoso, Shion.

— Hnm? – ele responde, parecendo perdido pela mudança brusca.

— O jantar. – eu concluo, levando a última pequena porção da comida à boca e mastigando-a com mais calma do que anteriormente.

— Ahh sim, Dohko. Fico feliz que tenha gostado. – ele diz bagunçando a própria franja com as pontas dos dedos, em um ato irreverente.

Ao terminar, eu me levanto, mas ele é mais rápido do que eu, retirando a mesa e levando a louça para a pia.

— Pode ir para o quarto, Dohko. Eu lavo isso, não se preocupe, será bem rápido. – ele fala, animado e eu começo a, finalmente, desconfiar de que ele realmente vai me pedir algo.

Não queria pensar assim, mas ele levantou a questão, e eu não posso deixar de admitir que faz algum sentido.

Sigo em direção ao quarto, jogando-me na cama. Meus músculos doem e a sensação de finalmente estar deitado é maravilhosa. Logo volto a pensar que talvez o Shion estivesse pensando em algo para a noite. Não que eu veja isso como troca de favores ou mesmo que ele use de sua gentileza para conseguir o que quer, na cama ou fora dela. Eu me sinto bem fazendo o que ele gosta e não menti em dizer-lhe que não imaginava isso dele. Não até agora.

Talvez ele realmente estivesse fazendo isso. Ou talvez não seja intencional e a sua inspiração para a noite acabe fazendo com que ele, inconscientemente, aja de maneira mais carinhosa do que o normal.

Deito de bruços enquanto penso no assunto, fechando os olhos momentaneamente, abrindo-os ao sentir o toque de algo gelado em minhas costas.

Arregalo os olhos, retesando o corpo com o susto, e então ergo-me um pouco, olhando para trás, vendo o ariano derramar habilidosamente um gel azul em minha pele.

— Shion... o que é isso? – pergunto quase que imediatamente, notando que ele não mais vestia um roupão e já estava com o short que usava para dormir.

Eu nem notei que ele havia entrado no quarto e trocado de roupas. Quanto tempo eu mantive os olhos fechados?

— Ahn Dohko... você estava dormindo quando eu entrei no quarto e eu fiquei com dó de te acordar. Pensei em começar a fazer isso antes de você acordar.

“Isso? Isso o quê? E eu não estava dormindo. Ou estava? Lembro-me apenas de ter fechado os olhos, ora, não foi esse tempo todo.”

Eu acabo novamente relaxando na cama, tentando recobrar qual era a lógica que o ariano havia usado quando falava que “não queria nada demais” hoje. O que seria isso então?

Mas eu nem resisto ao que ele faz, só não queria terminar a noite ainda mais exausto do que estou agora.

Ele continua a derramar, aos poucos, o gel em minhas costas, e logo senta-se em minhas coxas, inclinando-se para frente.

— O que está fazendo, hn? – eu pergunto, inebriado pelo perfume que se desprende de seus cabelos. Um cheiro tão conhecido, tão pessoal, tão vulgar... já impregnado em minha alma.

Logo conecto uma coisa à outra, entendendo o porquê de sua insegurança em relação à forma como o vejo. Ele é sempre tão sensual, tão quente, emite uma vibração impulsiva que aflora os sentidos. Certamente sabe o efeito que causa em algumas pessoas, por isso acha que eu penso que isso é intencional. Deveria entender que sua espontaneidade é uma das coisas que me prende.

Ouço sua voz, voltando a prestar atenção no que ele diz.

— Dohko, está acordado? – ele beija meu rosto – Responde, amor.

— Responder? O que perguntou? – eu estou claramente desorientado, nem consigo disfarçar o efeito de sua presença, ou seria do sono? Talvez uma mistura dos dois.

— Eu perguntei se está muito cansado para que eu te faça uma massagem. Se for incomodar seu sono, eu uso uma toalha para tirar o relaxante muscular. Pensei que houvesse dormido por estar sozinho, mas agora noto que está bem mais cansado do que aparenta.

Eu pisco algumas vezes, retendo a informação. E então me estapeio mentalmente, me perguntando porque havia pensando, mesmo por alguns instantes, que ele realmente ia querer “algo mais” esta noite, mesmo me vendo abatido como estava.

Acabo sorrindo brevemente, ainda sentindo as gotas de gel em minha pele.

— Ahn Shion... se quiser fazer... pelos deuses, será tão bom. Eu te amo tanto, sabia? – acabo me declarando assim, sem mais nem menos.

Ele ri, e eu noto que ele parece corar um pouco, beijando o topo da minha cabeça, antes de começar os movimentos ritmados com as mãos.

Paro aqui para dizer o quanto ele é bom nisso. Em poucos minutos, sinto a tensão em meus músculos começar a ceder. A pressão que ele faz em minha nuca, fazendo os dedos deslizarem com certa força pelo trapézio, aliviando o estresse quase que instantaneamente.

Em seguida desce pelas escapulas, usando os polegares para movimentos que partiam da coluna, afastando-se até as laterais do meu tronco. E depois mais abaixo e abaixo, até chegar à base de minha coluna, repetindo o processo algumas vezes.

Passa vários minutos nesses movimentos, fazendo-me sentir o frescor do relaxante muscular à medida que suas mãos finas me tocavam a pele. Junto a isso, sua voz tão deliciosamente rouca me contando sobre seu dia, a caminhada no parque durante a manhã. A passada no mercado para comprar coisas que estavam acabando em casa, depois a tarde em um café, a volta para casa, o preparo do jantar... tudo isso se misturava aos seus toques ondulantes, fazendo-me pairar sobre a realidade do momento.

Começo a sentir-me excitado em dado momento, enquanto ele me toca os ombros com as mãos, deixando seu peso sobre meu corpo, me fazendo sentir o quanto está quente. Isso se dá porque seu peito está encostado em minhas costas no momento e, não que seja habitual a mim estar “nessa posição”, mas acaba sendo estimulante imaginar o quanto seria gostoso ser possuído por ele nessa situação. Hoje não tenho problemas na inversão de papéis com Shion pois, pelo menos em relação a isso, sua mente aberta apenas facilitou qualquer investida diferente de minha parte. E ele sempre demonstrou gostar de mudar de vez em quando.

Acabo rindo com os pensamentos, mas logo volto a me concentrar na leve fantasia de tê-lo no controle no momento. Neste instante, ele aproxima os lábios de minha orelha, sussurrando.

— Não está dormindo, está...? Não permito que adormeça antes de me dar um beijo de boa noite. – e então ri, de forma inocente até, voltando aos toques precisos da massagem.

Não deve ter notado o impacto que me causa ao sussurrar assim em meu ouvido, apenas intensificando a fantasia que me acomete no momento. Mas esses não parecem ser seus planos para a noite, eu suspeito, e posso constatar ao levar em consideração que, sua pélvis colada a minhas coxas no momento, não parece denunciar qualquer sinal de excitação física de sua parte. De fato, ele parece se ocupar apenas em pensar no quão relaxado eu estou.

Coro levemente ao me perceber pensando naquilo, logo eu que passei anos até perceber que inverter os papéis era normal para um casal gay. Ainda mais quando um dos companheiros é tão quente quanto o meu. Sorrio breve com isso, notando que Shion havia acabado os movimentos.

Ele inclina-se sobre mim, beijando meu rosto novamente, e então volta a sussurrar.

— Sabe... mudei de ideia. Quero algo em troca sim, após te fazer massagem. – ele ri e, por um instante eu penso que ele começará a me despir, principalmente quando ele descola o corpo do meu. Não seria ruim, devo admitir, pois mesmo estando cansado, já me sinto relaxado e com isso, é bem mais fácil fazer as coisas fluírem.

Mas não. Não era o que eu pensava, ele tampouco toca minha calça, pelo contrário, levanta-se de onde estava, deitando-se ao meu lado.

Eu o olho, e ele sorri, aproximando-se de mim.

— Vai me dar...? – ele pergunta, e acaricia meus cabelos com uma das mãos.

— Dar o quê? – pergunto, olhando-o.

Ele gira os olhos, mas mantem o sorriso.

— Você realmente não está prestando atenção ao que eu digo, não é mesmo? Eu te disse que um simples beijo de boa noite não me é o bastante. Quero que me beije bem gostoso, como faz quando quer me calar quando eu estou irritado.

Rimos os dois ao mesmo tempo, e então eu me ergo na cama, aproximando-me de seu corpo quente, ele afasta as pernas um pouco, tendo-me entre elas. Me deito sobre o loirinho, aproximando meus lábios dos seus, inicialmente apenas em um roçar suave.

Na impaciência, ele acaba sussurrando algo, no início palavras desconexas, mas logo passo a entender o que dizem.

— Não gosto da sua nova secretária, Dohko... antes de ontem, quando passei em seu trabalho para te deixar a pasta que havia esquecido... – ele me puxa para baixo, colando nossos lábios, beijando-me com desejo contido durante uns instantes, antes de continuar -... parei no balcão antes de sua sala e a ouvi conversando com uma outra funcionária de lá. Sabe o que ela comentava?

Como um clique em minha mente, consegui entender tudo o que se passava com ele no momento. Poderia até ser saudades o que estava lhe fazendo agir assim, mas o motivo principal era tão óbvio que chegava a ser ridículo, ainda mais do que as várias constatações anteriores que tive nessa noite.

Ciúmes.

Shion está com ciúmes, e talvez um pouco de medo também. Não sabe ele que o amo mais do que a mim mesmo?

Não me permito rir daquilo. O caso parece sério para ter um toque de humor, principalmente pelo fato de que ele está agindo carinhosamente, diferente dos acessos de raiva que costuma ter quando está com ciúmes.

— Não sei, meu amor. O que ela estava comentando? – pergunto, evitando perder o fio da conversa novamente. Fazer isso mais uma vez com certeza o irritará.

— Que achava que você era solteiro e que ia te chamar para sair. Achei tão audacioso de sua parte, de maneira errada, até. Ela já deve ter feito o convite, com certeza... e... agora... você chega tão cansado...

Ergo a sobrancelha, olhando-o.

— Shion, você não está pensando que eu aceitei, está? – beijo o cantinho de seus lábios, olhando-o enquanto espero uma resposta.

Ele hesita. Uma resposta muda para minha questão. Com isso, eu logo prossigo.

— Tive reunião hoje. Precisava definir o próximo programa. Passamos três horas e meia dentro de uma sala discutindo isso. Por esse motivo estou tão cansado. De qualquer maneira, ela estava lá, como minha secretária. Se considerar isso um encontro... – deixo em aberto, sorrindo de maneira suave.

Ele bufa, olhando-me.

— Não zombe de mim, Dohko.

— Não zombe você de mim, Shion. – eu digo, sério dessa vez – Como eu poderia ter um encontro com alguém assim, mesmo tendo um relacionamento de tantos anos com você?

Mais uma vez ele hesita, desviando o olhar e então fala baixinho, de maneira quase inaudível.

— Eu não sei, você podia se cansar de mim... sei lá... eu sou tão chato. – e fez bico ao dizer isso. Eu quase caio na gargalhada ao vê-lo daquela forma.

— Ei, Shion. Agora eu pergunto se você está acordado. Aliás, se está bem, não está delirando. – seguro seu queixo, fazendo-o olhar para mim – Eu sou viciado em você, meu amor. É o único que não vê isso?

Ele me abraça, apertando-me contra si, prendendo-me com suas pernas em volta de minha cintura e então sussurra em meu ouvido.

— Essa vadia também parece não ver isso... – ergo-me um pouco, apenas para olha-lo.

— Ela não vê porque nunca nos viu juntos. Qualquer um nota que eu só tenho olhos pra você, Shion. E não xingue a garota, ela não podia adivinhar que eu não só sou comprometido como também tenho um namorado extremamente ciumento.

— Não fala assim, Dohko. – ele pede, mostrando-se ofendido – Não sou tão ciumento assim. E eu xingo sim, ela é uma put... – beijo-o novamente, interrompendo sua frase, sentindo-o derreter-se sob mim. Ele é tão quente, tão inconscientemente excitante... Sua pele é tão macia e seus cabelos tão perfumados.

Perco-me em seus lábios, deliciado com eles enquanto meu loirinho me permite fazê-lo. Sinto-o desviar de mim em certo momento, voltando a falar em sussurros ainda mais baixos do que os anteriores.

— ... Eu te odeio, Dohko. Por que me torna tão dependente de você desse jeito? É tão atencioso e nunca perde a calma, é sempre tão sério e adulto... perfeito... – e dizendo isso, me beija novamente.

Eu sou perfeito? Essa questão se repete em minha mente enquanto eu correspondo o beijo à altura, sentindo-o remexer-se abaixo de mim. Agora ele vai querer fazer amor e acabaremos varando a noite nessa brincadeira. Isso é o que eu penso durante os longos minutos de carícias que trocamos, até que ele para de me beijar, soltando-me do enlace na cintura.

Sem entender, eu acabo deitando-me sobre a cama novamente, pensando que talvez ele virá sentar em meu colo, como adora fazer para mostrar quem manda, como uma criancinha brincalhona.

Mas não.

Não é isso o que acontece. Ele simplesmente deita a cabeça em meu peito e passa a me olhar de maneira infantil.

— Eu te amo... – sussurra e fecha os olhos em seguida, claramente com vergonha do que havia dito.

Eu acabo brincando com isso, acariciando seus cabelos e respondendo.

— Não disse que me odiava há poucos minutos?

— E odeio. Você me tornou dependente de você. – ele fala, enquanto aprecia o carinho que lhe faço.

— Ora, está sendo paradoxal, Shion. Não pode me amar e me odiar ao mesmo tempo. – eu digo, afagando sua franja farta e rebelde, deslizando os dedos por entre os fios dourados.

— Não conteste a lógica ariana, seu chato. Amo e odeio. E pronto. E se reclamar dorme fora da cama. – ele diz, tentando manter o ar de seriedade.

— Mas a cama é minha. – eu concluo, com a voz afetada, fingindo estar triste.

— Eu não estou nem aí. Acha que eu hesitarei nisso? – ele me pergunta, e eu acabo rindo um pouco antes de responder.

— Não, Shion. Não acho que hesitaria. Não nisso. – e então me ergo apenas um pouco – Eu te amo.

Sussurro, beijando sua testa.

Ele esconde o rosto em meu peito, me abraçando e suspirando levemente. Tenho quase que certeza de que ele fez isso apenas para sentir melhor o meu cheiro.

Isso me agrada. Eu acabo sorrindo. Sei que compartilhamos do mesmo sentimento de amor e adoração mútua. Tenho certeza de que, se lhe pedissem, ele me descreveria de maneira fantástica, assim como ele é para mim.

Fico pensando nisso enquanto mantenho a carícia em seus cabelos. Logo ele adormece, e eu, ironicamente mais cansado do que ele, estou aqui acordado agora, recobrando o dia que tive, sentindo-o muito mais agradável a partir do momento em que entrei pela porta de casa hoje à noite.

Olho-o novamente. Um ser tão cheio de defeitos e tão adorado por mim. Seu ego enorme que eu frequentemente amacio, sabendo que irei para o inferno por isso. Seus acessos de raiva que contrastam com esses momentos em que me parece frágil e delicado. A masculinidade com um expoente de elevação metrossexual e narcisista. O sorriso doce que nada combina com as frases cheias de veneno e o jeito felino de mover-se quando quer algo. Todos os seus defeitos e qualidades que juntos formam essa personalidade tão complexa e atraente a mim... que me fazem amá-lo. Sei que me ama também, e que me vê pelos pequenos detalhes, me sinto orgulhoso disso, principalmente quando o tenho assim em meus braços.

E depois de todo esse tempo juntos, eu aprendi a apreciar a preciosidade que tenho comigo, as características mínimas, toda a profundidade rara desse espírito jovem, que fica marcada em minha memória por seu perfume vulgar.


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Notas finais do capítulo

Pelos deuses, espero que alguém tenha gostado ;-; pra mim ficou tão fofinho, gente ;-; em especial, espero que a Megami curta sim u.u bom, digam-me o que acharam nos reviews, não sou muito de pedir comentário mas acho que dessa vez é válido, visto que é uma experiência nova pra mim, trabalhar com esse libriano fofo :3 acho que é só
Até mais
kissus :**



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