Aisaka Taiga P.O.V.

As três aulas que fiquei esperando, pareceram durar uma eternidade.
Passei todas elas, desviando o olhar para a janela. Nem sei dizer o que o professor estava dizendo ou até quem era o professor, já que a única coisa que fiz foi tentar fingir que todos aqueles comentários ruins não eram sobre mim.
"Eu achei que ela fosse uma garota legal, mas pensando bem... Que garota subiria na mesa da lanchonete? Ela deve estar louca por atenção!"
"E essa dela tentar seduzir o presidente do conselho estudantil, você soube?"
"Sim! Mas garanto que o presidente do conselho-estudantil, com todo aquele charme, vá se interessar por uma... Garota dessas"
Por mais que eu tentasse não escutar, eles continuavam! Eu não era esse tipo de garota que faz essas coisas. Quando subi na mesa da escola, eu podia até estar tentando chamar atenção, mas não era para isso! Eu só queria que alguém nos percebesse, que alguém se interesasse, alguém que quisesse fazer parte do nosso time!
Minha boca estava seca como se eu tivesse gritado por todo aquele tempo, mas talvez tivesse, mesmo que só por dentro. Meus punhos estavam cerrados e meus olhos marejados por causa daqueles comentários que nunca paravam e só pioravam.
Eu queria responder, mas sabia que só iria piorar.
Me levantei de brusco, fazendo com que todos olhassem para mim—se já não estivessem olhando— e me dirigi até o professor, se eu continuasse ali, certamente surtaria:
—Ah, claro. Pode ir sim, ao banheiro. Tem certeza que está bem? A senhorita está meio pálida. —O professor respondeu a minha pergunta, e eu vi preocupação em seus olhos.
Eu estava pálida? Sorri, tentando aliviar a tensão:
—Estou bem sim, eu acho. Eu volto rápido. —Anunciei já indo em direção a porta.
Assim que sai de dentro da sala, meu coração voltou a bombear normalmente e senti meu cerébro voltar a funcionar. Eu já me sentia melhor, quem sabe não descobriríamos quem era essa pessoa que havia escrito aquilo sobre nós? Algo me dizia que não seria fácil, mas eu estava determinada a isso.
Cheguei ao bebedouro e me abaixei um pouco para beber água e tentar tirar aquele nó da garganta. Mas não era água que iria curar isso. Será que as meninas tinham reagido bem a notícia? Claro que não. Mas e o Shirou... Eu só torcia para ele não ter acreditado naquela matéria.
Meus pensamentos foram interrompidos por algo, ou melhor, alguém que bateu sobre mim. Levantei meus olhos, vendo uma garota loira dos olhos azuis de nariz empinado. Ela me encarou da cabeça aos pés e depois seguiu o seu caminho, sem nem dizer desculpa.
Gente Mal-Educada...

Emiko Ominae P.O.V.

Aquelas foram as três aulas, piores da minha vida! E eu não estava nem aí para os comentários das outras pessoas, eu me preocupava com o olhar de Gouenji que insistia em não desviar das minhas costas!

Mas era preferível isso, do que se ele viesse me perguntar se era verdade a matéria, porque eu não conseguiria negar! Eu ficaria paralisada, meu rosto iria queimar como sempre acontece quando estou na frente dele e então ele saberia que era verdade, me daria uma de suas respostas arrogantes e sairia me deixando só.
Eu fiz e refiz essa cena na minha cabeça por pelo menos, umas cinquenta vezes e em todas, em sentia meus olhos marejarem. Eu não queria aquilo.
Sacudi minha cabeça e tentei prestar atenção em outro ponto que não fosse sobre mim. Kazemaru jogava discretamente pápeis na mesa de Tanabe, que não respondia nenhum. Ela parecia estar muito triste e foi por isso que eu me senti super egoísta! Todas as meninas estavam enfrentando problemas até piores que os meus e eu aqui, lamentando porque talvez o Gouenji descubra minha paixão secreta por ele.
Eu ainda podia sentir a pressão de seu olhar sobre as minhas costas. No que ele estava pensando? Me virei rapidamente para trás, o encarando séria. Ele não teve nenhuma expressão, só desviou o olhar e eu fiz o mesmo.

Shirou Fubuki P.O.V.

—Olhem, eu consegui permissão para irmos todos nós até a sala do clube de jornalismo, mas... —Fitei todas, parando um olhar sério em Yumi, já que o recado era para ela. —eu disse que não iríamos organizar nenhuma baderna, ou seja, nada de brigas.
Yumi fez careta, cruzando os braços irritada:
—Eu nunca disse que faria algo desse tipo. —Ela revirou os olhos, mas depois sorriu. —Não aqui na escola, quando pode vir alguém e me impedir de terminar o meu assassinato.
Congelei, como podia alguém com um rosto angelical, ser tão maluca e sanguínaria? Onde é que eu tinha ido me meter... E o pior de tudo é que eu sabia que ela não estava mentindo.
Nos levantamos e fomos até o clube de jornalismo. Eu ainda estava em dúvida de ir sozinho para causar menos problemas, que eu sabia que iria arranjar se andasse com elas. Respirei fundo, tentando mudar meus pensamentos. Mas então, elas foram para a matéria e a parte mais impactante para mim. A parte que me fazia me sentir um completo idiota porque achar aquilo uma coisa boa, quando realmente não era. A parte que falava sobre mim e a Aisaka. Afinal, o que havia de errado comigo?
—Kaori? —Procurei entre as dezenas de cabeças que surgiram assim que entramos dentro da sala de jornalismo.
—Fub-
—Shirooou! —Kaori foi interrompida por uma garota loira dos olhos azuis, que se agarrou no meu pescoço me deixando totalmente vermelho.

Aisaka Taiga P.O.V.

Por que diabos eu estava corando? Era só uma garota, chamando ele de SHIROU e o abraçando pelo pescoço. SÓ isso. Não era só, era muita coisa! Observei Shirou tirar delicadamente as mãos da garota de seu pescoço que rapidamente a reconheci por ser a garota mal-educada que me derrubara em frente ao bebedouro, a algumas horas atrás.
—Meninas, —Fubuki se virou para nós, com um rosto envergonhado. —Essas são, a administradora do Jornal, Akie Kaori —Ele apontou para uma garota tímida baixinha, com enormes cabelos negros e olhos castanhos escuros— e sua secretária, Kilza Kyoko.
—Qual das dua-
Fubuki limpou a garganta propositalmente, para interromper Yumi e se virou novamente para as meninas:
—As meninas queriam saber mais sobre a matéria de vocês. —Ele falou e Kaori sorriu abertamente, ao contrário de Kyoko que revirou os olhos.
—Vocês prometem, que se caso for uma delas que escreveu a matéria, ninguém me segura? —Yumi perguntou baixinho, fazendo todas nós arregalarmos os olhos.
—Por mim, pode matar! —Emiko falou dando de ombros e Stéfanni concordou, assentindo.
—Se quiser ajuda, tô disponível. —Ela falou, sorrindo animada.
—Espera, vocês sabem que não temos permissão para fazer nada aqui na escola, não é? —Perguntei e Yumi sorriu, batendo a mão no meu ombro.
—Tem razão. Ainda bem que lembrou disso Taiga, o legal é que na saída, dá para interceptar e aí é o fim dela. —Ela riu baixinho e eu fiquei vermelha, querendo dizer que não havia ajudado e não era cúmplica de plano maligno de ninguém. Mas no final acabei por dar de ombros e me virar para algo que realmente me interessava, a conversa que Shirou tinha com aquelas garotas.
—Mas eu não escrevi isso. —Kaori falou apreensiva, folheando o jornal que Shirou havia dado a ela. —Olhem, eu tenho até uma cópia real do que eu realmente escrevi.
Ela entregou o jornal à Shirou e sentou em sua mesa, abrindo algumas gavetas e que depois de alguns segundos, começou a se tornar algo repetitivo. Será que ela não estava conseguindo achar? Seus olhos cheios de preocupação confirmaram o meu pensamento. Ela caminhou até nós envergonhada e juntou as mãos:
—Eu juro que estava ali na gaveta! Mas não está em lugar nenhum! —Ela falou colocando a mão na testa, histérica.
—E você? —Yumi perguntou à Kyoko, já estralando seus dedos. A garota revirou os olhos, sem responder. —O gato mordeu a sua língua ou foram os diversos rapazes com que você ficou?
Kyoko encarou Yumi incrédula e antes que pudesse responder, Shirou surgiu tentando pacificar a situação:
—Estamos aqui por outro motivo, esqueceram? —Ele se virou para Kyoko. —Kyoko, você não sabe de nada que possa nos ajudar a descobrir de onde veio essa matéria?
Enquanto ele falava com ela, Kaori se aproximou de nós pouco carisbaixa e nos encarou, com os olhos arregalados:
—Eu sou muito fã de vocês! Sério, eu gostaria de verdade que vocês pudessem ver a minha verdadeira matéria. —Ela deu de ombros e seu sorriso sumiu, virando uma expressão pensativa. —Mas se não fui eu...
—Nós sabemos que não foi você. —Advertiu Emiko.
—Claro. Aquela vaca é a mais provável. —Yumi falou, cerrando a mão em punho.
Antes que alguém pudesse tentar explicar, ou pelo menos mentir, para Kaori que Yumi estava brincando, Shirou surgiu por trás dela sério:
—Parece que voltamos a estaca zero, Kyoko disse que não sabe de nada. —Ele falou desanimado, Yumi que estava ao meu lado bufou impaciente.
—E você vai acreditar nela? —Yumi perguntou furiosa. —Eu me nego! O jornal só pode ter saído daqui e essa garota tem audácia o bastante para fazer isso.
—Você tem provas? —Kyoko protestou.
—Não, mas eu vejo sua cara e garanto que, essa é a melhor prova possível.
Yumi era pior que Tanabe em rebater xingamentos, com certeza! Kyoko empinou o nariz, revirando os olhos. Yumi já ia insistir no assunto, quando a porta da sala se abriu com força e uma Shine, completamente ofegante apareceu diante dos nossos olhos:
—O que aconteceu? —Stéfanni perguntou preocupada, se manifestando pela primeira vez depois que começara a discussão.
—Taiga, eu preciso da sua ajuda urgente! —Ela respondeu, me encarando com os olhos arregalados, falando depressa enquanto tentava recuperar o folêgo.
—Para quê? —Perguntei curiosa.
—Eu já te falo, agora vem comigo! Nós não temos tempo.
Assenti e sai correndo, seguindo-a, deixando vários rostos confusos para trás. Shine não era de se exagerar, por isso se ela estava com aquela expressão, o negócio era sério e como minha obrigação de amiga e capitã, eu tinha que ajudar.