Premonição Chronicles escrita por PW, VinnieCamargo, MV, SamHBS, Felipe Chemim


Capítulo 13
Capítulo 12: Cabeças


Notas iniciais do capítulo

Escrito por Emerson (com participação de PW).

Link para as músicas tocadas no capítulo:

Love Train - Tommy Lee
https://www.youtube.com/watch?v=5Ww3_d6iwtQ

Helena - My Chemical Romance
https://www.youtube.com/watch?v=WcwweoJDkV0



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— Pedro...

Uma voz fraca sussurrava.

— Você não pode fugir.

A voz era doce, era calma, mas logo ficou grave e demoníaca. Uma gargalhada tão maléfica ecoava. Estava tudo escuro e Pedro abriu os olhos. Foi só um pesadelo.

— Que isso acabe logo.

Ele disse, segurando a vontade de chorar. Ele foi até a cozinha beber água e assim quem sabe poder dormir um pouco. Ele acendeu a luz da cozinha, algo que lhe cegou por alguns segundos, devido aos seus olhos estarem habituados à escuridão daquela madrugada.

Ele olhou o relógio. Eram três e meia da manhã. Ele encheu o copo e começou a beber. Então, ele viu uma macha na água, como se ela estivesse suja. Ele jogou a água na pia e voltou a encher o copo, dessa vez verificando se havia algo de errado com a água. Não havia nada.

— Devo estar ficando paranoico.

Ele voltou a beber a água, mas mal começou a bebê-la e viu novamente a mancha se formando na água. Ele fez uma cara de “WTF?”, no entanto continuou bebendo a água. Apagou a luz e voltou ao quarto.

Mas o sono havia sumido. “Porcaria”, ele pensou. Decidiu jogar o notebook no colo e navegar na internet. A luz da tela iluminou seu rosto e ele decidiu diminuir a iluminação.

Abriu a página “Premonição da Depressão”, verificando se havia alguma postagem nova. Havia uma, postada há umas 3 horas, mas ele não parou para lê-la. Não estava em condições de ler tirinhas que faziam piadas da franquia a qual ele era fã, muito menos FAZER piadas disso.

▓▓▓▓▓

Rollercoaster of love, say what?

Rollercoaster, uh uh uh

Roller coaster of love

Rollercoaster, uh uh uh

Na manhã seguinte...

Era essa a música que saía dos fones de ouvido de Emerson quando ele finalmente teve tempo de ir à loja de bicicletas que Edward... Ou Eduardo havia lhe falado. Ele se lembrou do bilhete por acaso quando pegou a mala jogada embaixo da sua cama. Ela estava lá desde que ele voltou do parque, que desmoronou em um horrível acidente.

Pobre Edward... Se ele não tivesse morrido no parque, provavelmente seria seu novo par. Ele realmente ganhara a simpatia de Emerson, ainda mais por ser um Reaper, algo que não é sempre que se encontra. Porém, se tivesse sobrevivido, morreria como aconteceu a Breno.

Ainda estava um pouco traumatizado por ter visto como a morte de Breno foi cruel. Estivera inconsolável desde então. Mas, assim que as lágrimas acabaram, ele se levantou e foi se distrair. Ficar lamentando não traria Breno de volta, nem mesmo Keth, Guib, Lucas e João. E ele estava nessa mesma lista. A maldita lista.

Por mais que quisesse fugir para o lugar mais seguro do mundo, ele sabia que a Morte o pegaria mais cedo ou mais tarde. Não importava onde, não importava quando, não importava como. Ela o pegaria e seria da maneira mais cruel possível, isso ele tinha certeza. E tinha os filmes “Premonição” como prova. Porém aquilo era ficção, isso é vida real.

Ele entrou e a campainha fez um ring, atraindo a atenção de um homem que imediatamente se dirigiu a ele.

— Em que posso ajudá-lo?

— Eu... Vim comprar uma bicicleta.

Ele mostrou o bilhete, e o homem sorriu.

— Venha comigo.

Emerson deu um passo, quando as luzes começaram a piscar. Ele olhou em volta, atordoado, e um rapaz de não mais que 17 anos surgiu detrás de algumas caixas. O garoto tinha cabelos negros e olhos verdes, parecia um cantor teen. Só que o cabelo dele não era lambido. Tinha um estilo descolado.

— Desculpe. — O rapaz disse e riu. — Eu estou fazendo umas “experiências”. E eu amo piscar luzes. Acho que é por isso que elas queimam mais rápido.

— Tudo bem.

— Veio comprar uma bicicleta, né? Por causa do Ed?

— Sim.

— Legal... Sinto falta dele.

— É, ele era um cara legal.

Ambos começaram a caminhar entre as várias bikes expostas pela loja. O homem que recebera Emerson alguns momentos atrás chegou com um papel em mãos.

Emerson olhou para a prateleira atrás do homem.

— Aquilo é... Um DVD de Premonição?

O homem e Ronnie, o rapaz, viraram-se. Ronnie pegou o objeto.

— É o “Premonição 3: Versão Interativa”... Por quê?

— Porque parece que isso tá me perseguindo onde quer que eu vá.

▓▓▓▓▓

Vinicius estava olhando pela milésima vez o Rest In Pieces Brasil. Já tinha lido provavelmente todas as páginas e postagens do site. Não chorava nem ria, não esboçava qualquer emoção ou reação. Quando minimizou o navegador, viu a pasta com fotos dele e de Keth. Momentos felizes.

— Não...

Ele se levantou, com os olhos em lágrimas. Agora ele esboçava emoções. Queria quebrar tudo, se sentia do pior jeito possível. Queria gritar, fazer qualquer coisa que pudesse expelir esse sentimento ruim que estava dentro dele.

O seu gato Bill miou, querendo demonstrar alguma coisa. Ele nem teve tempo de raciocinar. Era comida? Não. Ele já havia colocado antes de começar a mexer no notebook. Era água? Também não.

— Agora não, Bill... Depois eu volto.

Ele pegou o celular. Não havia sinal. Ele jogou o objeto no sofá e saiu rápido como um relâmpago pela porta. Estava indo à casa de Pedro.

Quase “atropelou” uma pessoa que vinha na direção oposta a ele, pisou numa poça de água, mas não se importou, empurrou uma criança que andava de bicicleta. Tudo isso para falar com Pedro o mais rápido que podia.

Quando chegou lá, as primeiras pessoas que viu foram Emerson e Márcio no sofá branco da sala.

— Hey, cara, o que aconteceu? — MV perguntou, apontando a poltrona encostada na parede. — Precisa de algo?

Vinicius parou e respirou tentando se acalmar. Estava tudo bem do dia anterior, até ver João morrer e saber que aquilo era REAL. E a Morte o queria também.

— Eu... tô... ENLOUQUECENDO! — Ele sentou-se e afundou na poltrona. — Eu quero que isso acabe.

— Tá bom, Vini. — Emerson disse, tão calmo quanto MV. — Eu acabei de saber que o João morreu.

— Nos filmes isso parecia tão legal, mas... — Vini passou a mão no cabelo. — ...Mas isso aqui não é.

Pedro voltara da cozinha e estendeu uma bandeja com três copos com suco.

— Ouvi sua voz e decidi colocar mais um copo. — Disse e sorriu, mas Vini apenas o fitou sério. — Sei o que está passando.

— Oh, se sabe... — Emerson capturou a atenção de Pedro. — Ele teve o mesmo ataque ontem.

— Cala a boca, Fisher.

Emerson fez um eyes rolling. MV apenas permanecia calado.

O rádio começou a sintonizar sozinho. Parou na estação 91.3. A música saiu bem alta, assustando os quatro. MV derrubou o copo, espalhando água por todo o chão. “Love Train” começou a tocar.

Next stop that we make, we'll make it soon,
Gonna tell everybody, what we're gonna do,
Climb aboard cuz you got nothing to lose,
If you miss this train, I feel sorry for you.

— Não! — Emerson exclamou e puxou a tomada do rádio. — Por mais que eu ame ouvir essa música.

— Sei que é difícil... — Pedro continuou.

Vinicius massageou os ombros que já estavam doendo, mas ele nem percebera antes. Os quatro ficaram em silêncio por uns minutos.

— Vou ligar a TV.

Pedro ligou a televisão, apenas para ver a notícia da morte de João.

— Só pode ser brincadeira... — MV disse. — A Morte quer mesmo nos atormentar.

Pedro desligou a televisão.

MV se levantou.

— Vou pra casa. Me liguem se precisarem de algo.

—Eu vou falar com a Vic. Quer vir comigo Ems?

— Pode ser...

— Mas antes, vou limpar essa bagunça que o MV fez, senão... Estou frito.

Emerson riu de MV.

Vini e MV saíram.

▓▓▓▓▓

Vini e Márcio estavam praticamente na frente da casa de Vinicius. Só faltava que eles atravessassem a rua, mas parecia que o sinal vermelho não queria dar o lugar ao verde.

— Vinicius, lembra-se daquela cena deletada do Alex e da Clear?

— Que a Clear quase foi atropelada, bem antes da morte da Terry? Lembro, com toda a certeza!

— Parece que estamos vivendo essa mesma coisa.

Eles riram. Vinicius estava mais calmo. Não podia ficar chorando por causa de Keth para sempre.

— Então... — MV fez uma pausa. — Quer dar o primeiro passo?

— Não, eu prefiro que você vá primeiro.

— Você quer que eu morra primeiro, né, seu sacana?

Márcio deu o primeiro passo assim que o sinal verde acendeu. Vinicius ficou observando da calçada enquanto o amigo atravessava sem muitos problemas.

— Sua vez! — Ele gritou do outro lado.

Os carros já estavam prontos para acelerar quando Vinicius deu o primeiro passo na faixa de pedestres. Assim que já tinha posto os dois pés na rua, o sinal voltou a ficar vermelho, e um dos carros buzinou. Vini deu um pulo para trás, voltando para a calçada.

Márcio apenas observava calmamente, rindo da situação em que o amigo se encontrava.

▓▓▓▓▓

Quando Márcio chegou à sua casa, ele encontrou sua prima, de 16 anos, deitada no chão, com os olhos abertos. Ela não respirava, tinha um olhar vazio. Ele foi cutucar ela, quando ela saltou e começou a rir dele.

— Sua idiota!

Ela deu um tapa na cabeça dela e foi para o quarto.

Lá no seu recinto, Márcio começou a olhar as gavetas sem motivo algum. Era uma de suas manias. Era um impulso. Geralmente ele começava a fazer isso quando esquecia o que realmente deveria fazer.

Ele começou a jogar tudo que tinha nas gavetas em cima da cama, achando logo em seguida um papel que também jogou na cama, mas voltou a pegá-lo e o desdobrou.

Tinham vários nomes escritos. Uma listinha que ele fez das pessoas que haviam saído do parque após o acidente. A ideia da lista surgiu após uma conversa com Pedro e Vinicius na mesma noite em que João morreu.

KETH

GUIB

BRENO

LUCAS

JOÃO VICTOR

VIC

EMERSON

PEDRO

VINICIUS

MÁRCIO

FELIPE

SAMUEL

JOÃO R.

Treze pessoas. Cinco delas já se foram.

Márcio teve que reler a lista inteira porque um pensamento não saía da cabeça dele. Ele refletiu um pouco e agarrou o celular quase imediatamente.

— Pedro, atende, pelo amor de Deus!

Chamada gratuita... — A voz irritante da mulher da operadora dizia.

— Que droga!

— ...após o bip.

— Peeh, me liga o mais rápido que puder assim que receber essa mensagem!

Ele encerrou a chamada e olhou para a tela. O sinal caía e voltava, caía e voltava. Ele nem tinha a certeza de que a mensagem chegaria até Pedro.

Então, ele saiu correndo do quarto e estava pronto pra sair quando viu uma nota na estante perto da porta.

“Levei sua prima pra sair um pouco. Volto já, cuide bem da casa. A panela ainda está no fogo. Assinado, mãe”.

Era incrível como tudo estava conspirando contra o grupo. Por mais que eles tentassem impedir que algo ruim acontecesse, sempre havia algo que os atrapalhava.

Márcio encostou-se pesadamente contra a parede. Só o que ele poderia fazer naquele momento era esperar.

▓▓▓▓▓

Pedro e Emerson estavam caminhando para a casa de Vic.

— Quer saber de uma coisa, Pedro?

— O quê?

— Ainda não acredito nisso.

— Hã?

— Sei lá, é... O João morreu... mas pessoas morrem todos os dias, acho que isso é só coincidência?

— Coincidência? — Pedro agarrou os braços de Emerson e começou a chacoalha-lo. — Fisher, cinco pessoas que estavam lá no parque e que saíram de lá depois do acidente morreram!

— De qualquer forma. Se eu estiver mesmo prestes a morrer, que aconteça logo. E... Que eu receba logo meu pagamento como CDC na Premonição da Depressão.

Ele deu uma gargalhada. Pedro estreitou as pálpebras, dando um sorrisinho.

— Quando eu conversava com você por Facebook, você parecia bem menos... “Ousado”.

— Ousado? Sempre fui. Só que eu não tinha toda essa intimidade com você, então decidi ir com calma.

— Por que você não falou comigo naquele dia no parque?

— Primeiro: Eu vi você. Mas sei lá... Fiquei um pouco com medo.

— Eu não mordo, sabia?

— Segundo: Porque eu achei que era algum outro garoto pirado falando que teve uma visão, premonição, etc.

E então, uma dor fez com que Pedro fechasse seus olhos com firmeza e ele inspirava o ar lentamente, tentando fazer a dor passar.

— O que foi? Teve outra das suas visões?

Ele abriu os olhos e se assustou ao ver tudo borrado. Ele agarrou o braço de Emerson e se sentiu melhor e menos desesperado quando sua visão voltou ao normal.

— O que você viu?

— Eu vi... Bolinhas de gude.

— Bolinhas... de gude?

— É... E depois uma daquelas portas que você puxa pra cima.

— Tipo, daqueles mercadinhos de quinta categoria que tem lá do outro lado da cidade?

— É, tipo isso. Deve ser a pista da próxima morte.

▓▓▓▓▓

Victorya se sentia desorientada. Depois da conversa com Pedro próxima ao Motel California e ver Lucas morrendo diante dos seus olhos, tudo o que ela podia fazer era esperar até ser sua vez.

Durante toda a manhã, ela ficou deitada na sua cama. Seu celular estava jogado de canto, ela nem sequer tocara nele. Devia haver centenas de chamadas perdidas, tanto de seus outros amigos quanto de sua prima, que ligava sempre que queria algo emprestado.

Então, ela se levantou. Fitou o pôster do My Chemical Romance na parede. Ela suspirou indecisa entre a vontade de levantar e a vontade de deitar novamente. Após alguns segundos de reflexão, ela se levantou, deixando o celular em cima da cama.

Entrou no banheiro, todo branco, tão branco que deixava Vic com uma sensação estranha. Ela lavou o rosto e em seguida pegou a toalha para se secar. Assim que olhou para a toalha, viu uma mancha vermelha. Ela arregalou os olhos, olhando para o espelho para verificar se havia algo de errado em seu rosto. Tudo o que ela viu foi a maquiagem vermelha em seus olhos descendo pelo rosto. Ela se acalmou e saiu para a cozinha.

Ela encontrou seu pai vasculhando o armário em busca de algum medicamento. Havia várias caixas em cima do balcão. Ela pegou uma. Na caixa estava escrito em vermelho: “Para dores de cabeça”. O pai dela afastou um copo com água e colocou-o no balcão.

— Pai... — Ela mostrou a caixa a ele. — É isso que está procurando?

— Não, Vic... — Ele continuou vasculhando. — Você viu meu remédio para dormir?

— Não.

O teto começava a pingar. É claro, graças a constante chuva, as gotas conseguiam passar pelo teto e pingar a casa inteira. Por isso todas as tomadas estavam desconectadas. Exceto uma.

O ventilador em cima do balcão ainda girava, lentamente, fazendo um vento fraco que não poderia refrescar ninguém. As gotas caíam do teto, molhando o fio desencapado. Duas faíscas rápidas saíram dali. O ventilador começou a girar mais rápido.

— Nunca vi esse ventilador ser tão rápido. — Vic afirmou, ajudando seu pai em seguida. — Melhor assim.

Assim que a garota virou-se, o ventilador saiu do controle. A hélice girava numa velocidade absurda, ao mesmo tempo em que uma fumaça enegrecida saía do motor.

— Abaixe-se!

Vic gritou e se abaixou quando o aparelho explodiu e a hélice saiu voando, que por pouco não atingiu a cabeça de ambos. A hélice derrubou dois remédios efervescentes no copo cheio de água. O remédio evaporou num instante.

Vic e seu pai levantaram-se, ainda atordoados. A hora de Vic finalmente havia chegado? E se chegou, ela foi pro fim da lista?

— Eu fui pulada? — Sussurrou.

— O que disse?

— Nada... Eu vou pra garagem.

Ela disse e se afastou.

O pai dela finalmente viu o pacote com efervescentes rasgado dentro do armário e colocou mais um no copo. Ele bebeu.

Vic entrou na garagem, que estava bastante escura. Semicerrou os cílios, para acomodar seus olhos à escuridão, mas tudo que enxergava era o breu em que se encontrava o lugar. Quando fechada a porta, o escuro predominava, apesar de ser dia. A ruiva deu mais alguns passos, até ouvir a porta bater atrás de si com um baque. Não encontrou o interruptor e mil e uma coisas passaram pela sua cabeça, incluindo o fato de que na garagem do pai era um recinto para instrumentos mortais que ajudariam a ceifadora à arrancar sua vida. Mas logo em seguida ela relaxou.

Afinal, a hélice iria matá-la, assim como ela evitou que o objeto fatiasse sua cabeça. Então, calmamente foi caminhando na garagem, passando pelo carro de seu pai, que havia ido lhe fazer uma visita, na casa do avô, com quem ela vivia. Estava inteiramente despreocupada, agora.

Vic estava salva.

▓▓▓▓▓

Quando Pedro e Emerson chegaram à casa de Vic, ela estava do lado de fora olhando para algo. Ela estava virada, então não pôde ver os meninos se aproximando. Ela virou e pulou para trás.

— Que susto vocês me deram!

— Que é isso Vic? — Pedro disse. — Não somos tão feios assim.

— Por que estão aqui? É sobre a próxima morte? Fiquem sossegados, eu fui pulada.

— Como assim você está salva? Estamos aqui porque eu tive uma visão, tínhamos uma grande chance de salvá-la. Mas, aproveitando que sua hora já passou, quero falar sobre outra coisa.

Emerson sentiu o clima e o tom com o qual Pedro falava. Ele sorriu, mas desfez o sorriso antes que Pedro ou Vic pudessem ver.

— Eu... Posso usar o banheiro, Vic?

— Claro, Ems. Vai lá.

— Okay.

“E pensar que eu já tive um love assim”, ele pensou antes de sair.

Vic e Pedro andaram até a garagem. Vic puxou a porta para cima. Pedro olhava para ela a todo o momento, tanto que quase bateu a cabeça na porta, se não fosse por Vic avisando.

— Olha a cabeça, Peeh!

Ele se abaixou e quase caiu. Ambos riram.

▓▓▓▓▓

Emerson estava terminando de lavar as mãos. Ele olhou no espelho bem rápido. Não gostava de espelhos. Espelhos lhe davam uma sensação ruim. Talvez fosse por causa das histórias de terror que teimava em ler, indo em seguida dormir, mas não antes sem verificar embaixo da cama.

Ele tentou girar a maçaneta, porém, como estava com as mãos molhadas, não conseguia girá-la. Não havia nenhuma toalha ou pano por perto, então secou as mãos na calça jeans e tentou girá-la novamente. Não conseguiu, parecia estar trancada por fora. Gritou por alguém:

— Vic? Pedro? Me ajudem! Eu tô preso aqui, a porta emperrou!

Ele tentou girar de novo, sem sucesso. Estava começando a ficar com medo. Daqui a pouco teria um ataque de claustrofobia. Do lado de fora, um rádio tocava uma música bem alto.

▓▓▓▓▓

— Diga o que quer, Pedro. — Vic disse. — É algo importante?

— Pra mim, sim.

Vic iria deixar a porta aberta, mas Pedro a fechou.

— Assim é melhor. — Ele falou, se certificando que a porta não o deixaria desconfortável, já que ela estava na sua pequena visão. Era relevante, mesmo sabendo que a ruiva já tinha sido pulada. Acendeu a luz. — Vamos direto ao ponto.

Ele a beijou, suave, e tudo o que ela pôde fazer foi relaxar e curtir aquele beijo, como nenhum outro que já teve. Ambos ficaram naquele beijo por uns minutos, enquanto Vic acariciava os braços de Pedro e ele puxava ela mais para perto.

Ambos não ouviam mais nada. Nem mesmo os gritos de Emerson no banheiro dentro da casa. O pai da garota não aparecia.

— O Emerson ainda não voltou... — Pedro disse indeciso entre procurar o amigo ou ficar com Vic. — Fisher, vem logo!

Ele andou até a porta que guiava até uma escadaria. No final da escadaria, havia uma porta que levava à cozinha. Pedro subiu uns degraus chamando por Emerson, mas ele não dava resposta.

— Só falta ele ter se perdido.

— Em pensar que aquele ventilador quase me fatiou... — A ruiva murmurou. — Não estaria viva pra ter esse momento com você.

Pedro voltava para a garagem.

— O que você disse? Ventilador? — A cabeça do garoto deu algumas voltas, até tudo se encaixar. — Na minha visão da sua morte não havia ventilador algum... Isso quer dizer que... DROGA! VOCÊ SE ENGANOU! — Uma onda de eletricidade passou pelo seu corpo.

Voltou apenas para ver uma estante pronta pra cair em cima de Vic.

— Vic!!! — Ele gritou, avançando mais rápido que um raio e derrubando Vic bem longe da estante, que fez um estrondo quando caiu.

Eles ficaram deitados um em cima do outro, se olhando por alguns segundos, sem saber o que fazer em seguida. Então, Pedro a soltou e a encarou, com um sorriso torto. Ele levantou a porta da garagem e ficou do lado de fora. Vic sorriu de volta.

— Vic, diz pro Fisher que tô atrasado pra faculdade, tenho aula extra hoje e não posso perder o ônibus. Vou ter que ir sem ele.

— Nossa, que amigo hein?

Ele deu de ombros. Já estava a um pé de concluir o trabalho semestral, quando essas aulas extras surgiram, pra estreitar seu tempo de descanso. Então, ou ele chegaria cedo e aprontaria tudo ou atrasado e estragaria tudo de vez.

— Tchau.

Ela acenou e foi verificar o pé da estante.

— Eu sabia que um dia ia acabar caindo.

O pai dela surgiu no fim da escadaria.

— O que foi isso, Vic? Oh meu Deus!

— A estante caiu. Eu avisei, mas ninguém me escuta.

O pai dela bocejou e levantou a estante sem muito esforço, chutando tudo que havia nela para o lado, assim Vic teria mais espaço. Depois, ele pensou, ajeitaria tudo. Num momento que não estivesse com sono.

— Vai ficar bem?

— Vou sim.

Ele acenou com a cabeça e subiu a escadaria, em direção ao quarto.

▓▓▓▓▓

Vic já estava suja de graxa antes mesmo de começar a mexer nas coisas da garagem. Era lá onde passava uma parte do tempo, consertando sua bicicleta ou mexendo na moto antiga do avô.

O pai surgiu segurando o celular dela.

— Ligação. — Ele bocejou. — E não se esqueça: se for deixar a porta da garagem aberta, coloque aquela madeira para que não feche.

— Tudo bem.— E então, ela ficou confusa. — Você já não deveria estar dormindo?

— Ainda tinha algumas coisas pra fazer, mas já estou indo. Não quero bagunças.

— Tá bom.

Ela pegou o celular com um lenço. O pai saiu. Ela viu 6 chamadas perdidas. Todas da mesma pessoa. Pedro. Ela não estava nas mínimas condições de falar com Pedro agora. Ela decidiu terminar o serviço com a bicicleta antes de falar com ele. A essa hora tinha esquecido até de Emerson, que estava trancado lá no banheiro.

▓▓▓▓▓

— Desculpe, Vic. Mas eu vou ter que destruir seu banheiro.

Mal disse isso e Emerson começou a fazer uma bagunça enorme no lugar, procurando algo que pudesse tirá-lo dali.

— Na dúvida, improvise.

Ele viu uma janela pequena acima do chuveiro. Como não vira aquilo antes? Ele teve uma ideia.

Começou a puxar a torneira de aço com toda a força que tinha. A pia era de madeira. Ele decidiu dar um chute e a torneira saiu num piscar de olhos, tanto que Emerson quase derrubou o espelho no qual se olhara há algum tempo.

— Ai, caralho!

Ele pegou um cesto grande cheio de roupas sujas e colocou-a em baixo do chuveiro para que pudesse alcançar o seu alvo e começou a bater a torneira com toda a força na janela. Por sorte, a janela já era velha o suficiente e estava quase caindo aos pedaços. Vidros quebraram e a janela por fim cedeu, deixando um buraco pelo qual Emerson passou com certa dificuldade.

Ele caiu no quintal e se levantou, percebendo que ainda segurava a torneira. Ele a soltou e abriu a porta para a cozinha, procurando por Vic e Pedro.

— Ainda tô podendo.

▓▓▓▓▓

Ela pegou a madeira e puxou a grande porta da garagem para cima. Ela colocou a madeira com muito cuidado e voltou a mexer em sua bicicleta. Tentou manter a calma. Ela pegou sua bicicleta e colocou no meio da garagem, para que pudesse mexer nela em todos os lugares. Ajeitou o apoio e começou a encher os pneus.

Long ago
Just like the hearse
You die to get in again
We are so far from you

A música começou a tocar misteriosamente no seu celular. Ela parou por um momento e desligou a música. Ela voltou a mexer nos pneus da bicicleta, enquanto a lata de óleo caída ao seu lado despejava uma quantidade de óleo vermelho-rubro.

Burning on, just like the match
You strike to incinerate
The lives of everyone you know

A música começou a tocar novamente, mas dessa vez Vic não parou para ir mexer lá. Era sua música favorita no momento, mas de alguma forma, ela estava ficando irritada só em ouvi-la. Um mix de sensações dançava dentro dela. E ela não sabia qual delas expressar no momento.

Assim que ela teve certeza que os pneus estavam cheios, ela levantou-se para pegar alguns parafusos. Ela pisou na poça de óleo que a essa hora já se espalhava por debaixo da bicicleta. As pegadas de óleo eram deixadas para trás.

And what's the worst you take
From every heart you break?
And like the blade you stain
Well, I've been holding on tonight

Emerson abriu a porta que dava para a escadaria. Ele começou a descer lentamente, para ouvir se Pedro e Victorya ainda estavam lá. Ele parou. Não ouvia vozes. Ouvia sons metálicos. Ele começou a descer novamente, porém, um passo em falso o fez rolar degraus abaixo, caindo inconsciente no fim da escadaria.

Vic se assustou quando viu Emerson parado e desacordado na porta. Ela pensou em gritar.

O apoio da bicicleta cedeu um pouco, logo depois ficando completamente desajustada. A bike caiu derrubando um pote cheio de bolinhas de gude que estavam em cima de uma mesinha.

Vic assustou-se com o barulho e virou-se, deu um passo pra frente justamente para pisar nas bolinhas que rolavam pelo chão. Ela caiu e rolou pra debaixo da porta da garagem. Ela virou-se e fitou a porta segurada pela madeira. Ela olhou pra mesinha no fundo da garagem. Uma bola de titânio rolava de lá. Ela percebeu. E se levantou, quando a bola arrancou a madeira que segurava a porta. E a porta arrancou a cabeça de Vic com voracidade, espalhando sangue pelo chão.

Enquanto isso, seu pai dormia, tranquilamente.


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Notas finais do capítulo

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