Meus dias sombrios escrita por Clarice


Capítulo 15
Capítulo Quatorze


Notas iniciais do capítulo

Olá, queridos!
Gostaria de me desculpar, porque não estou tendo tempo para responder os reviews. É que gosto de me dedicar na resposta, e não simplesmente responder. Mas não vou me demorar muito!
Sobre a história: Se acham que até agora já aconteceram coisas loucas, preparem-se para se surpreender!
Esse capítulo é um tapa na cara, quem for cardíaco melhor nem ler(Mentira, leiam)!
Haha, Pretty Weird Stuff!
Boa Leitura!



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Capítulo quatorze

Quando eu acordei não entendi o que acontecia em torno de mim. Matheus fazia duas malas, e era com roupas minhas. Ele parecia falar com alguém ao telefone. Mas eu não distinguia as palavras. No fim, eu acabei caindo no sono outra vez. Quando acordei, havia dois homens que eu não conhecia em torno de mim, e Matheus pediu que eu me vestisse, e os afastou para a sala. O que diabos estava acontecendo eu só fui descobrir depois. Coloquei uma calça jeans e uma blusa qualquer. Continuava de chinelos. Matheus disse que ele mesmo me levaria, que não tinha necessidade daquilo. Eu perguntei onde a gente estava indo. Ele não me respondia.

Até que chegou a hora em que eu bati o pé.

–Estamos te levando para um sítio. Você vai passar um tempo lá e pensar um pouco sobre as coisas. Já falei com Camila, com sua mãe, com o Alexandre. Já até paguei. Está tudo acertado.

–Eu não tenho direito de escolha? -Perguntei, a beira de um ataque de nervos.

–Infelizmente não, meu amor. Todos concordaram, e eu não preciso de autorização sua porque sou o seu médico e sei o que é melhor pra você.

Escuso dizer aqui o quanto eu me irei, xinguei Matheus, xinguei a vida e aqueles homens que queriam me carregar a força como uma doida qualquer. Eu berrava descontroladamente. Foi muito estressante, eu nunca senti tanta raiva na vida quanto naquele momento. Ele não me deixou nem levar o celular. Aquilo não era certo, aquilo não podia estar certo. Aquele homem era um maníaco, e eu era quem estava sendo presa. O sítio era muito longe, não lembro quanto tempo ficamos no carro. Eu não conseguia dormir, de tão estressada. Minha cabeça queria explodir. Matheus estava dirigindo, e os dois homens ao meu lado no carro. Eu ia no meio. Não queria conversar, não queria ouvir o que Matheus me dizia, o que eu queria era liberdade. Era minha vida de volta. Era nunca ter conhecido Matheus. Era nunca ter saído daquela cidadezinha medíocre. Era não me lembrar do que não precisava ser lembrado. Era encontrar com Vanessa e fugir com ela.

Ninguém se preocupava com o que eu queria. Era como se tivesse perdido minha dignidade. Cheguei lá parecendo uma louca de verdade. Meus cabelos estavam desgrenhados, eu estava machucada de tanto me debater. Tremia muito pelo nervosismo. Me perguntava quanta gente sã já não chegou a um lugar daqueles e sentiu que a própria vida tinha acabado, porque ninguém jamais voltaria acreditar nelas. Me perguntava se não sentiam a angústia que eu estava sentindo. Me perguntava se não estavam conscientes de que nunca mais fariam uma escolha sem medo, despreocupadamente. Se não estavam loucos para se vingar de alguém, de quem os pusera ali. Se não sentiam como se seu orgulho estivesse prestes a ser quebrado. Eu queria chorar, mas não me permitia. Não me permitiria.

–Aqui não é um hospício. -Matheus disse, logo antes de estacionarmos. -É apenas um lugar para pessoas muito estressadas. Tem psicólogos, psiquiatras e terapeutas. Mas ninguém aqui é louco, tem muitas atividades ao ar livre, você vai gostar. Pense nisso como um retiro espiritual.

Eu não o respondi.

–Você estava a beira de um ataque de nervos, eu nunca iria deixar aquilo acontecer contigo de novo, meu bem.

Eu só fui vê-lo de novo uma semana depois. Me sentia presa naquele lugar. Não gostava da comida, não gostava das pessoas. Todos pareciam querer entrar em meu cérebro o tempo inteiro. Me avaliando, como eu falo, como eu me movo. Como eu penso. Como eu ajo. Como eu respondo a isso ou aquilo. Eu me sentia péssima. Tínhamos horários para fazer as coisas, e eu gostava quando podia ficar ao sol da manhã sentindo o cheiro da grama. Mas era a única parte do dia que me dava algum prazer. Eu sentia tanta saudade de Vanessa. Era quase uma necessidade física. Tinha horas em que eu pensava que não iria mais aguentar passar sem vê-la. Sem saber que ela estava por perto. Eu tinha conversas regulares com psicólogo. Ele me indicou ao psiquiatra, que me passou remédios que ele afirmava serem leves. E outros, que era em caso de eu piorar. Eu iria piorar se continuasse naquele lugar por mais tempo.

Queria meu carro, minha casa, a Irmãos Bianucci, Camila, queria minhas coisas. Queria todas as coisas normais. Eu tinha tanto tempo para pensar ali. Pensar não é exatamente uma coisa boa, quando tanta coisa ruim já aconteceu com você. Coisas das quais não consegue se livrar, e nem esquecer. É quase como dormir com um trambolho de baixo do seu colchão. Dormir de repente se torna um pesadelo. E você sabe que tem de se acostumar, pois aquela cama é sua consciência, e ela só desliga se você morrer. Aquele lugar estava me matando. Eu mal sabia que o pior ainda estava por vir. Matheus apareceu. Eu o vi quando estava sentada naquela cadeira. Também tinha pensado muito sobre ele. Sobre tudo o que ele estava fazendo em minha vida. A raiva maior já tinha se dissipado. Mas eu ainda não havia achado uma solução para o nosso casamento que fosse mais eficaz do que o divórcio.

Ele não veio até mim de pronto, foi até a sala da administração. Lá, era uma espécie de casarão de um andar só, plano, envolto em uma vegetação não muito densa. Daquelas feitas por paisagista. Era no meio do nada. Ele ficou muito tempo na sala de administração. Demorei pouco tempo para descobrir o que ele tanto fazia lá. Veio conversar comigo a respeito.Ele se sentou ao meu lado. Estávamos numa cadeira de madeira que cabia umas cinco pessoas. Era fria. Mas o sol do fim de tarde batia na gente, na parede. Tudo parecia mais suportável.

–Meu amor, tenho algo terrível para te contar. O pessoal daqui não concorda que eu chegue e diga agora, mas eu vou dizer.

–Me diga.

–Eu fui atrás dessa Vanessa de quem você vivia falando. Eu queria conversar pessoalmente com ela, antes que você me abandonasse de vez e sumisse. E não atendesse mais às minhas ligações.

–Diga logo o que quer dizer. -Reclamei.

–Acontece que eu não achei nada. A psicóloga Vanessa Ferreira Morais não existe. Não tinha ninguém com esse nome no prédio em que você foi. Nem achei o escritório, fui ao bar. Eu fiz uma expedição, uma procura com pente fino. Ou ela fugiu do país, ou ela nunca existiu. Alguém que conhecemos já a viu? A Natália, ou a Camila, ou alguém da empresa?

–Não.

–Tem alguma foto com ela? -Me encarava muito sério enquanto perguntava.

–Não. Mas isso não prova nada, é claro que ela existe, Matheus! Que ideia!

–Eu estou falando sério, Luísa. -Aquela conversa parecia fora da realidade. - Nunca brincaria com isso. Você pode ser esquizofrênica.

–Isso não é possível! Que absurdo! Você enlouqueceu?

–Eu não sei mais o que fazer. Juro que não sei. O número que achei no seu celular não existe. Ele nem sequer chama. Como pode ser?

–Porque será que eu não acredito em você? -Perguntei. Apesar de ele parecer assustadoramente verdadeiro. -Eu não vou cair nessa, nunca!

–Olha, tudo vai ficar bem.

–Pare de me dizer como as coisas vão ficar! Me tire daqui, me deixa voltar pra minha vida. Eu quero ver tanta gente, fazer tanta coisa. Eu estou me sentindo sufocada. Eu vou procurar por Vanessa, e pode ter certeza de que irei encontrá-la. -Disse num fôlego só.

–Você vai ser liberada depois de conversar com os médicos e todo o pessoal que está te ajudando.

Eu nem sequer lembro de como terminou essa conversa. A verdade era que eu nunca tinha pensado que algum dia na vida precisaria comprovar a existência de alguém. Principalmente a de Vanessa. Nada em minha vida era mais real do que ela, nada. Eu precisava pensar. Aquilo não era possível. Quanto mais eu queria acreditar, mais a voz do Matheus ecoava em minha cabeça me confundindo. Fazendo eu me sentir louca. Ela existia. Ela tinha que existir, ou nada faria sentido. Eu não faria sentido. Eu queria conversar com alguém com quem tivesse intimidade, ao mesmo tempo que queria entrar numa caverna e ficar lá até o fim dos tempos.

Não sei nem que horas eram. Faltei a todas as atividades do dia e fiquei trancada em meu quarto. Era um cubículo. Uma cama pequena com colchão mole e meio fino. Uma cômoda com cinco gavetas. Um criado mudo, e só. O quarto era minúsculo e sem graça justamente para as pessoas saírem e socializarem. Eu, até então, não tinha falado com ninguém que não tivesse falado comigo antes. E nem pretendia. Minha vontade era mesmo ir embora. Nossa, nunca quis tanto algo na vida. Eu precisava sair, me encontrar com Vanessa, e provar que ela existia. Era isso o que eu precisava fazer. Mas como? Eu nunca conseguiria fugir dali. E tinha certeza de que no dia seguinte, em minha consulta o psicólogo ficaria me sondando a respeito de Vanessa. Saber se ela era real ou se eu a estava inventando. A verdade era que eu não queria passar por aquilo. Preferia tomar um tiro na cabeça.

Caí num sono profundo, acordei com minha orientadora batendo na porta. Ela não conversou muito comigo, apenas me reprimiu por ter faltado as atividades. E disse que eu precisava comer. Que eu precisava seguir as regras. Sua voz de velha parecia como galhos secos arranhando o vidro com o vento. Nada pareceria mais insuportável. Eu dava um passo depois de outro, e de outro. tentando me focar nos movimentos dos meus músculos. Tentando me focar em algo concreto.

–Ela é uma pessoa que apareceu justamente quando você queria fugir de tudo. Seu marido a estava prensando sobre o filho, e você não tinha com quem desabafar. E ainda houve aquele assalto tenebroso. As memórias fragmentadas do acidente... Estar com o marido se tornou algo insuportável, porque ele te cercava de todos os lados. E você a tinha, sempre a teria. Que estaria de braços abertos sempre que precisasse. Até o fato de ser uma outra mulher me soa simbólico. Não é preciso nenhuma mágica para saber a verdade, Luísa. A esquizofrenia é uma doença muito complexa, e exige cuidados especiais. Mas dá para conviver com ela. -Como nossa conversa havia chegado a essa parte eu não tinha ideia. Ele me dizia que meu marido havia lhe informado e que inclusive mais de uma pessoa havia procurado por Vanessa e ninguém fora capaz de achar ninguém nem parecido.

Aquela conversa com o psicólogo estava entalada na minha garganta. Aquilo tudo era muito absurdo. Parecia que ele não acreditaria em mim em hipótese alguma. Parecia que Matheus já tinha feito a cabeça dele. Eu estava sozinha nessa. Eu me sentia sozinha. Meu deus, como eu me sentia sozinha. A vida parecia insuportável. Eu não ouvia mais nada, tudo é tão difícil de se lembrar. Tudo se tornou tão difícil de se lembrar. O pensamento mais forte era que eu precisava sair dali, e que ninguém me deixaria. Porque agora eu realmente seria tratada como louca. A pior parte era eu estar confusa demais para saber se estava sã ou não. A pior parte é sempre duvidar de si mesmo.

Faltava pouco para a hora do almoço e eu estava sentada na cama em meu quarto. Não estava faltando a nenhuma atividade, mas a minha orientadora socava a porta e chamava pelo meu nome. Eu queria mandá-la ao inferno, ao diabo que a carregasse. Mas abri a porta. Ela apertou minha mão e me abraçou.

–Parece que o filho de sua amiga nasceu, Luísa. O bebê de Camila. Seu marido achou importante que eu te dissesse. Ela estava internada desde ontem a noite. E sente muito que você não possa ir lá. Disse que Miguel é lindo.


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Notas finais do capítulo

Não gosto de dar bronca nem de ser chata. Mas pelo tanto de views, fico triste de ter tão poucos comentários. Se expressem galera, falem comigo! Eu nem mordo (se não pedir ;))
Au Revoir!



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