Por Toda a Vida escrita por Maya


Capítulo 1
Capítulo Único - História de Amor


Notas iniciais do capítulo

Y'up!Aqui estou eu, mais uma vez concorrendo a um desafio. Tentei dar tudo de mim nessa história, então espero que vocês gostem e se emocionem com ela :)Aproveitem!



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O cemitério estava completamente vazio. Ou parecia estar, não importava; toda a minha atenção estava voltada ao túmulo a minha frente, agora com um novo buquê de Tulipas o enfeitando. Segurando um anel de noivado em uma mão e um guarda-chuva para me proteger das lágrimas do céu em outra, eu lia e relia os dizeres que indicavam o fim da minha história de amor.

R.I.P

Valentin Schneider

Grande homem e piloto

10/01/1985 – 20/04/2014

Mal parece que já se passou dois meses inteiros desde o dia em que o avião caiu. Fora o pior dia da minha vida. A notícia se espalhou num piscar de olhos; em um instante, toda a família, amigos e conhecidos de Valentin já sabiam do ocorrido. Várias autoridades foram ver o que sobrara do avião, e retiraram os corpos. Os poucos que sobreviveram ficaram paraplégicos, ou pior. Não consegui ouvir toda a história; sempre que a notícia aparecia nos telejornais, eu desligava a televisão imediatamente. Era doloroso demais. Por isso, não sabia ao certo a causa da queda. Ouvi algo sobre turbinas, e só. Sempre que ouvia falar do acidente, a dor da perda de Valentin vinha à tona com tudo, e eu mal conseguia conter as lágrimas.

E mesmo com essa dor, não deixava de me lembrar de meus momentos com Valentin. A mais recente e mais dolorosa era a de dois meses atrás, a última vez que o vi.

Encontrei Valentin no aeroporto naquele dia. Recordo-me de não saber ao certo porque estava ali, até vê-lo, em seu uniforme de piloto, cumprimentando os passageiros. Naquele momento, percebi que estava ali pelo simples prazer de vê-lo novamente, depois de três meses sem falar com ele. Tínhamos rompido em janeiro, e desde então não conseguíamos trocar uma palavra. Fui até o aeroporto naquele dia porque estava morrendo de saudadese não conseguia esconder de ninguém que ainda o amava. Queria conversar com Valentin, apenas isso.

Valentin me viu depois de cumprimentar todos os passageiros de seu voo. Seu sorriso carismático de sempre se desfez aos poucos, ao mesmo tempo em que suas sobrancelhas se erguiam de surpresa. Ele caminhou em minha direção lentamente, e eu continuei parada, sem conseguir tirar os olhos dele.

Somente quando ele se aproximou, eu consegui sair do transe. Abri a boca, mas a fala só veio segundos depois.

– Quero conversar com você – eu disse.

– Ah! – Ele exclamou. – É claro. O voo pode atrasar um pouco se for por você.

Continuamos parados no mesmo lugar. Eu sabia o que tinha para dizer, mas perdera todas as palavras. Por sorte, ele fez isso por mim. Devia estar se passando a mesma coisa em sua cabeça.

– Será que ainda temos alguma chance?

– Não sei – respondi.

– Olhe,Bella, eu realmente sinto muito pelo que fiz. Mas eu te amo. Sempre te amei. Eu cometi um erro, mas e daí? Sou um humano, poxa, errar é normal. Se você me der mais uma chance...

– Valentin – eu o interrompi. – Eu vim aqui justamente para descobrir se ainda teríamos alguma chance, se ainda poderíamos retomar nossa relação... E acabei de descobrir que a resposta continua sendo não.

Valentin baixou a cabeça. Sua tristeza era visivelmente sincera. Quase dava para sentir sua decepção consigo mesmo.

– O que eu fiz agora? – Perguntou em voz baixa.

– Será que você ouviu o que acabou de dizer? Chamou aquela traição de um simples erro. Um erro normal, que qualquer humano comete. Não foi um mero erro humano pra mim, Valentin – eu disse. – Foi a pior coisa que já aconteceu na minha vida.

– Já disse que...

– Não jogue a culpa apenas na Leona – o cortei novamente. – A culpa foi dos dois. Foi uma traição dupla. Se você realmente me amasse tanto quanto diz, Valentin, não teria feito aquilo.

Ele ficou em silêncio. Uma voz feminina soou por todo o aeroporto, informando aos passageiros de tal voo que se direcionassem a tal portão.

– Mesmo se tentássemos de novo – recomecei –, não seria a mesma coisa.

– Eu sei – ele murmurou. – Veio aqui para me dar um fora de novo?

– Sinceramente, não sei mais por que vim aqui.

E realmente não sabia ao certo. Antes que pudesse perceber, já estava dirigindo até o Aeroporto de Berlim-Tegel. Talvez a única coisa que eu queria fazer era ver Valentin pessoalmente mais uma vez. Apenas mais uma vez, para que pudesse ter certeza de que tinha acabado.

– Tudo bem – ele tornou a murmurar. – Então... Quero que fique com isso.

Do bolso da calça, ele tirou um anel enfeitado com um lindo diamante e o estendeu para mim.

– Não – recusei. – Não posso ficar com...

Antes que pudesse terminar a recusa, notei que Valentin tinha sua própria aliança continuava em seu dedo. Não consegui dizer não depois de ver aquilo; peguei o anel de sua mão e o guardei no bolso.

– Tenho que ir. O avião não decola sozinho.

Quando ele beijou minha testa, senti que ainda tinha algo a dizer, algo realmente importante. Contudo, tal coisa ficou entalada em minha garganta.

– Até algum dia, Hoffmann.

– Até.

Bastou ele virar as costas para eu perceber o que tinha de tão importante para dizer. Queria dizer que o amava. Que, apesar de tudo, eu ainda o amava.

Eu não disse, e ele decolou.

Mesmo hoje, sempre que olho para a aliança me recordo do dia em que ele me pediu em casamento. Fora em dezembro de 2013. Eu tinha saído da casa que dividia com Valentin – que tinha saído mais cedo porque, segundo ele, seu chefe queria ter uma conversa – para encontrar meus pais, que tinham chegado de Munique e se hospedariam no Radisson Blu Hotel.

Assim que cheguei ao luxuoso prédio, um funcionário do hotel veio ao meu encontro e me acompanhou até o lounge. Fiquei mais uma vez encantada ao ver o AquaDom no centro do salão, as pontes que se ligavam a ele na parte superior sempre repletas de turistas para admirar a grande variedade de peixes dentro do aquário cilíndrico. Porém, quando voltei a olhar para frente, notei que as bancadas e os bancos do bar, bem como todas as mesas e cadeiras ao seu redor, estavam enfeitadas de Lisianthus e fitas brancas. Olhei para o funcionário que me acompanhara até ali. Ele sorria para mim quando fez um sinal para alguém. A música Because I Love You começou a tocar. Pétalas começaram a cair da parte superior do lounge; olhei para cima e vi que eram os "turistas" que as jogavam sobre mim, e percebi que estavam todos vestidos de ternos ou vestidos. Inclusive, vi meus pais e minha melhor amiga entre eles.

E, finalmente, Valentin apareceu no meio da cortina de pétalas. Estava lindo, vestia seu melhor terno. Seus cabelos loiro-pálidos de pontas repicadas eram a única coisa informal no evento. Seus olhos azuis cintilavam graças à luz de seu único sol. Ele foi caminhando em minha direção, enquanto a música parava de tocar e as pétalas paravam de cair.

– Valentin, o que é isso?

Isso, Bella, é o tamanho do meu amor por você – começou. – Eu te amo tanto, mas tanto, que seria capaz de te dar um mundo inteiro. Eu te amo tanto que teria o prazer de fazer você dar esse sorriso lindo todos os dias.

Ele se ajoelhou e tirou uma caixinha do bolso. Meu coração saltou, senti meus olhos ficarem marejados, mas não conseguia nem pensar em parar de sorrir.

– Bella, nos conhecemos há muitos anos. Assim que eu te conheci, passei a te amar. Durante todos os anos em que nós passamos separados, eu continuei a te amar. Quando nos reencontramos, te amei mais ainda, e esse amor só aumentava ainda mais com o passar dos dias. Agora, se você me permitir – ele abriu a caixinha, revelando o anel de diamantes –, vou adorar passar a te amar cada vez mais pelo resto da minha vida, e mais um pouco.

Lembro-me de como seu rosto ficava lindo quando estava emocionado,de seus olhos ficarem tão marejados quanto os meus e de ouvir alguém me chamar de sortuda.

– Bella Hoffmann, quer se casar comigo?

Lembro-me de como ele ficou feliz quando eu aceitei, de quando as pétalas tornaram a cair e o refrão da música começou a tocar enquanto Valentin colocava a aliança em meu dedo. Lembro-me de que aquele beijo foi o melhor beijo de toda a minha vida.

Um mês se passou, e o aniversário de Valentin se aproximava. Era inverno na Alemanha. A neve preenchera toda Berlim; por onde quer que se passava, era possível ver ruas, casas, prédios e árvores com essa cobertura fofa brancas. No dia seis de janeiro, eu, Valentin e Leona, minha melhor amiga e madrinha de casamento, cumprimos nosso dever como cristãos e participamos da procissão do Dia dos Reis.Nós preferimos ficar no fundo da multidão; éramos os únicos que não faziam nenhuma oração. Aos sussurros, conversávamos sobre o dia do casamento, que seria em julho. Leona resmungou que deveria ser a primeira a saber a data, e Valentin brincou com ela, dizendo que seria meio difícil se ela não fosse sua noiva, nem meu noivo, e nem o padre. Leona debochou, mas não deixou de rir. Tentamos fazer silêncio,mas ainda assim chamamos a atenção de algumas pessoas. Sempre que nós três estávamos juntos, nos divertíamos como se ainda fôssemos os mesmos adolescentes de antigamente. Mas eu era muito ingênua. Eu não ligava, ou melhor, eu nem via o olhar que Leona lançava para Valentin sempre que se encontravam.

Os dias se passaram, e o aniversário de Valentin chegou. Nós dois almoçamos no Caffe Bocconi. Lá, ele avisou que alguns amigos do trabalho tinham organizado uma festa simples para ele, e que só teriam homens lá. Eu, ingênua como era, disse que estava tudo beme que passaria o dia pensando na melhor forma de comemorarmos quando ele voltasse; a noite seria nossa.

À tarde, mandei-lhe uma mensagem pedindo para que me encontrasse na Avenida Unter den Linden e fui até lá quando estava quase na hora do encontro. Eu e Valentin adorávamos aquela avenida. Entre duas pistas, havia uma passagem arborizada, depois da estátua de Frederick O Grande. Muitas pessoas gostavam de passar por ali, ou se sentar em um dos bancos; era um ambiente realmente agradável. No Natal, as várias árvores que ladeavam a passagem ganhavam luzes que se acendiam à noite, deixando tudo ainda melhor. As luzes que colocaram no mês passado, porém, continuavam ali; todas as árvores estavam enfeitadas de luzes brancas, que deixavam a neve que as cobriam brilhando.

Naquela noite, fiquei sentada no banco a espera de Valentin. Entretanto, ele não chegava nunca, não atendia minhas ligações e não respondias às minhas mensagens... Então, voltei para casa para ver se ele estava lá.

Quando cheguei à porta de casa, vi as luzes acesas e ouvi um barulho, um gemido. A porta estava destrancada. Entrei lentamente e, quando estava prestes a chamar por Valentin,olhei para o lado. No sofá, duas pessoas se beijavam. Meu cérebro demorou cinco segundos para notar que eram Leona e Valentin.

Eles me viram, e Leona saiu imediatamente de cima de Valentin. Ele, por sua vez, continuou sentado no sofá, me encarando de olhos arregalados e a boca aberta. Fiquei um bom tempo olhando para ele, até olhar para Leona. Meu amor desde a adolescência com minha melhor amiga desde os treze anos... Foi o momento mais doloroso da minha vida até então.

Valentin enfim disse algo:

– Bella, eu posso explicar.

– Explicar o quê, Valentin? – Minha voz já estava embargada de choro antes mesmo de eu começar a chorar de verdade. – Isso não tem explicação!

– Foi a bebida, eu juro! Bebi demais na festa e...

– Ah, a festa? Aquela festa só de homens?!

– Alguém convidou a Leona – ele disse. – Ela viu que eu estava exagerando na bebida e me levou pra casa... E acabou acontecendo... Me perdoe, eu não queria magoar você!

– Mas também não queria magoar ela – retruquei. – Você e essa mania de querer que todos fiquem de bem com você sempre!

– E é errado? É errado não querer ver ninguém triste com você, e manter os amigos por perto?

– E você acha que isso foi certo?! Você não quis magoar a Leona, e feriu sua noiva por causa disso! E, caso não tenha percebido, essa vaca não é nossa amiga!

Valentin se calou. Leona nem ousou abrir a boca, mas, pela sua cara, não podia dizer se estava realmente arrependida.

Não queria ouvir mais nada. Meu coração estava despedaçado, minha mente, confusa, e minha confiança naqueles dois, completamente destruída.

– Saiam daqui – murmurei. – Os dois. Fora.

– Bella...

– Fora!

Valentin continuou a me encarar, seu olhar suplicando por perdão, mas percebeu que eu não diria mais nada e foi embora. Leona passou por mim, com o mesmo olhar de indiferença, e também saiu. Hoje, acho que eu deveria tê-la feito ficar,colocá-la contra a parede e fazê-la dizer o porquê de ter feito aquilo. Contudo, eu fechei a porta depois que ela saiu, sem saber que a próxima vez que a veria seria no enterro de Valentin dali a alguns meses.

Não saí da cama naquela noite. Não parava de chorar e de ignorar a primeira demanda de ligações de Valentin, apagando suas inúmeras mensagens de perdão e juras de amor. Não queria mais ouvir sua voz. Nos dias que se passaram, algumas amigas e meus pais fizeram de tudo para me animar, mas parecia impossível preencher o vazio em meu peito. O dia em que reencontrei Valentin, o tempo em que passamos namorando, parecia ter sido em outra vida.

Foi em 2005. Leona e eu saímos de Munique depois de ganharmos bolsas para terminar nossos estudos em Berlim, em Março. Era um dia ensolarado, a primavera acabara de chegar e, por isso, muitas flores desabrochavam. Por onde quer se passasse, podia-se ver áreas verdes e floridas, além de haver pessoas mais sorridentes e bem humoradas passando pelas ruas.

Depois de horas, nós finalmente pousamos no hexagonal Aeroporto de Berlim-Tegel. Cutuquei Leona para acordá-la, e saímos do avião junto de todos os outros passageiros.

Fora do avião, duas pessoas vestidas de uniformes de pilotos e usando quepes cumprimentavam cada passageiro que passava. Quando passei por eles, parei na hora.

– Boa noite senhorita – disse um deles.

Mas eu encarava o outro homem, que me olhava com a mesma surpresa. Não era difícil, mesmo depois de anos, reconhecer aquele rosto.

– Bella!

– Meu Deus, Valentin!

Saí da fila de passageiros para não atrasá-los, sendo acompanhada por Valentin e Leona. Ele não tirou seu sorriso bobo do rosto até notar Leona e substituí-lo pelo mesmo sorriso carismático de sempre. Ela estava tão surpresa quanto eu.

– Leona, oi!

– Valentin, continua com a mesma cara!

Nós ficamos conversando ali mesmo. Valentin mostrou seu crachá escrito "Flugschüler", que o apresentava como um aprendiz de piloto. Eu e Leona contamos que estávamos ali para terminar nossos estudos de medicina e que pensávamos em ficar ali mesmo, ao invés de voltar para Munique. Nossa conversa durou um bom tempo, dentro e fora do aeroporto. Trocamos nossos números de celular e endereços, o que permitiu nossos encontros e mensagens nos meses que se seguiram.

Um ano se passou, e Valentin me mandou uma mensagem me convidando para ir com ele ao Parque Britzen Garten, para presenciarmos o Tulipan.

Às dez horas de uma manhã de Abril, nos encontramos lá. O Tulipan era o Festival das Tulipas, época em que se podia ver diversos tipos de Tulipas juntas naquele parque, assim como canteiros ornamentados e árvores de folhas brancas e rosas.

– Gosta de Tulipas? – Valentin me perguntou, enquanto nos sentávamos sob a sombra de uma árvore de folhagem branca para admirar a paisagem.

– Gosto. Bem, sempre preferi Lisianthus, mas Tulipas também são lindas.

Estranhei o silêncio repentino e olhei para Valentin. Ele me encarava em silêncio, parecendo sério.

– Que foi? – Perguntei.

– Nada. Só estou te olhando, e pensando que você é mais bonita que qualquer coisa aqui.

Senti meu rosto esquentar e dei um sorriso tímido.

– Você percebeu que estamos num lugar cheio de flores, né?

Ele também sorriu, sem tirar os olhos de mim.

– Bella, meus olhos estão brilhando?

Eu assenti, mesmo achando a pergunta desnecessária; os olhos dele sempre cintilavam. Ele continuou:

– E você sabe o motivo?

– Por vários motivos.

Valentin deu aquele sorrisinho divertido e gentil que só ele sabia dar.

– Porque eles estão refletindo a luz do meu único sol: você. Você, Bella Hoffmann, minha estrela, minha luz. E você brilha tanto que eu não consigo tirar os olhos de você. Mas eu gosto... Gosto de te admirar, porque tudo o que você faz é tão bonito.

Naquela hora, eu fiquei com a boca entreaberta, olhando para Valentin sem piscar, com o coração batendo rápido.

– Bella... Eu me apaixonei por você. Mais uma vez.

A única coisa que fiz foi sorrir e assentir de leve; estava muito boba. Valentin deve ter entendido como um "eu também" e me beijou. Começamos a namorar naquele mesmo dia.

Nos apaixonamosde novo... Na primeira vez que me apaixonei por ele, foi tão repentino que eu demorei a entender que apaixonada. Infelizmente, não tive muito tempo para demonstrar isso.

Nos conhecemos no ano de 2001, em Munique. Meus pais e eu fomos jantar no restaurante Esskapade com Leona e os pais dela e mais um casal e seu filho, que viriam de Berlim. Meus pais e os pais de Leona, os Kuster, eram sócios, e planejavam fazer uma sociedade com os Schneider.

O Esskapade era elegante e agradável. A parte de dentro era iluminada por lustres que pareciam flores. No centro, havia um bar com sete bancos diante do balcão, e uma prateleira com bebidas e copos atrás. As mesas e cadeiras eram feitas de madeira, e cada mesa continha uma pequena vela no meio. As paredes eram brancas, e o teto, branco e vermelho. Sentamos numa mesa maior, ao lado de um grande vaso que ficava em um espaço no meio da parede e perto de um fogão à lenha.

Sentei-me ao lado de Leona, com nossos pais na outra ponta da mesa, guardando lugar para os convidados. Enfim, o Sr. e a Sra. Schneider chegaram, acompanhados de seu filho. Foi primeira vez que vi Valentin.

Ele se sentou de frente para mim, e Leona parou de falar imediatamente. Valentin sorriu simpaticamente, e eu retribuí o sorriso. Olhei automaticamente para Leona; ela ergueu as sobrancelhas e soltou um "uau" mudo.

Nós três ficamos conversando enquanto nossos pais discutiam a sociedade. Em certo momento durante o jantar, começaram a tocar uma música lenta. Perguntei qual era o nome, e Leona respondeu que era uma dos anos 90, Because I Love You. Adotei-a como minha música favorita, ignorando a brincadeira de Leona; eu tinha praticamente uma música favorita para cada dia do ano.

Os Schneider recusaram a parceira com meus pais e anunciaram que voltariam para Berlim dentro de um mês. Foi Valentin quem sugeriu que saíssemos um pouco antes de sua partida.

Nos dias que se seguiram, eu e Leona mostramos a Valentin alguns pontos de Munique, desde o Festival de Primavera até os museus. Certo dia, porém, Leona nos avisou que teria que ficar em casa, pois estava doente. Valentin ainda assim me chamou para sair, já que faltava pouco para voltar a Berlim.

E foi assim, de repente, que aconteceu. Estar sozinha com Valentin era diferente de quando Leona saía conosco. Eu me sentia diferentee notava olhares diferentes vindo dele. Ficávamos constantemente em silêncio, mas era diferente daquele silêncio desagradável entre dois desconhecidos.

Mas então chegou o último fim de semana de Valentin em Munique. Ele me lembrou disso quando no final da tarde de um sábado, quando saíamos do Englischer Garten. Nenhum de nós sabia direito o que dizer nessa despedida.

– Olha,Bella, foi realmente maravilhoso tudo o que o fizemos aqui – ele disse, depois de um silêncio. – Me diverti muito com você e Leona... Mas especialmente com você.

Com meu silêncio sem graça, e ele continuou:

– Sabe, você é a melhor amiga que eu já tive em toda a vida. Leona também é ótima, claro. Mas você... Entende o que quero dizer?

– Ah, entendo! – Eu tentei dar um sorriso que não demonstrasse minha total falta de jeito. – Você também foi o melhor amigo que eu já tive. Entende?

Valentin riu e abriu os braços. Me aproximei dele e o abracei.

– Sempre amigos, então? – Eu murmurei.

– Sempre amigos.

Nos separamos, ele beijou minha testa e se afastou, acenando com um sorriso. Eu acenei de voltae fiquei parada vendo-o sumir de vista. Não aceitei o fato de aquela ser a nossa despedida.

Por isso, na segunda-feira à noite, fui até o aeroporto e aguardei pelos Schneider no lado de fora. Eles chegaram logo depois de mim.

Acenei para Valentin. Ele pediu licença aos pais e veio ao meu encontro.

– Bella, o que...

– Eu tinha que te ver mais uma vez.

Ele sorriu gentilmente. Seus olhos brilhavam muito, como se ele estivesse prestes a chorar.

– Aquela não foi uma despedida muito boa, né?

– Não. Foi péssima.

Nós rimos juntos. Uma gota de chuva caiu na minha cabeça, e outras vieram, uma de cada vez.

– O céu está chorando, Hoffmann – Valentin falou. – Ele está triste com a nossa separação.

– Ele quem?

– Você sabe, Ele. Tome. – Ele abriu sua mochila, tirou dela um guarda-chuva preto me entregou. – É melhor se proteger. Não vai querer ser contaminada pela tristeza celestial.

Eu peguei o guarda-chuva e o abri. Não adiantava. Eu já estava triste.

– Bem, até algum dia – eu disse.

– E que esse dia chegue logo – ele disse.

Nós nos encaramos por vários segundos até ele me abraçar com força. Quando se afastou, me deu um rápido selinho, e voltou para o aeroporto, me deixando ali, boba.

Se eu pudesse voltar a essa época, não mudaria nada. Até porque, acho que nada me impediria de me apaixonar por Valentin. Ele é e sempre será meu grande amor, aquele que amarei pelo resto da minha vida.

E mais um pouco.


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