Amor de rivais escrita por Serendipity29


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Oneshort para o desafio de junho-julho ;)



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Sábado, na maioria das vezes acordo de extremo mal humor, muito dos meus amigos me consideram antissocial, na verdade apenas não simpatizo com qualquer um. Por incrível que pareça acordei animado, afinal estamos em período de copa e para minha sorte consegui ingressos para assistir os eternos rivais BRASIL X ARGENTINA, nada melhor do que ganhar dos hermanos aqui no Brasil. Olhei para o relógio e ainda estava cedo, mas tinha perdido o sono. Depois de passar horas me revirando na cama apenas por mania levantei e fui me arrumar, o jogo seria às 15:00 horas na arena Pernambuco, moro há 22 anos (desde que nasci) em Recife e a cidade nunca esteve tão animada, o verde e amarelo estavam espalhados por todos os lugares, nas casas, restaurantes, escolas dando a cidade um clima temático. Sai do banho coloquei uma bermuda jeans, camisa do brasil e um van’s preto, olhei no espelho e o reflexo me mostrou um cara particularmente normal, cabelos negros lisos e bagunçados, estatura mediana, corpo em dia, nada muito exagerado, pele pálida, embora seja estranho, tendo o sol como um dos principais cartões postais da minha cidade.

— É Miguel, você realmente precisa sair mais. — Falei com meu próprio reflexo. Peguei meu celular e as chaves do carro, olhei pela janela e notei algumas nuvens se formando. Achei melhor pegar um Guarda-chuva, afinal o estacionamento não era tão perto do estádio e não estava afim de passar horas molhado. Inicialmente iria com meu amigo, mas fui trocado por uma companhia feminina, no lugar dele faria a mesma coisa. Nada como torcer ao lado de uma bela mulher. Tranquei meu apartamento e peguei o elevador até a garagem, queria sair mais e pegar uma cor, mas não ia começar agora com o sol das 13:00, quero cor e não um câncer.

[...]

Durante o percurso pude observar o quanto eu tinha me isolado apenas focado em meu trabalho, irei me tornar o sucessor de meu pai em sua empresa de publicidade, diante da responsabilidade imposta fui me anulando, me afastando e esqueci de como minha cidade pode ser bonita e hospitaleira, vi centenas de pessoas dançando e se divertindo ao som do frevo, alguns até arriscando um passo ou outro, os bonecos de Olinda em versão copa estampavam jogadores que fizeram sua história ao longo do tempo, inspirando as gerações atuais, como Pelé e Maradona a música alta embalava a garotada que participaria pela primeira vez de um mundial, baixei o vidro do carro e desliguei o ar-condicionado queria que a brisa que vinha da praia me ajudasse a relaxar, na orla as cores das bandeiras de diversos países se misturavam, muitos ali nem se conheciam, mas se tratavam como velhos conhecidos, unidos por um sonho e um único objetivo. Levar a taça para casa. Mas afastado vi crianças brincando nas dunas, muitas formavam times e se denominavam torcedores de prestigio e assim iniciavam uma partida. Me distrai tanto que nem notei que o carro estava em velocidade extremamente reduzida, quase parando. Sai dos meus devaneios e segui meu destino. Chegar foi fácil, difícil foi achar um lugar para estacionar, depois de longos 20 minutos seguia para o estádio, pensei em levar o Guarda-chuva, mas eu me sentiria completamente descolado segurando aquela coisa, enquanto torcia e gritava, um louco talvez. Camisas verdes e amarelas se misturavam com o azul e branco, milhares de pessoas se misturavam a procura do melhor lugar para a partida tão esperada, pais levavam seus filhos dependurados no pescoço e uma lembrança me invadiu, costumava ir em vários jogos com meu pai. Com o ingresso na mão segui até um lugar que julguei adequado, o estádio estava completamente lotado. Os hinos se misturavam, assim como os gritos de guerras que encorajavam os torcedores. E assim iniciou-se a abertura do jogo e a execução dos hinos, muitos torcedores choravam, principalmente as crianças encantadas com o novo mundo que descobriam no gramado.

Arquibancada lotada, gritos de pura euforia, caras pintadas. Rivalidade e emoção. Eu realmente não sabia o que o destino iria aprontar. O jogo estava apenas começando, mas de repente fiquei paralisado, a mulher mais linda que já vi sentou ao meu lado, andar imponente e sensual, acho que ela nem notou o efeito que casou, não só em mim, mas em boa parte da população masculina ao redor, ela realmente estava alheia sobre o efeito que conseguia causar apenas caminhando despreocupada. Camisa azul e branca, cabelo em um tom de preto quase azulado chegando até a cintura extremamente fina. Ela usava um short jeans com detalhes em branco que deixava em evidência suas pernas torneadas. Baixinha, mas dona de um corpo escultural, caberia perfeitamente bem em meu abraço. Desviei minha atenção para seu rosto delicado, olhos marcados com lápis preto e cílios bem modelados, na boca usava apenas um batom clarinho que a deixava com um ar frágil, mas seu olhar denunciava que era uma mulher fatal.

Realmente esqueci o quanto paguei pelo meu ingresso e quem estava jogando, o que de fato eu iria me arrepender, pois esse jogo é um clássico e eu estava realmente muito focado em torcer para o brasil, esse era meu objetivo quando corri os sete cantos do mundo atrás desse ingresso, ou era até meu foco mudar.

Acho que não foi apenas eu que fiquei hipnotizado, ela me olhava de um jeito e pude ver que seus olhos refletiam a mesma emoção que os meus, Desejo. Nem parecia que para times rivais torcíamos, ela sorriu e desviou o olhar. Completamente entorpecido gritos de gol escutei, nem quis saber quem fez, um beijo dela roubei. O tempo parou, o barulho ensurdecedor do estádio desapareceu, e naquele momento só existia a morena que se encontrava em meus braços, como eu tinha imaginado, era perfeito o jeito que o contorno do seu corpo se encaixa no meu, nos separamos por falta de ar, ela sorriu e ajeitou uma mexa do cabelo

— Mucho gusto, mi nombre es Helena. Tiene una manera única de celebrar un gol— eu sorri, ela era irônica, mas gostou tanto quanto eu. Nesse momento dei graças a Deus as aulas de espanhol

— Cuando quiera, pero me gustaría mucho que celebrar con ustedes — respondi sorrindo de lado, ela corou. Outro gol e dessa vez quem invadiu a divisão da arquibancada para comemorar foi ela.

Placar final 3x1 para o Brasil, o que ela falava eu não entendia direito, mas falávamos a mesma língua quando ela me dava outro beijo. Esse dia foi estranhamente maravilhoso, conheci alguém divertida e extremamente teimosa, que acertou dançar o frevo na primeira tentativa e se jogou no mar, segundo ela iria agradecer a Iemanjá. Achei estranho o sotaque carregado e o português um pouco enferrujado, mas o sorriso dela dizia certamente que estava tão feliz quanto eu. Ao perguntar se ela queria minha blusa ela simplesmente respondeu “Se que ME ganó y no la selección de Brasil”, você que me ganhou e não a seleção brasileira. Eu sorri, ela preferia ficar molhada. Me aproximei, os cabelos longos estavam molhados, emoldurando o rosto delicado, a boca estava tremula devido ao frio. Segurei seu rosto entre minhas mãos e me aproximei, ela fechou os olhos e nos beijamos, um beijo mais calmo, diferente do nosso primeiro na euforia do estágio, já nos conhecíamos agora queríamos aproveitar as sensações que um causava no outro. Ela me abraçou e ficamos por um bom tempo observando as ondas e o pôr-do-sol. Helena possuía um cheiro único de jasmim, o vento balançava os longos cabelos e naquele momento eu pude perceber que a queria não só por uma noite.

[...]

Ao lembrar de tudo isso apenas dou um sorriso de lado, naquele jogo conheci a mulher da minha vida, Helena. Já se passaram sete meses desde que nos encontramos nesse jogo, hoje ela volta ao Brasil. Naquele dia saímos de mãos dadas em muitos estranhavam a linda torcedora argentina de mãos dadas com um torcedor convicto da seleção canarinha. Muitas opiniões foram dadas sobre esse relacionamento, eu fingia não escutar, ela fingia não entender, afinal iriamos com certeza passar da prorrogação. Não estávamos mas em um estágio, o nosso jogo agora era pra vida. A Helena continua linda, e toda vez que vem me visitar aparece no aeroporto com a blusa da seleção Argentina e eu faço o mesmo quando vou visita-la em Buenos Aires. Hoje quero que ela se torne minha mulher, oficialmente.

[...]

Faz 4 anos, desde que resolvemos decidir por um país, moro com a Helena na Argentina, afinal o “Brasil” tinha que perder em alguma coisa. Ela está radiante com em seus seis meses de gravidez, gêmeos. Nunca fui tão feliz, embora ela sempre resolva implicar com algo, acentuando sempre nossa rivalidade, mas naturalmente ela sempre ganha. De mãos dadas seguimos para o La Bombonera, eu com a blusa verde e amarela, ela mais uma vez esbanjando beleza com a blusa azul celeste, nossas seleções iriam se enfrentar novamente, ela torcia pela vitória, eu realmente já não precisava de mais nada. Muitos não conseguem entender como pessoas tão diferentes, não só pelos times, mas em personalidade e gostos podem ser tão felizes. Eu tenho apenas uma explicação. Todos nós nascemos completos, então não precisamos da outra metade da laranja, precisamos de alguém que nos ensine, nos tire da zona de conforto. Acrescente em nossa vida o que falta, fazendo com que nossa vida se torne completa, não por não conseguimos viver sem a outra pessoa, mas sim por não queremos imaginar nossa vida sem ela. Sou um cara completo, embora muitas vezes a juíza (helena) apite para minhas faltas, e ameace tirar um cartão vermelho do bolso, sei que nosso time é o melhor em campo, pois estamos construindo uma linda família. Em 90 minutos de um jogo conheci minha eterna rival em jogos de futebol, e até hoje ela não perde a estranha mania de torcer para qualquer time oposto ao meu. Segundo ela isso dá sorte. Secretamente eu também acredito nisso. O Brasil ganhou o jogo, mas meu coração hoje pertence a uma Argentina.


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