–Ceeerto! – O moreno exclamou ao se espreguiçar e olhou para o céu. O dia estava limpo, haviam nuvens, mas nenhuma dela ousava encobrir o sol. – Para onde a gente tem que ir mesmo?

–Cinnabar. – A garota que estava há alguns passos de distância dele respondeu, distraída.

–É bem longe, né?

–Tenho certeza que o Togetaro não vai ter problema para te levar até lá.

–Heh, é lógico. – Gold cruzou os braços e estufou o peito. – Meu Togekiss é resistente como aço.

–Uhum.

–Não se preocupe se a Xatee não aguentar, Crys, eu te levo de carona. – O moreno brincou, piscando divertido para a garota.

–Idiota. – A garota murmurou.

Gold a encarou e suspirou.

–... Vai, desembucha.

–Quê? – Ela se virou rapidamente para ele. – Que foi?

–Você tá chateada com alguma coisa. Anda, fala.

–Eu nã–! – Crystal parou. - ...Como você sabe?

–Porque eu te conheço há seis anos, Garota Séria. Eu sei quando seu humor muda, não sou tão besta assim, sabia? – Ele explicou, levemente ofendido.

–... Desculpa.

–Meh, tudo bem. – O garoto pôs as mãos atrás da cabeça e sorriu. – Mas fala aí, não guarda só para você.

A garota de olhos cristalinos deu um sorriso pequeno e assentiu, mas logo depois voltou a expressão de antes.

–Eu estou meio preocupada...

–Com a baixinha?

–É. Você viu como o Red-senpai parecia aflito quando mencionou o Missigno?

–Hmm... – Ele abaixou os braços e pôs a mão no queixo. – É... Ele tava estranho, alias, tá tudo muito estranho.

–Como assim?

–Tipo isso que você disse, o senpai geralmente fica animado independente do pokémon que for, seja perigoso ou não, né?

Crystal assentiu.

–E... Ele brigou com a Yellow, cara!

Ela parou.

–Pessoas brigam, Gold.

–Mas esses dois?!

–Bem, sim, é incomum acontecer isso com eles, mas mesmo assim.

–É, mas! É a baixinha de que estamos falando! – O moreno cruzou os braços. – Ela é toda boazinha e compreensiva! Quer dizer, ela me desculpou na hora quando e–!

E tampou a boca rapidamente.

A morena o encarou e estreitou os olhos.

–... O que você fez...?

–Nada.

–Gold!

–ENFIM! – Ele exclamou e balançou os braços. – Sem mudar de assunto, acho que não existe uma pessoa viva nesse mundo que tenha visto a Yellow brava!

–Eu já.

–GAHAAI!! – Gold pulou para frente, quase tropeçando e se voltou para trás. – Ô, garoto, não me assusta assim não!

O ruivo apenas assentiu, sem tirar os olhos de seu pokegear.

–Silver, como assim? – A morena piscou.

–Eu já vi a Yellow irritada.

–Eh?! – Gold arregalou levemente os olhos. – Quando?

–Daquela vez que a Team Rocket me sequestrou, no dia que eu descobri que o Giovanni era meu pai. Ela estava furiosa.

–HAH?! – O moreno se aproximou dele. – Sério?! E aí?! O que houve?

–Não posso contar. Prometi manter segredo para ela.

–Ah, qual é!

–Gold! – Crystal pôs as mãos nos quadris.

–Meh, tá. Eu pergunto para ela da próxima vez! – O garoto sorriu. – Além do mais, tenho algo mais importante para fazer agora!

–Algo mais importante? – Ela piscou outra vez, um tanto curiosa.

–É. – Voltou-se para o ruivo. – Silver, falou com os outros?

–A nee-san me mandou uma mensagem, ela disse que eles devem chegar aqui de tarde.

–Ótimo, tem tempo! – Gold exclamou e andou até Crystal antes de segurá-la pelos ombros. – Vem, Crys!

–E- Eh?! – Ela quase tropeçou ao ser puxada. – Para onde?! Ei!

–Você tá muito tensa, precisa relaxar! – O moreno explicou, sorrindo. – Vamos andar pela cidade, ficar parados esperando por eles é muito chato.

–Ah, ei, espera aí!

–Vem também, Silver, fica sozinho aí não!

O garoto de olhos prateados os observou se afastarem, enquanto Crystal tentava em vão se soltar de Gold antes que ele a derrubasse por estar tão apressado daquele jeito. Suspirou, mas os seguiu mesmo assim.

–Além do quê, a Ly-chan não vai gostar de te ver assim!

Silver franziu o cenho.

–Dá parar de chamá-la assim?!

–Blé, blé, blé!

–-000--

–Atchoo!

–Saúde.

–Obrigada. – Lyra fungou.

–De nada. Tá pronta? – A loira sorriu.

–Sim, vamos! – E colocou a bolsa no ombro, antes de seguir com a amiga para a saída de Cerulean.

Seguiram andando pela Route 5 até chegarem a quase sua metade, foi então que Yellow parou e sacou sua pokebola.

–Se importa de irmos com o Dody? Demora para se acostumar no começo porque ele é bem rápido, mas é só um pouquinho.

–Ah, claro, sem problema!

–Ótimo! – A loira sorriu e liberou seu Pokémon. Assim que o Dodrio se preparou, a garota subiu nas costas dele e ofereceu sua mão para a amiga que a segurou e conseguiu subir também. – Certo, Dody, vamos lá!

O pokémon soltou uma exclamação animada e se ajeitou para pegar impulso.

–Se segura, Lyra-san!

–Não se preocupa não, Yellow-chan! Eu tô be–

Mas foi nesse momento que Dody se atirou para frente com uma velocidade enorme, interrompendo-a.

–AIHAAAAAAAAAAA! – A morena berrou, quase sendo atirada para trás.

–Eu avisei!! – A pequena exclamou ao segurar o pulso de sua amiga para ajudá-la a se sentar outra vez. Quando conseguiu, Lyra segurou-se com força ao corpo castanho do pokémon.

–Meu Arceus, é muito rápido!

Yellow riu.

–Desculpa, segure firme, sim?

–Aham! Ai! – A morena abaixou a cabeça por instinto ao passarem por algumas árvores.

Dody seguiu o caminho no mesmo ritmo, chegando até a evitar pokémons selvagens que poderiam aparecer para atrasá-las. Levou algum tempinho, mas a morena se acostumou com a rapidez e conseguiu sentar como Yellow.

–Ufa, to melhor.

–Ainda bem. – A loira sorriu. – Pode desacelerar um pouco, Dody. Não quero que se canse muito.

As três cabeças do pokémon assentiram e ele diminuiu o passo, mas continuava indo rápido.

Lyra sorriu e aproveitou para observar a paisagem. Não iria chover naquele dia, o que era bom. Elas chegariam em Vermillion pouco depois do meio dia e deveriam chegar em Celadon perto da noite. Seus olhos cor de avelã voltaram para sua amiga e ela piscou.

A loira tinha uma expressão esquisita.

–Yellow-chan?

Ela se endireitou e olhou para trás.

–Sim?

–Tá tudo bem?

A mais baixa piscou algumas vezes, mas sorriu.

–Não é nada não.

–Mentira.

A garota encarou sua amiga e suspirou.

–Tô só preocupada.

–Com o quê?

–Coisas.

–Traduzindo: Com o Missingno ou com o Red-kun, né?

Yellow comprimiu os lábios.

–... O segundo.

–O que houve?

–Estou começando a me sentir culpada por não ter pedido desculpas.

–Ah...

–Tenho medo que ele não queira mais falar comigo depois disso.

–Eh? Mas ele não faria isso!

–Não sei, Lyra-san. Naquele dia, ele estava tão irritado, tão alterado... Acho que eu consegui irritá-lo de verdade...

Lyra baixou o olhar e pôs a mão no ombro da garota a sua frente. Debateu internamente sobre uma coisa, até que sorriu e assentiu para si mesma.

–Ei, Yellow-chan, posso te contar uma coisa?

–Eh? Ah. Claro. – A loira murmurou e virou o rosto para olhá-la.

A morena sorriu e pigarreou.

–Sabe, eu nasci em NewBark.

–A mesma cidade do Gold-san?

–Exato. Eu e o Gold somos amigos de infância.

–Sim, ele contou.

–Pois é... - Lyra sorriu mais. - Éramos muito próximos e costumávamos brincar muito juntos.

Dody pulou uma pedra que tinha no caminho, mas aquilo não a atrapalhou.

–Quando eu fiz 7 anos, tive que me mudar para Sinnoh junto com a minha mãe. Eu achei que nunca mais fosse ver Johto na vida.

A loira continuou quieta, esperando que a amiga continuasse.

–Foi só há três meses atrás que eu voltei para lá e estava tão feliz, eu finalmente poderia ver meu melhor amigo depois de tanto tempo.

Yellow assentiu.

–Mas... Quando o encontrei, ele já estava ocupado. Conversando com um garoto ruivo e uma garota com brincos de estrela. E eu senti... Que não tinha mais espaço.

–Lyra-san...

–Mas eu não tinha ideia de como estava errada.

–Eh?

–Certo dia, uma semana depois de eu ter voltado, eu esbarrei no Gold sem querer enquanto passeava pela cidade...

–Ah! Desculpaí, moça! Eu não vi... - O garoto parou.

–Haha, não se preocupe-! - Lyra ajeitou sua bolsa, mas congelou quando olhou para frente.

Silêncio se seguiu enquanto os dois jovens se encaravam, piscando alguns pares de vezes.

–... Lyra?

–Eh?

Um sorriso enorme se abriu nos lábios do garoto de olhos dourados.

–Lyra!! É você!! - Ele segurou seus ombros, mas os soltou logo depois e apontou para si mesmo. - Ah! Você lembra de mim, né?

–A- Ah… - A garota segurou com força a alça de sua bolsa e continuou a encará-lo.

Se ela se lembrava dele? Espera. Ele se lembrava dela?

… Ele se lembrava dela!

–É lógico! - Ela respondeu e voltou a sorrir. - Aquele que tem memória ruim aqui é você!

–Ei! - Gold riu. - Mas quando que você voltou?

–Uma semana atrás.

–Eh? Tudo isso já? - O garoto piscou. - Por que você não disse nada?

–Ah... É que... Eu não consegui.

–Hm, saquei. - Mas abriu outro sorriso e afagou os cabelos da morena. - Olha só, alguém andou crescendo, hein!

–Hunf! Vou ficar mais alta que você!

–Sonha, maria-chiquinha, sonha! - E riu. - Ah, é mesmo!

–Eh?

Gold segurou o pulso de sua amiga de infância logo depois e começou a puxá-la.

–Vem, vou te apresentar a duas pessoas!

–A- Ah, tá! - Foi tudo que conseguiu responder enquanto perguntava-se mentalmente se as duas pessoas em questão eram o garoto e a garota com quem ela o vira conversando naquela semana.

–Depois disso, eu fiquei amiga da Crys e do Sil também. - Ela sorriu com os olhos fechados. - Eu me preocupei tanto, mas o Gold me tratou como sempre costumava e como se eu só tivesse sumido por um ou dois dias.

A loira assentiu, sorrindo também.

–Fui tão boba por achar que ele se esqueceria de mim, se eu não tivesse esbarrado no Gold aquele dia, não teria voltado a falar com ele, não teria virado amiga da Crys e do Sil e nem teria conhecido todos vocês. Eu teria perdido muito!

Yellow riu.

–Fico feliz que tenha dado tudo certo para você.

–Uhum. - Lyra assentiu enquanto suas chiquinhas balançavam alegremente. - E é por isso que eu te digo para não se preocupar!

–Eh?

–Amizade é uma coisa engraçada, uma vez que você se torna amigo de alguém e vira alguém importante para essa pessoa, não importa o que aconteça, ela nunca vai te esquecer. Mesmo que briguem, vão voltar a fazer as pazes e mesmo que se separem, vão se reencontrar...

Os olhos verdes da mais baixa brilharam levemente com um misto de preocupação que ia sendo aos poucos contagiado por um pingo de alívio. Por mais que estivesse receosa, estaria mentindo se dissesse que não se sentia melhor após ouvir aquilo.

–Porque quando fazemos um amigo, deixamos um pedaço de nós naquela pessoa e vice-versa. - A morena completou. - O Red-kun é seu melhor amigo, não? Não acho que ele te odiaria por causa da primeira briga que tiveram.

Yellow voltou a olhar para frente, seus polegares batiam um no outro em um gesto envergonhado.

–E- Eu acho…

–Uhum, também acho! - A garota atrás dela sorriu ao cutucar a bochecha da outra. - Não se pre-o-cu-pe!

A loira riu.

–Obrigada, Lyra-san.

–Sempre ao seu dispor, senhorita~! - A outra brincou, fazendo uma reverência desajeitada, o que fez Yellow rir mais um pouco.

As três cabeças de Dody riram entre si e continuaram o percurso, já que sua treinadora de animara, ele devia fazer um bom trabalho para deixá-la ainda mais feliz.

E nenhuma das duas falou mais nada, deixando o ar ser preenchido pelo barulho das folhas que balançavam e as pisadas rápidas do pokémon passáro.

Mas…

–Bem! Mesmo que você queria que fosse mais que melhor amigo, né? - Lyra exclamou de sopetão e Yellow sentiu suas bochechas quase explodirem.

–LYRA-SAN!

A morena riu e abraçou a amiga pelo pescoço.

–Agora sim! Uma Yellow-chan envergonhada é bem melhor que uma Yellow-chan preocupada!

–P- Poxa…! - A loira bufou levemente.

–Bem, bem, não fique brava, sim? Já estamos chegando!

–H- Hunf...

–-000--

O garoto de cabelos negros abriu sua boca num bocejo enquanto seus olhos piscavam várias vezes, finas linhas mais escuras os contornavam e seus olhos pareciam mais vermelhos que o normal.

–Red?

Levou uma mão aos olhos para esfregá-los na esperança de mandar o sono embora.

–Reeed?

Não dera certo, claro. Na verdade, estava até começando a ouvir coi-

–RED!!

–Aaah! - O garoto exclamou e olhou para os lados até perceber a morena a sua esquerda, presa na garra de seu pokémon. - B- Blue?

–Até que enfim. - Ela bufou. - Tá tudo bem?

–A- Ah, tá. Só tô com sono.

–É, eu percebi. - A morena comentou e assumiu uma expressão preocupada. - Você tá com uma cara horrível. Não conseguiu dormir?

Ele assentiu.

–Eu tive dois pesadelos seguidos e perdi o sono depois.

–Eh?!

Blue arregalou seus olhos azuis e piscou algumas vezes. Era incomum ver seu amigo de olhos vermelhos tão preocupado daquela forma. Bem, claro, Red não era um completo cabeça de vento, ele levava as coisas a sério e era atento ao peso dos problemas que vinham a aparecer no caminho.

Mas… De estar preocupado àquele ponto, de ter pesadelos ao ponto de lhe tirarem o sono…

A garota engoliu em seco e perguntou-se pelo que parecia a vigésima vez em que tipo de enrascada a sua melhor amiga tinha se metido.

Ela sabia que era algo muito ruim, mas estava chegando a conclusão que deveria ser aterrorizante.

–Ei, não se preocupe, tá bom? - Surpreendentemente, aquele mais parecia desgastado foi o que apareceu com palavras encorajadoras. Blue voltou suas orbes azuis para o garoto. - Não vamos deixar que nada aconteça com ela.

A garota piscou algumas vezez, mas sorriu.

–Uhum, tem razão.

Sim, ela não devia se preocupar, tinha de pensar positivo.

Ainda assim, mesmo que estivesse na metade do caminho e parte de si estava feliz ao avistar os seus amigos de Johto - em especial porque um certo moreno pulava animado antes de ser prontamente nocauteado por um ruivo -, Blue não conseguia evitar.

–Vamos descer. - Ouviu Green avisar enquanto o mesmo abaixava em direção a terra junto de seu Charizard.

–Ok! - Red concordou e fez sinal para que Aero o seguisse.

Ela não conseguia evitar de pensar. Depois que desceu e cumprimentou os três, depois que ouviu Crystal dar a ideia de irem logo dormir no centro pokémon pois já era de noite e depois que entrara numa conversa boba com seu “irmão mais novo” sobre assuntos trivias.

Nenhuma delas foi capaz de afastar o pensamento que se apossara dela.

O pensamento de que a promessa que Red havia feito alguns minutos atrás…

Não chegaria a ser cumprida.

Mal sabia ela que o moreno em questão pensava a mesma coisa…

Só que ele tinha muito mais certeza.

E aquilo o estava consumindo desenfreadamente, mas ele não deixaria que transparecesse, pois estava decidido a se segurar na sua esperança.

Por, evidentemente, menor que ela fosse.

O otimismo é uma

Dádiva a que

Engana inocentes