POV Ally

Eu estava sentada na minha janela, através da qual eu conseguia ver o castelo. Como eu queria ter a sorte de viver lá. Conforto, segurança, comida a vontade. Aqui, na parte mais pobre do reino de Avalon, um reino muito pequeno localizado na Europa, é muito difícil de se ter isso. Pelo menos a educação é acessível a todos. Quem tem sorte é a princesa Brooke. Ela é bonita, amada por todos e nunca lhe faltou nada na vida.

Meu pai é comerciante e minha mãe trabalha na casa de uma família que vive na parte rica da cidade, próxima ao castelo, e graças a isso nós não passamos dificuldade como outras famílias que moram perto de nós.

Eu sempre achei os ricos esnobes. Tratam a população mais pobre com desprezo, como se não merecêssemos o respeito deles, porém existem algumas exceções. A família para a qual minha mãe trabalha faz parte delas.

Quando eu era menor, minha mãe costumava me levar com ela para o trabalho. A patroa dela gosta muito de crianças. Ela tem dois filhos, o mais velho se chama Paul e a mais nova se chama Trish. Trish e eu nos tornamos amigas, além de termos frequentado a mesma escola. Em Avalon nós estudamos até os 15 anos. Porém, Trish não estava em Avalon. Ela havia viajado para o continente americano. Para um país chamado Estados Unidos. Eu estudei sobre ele nas aulas de geografia e história e pude ver que lá as coisas não são iguais aqui, embora algumas festas e roupas sejam semelhantes.

Minha paixão é a música. Quando eu era pequena, meu pai tocava algumas músicas com o violão e eu ficava escutando. Depois de um tempo ele me ensinou a tocar e me deu o violão dele. As vezes eu tento compor algumas músicas e escrevo letras em meu diário, mas acho que não são tão boas. Ninguém além de meus pais me escutaram tocar, eu sinceramente não me considero talentosa.

O sol estava se pondo e resolvi pegar meu violão. Toquei uma música que lembro que meu pai sempre tocava para mim quando eu era pequena.

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–Ally querida, acorde. Não podemos nos atrasar. - Acordei sendo chamada por minha mãe.

–Nos atrasar para que? - Perguntei me sentando na cama.

–O rei irá fazer um pronunciamento hoje, as 11 horas.

–Que horas são?

–Dez horas. Coma alguma coisa, tome um banho e se vista.

Obedeci minha mãe e comi um pão, tomei banho e coloquei um de meus melhores vestidos. Coloquei uma sapatilha branca e deixei meu cabelo solto.

Nos dirigimos até a praça central, onde o rei iria fazer o pronunciamento. Como quando chegamos haviam poucas pessoas na praça ficamos perto do palco. Alguns minutos depois o rei chegou em sua limousine preta, acompanhado de sua filha, guardas e um jovem loiro, o qual eu não consegui ver o rosto completamente e todos subiram ao palco.

–Povo de Avalon, esse pronunciamento de hoje, é extremamente importante para o futuro de nosso reino. Eu estou ficando a cada dia mais velho, e em breve não terei mais condições de governar esse reino e minha filha, Brooke irá assumir meu lugar, mas para isso, ela precisa de alguém que a ajude a governar Avalon. Por isso, eu fico feliz em anunciar que minha filha irá se casar em seis meses com o príncipe Austin Moon,o mais novo de três irmãos, filho dos reis Mimi e Mike Moon, reis do reino de Anabetth, reino que é nosso vizinho e aliado. Ele morará no castelo comigo e com minha filha. E para comemorar isso hoje a noite irá haver um baile no castelo, planejado por minha filha, e todos vocês estão convidados.

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Eu estava me arrumando para o baile. Minha mãe não poderia ir pois ficaria cuidando de meu pai que estava doente. Eu queria ficar com eles, mas ela não deixou.

Coloquei um vestido que eu havia ganhado de Trish no meu ultimo aniversário, quando fiz 16 anos. Era um vestido azul, justo até a cintura e rodado até a altura do joelho. Quando Trish me deu aquele vestido, eu disse a ela que eu nunca teria uma chance usá-lo, já que os camponeses nunca são convidados para festas no castelo ou em qualquer outro lugar. É, eu estava errada. Penteei meu cabelo, coloquei a mesma sapatilha que eu havia usado hoje pela manhã, ele era um dos únicos sapatos decentes que eu tinha e eu não tinha nenhum sapato de salto. Eu não sei se conseguiria andar em um.

Fui andando até o castelo, o que demorou um tempinho. O lugar era enorme, haviam várias pessoas dançando. Havia uma mesa cheia de comes e bebes. Ao contrário do que muitas pessoas pensam dos reinos, Avalon era um lugar moderno. Nós andávamos em carros, temos acesso a internet, assim como computadores, notebooks e celulares, embora eu não tenha acesso a nenhuma dessas tecnologias, pois eu e meus pais não temos dinheiro para comprar. As pessoas dançavam músicas animadas e não músicas lentas como nos bailes de antigamente, embora ainda existam alguns assim. Me sentei em uma das mesas que rodeavam o salão. Como eu estava sozinha me sentei em uma mesa pequena. Percebi que essa festa deve ter sido planejada por Brooke, pois pela cara do rei ele não estava muito feliz com aquilo. A princesa nem sempre se veste adequadamente como uma. As vezes ela usa decotes maiores que o adequado, e as vezes usa vestidos bem curtos, como agora. Ela usava um vestido preto, bem justo e curto e segurava uma bebida. Ela estava conversando com o príncipe Austin Moon. No momento em que o vi, achei ele lindo, mas ele nunca repararia em mim. Fiquei observando-os até que o príncipe olhou para mim. Por um instante nossos olhares se cruzaram. Ele deve ter percebido que eu estava observando-os, o que me fez sentir vergonha e me virar para o outro lado. Continuei olhando o salão até que meu olhar se voltou para o rei que me encarava com uma expressão levemente curiosa e...assustada?

Senti sede então me dirigi até a mesa para pegar algo para beber. Todas as pessoas que aparentavam ter a minha idade estavam pegando a mesma bebida então resolvi experimentar. Ela era transparente, parecia água, mas percebi que não era, pela situação de alguns jovens que estavam na festa. Peguei um copo e coloquei uma pequena quantidade daquela bebida e bebi. Ugh. Tive que me segurar para não cuspir aquilo fora. Era horrível. Pude ver que era uma bebida alcoólica que meu pai costumava beber quando eu tinha 11 ou 12 anos. Ele chegava bêbado em casa quase todos os dias. Ele começou a ter problemas de saúde devido a isso e parou de beber.

–Primeira vez bebendo vodca, gatinha? - Um garoto que aparentava ser mais velho que eu que estava do meu lado me perguntou isso. Pelo jeito os nobres não tem a mesma educação dos livros que eu leio.

–Sim. - Respondi, enquanto pegava um salgado na mesa. O gosto me lembrava o que minha mãe fazia para mim quando eu era pequena.

–Depois de um tempo você acostuma. - Ele falou e deu uma piscadinha. - O que acha de beber um pouco pra depois a gente conversar?

–Você quer que eu fique bêbada?

–É que as gatinhas bêbadas são mais interessantes. Só não bebe demais se não fica chata. - Ele falou dando outra piscadinha e se aproximando de mim.

–E os garotos educados também. - Respondi e sai dali.

Nas paredes do salão haviam alguns quadros, da família real. Observei os quadros e procurei algum que tivesse uma foto da rainha. Eu ouvi falar que alguns meses depois de Brooke completar dois anos de idade, a rainha engravidou novamente e nasceu uma outra menina, que foi chamada de Allycia, minha mãe me disse que meu nome foi em homenagem a ela. Quando Brooke fez três anos, o rei saiu do castelo para comprar um presente para a filha e a levou junto e a rainha ficou cuidando de Allycia e invadiram o castelo e sequestraram as duas. O rei mandou encontrarem os sequestradores, mas a única coisa que encontraram foi a rainha, que estava muito fraca e acabou morrendo. Mas até hoje não sabem o que aconteceu com Allycia, que no reino é chamada de princesa perdida. Até hoje o rei tenta encontrá-la. Fui olhando os quadros e vendo quem governou nosso reino até o dia de hoje, haviam fotografias dos monarcas mais recentes. O último quadro tinha uma foto do rei e da rainha e pude entender o porque do espanto do rei. Eu me parecia com ela. Eu me parecia com a rainha.

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