Todos na sala permanecem silenciados, mas o ódio paira sobre seus olhos.
–Ótimo, odeio tirar dúvidas. - Diz Labiapari. - Eu não curti nenhum pouco vocês, mas não vou acabar com vocês agora, vou deixar vocês presos aqui até rodarem por vocês mesmos.
–Você não pode nos deixar aqui! - Exclama Marti.
Labiapari apanha sua arma.
–Mermão, tu ta querendo falar pro cara da arma o que el pode ou não fazer? Tu ta bem louco?
Marti baixa a cabeça e fica quieto.
Labiapari se levanta e fecha a porta, prendendo o pequeno grupo dentro daquela sala.
–Eu vou ser um cara legal e mandar trazerem comida pra vocês, vocês vão viver e sofrer muito ainda. - Labiapari pronuncia tais palavras e ri.
Sua risada se distancia conforme ele anda pelo corredor.
Os dias se passam, o grupo de sobreviventes é diariamente alimentado e isso de certa forma foi bom, os ajudou a se recuperar. Os corpos de Dudu e Bia foram tirados e a sala limpa. Não era um lugar totalmente ruim, mas agradável não era.
Os segundos passavam, os minutos, horas, dias, semanas, mêses e ali eles permaneceram.
Um ano se passou desde que o grupo de sobreviventes adentrou os muros de Comboio do Terror, durante este tempo preso decidiram que precisavam de um líder e de forma democrática elegeram Martinato. Foram poucos anos, mas agora estavam praticamente irreconheciveis, o cabelo de todos aumentou cerca de 12 centímetros, os homens estão com barbas grandes e fechadas e acima de tudo, Marti está cansado.
Com os objetos do escritório eles criaram alguns utensilios que podem servir como arma. São cerca de onze horas e cinquenta minutos e eles estão prostrados em frente à porta esperando o momento em que irão alimenta-los.
Isadora carrega a perna de uma cadeira com uma tesoura presa na ponta em uma mão e na outra uma segunda perna de cadeira, Malu está segurando uma perna de cadeira como bastão e o assento como escudo, Gabs está na retaguarda com três regúas afiadas e coladas uma na outra, Celly derrubou uma cortina e usa um dos varões com uma das pontas afiadas como lança, Mapa fez correntes com clips de papel e dps as trançou criando um grande chicote de metal com pontas, Luc criou com as rodas de uma cadeira e a tampa de uma mesa algo como uma prancha que será usada pra transportar rapidamente o corpo de alguém que seja ferido até uma zona segura e Paloma e Gaby reforçaram uma mesa e a usarão com uma espécie de torre de defesa, o grupo sempre terá algum lugar para se esconder atrás. Os homens vão desarmados e tentarão a sorte na luta mano a mano, Sabs decidiu ir com eles.
Passos ecoam pelo corredor em direção à porta e ninguém parece respirar dentro da sala devido a ansiosidade.
Os passos param.
Estão perto.
A chave é colocada na maçaneta.
A chave gira.
Marti começa tudo, ele puxa a porta e acerta um chute frontal no peito do primeiro homem que cai e derruba dois junto com ele, fora os três homens caídos existem mais dois em pé carregando bandejas com comida. Thalles acerta uma cotovelada na lateral do rosto de um que cambalea e logo tem a garganta estocada pela arma de Isadora, Marti distribui uma série de pancadas no rosto do homem que chuto e logo este já não se move mais, o segundo homem que ficou em pé tenta correr, mas a lança de Celly o atinge e crava-se em suas costas fundo o suficiente para perfurar-lhe o pulmão, o homem cai e Celly pega de volta sua lança manchada pelo sangue que sai borbulhante pela ferida a cada vez que o ferido tenta respirar, Luke dá chutes e pisões no rosto de um dos homens que tenta levantar sem sucesso e em pouco tempo Luke finalmente o mata. O unico sobrevivente se desespera e é agarrado pelos braços por Isadora e Marti, Paloma revista o corpo dos mortos e encontra apenas um canivete e um facão.
–Onde ficam as armas? - Pergunta Luke para o homem.
–Eu não sei.
Luke pega o canivete de paloma e dá cinco estocadas na perna do homem.
–E agora?
–Te juro não saber! - Exclama o homem começando a chorar e dando gemidos de dor.
Agora Luke se joga sobre ele, arrancando-o dos braços de Isadora e Marti. O homem bate a cabeça contra uma das paredes com força e Luke o mata dando em seu rosto cerca de 43 estocadas utilizando o canivete.
–Eu ficarei com o facão. - Avisa Marti.
O grupo corre pelo corredor e derruba sem dificuldade alguns homens conquistando um bastão para Thalles, um soco inglês pa ra Léo e um par de pistolas para Sabs.
Mais à frente se deparam com oito homens armados que começam a disparar. Paloma e Gaby rapidamente colocam a mesa na frente de todos e o grupo se abaixa para se proteger, os projéteis batem contra as placas de metal que reforçam a besa e o máximo que conseguem é amassá-la ou cravar algumas balas.
Por um segundo os disparos parecem ter cessado e Malu então sai de trás da mesa com sua "arma" mas logo é atingida na perna, Luc corre com a maca improvisada e Malu se joga sobre ela, a ruiva começa a empurrar o objeto que se desloca rapidamente, mas uma saraivada de balas atinge seu corpo que mesmo depois de ter tombado ao chão continua se mechendo devido ao impacto das balas que perfuram inteiramente seu corpo, Gaby consegue puxar a maca, mas uma bala atinge sua cabeça e ela desaba.
–O que faremos agora? - Pergunta baixinho Luke.
–Sabs, você sabe atirar bem? - Pergunta Malu enquanto avalia sua ferida.
–Eu caçava. - Responde Sabs.
–Ótimo, mas precisamos que seja rápida. - Alerta Mapa.
Sabs se encosta com as costas contra a mesa, checa o pente das armas, respira fundo e se levanta. Em quatro segundos ela efetua dez disparos e oito são certeiros derrubando os guardas antes que eles possam erguer suas armas, ela se abaixa e respira novamente.
Seus companheiros estão boquiabertos.
–Eles com certeza não furam ao clube de caça, se não entenderiam melhor como se trabalha com armas. - Diz Sabs.
Ao sinal de Marti o grupo retoma suas posições e voltam a avançar.
Quando vão apanhar as armas no chão uma fumaça começa a cubrir os corredores e em pouco tempo os cerca.
–Vocês vacilaram legal comigo. - A voz de Labiapari surge.
O líder do Comboio esperava se dar bem, mas não contava com a fúria de Marti que se atira para dentro da névoa em direção a voz.
Ningém vê o que está acontecendo, mas todos ouvem uma sequência de baques secos que vão ficando cada vez mais úmidos, Marti urra de raiva e a voz de Labiapari soa estrangulada.
Certo tempo depois a fumaça se esvai e o grupo vê Marti sentado todo arranhado e cheio de sangue e Labiapari caído ao seu lado com um facão preso entre os olhos.
–Vamos sair pelos fundos, creio que não haverão homens por lá. - Sugere Paloma quebrando o silêncio.
O grupo deixa para trás o escudo improvisado e se deslocam com rapidez pelos corredores sem problema algum, eles deixam o prédio e enveredam por ruas secundárias e becos até encontrarem o muro, sem guardas nessa região.
Todos se livram de suas armas com excessão de Sabs e atravessam o muro, até mesmo Malu com o auxílio de Gabs e Luke.
Eles caminham um longo trecho por dentro da mata e param ao encontrarem um riacho, ali decidem descansar.
Uma fogueira é acesa e apenas o crepitar do fogo, os gemidos dos mordedores e os sons da mata se fazem ouvir.
–Deus e armas nos mantêm fortes, assim poderíamos criar uma nova sociedade mais dura. - Diz Sabs sonhadora. - Bem, nós podemos muito bem desistir e correr, mas não podemos deixar que tomem nosso Deus e nossas armas.
–Nós não vamos desistir, mas não podemos nos apoiar pra sempre nas armas, Sabs. - Opina Malu.
–Então viverei aqui mesmo no bosque onde Deus é grande e as armas são boas.
–Sabs, quem você era antes disso começar? - Pergunta Celly curiosa devido a performance vista mais cedo.
–Vocês realmente não podem saber muito sobre o que sou. Bem, houve um tempo que eu não esqueço, vivia na noite, fora de casa. A mata era minha casa, eu precisava me encontrar então ia caçar, mas nunca matava, eu sentia pena, mas não há ninguém para poupar mais então faço minhas orações e agradeço ao Senhor por ter praticado tanto com aquela arma que guardava na gaveta da cômoda. - Sabs sorri diante da lembrança.
Ninguém entende ao certo o que ela pretendia dizer então simplesmente ignoram e adormecem.