Escarlate escrita por Nayou Hoshino


Capítulo 14
Subterfúgio




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— Acordada! — A voz de Kaya invadiu as orelhas de Luna tão logo ela começou a despertar, causando um incômodo em sua audição sensível. — Luna, comer. Lilian chamando…

 

A feiticeira sorriu e assentiu ainda meio confusa. Sentia-se perdida, havia muito tempo que não se permitia dormir tão profundamente. Muito embora acreditasse que era culpa do chá que havia tomado, não de sua própria​ força de vontade.

 

— Eu já estou levantando Kaya… — disse ainda meio grogue para evitar mais chamados da menina, que apenas assentiu ansiosa.

 

Luna se sentou, olhando para suas pernas e notando os novos curativos. Já nem conseguia sentir dor ou qualquer que fosse o incômodo, graças aos medicamentos que a senhora usara para tratar suas feridas. Tinha de agradecer-lhe propriamente depois.

Kaya trouxe-lhe um bolo de tecidos com um sorriso no rosto, apontando para suas roupas. Luna imaginou se tratar da roupa que Lilian lhe prometera e aceitou,  desfazendo o embrulho pra descobrir ser um vestido azulado com pequenas flores douradas em sua barra. Quanto tempo fazia desde que usara um vestido que não fosse pelos interesses dos mercenários? Mal conseguia se lembrar.

Foi um pouco desconfortável se trocar sob o olhar atento da jovem Tophyr, muito embora ela não a enxergasse de fato. O olhar vazio e vidrado de Kaya parecia atravessar a carne da feiticeira e ver diretamente o que havia além de sua matéria. Era presunçoso demais acreditar que todo aquele tempo ela admirava sua alma? Talvez… Mas nunca exporia tal pensamento, ainda mais para as pessoas daquele lugar.

Tão logo se vestiu, se permitiu arrumar os fios numa trança que lhe caía sobre o busto e tirava de vez qualquer imagem de “selvagem” que pudesse lhe restar, dando a ela um ar completamente diferente de quando Lilian a encontrara nas proximidades. Respirou fundo mais de uma vez enquanto caminhava até a saída da tenda, preparando-se para lidar com as pessoas que lhe aguardavam, ou não, lá fora. Conseguia ouvir vozes masculinas e femininas, de diferentes timbres e pronúncias do outro lado da grossa pele de urso pardo que revestia a tenda. Os demais donos das demais barracas haviam chegado e, pelo cheiro forte que as narinas da feiticeira capturavam, haviam conseguido um bom pedaço de carne em sua caçada.

 

— Ah, Luna… Que bom que acordou. — Lilian sorriu, fitando a jovem por sobre o ombro. — Venha, deve estar com fome

 

— Essa é a forasteira de quem você falava? — uma mulher de pele escura indagou do outro lado da fogueira antes de dar uma bela mordida no pedaço de carne em suas mãos.

 

— Acho que ela esqueceu um detalhe muito importante. — Foi a vez do rapaz sentado à sua esquerda falar, gesticulando no topo da cabeça como se desenhasse duas orelhas no topo dela.

 

— Eu adorei! — A mulher ao lado de Lilian retrucou animada. — Não sabia que elas poderiam ser tão diferentes uma das outras…

 

Luna estava perdida em meio ao falatório e todos aqueles olhares. Além dos que falavam, tinha ainda outras pessoas que sequer deram atenção à cena ou apenas se mantiveram olhando a feiticeira em silêncio. Aquele clima de análise e julgamento estava a deixando desconfortável, como se ela fosse uma criatura estranha e exótica que merecia, e exigia, a atenção de todos ali. Um deja-vu fez com que ela abraçasse o próprio corpo com um sorriso amarelo, contendo assim o impulso de correr de volta pra tenda e voltar a dormir pra ver se aquela sensação passava.

 

— Ei! Luna vergonha, para. — Kaya bateu o pé ao lado da feiticeira, surpreendendo-a com seu tom firme para os demais ali. — Vem.

 

A Tophyr puxou-a pela barra do vestido, fazendo com que desse passos desajeitados para a direita antes que se rendesse à condução da mais jovem. Dirigiram-se para o lado da idosa sorridente, que bateu suavemente ao seu lado para indicar que se sentassem ali. A feiticeira relutou um pouco, encarando as pessoas na roda em volta da fogueira e imaginando quão bem-vinda ela era e por quê, mas um protesto de seu estômago a convenceu a aceitar o convite de suas anfitriãs e comer pelo menos um pouco.

 

— Posso tocar? — a mulher de fios dourados indagou, inclinando seu corpo pra frente pra fitar a feiticeira já que Lilian se encontrava entre ambas, mas ela apenas retribuiu com um olhar confuso. — Suas orelhas.

 

Luna levou uma das mãos ao topo da cabeça, sentindo a orelha felpuda e coberta com um pouco de terra. Abanou a cabeça negativamente devagar, não entendia como a mente daquela mulher funcionava para pedir algo assim para alguém que ela sequer conhecia. Observou-a abrir a boca para contestar, mas Lilian interveio para seu alívio.

 

— Deixe a coitada, Maia — repreendeu-a, de forma suave, voltando o olhar para a feiticeira. — Você gosta de tartaruga da montanha? Ou vocês não…

 

— Ah… Não me importo com isso — respondeu com um meneio de cabeça, contendo um sorriso. A mais velha se preocupava até mesmo com os hábitos alimentares de sua convidada, o que era um pouco engraçado. — Se não for fazer falta, eu aceito um pouco.

 

— Pelo menos tem bons modos. — O rapaz do outro lado revirou os olhos, dando uma risada do próprio comentário e virando sua caneca nos lábios.

 

— Khan, pelos deuses…

 

— Só estou expressando minha opinião, Pryia — ele retrucou à mulher negra, revirando os olhos novamente.

 

Luna surpreendeu-se com uma risada baixa ao seu lado, olhando para Kaya. A pequena tinha um pedaço de carne nos lábios e mesmo assim ria da discussão do outro lado da fogueira, parecia à vontade e divertia-se com a situação, quando tudo que a feiticeira podia fazer era se sentir mais e mais desconfortável, como se fosse uma intrusa naquela reunião familiar. O que de fato era o que estava acontecendo.

O tal Khan parecia deveras incomodado com sua presença, quase como se fosse ofensivo ela estar sentada ali entre Kaya e Lilian. Talvez ele tivesse más experiências com feiticeiras, o que não era incomum, e só estivesse descontando nela seus medos e inseguranças. Não podia culpá-lo.

As mulheres que até então haviam falado, por outro lado, pareciam se esforçar para serem gentis e fazer com que ela se sentisse pelo menos um pouco mais à vontade — apesar do pedido estranho de Maia ser uma exceção ao caso.

Lilian lhe estendeu um graveto com um pedaço de carne empalada, ainda saía fumaça e apenas o cheiro já a fez salivar. Aceitou-o e nem pestanejou em dar a primeira mordida, sentindo o ardor nas partes sensíveis de sua boca aos poucos ser acompanhado pelo gosto inconfundível da carne daquele animal. Embora um pouco dura, a carne era naturalmente temperada pelo habitat em que o animal vivia, podendo ser saborosamente salgada, caso este vivesse no mar, ou insípida, se tal vivesse nos rios. Aquela carne em questão estava no ponto exato de sal, o que significava que a tartaruga ainda estava em seus primeiros anos na água ou tinha acabado de passar uma temporada em terra para filtrar seu organismo.

 

— Ela vai ficar conosco? — Pryia perguntou, atirando o graveto que segurava na fogueira. — Pode ser de grande ajuda ter uma feiticeira na família.

 

— Se assim ela desejar… — Lilian respondeu, olhando pra Luna para demonstrar que aquela resposta servia pra ela também. — Mas ainda é cedo pra colocá-la em tal situação, ela mal nos conhece.

 

Luna sequer se pronunciou, a mais velha dissera tudo o que havia pra ser dito. Continuou a comer, sentindo os olhares sobre si e tentando parecer alheia a eles. Eles não pareciam pessoas ruins, embora fossem um grupo estranho e miscigenado.

O que mais a intrigava era o fato de eles estarem reunidos ali agora, tão otimistas e tranquilos, enquanto a guerra se espalhava. Ela estava acostumada a agir e reagir a tudo e todos que a cercavam, esse comportamento pacifista deles lhe causava um estranho desconforto. Era algo novo e que ela admirava, essa capacidade que eles tiveram de preservar sua humanidade. Mas ao mesmo tempo sua barriga doía de tão incomum que era aquilo.

 

— Ah, estou cheia! É sempre bom fazer uma refeição digna de vez em quando — Maia exclamou enquanto esticava os braços. Um silêncio breve se seguiu até que ela se inclinou para frente e sorriu para Luna. — O lince comeu sua língua? Ninguém aqui morde, nem mesmo o Khan. Ele só rosna.

 

Apesar de ela ter falado a última parte em um tom de voz baixo, o rapaz do outro lado da fogueira se manifestou, jogando um graveto na direção dela, mas errando por falta de força no lançamento. Maia riu sem disfarçar, contagiando Kaya e fazendo com que Luna se sentisse uma intrusa mal-humorada no meio das duas.

 

— Por que vocês três não vão pegar mais galhos? A noite vai cair logo mais, precisamos nos manter aquecidos — Lilian sugeriu sem olhar pra nenhuma delas, concentrada demais em retirar até o menor pedaço de carne do graveto em suas mãos.

 

— É uma ótima ideia, senti muito frio na noite passada. — Maia se levantou num salto, fazendo uma careta enquanto batia sua roupa para livrá-la da terra. — Vamos lá vocês duas, se formos muito tarde podemos acabar topando com um ursoguana…

 

— Ursoguana? — Luna e Kaya disseram em uníssono, a primeira com um tom crédulo e a segunda com um tom aterrorizado.

 

— Um híbrido de urso com iguana que adora carne humana… — Maia falou casual, sabendo que aquilo assustaria a pequena Tophyr. Tal tipo de travessura sempre a divertia, então continuava a fazer mesmo sob as broncas de Lilian.

 

Luna balançou a cabeça negativamente com a infantilidade da mulher que aparentava ser poucos anos mais velha que ela. Será que essas pessoas viviam numa bolha? Não sabiam que naquele momento dezenas de inocentes deviam estar morrendo por conta da guerra?

Mesmo assim ela se levantou, suspirando pesadamente e forçando um sorriso quando os olhares das duas pousaram sobre ela. Maia foi na frente, agitando seus fios loiros que, agora a feiticeira podia ver, iam até pouco abaixo de seus quadris. Kaya pegou a mão de Luna e puxou-a, como já estava virando costume, seguindo os passos da mais velha. Distanciaram-se das fogueiras e logo se embrenharam na floresta que cercava o local, dependendo apenas da luz do sol já fraca que conseguia passar pelas folhas altas das árvores para iluminar seus passos.

 

A Tophyr não demorou a soltar Luna, concentrando-se em sua tarefa de recolher galhos que estavam caídos pelo chão. Já Maia, encarava uma árvore baixa pensativa, parecia calcular algo. Em alguns segundos ela puxou uma machadinha de suas costas, que estivera escondida por seus fios longos até então, e começou a cortar os galhos que alcançava.

 

— Quer ajuda? — a feiticeira ofereceu, se aproximando dela.

 

— É sempre bem-vinda.

 

Luna se aproximou, passando por Kaya, que sequer desviou o rosto do chão, e parando ao lado de Maia. Com uma das mãos, ergueu um pouco o vestido, enrolando-o até a altura de seus quadris para deixar suas pernas livres, e com a outra esticou-se até um vão entre o tronco e um dos galhos. Içou-se para cima com força, usando os pés de apoio e soltando o vestido para poder ter uma pegada melhor, em segundos ela já estava sentada sobre um dos galhos, bem acima da cabeça da loira..

 

— Você é rápida. — Ela estendeu-lhe a machadinha.

 

— É uma habilidade de sobrevivência. — Sorriu, inclinando-se para pegar o objeto que lhe era oferecido.

 

— Eu até consigo subir em árvores, mas essas roupas atrapalham bastante. — O tom de Maia se tornou um pouco mais triste que o normal, atraindo a atenção da feiticeira — Às vezes eu até sinto falta de casa.

 

— De onde você é?

 

— Nasci na Vila Élfica, mas meus pais se mudaram para a Cidade das Espadas quando eu tinha vinte estações. As roupas por lá são ainda piores — finalizou com uma careta.

 

Finalmente Maia começou a fazer sentido para a feiticeira. Sua aparência, seu jeito e seu comentário… Tudo representava perfeitamente os elfos e sua natureza livre e beleza. Jamais havia ido à tal Vila Élfica e era raro encontrar um elfo fora de lá, mas mesmo assim sabia um pouco da raça graças a seu pai e a infinidade de livros em sua biblioteca.

Seres puros e sedutores, vivem em harmonia com a natureza e tudo o que ela oferece, mas podem se tornar verdadeiros demônios quando são quebrados por fatores externos. Não estão tão distantes das feiticeiras… Mesmo assim são vistos como verdadeiros protetores e confiáveis, era um pouco injusto, mas ambas as famas eram merecidas.

Assentindo enquanto partia um galho próximo, Luna quase riu enquanto pensava no grupo que havia encontrado: dois humanos, uma Tophyr, uma elfa e o que parecia ser uma híbrida de vaahloriano com humano pelo que conseguiu ver da aparência da tal Pryia. Ela era o complemento perfeito, sentia que todos ali tinham algum tipo de diferença dos padrões, havia outra descrição que se encaixasse tão bem nela?

 

— De que tribo você é? — Maia voltou a falar, fazendo jus ao seu lado comunicativo por natureza.

 

— Tribo?

 

— Sim, não é assim que vocês se separam?

 

— Mais ou menos… — A feiticeira deu de ombros, se concentrando em outro galho. — Eu sou uma desgarrada, mas minha mãe era uma loba branca, pelo que meu pai contou.

 

— Você não a conheceu?

 

— Ela… Morreu pouco depois de me dar à luz.

 

Luna sentiu um nó em sua garganta ao se lembrar da situação em que seu pai admitira em meio a um acesso de fúria o motivo da morte de sua mãe. Ela estava fraca e não queria deixar sua cria recém-nascida sozinha para voltar até seu clã, o único lugar onde poderia conseguir cuidados adequados. Logo o inevitável aconteceu, ela se entregou e definhou até morrer. Isso só reforçava na mente da feiticeira a ideia de que sua existência apenas feria aos que ela amava e destruía inocentes que muitas das vezes ela nem conhecia.

 

— Sinto muito.

 

A feiticeira apenas assentiu em silêncio, observando enquanto mais um galho caía ao chão e Maia tratava de juntá-lo à pequena pilha que se formava ao pé da árvore.

 

— Você pode se juntar a nós se quiser, vamos cuidar de você. — O tom de voz da elfa era suave, como um cafuné na cabeça quando se está cansado.

 

Luna a encarou, surpresa por estar de fato considerando a opção em um primeiro segundo. Mas logo se deu conta de que não poderia fazer isso com eles, que já tinham uma vida difícil e mesmo assim conseguiam viver em seu próprio mundinho pacífico. Ela não podia arriscar jogar seu azar naquelas pessoas, na verdade, devia ter ido embora assim que acordou para evitar tal confusão. Suspirou com pesar, o que fez Kaya olhar na direção dela e de Maia por um segundo, logo voltando sua atenção para o chão novamente.

 

— Eu não posso aceitar. Na verdade, partirei assim que a noite cair.

 

— Já? Mas… você vai sair à noite sozinha e sem ter como se defender? — Os olhos lilases de Maia se arregalaram ao ponto de quase saltarem das órbitas. — Lilian não vai gostar disso…

 

— Não é como se ela tivesse escolha… — Riu seca, achando graça do comentário.

 

— Espere até amanhã, Luna. Te levaremos até a vila mais próxima em segurança.

 

Em silêncio, a feiticeira continuou a cortar pequenos galhos, decidida a não entrar em uma discussão. Não podia permitir que aquelas pessoas se machucassem só por terem sido vistas consigo. Os alados não perguntariam antes de lançarem as flechas, os mercenários muito menos. Os olhos dela foram até Kaya, que carregava galhos pequenos em seus braços um pouco mais longos que o normal, imaginando que tipo de resistência ela seria capaz de oferecer em um ataque e logo vendo o corpo da Tophyr mutilado no chão. A imagem forte fez sua cabeça girar com tamanha crueldade, trazendo um suor frio ao final de sua coluna.

 

— Você está bem? — Maia chamou, esticando seu pescoço para tentar vê-la melhor.

 

— Estou sim. Já temos o suficiente, certo?

 

Assim que a elfa concordou, Luna lhe entregou a machadinha com cuidado e desceu da árvore, sentindo seus músculos da coxa queimarem com o esforço. Aparentemente suas feridas não estavam confiáveis ainda, o que era péssimo. Ela tinha que tomar cuidado para não infeccionar, se não estaria acabada sem que qualquer um de seus inimigos precisasse fazer qualquer esforço.

Respirou fundo e bateu na saia do vestido um pouco amassada, livrando-a de folhas secas e sujeira da árvore. Enquanto caminhava de volta com uma parte dos galhos, a mente de Luna divagou entre as lembranças de seus últimos anos. Se sentia desconfortável ali, mas, surpreendentemente, sentia que podia se acostumar com aquilo.

Maia e Kaya iam na frente cantarolando algo e rindo quando uma das duas saía do ritmo, era ridícula e até perigosa a forma como ninguém ali se preocupava com a segurança e com inimigos a espreita, mas era reconfortante. Remetia a Luna uma vida onde tivera luxos e segurança, apesar da forma como ela era tratada.

 

— Ah! Ainda bem! — Khan se aproximou apressado, sorrindo um pouco nervoso. — Estava preocupado com vocês duas.

 

— Ah, que meigo… Podia ter ido ajudar pra começar, né? — Maia riu, abanando a cabeça negativamente. — Sabe que esse lado da floresta é seguro, por que isso agora?

 

O olhar do jovem passou por sobre o ombro da elfa, atingindo em cheio a feiticeira. Ele não precisava dizer nada, aquele olhar expressava exatamente o que ele pensava a respeito dela, algo um tanto desagradável considerando que ele sequer a conhecia para ter motivos para tal.

Maia pareceu perceber, pois usou seu ombro pra empurrar Khan de leve, atraindo sua atenção e falando algo em voz baixa. Kaya se virou para trás e sorriu, numa tentativa infantil de fazer Luna se sentir mais à vontade, mas é claro que não iria funcionar.

O grupo seguiu de volta ao acampamento, a feiticeira bem mais atrás dos outros do que antes. Tão logo chegaram e os galhos foram distribuídos, ela foi até Lilian. Era o mínimo que podia fazer, se despedir da mulher que tanto a havia ajudado mesmo sem a conhecer.

 

— Você tem certeza disso minha jovem? — A mais velha a encarava atenta, mas sem acusá-la pelo que quer que fosse. — Não nos importamos se você ficar mais um pouco. E você precisa se recuperar mais.

 

— Eu agradeço pelo que fez, mesmo. Mas… Meu lugar não é aqui, é… perigoso.

 

— O que é perigoso? Nós sabemos lidar com todo tipo de coisa. — retrucou com uma risada rouca.

 

— A senhora não entende…

 

— Ao menos parta ao amanhecer, então. O lugar para onde vai ainda estará lá pela manhã.

 

— Eu não…

 

— Luna! Fica, fica! — A tophyr interrompeu a conversa, entrando correndo na tenda onde elas estavam e se agarrando às pernas da feiticeira.

 

A jovem suspirou sem saber o que fazer. Se ela fosse diferente ou, talvez, se a situação em si fosse diferente, ela poderia ficar sem se preocupar. Até gostaria disso. Mas não tinha jeito, precisava deixá-los o quanto antes.

Desceu o olhar até a garota agarrada em seu vestido, os grandes olhos opacos dela a “encaravam” com certa esperança de uma resposta positiva. Luna respirou fundo, passando a mão pelos fios desgrenhados de Kaya e bagunçando-os ainda mais.

 

— Certo. Eu fico essa noite — rendeu-se com uma voz cansada, rindo ao ouvir a risada da pequena enquanto a abraçava com força.

 

A feiticeira não entendia como Kaya havia se apegado tanto a ela. Nem o porquê de Maia ser tão simpática ou Lilian tão cuidadosa e preocupada… Talvez seu treinamento e criação jamais permitissem que ela entendesse tudo aquilo plenamente, mas sentia, lá no fundo de seu ser, que o mundo era um lugar muito melhor sob a perspectiva deles.

 

— Você é uma boa pessoa — Lilian cortou o silêncio. — Apenas teve um passado difícil, como a maioria de nós.

 

Luna a encarou com um misto de confusão e surpresa no olhar, tentando entender o sentido por trás de sua frase. Era tão óbvio assim? Ou Lilian simplesmente intuíra que deveria dizer algo e escolheu logo uma frase que respondia a várias das perguntas de Luna?

 

— Dê uma chance a si mesma, não seja tão dura — a mais velha comentou, docemente. — Você parece ser uma jovem boa e esperta, merece uma vida melhor do que a que aparenta levar.

 

A feiticeira abriu a boca, pronta para retrucar com algum argumento defensivo ou maldoso, mas a outra apenas ergueu a palma da mão em sua direção, negando sumariamente o que quer que ela tivesse a dizer.

 

— Mas eu sou só uma velha, posso estar falando demais.

 

Lilian sorriu como uma criança travessa, fazendo Luna se sentir desconfortável. Mas desconfortável de uma forma estranhamente agradável, como se a preocupação da mais velha e suas palavras fossem verdadeiras e especiais, como se, talvez, não fossem ditas a todo e qualquer estranho que cruzasse seu caminho.

A bondade de Lilian e da Tophyr agarrada a suas pernas não podia ser ignorada pela feiticeira. Uma bondade e ingenuidade que chegava a ser imprudente, chegava a ser loucura em um mundo como o que viviam. Pela primeira vez, alguém havia se aproximado por bondade, não por interesses políticos ou luxuriosos. Luna não podia permitir que algo acontecesse àquele grupo, não por sua culpa.

 

Com um gesto discreto, despediu-se de Lilian e deixou que ela levasse Kaya para se deitar. As demais pessoas aos poucos também se recolhiam em suas tendas, em meio a risadas e cumprimentos.

Esse acampamento em nada lembrava​ o que a havia acolhido anteriormente, onde Fataliz e Nabucodo eram frios e até meio rígidos, evitando uma relação que não fosse profissional. Ela tinha dúvidas se tinha feito a coisa certa em deixá-los, ou melhor, em deixar Fataliz… Ele parecia zelar por sua honra, protegendo e cuidando da feiticeira para pagar sua dívida por ela tê-lo salvo. Isso era algo de se admirar mas… Confiar novamente em um homem não seria nada além de tolice.

 

— Você ainda está aqui! — A voz de Maia surgiu de trás dela, despertando-a de seus pensamentos. — Eu achei que você tivesse ido embora… Parece incomodada desde que chegou.

 

— Lilian me convenceu a ir pela manhã.

 

Não foi preciso dizer mais, a elfa assentiu como se tudo fizesse sentido e sorriu, agarrando-a pelos ombros.

 

— Então podemos ter uma noite das garotas! Vem, você vai dormir comigo hoje…!

 

— Eu não…

 

— Ou prefere dormir aqui fora? — Maia sorriu travessa. — Eu não vi você trazer uma tenda com você, acho que não tem muita opção…

 

— Você sempre é tão direta? — Luna ergueu uma sobrancelha, surpresa com a insistência da elfa em interagir com ela.

 

— Na maioria das vezes. Só evito ser com relação aos dotes culinários da Priya. — Ela olhou ao redor antes de colocar as mãos em forma de concha na frente da boca e sussurrar — Ela é uma vahloriana muito sensível.

 

A feiticeira a encarou atenta, ela parecia mesmo séria, mas de um jeito cômico. A elfa sorriu como uma criança, tomando-a pela mão e a puxando, correndo até uma das tendas.

 

— Ei! Espera! — Luna tentou protestar. — Eu não concordei com nada ainda.

 

— Mesmo que não concordasse, acha que eu iria deixá-la ao relento? Vem logo!

 

Maia simplesmente arrastou uma Luna surpresa pra dentro de sua tenda, rindo como se tudo fosse uma grande e divertida brincadeira. A feiticeira olhou ao redor, vendo algumas folhas secas adornando de forma interessante um das paredes. Flores e tecidos delicados preenchiam o lugar que, apesar de pequeno, lembrava muito o quarto de uma princesa ou algo do gênero. Tudo era “fofo” e “feminino”, trazendo uma lembrança de um quarto muito semelhante à mente de Luna, embora o de suas memórias fosse algo muito mais digno de um nobre.

No castelo em que vivia com seu pai, ela passava grande parte do seu tempo, se não todo ele, trancada em seu quarto. Por muitos anos isso bastou, as fantasias infantis e os presentes fizeram-na se dar por satisfeita. Mas quando cresceu o suficiente para perceber a futilidade de tudo aquilo, para sentir o vazio que o desejo por um pouco de liberdade deixava em seu peito, foi quando os problemas começaram. Foi quando o pai herói se transformou em capataz, aprisionando-a no quarto que já havia sido seu país das maravilhas quando menor.

Estar em um lugar que tanto lembrava sua infância, fez Luna respirar fundo, sentindo-se trêmula e frágil de repente. Querendo ou não, o único lugar em que não a queriam mal ou ameaçavam sua vida era naquela prisão criada por seu pai, por mais irônico que fosse…

 

Um toque suave em suas orelhas fez ela voltar à realidade, virando-se para o lado e encontrando uma expressão surpresa na face de Maia. A elfa apalpava as orelhas felpudas no topo de sua cabeça, como se fosse algo divertido, observando os movimentos erráticos que elas faziam instintivamente sob tal toque.

Um olhar sério e descrente da feiticeira foi o suficiente para fazê-la parar, mas não para que ela tirasse suas mãos.

 

— O que você está fazendo?

 

— Elas são fofas como as de um gatinho… — A elfa a ignorou, com os olhos brilhantes e animados. — Como você faz para mexê-las assim?

 

Luna ergueu uma sobrancelha confusa, sentindo-se​ envergonhada com o olhar insistente de Maia.

 

— Eu não sei. Simplesmente faço. — Deu de ombros, se afastando de forma discreta da elfa. — Eu… não gosto que me toquem, Maia.

 

— Ah! Desculpa, desculpa! — Seu tom era de surpresa, sua voz saindo um pouco esganiçada enquanto ela afastava suas mãos com pressa, erguendo suas palmas em rendição.

 

A feiticeira apenas assentiu, segurando as orelhas felpudas com carinho e sentindo-as quente. Embora Maia não fosse um homem, não tornava tão menos desconfortável assim ser tocada. Era como se seu corpo rejeitasse naturalmente qualquer contato, sem querer arriscar restringir tal gesto a um gênero específico.

 

— Sabe… eu também já tive problemas com isso…

 

O tom de Maia era sério, totalmente incomum, o que fez Luna a encarar atenta e curiosa.

A elfa se afastou, abrindo um baú de madeira ao lado​ do que parecia ser sua cama. Ela puxou um tecido fino de lá, dobrando-o sobre o braço antes de fechar o baú.

 

— Quando Lilian me acolheu, eu quase a ataquei. — Ela riu, mas não exatamente de felicidade ou por achar graça. — Demorei até me acostumar com ela, até perceber que ela não era como aqueles soldados nojentos…

 

Os dedos magros e ágeis da elfa desatavam os laços de seu vestido, soltando-os até que a peça escorregasse por seu corpo sem grandes dificuldades, exibindo sua pele clara coberta de pequenas pintas e manchas, quase como sardas. Luna instintivamente desviou o olhar, sem saber como agir em uma situação como aquela. A forma despreocupada com que Maia se portava diante dela era curiosa e, em certo ponto, assustadora.

E ainda havia sua afirmação, que mais parecia um consolo velado à feiticeira. Ela dava a entender que havia passado por momentos desagradáveis, se sua honra não tivesse sido perdida, fora quase.

Luna sentiu um arrepio gelado descer por sua espinha, as lembranças a tomando com certa agressividade. Os toques, as palavras, as risadas e os lábios… Seu corpo queimava em cada uma de suas partes maculadas, como se mostrando que tudo ainda estava lá, que o tempo não havia apagado nenhuma daquelas marcas.

 

— Eu não a conheço o bastante para lhe julgar… E não nos veremos mais a partir de amanhã, então… — Maia sorriu, gentil, tentando encontrar o olhar de Luna, que o mantinha desviado e distante — Pode se abrir. É o primeiro passo para a dor passar.

 

— Você está errada. — A feiticeira a encarou com firmeza, decidida — Eu não passei por nada assim, apenas… Apenas não gosto de ser tocada.

 

A voz dela não vacilou durante a mentira, lhe dando alguma credibilidade. Mesmo assim a elfa a encarou desconfiada por longos segundos, antes de finalmente suspirar e sorrir.

 

— Nesse caso, que os deuses a protejam de passar por algo assim.

 

Maia colocou sua roupa usada de lado, se ocupando em arrumar o que parecia ser sua cama no chão. Luna permitiu que ela passasse, observando enquanto ela utilizava o espaço da entrada da tenda para arrumar a estrutura primitiva de tecidos velhos e unidos de forma desajeitada pela costura.

Apesar de notavelmente velho, o “colchão” fino estava em bom estado, como a maioria das coisas naquele acampamento. Isso mostrava que todos ali realmente encaravam aquela estrutura como uma casa e, por consequência, a si próprios como família, algo que ainda não fazia tanto sentido assim pra feiticeira.

 

— Para onde você vai depois daqui? — Maia perguntou, finalmente quebrando o silêncio. — Tem sido cada vez mais incomum ver feiticeiras vagando por Pangu… Ainda mais por aqui.

 

— Bom, eu… Eu ainda não sei. — suspirou, coçando a cabeça impaciente.

 

— Não sabe? — Ela ergueu uma sobrancelha, desconfiada.

 

— Não.

 

— Não faz ideia?

 

— Que parte você não entendeu ainda?

 

— É só que… Você não parece ser burra, Luna. E vagar por um mundo em guerra sem nenhum destino em mente é meio… — Maia pensou um pouco mas deu de ombros após alguns segundos. Fez uma longa e desconfortável pausa antes de continuar. — Do que você está fugindo?

 

— O quê? — Foi a vez de Luna erguer as sobrancelhas, mas por confusão diante da conclusão certeira da elfa.

 

— Você não fala nem age como uma viajante aventureira, tampouco como uma nômade… Em qualquer um dos casos você seria mais animada e engajada ou pelo menos teria trago algo consigo, como uma sacola com roupas e dinheiro, por exemplo.

 

— ...Você é boa… — Luna riu baixo, impressionada com o raciocínio rápido de Maia.

 

— Bom, também teve o fato de que Lilian comentou sobre seu estado quando a encontrou. Geralmente pessoas ariscas e feridas estão fugindo de algo… Ou de alguém — concluiu, dando de ombros.

 

— Acredite, vagar por um mundo em guerra é mais seguro para alguém como eu.

 

— A incoerência dessa frase me faz duvidar de que você conheça o significado da palavra segurança. — Maia suspirou, colocando as mãos nos quadris. — Sabe o que fazem com mulheres desacompanhadas por aí, ainda mais com feiticeiras.

 

— Eu não preciso de ninguém se preocupando comigo, Maia. Sobrevivi muito bem até agora. E sozinha.

 

Luna cruzou os braços na frente do corpo, confiante e decidida com as próprias palavras, mas logo a imagem de Fataliz lhe veio à mente, junto com um aperto em sua garganta por tê-lo deixado.

Estava mentindo não só para Maia mas para si mesma também. Desde que fugira de casa sempre teve a ajuda de alguém, de algum homem. Estava fadada a isso? Mas que ironia cruel… Seus algozes eram justamente aqueles de quem ela havia dependido até então.

Fataliz havia sido o único desde Salovar a não exigir nada como retorno, a poupar seu corpo e o que ainda restava de sua honra, mas não podia afirmar se não seria apenas questão de tempo para isso mudar. Depois de tanto tempo trabalhando para os mercenários, a feiticeira aprendeu que até mesmo o mais honrado dos homens era corruptível. Todos tinham seu preço…

O dela, era proteção.

 

— Sei que sobreviveu. E esse é o problema.

 

— Como assim? — Luna franziu a testa em confusão.

 

— Os deuses não nos criaram para sobreviver. O grande Pangu não deu a vida para que apenas nos arrastássemos por aí… Para isso existem os répteis.

 

Apesar das palavras confusas e aparentemente sem sentido, Maia tinha um ponto. Isso fez a feiticeira a encarar curiosa por alguns segundos, tais palavras não eram suficientes para abalar a convicção que ela tinha em seu próprio plano, ou na falta dele, mas certamente abalavam a impressão que tinha até então sobre o tipo de pessoa que habitava aquele acampamento.

A primeira vista, Maia pareceu ser a mais tola dos que Luna chegou a conhecer, mas mesmo a elfa tinha uma opinião coerente e de certa forma bem mais concreta do que a da feiticeira. Maia parecia certa do seu lugar no mundo, do papel que queria para si na tragédia épica pela qual Pangu passava.

 

— Se você não tem para onde ir nem, obviamente, para onde voltar, aqui é um bom lugar, Luna.

 

— Aqui?

 

— Bom, não aqui, “aqui”... Mas conosco. — A elfa sorriu confiante.

 

A feiticeira soltou um suspiro levemente impaciente com a insistência da elfa, incomodada por não entender o porquê de alguém que ela mal conhecia querer tanto mantê-la por perto.

 

— Desculpe se a estou incomodando.

 

O tom de Maia era baixo e triste, diferente de como ela vinha falando até então, o que fez Luna a encarar por instinto.

 

— Eu consigo ver, Luna, você é uma pessoa boa. Me parece errado permitir que alguém bom sofra pelos pecados alheios.

 

— Você não sabe o que fala, Maia. Deixe eu só te dar um aviso… — Um riso seco e sarcástico se arrastou por sua garganta. — Não confie tão facilmente em alguém. Pangu pertence aos mais espertos, àqueles que mentem melhor ou são mais fortes… Alguém como você não tem chance alguma no mundo real.

 

A elfa a encarava com um olhar triste, mas não havia como se saber se era por conta da resposta mal criada que recebera ou pela forma dura com a qual as palavras de Luna saíram. A feiticeira havia encerrado não só o assunto como qualquer outra conversa que poderia surgir entre as duas.

Sentia-se culpada por ser dura e agressiva sem necessidade, mas não podia lidar com o peso em seus ombros caso não dissesse a alguém como Maia o que precisava ser dito. Pangu não era a terra de paz e harmonia com a qual os deuses haviam​ sonhado, ao menos não mais. Era, agora, um lugar triste onde virtudes nada significavam, onde toda e qualquer fonte de pureza tendia a ser corrompida e quebrada...

 

Fora assim com ela.

 

Luna respirou fundo, atormentada com as lembranças duras que brotavam em sua mente, cada uma a torturando de uma forma diferente. Decidiu deixar Maia em paz, por ela e por si própria, que sofria ao ver a si mesma no lugar dela a anos atrás.

Porém, quando se virou para sair, sentiu o toque leve da elfa em seu braço, encarando-a por sobre o ombro.

 

— O que foi? — tentou soar rude, para disfarçar a tristeza evidente em sua voz.

 

— Se vai mesmo partir, ao menos tenha uma noite de sono digna. Sei que não tenho muito a oferecer, mas é mais do que vai encontrar pela floresta.

 

Luna encarou-a por um longo segundo. O olhar dela não era incerto ou magoado, mas decidido, como se as palavras da feiticeira já houvessem se esvaído na imensidão de otimismo que parecia preenchê-la por completo.

Por fim, assentiu, decidindo que poderia se dar a esse pequeno luxo considerando a torturante incerteza que a aguardava assim que saísse daquele lugar na manhã seguinte.

 

Deitou-se e Maia fez o mesmo no espaço que sobrara ao seu lado. Não conseguia se lembrar de quando já havia dormido com outra pessoa, não sem um motivo sórdido por trás. Talvez em algum momento em sua infância… Ou nem mesmo naquela época.

A elfa transmitia uma energia boa e pura, que a deixava tranquila por algum motivo, tentando-a a finalmente baixar sua guarda e se permitir, mesmo que por uma noite, relaxar como não fazia a anos.

Conforme pegava no sono, sua mente tratou de começar a pensar por conta própria no porquê de ela não poder ficar. No porquê de toda aquela urgência em voltar para os perigos e para seu mundo melancólico e solitário. A única resposta que encontrou a fez tremer de medo.

 

Não um medo bobo, tampouco um medo que a fizesse temer pela própria vida, mas sim um tipo de medo que não sentia a muito tempo. O mesmo medo que sentiu quando tomou a decisão de começar a fugir ainda na infância, naquela noite em que abandonou para sempre sua família e a vida que conhecia. O medo que apenas a saída iminente de sua zona de conforto podia causar.

 

Não havia um porquê para ela precisar partir, muito menos um que não a permitisse ficar e, como Maia havia dito, começar a “viver”. Tinha que acabar com seu péssimo costume de apenas sobreviver enquanto se arrastava de um lado ao outro de Pangu… E que melhor lugar do que aquele acampamento, onde já havia sido bem recebida pela maioria?

 

Não podia apagar seu passado, muito menos ignorar seus inimigos, mas poderia proteger aquelas pessoas se preciso fosse e ser protegida também, como uma família costuma fazer. Mas isso implicava em outras coisas, como sua incapacidade de se socializar e ser alguém… “normal” de novo.

 

Eram questões e decisões demasiadas para se tomar àquela hora da noite. Talvez tudo estivesse mais claro na manhã seguinte. Então Luna decidiu se render de uma vez ao cansaço e não demorou antes de entrar em um sono profundo. Um sono sem preocupações ou medo, pela primeira vez em muito tempo.


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