Doce silencio. Era tudo que Walkyria queria. E conseguiu nesse novo emprego. Uma forma de apagar seu passado constrangedor e doloroso. Toda vez que olhava para a barriga, ainda lembrava da dor que sentira. Ah Michelangelo, ou somente Mike, onde estará ele agora? Tomara que bem longe, desejou ela. Afinal ele havia feito de sua vida uma desgraça. Estava do jeito que estava por causa dele.

Mas ao invés de ficar remoendo o passado, voltou ao trabalho. Livraria Cultura.

Cinelândia, bairro do Rio de Janeiro. Perto do Metro, com vários locais para comer. Rodeada de silencio absurdo e , só sendo quebrado as vezes pelos colegas e trabalho e os visitantes. Essa era a vida de Walkyria agora. Apenas com 19 anos, pronta pra fazer 20 esse ano ainda. Ainda era cedo. Estavam no começo de Janeiro, e o clima quente do Rio ardia os turistas que entravam na Livraria em busca de ar gelado (Alguns dias gelado até demais). E claro, os turistas do sexo oposto sempre reparavam em Walkyria. Afinal, ela era o que podia se chamar de Garota Perfeita. Pelo menos em questão de corpo. Uma Gostosa, como todos falam. Cabelos Negros como a noite e levemente ondulados tendo uma mecha grande vermelha presa no cabelo por uma presilha, os óculos de armação branca combinavam com os olhos negros como o cabelo, o rosto com algumas feições selvagens, típicas de pessoas do signo de Leão. Seios grandes assim como a bunda acompanhavam a moça.

2014, Março, Dia 14,10:23

–-Ola

–-Ah ola...Mike!?!

–- Walkyria? Você por aqui?

–-Não se finja de surpreso. Você já sabia que eu trabalhava aqui. O que veio fazer aqui? —As palavras foram cuspidas de sua boca, não faladas. Cada letra carregava tanta raiva que podia ser sentida por todos ao redor

–-Hey calma Walkyria, só vim comprar um livro

–-Você lendo? —disse ela, deixando escapar interesse na voz—Desde quando?

Walkyria não podia negar. Ainda Gostava dele. Mesmo depois de tudo que ele tinha feito ela passar. Depois de ela perder as duas coisas que ela mais queria...por causa dele!

–-Hey, eu sou um cliente aqui, pode me tratar com mais respeito por favor, garotinha

Ardendo de Raiva por dentro, mas ciente de sua responsabilidade, Walkyria fecha os olhos e suspira forte. E depois os abre e olha para Mike

–-O que você deseja senhor? —A palavra senhor tinha saído com dificuldade de sua boca. Mike havia notado e havia adorado isso.

–-Bem, eu queria achar a Culpa é Das Estrelas. Conhece?

Era o livro favorito dela. E ele sabia disso

–-Por aqui por favor

–-Certamente

Depois de leva-lo a secção dos Romances, ela o deixou lá. Bem, ela tentou, se ele não tivesse segurado seu braço. Estavam na parte mais interna da loja, local onde dava acesso as escadas rolantes e para a rampa espiral que davam ambas para os respectivos 2º e 3º andares.

–-O que você pensa que está fazendo Michelangelo? Me solta

–-Soltar você? Não obrigado

–-Ou você solta, ou eu conto aos berros o que você fez comigo

–-Você não faria

–-Quer apostar!?—falou ela com a voz levemente alterada

As pessoas olhavam de canto de olho para o “casal” que logo se despediu com frieza no olhar de Walkyria, enquanto via Mike ir embora sem nem comprar o livro. Mas não sem antes falar: Você nunca vai ser mãe garota. Nunca!

...

13:40

Depois de ter sido amparada pelos visitantes e pelos colegas de trabalho, Walkyria voltou ao seu posto, agora sem chorar. “Hum...já são 13:43...cadê ele? ”

Ele, no caso era um garoto que segundo ela, parecia ter 18 anos no máximo. Pele morena, cabelo curto, provavelmente de classe média. Ele sempre vinha na Livraria esse horário. E quase sempre sentava em um dos vários puffs que ficavam na frente de cada secção. Sempre com calça Jeans, o tênis preto e com uma mochila verde claro, escrito atrás da mesma: JMJ. Jornada Mundial da Juventude. Era estranho pra ela ter visto todo aquele amontoado de gente no rio no ano passado. Mas ele... ele era de bem antes. Ela não lembrava de quando, mas ela sabia que já tinha visto ele. E ele tinha sorrido pra ela. Ele tinha sorrido pra ela! E ela boba, não sorriu de volta. Será que eles já tinham se falado? Bem, se tinham, ele não se lembrava dela. Também, por que alguém lembraria dela? Os homens só queriam era uma coisa com Walkyria, e era sexo. Muito sexo. Ela mesma era uma ninfomaníaca, mas não era fácil de se conquistar. E também não transava com qualquer um. Fazia um ano e alguns meses desde que ela e Mike...

“Por que ele não olha pra mim? ” Ficava ela indagando, parecendo uma adolescente de 15 anos. “ Será que eu sou tão feia assim? ”

Até que ele se levantou, guardou o livro, e foi até ela. Seus olhos brilharam, mas a tristeza das palavras de Mike ainda estava muito na pele, e ela viu que ele também podia sentir isso. Mas ele não falou com ela. Passou direto e foi para a escada para o segundo andar. Por que? Ele vinha ali desde Janeiro. Sempre alegre, apesar de as vezes ela poder ver que ele não estava. Ele tentava sorrir pra ela, mas não conseguia. No máximo ele espojava um sorriso torto e voltava a ler. Walkyria detestava ler, só estava naquele trabalho pelo dinheiro, e pelo silencio e calma do local.

–-Alguém... por favor... Eu não quero ficar sozinho—balbuciou ela sem perceber