'Til We Die escrita por Mrs Jones


Capítulo 11
Pânico em Indianapolis


Notas iniciais do capítulo

Gentem, primeiro capítulo do ano! Êêêê! Queria ter postado antes, mas acabou que não deu. Bom, só quero desejar a todas um ano cheio de realizações.Tenho que agradecer por tudo o que fizeram por mim no ano que passou. Vocês devem pensar que um comentário não vale nada, nem um favorito ou recomendação. Mas vocês não têm ideia do quanto me fazem feliz com todo o carinho e apoio. Amo cada uma de vocês e sabem disso. Obrigada pelo apoio em 2014. Espero que continuem me acompanhando durante esse ano, porque pretendo postar muitas fics novas kkkkk Em breve, terão uma nova fic pra acompanhar, aguardem...
Quanto ao capítulo anterior, muito obrigada pelos comentários, fiquei feliz por ter lhes proporcionado umas risadas. Não sei se esse ficou tão bom quanto o outro, mas amei escrevê-lo. Aproveitem, porque tem beijo no final kkkk Ah, e sei que estão loucas pra que eles fiquem juntos logo, mas tenham um pouquinho de paciência. Falta pouco, muito pouco. Talvez até o capítulo 13 eles já tenham assumido os sentimentos. Enfim. Aproveitem a leitura! Mil beijos e até a próxima!



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Acordei com os gritos de Dean e Killian, que mais uma vez discutiam. Seja lá o que esses dois tivessem um contra o outro, estava passando dos limites. Saí do carro batendo a porta. Bobby e Sam tentavam controlar a situação, enquanto Zoe fazia cara de indiferença e comia algo que identifiquei como sorvete.

– O que foi agora? – perguntei, mas os gritos eram altos demais para que conseguissem me escutar.

– Estão brigando pra ver quem vai destruir a árvore do Vanir – informou Zoe, vindo para meu lado e me oferecendo uma colherada – Quer? É sorvete de limão com geléia de menta e hortelã.

– Não, obrigada. – Como ela consegue comer com toda essa confusão? – Acho que vou tomar um ar. Já estou cansada desses dois.

– Espere por mim!

Saímos do galpão empoeirado e respirei aliviada quando fiquei longe do cheiro de mofo. Estávamos numa área do vilarejo em que não havia casas nem comércio, apenas plantações. Talvez aquele lugar tivesse sido construído justamente para esconder os pertences dos casais mortos pelo Vanir, o que tornava tudo aquilo ainda mais desumano. Como os moradores eram capazes de fazer uma coisa dessas?

– E então, qual é a de vocês? – Zoe perguntou, parando sob uma árvore.

– Como?

– Você e o bonitão. Ele não é realmente seu namorado, né?

– Não...

– É, achei que não. Vocês dois não fazem o tipo “casal apaixonado”, mas com certeza tem algo rolando. – ela tomou mais uma colherada do sorvete e me encarou com um sobrancelha arqueada –Não tem?

Soltei uma risadinha sem graça e devo ter ficado roxa de vergonha, porque ela também riu.

– Com certeza tem – disse – Acho que ele gosta de você. Não. Pensando bem... gostar não é a palavra adequada. Acho que ele está apaixonado...

– Bobagem! – balancei no lugar, desconfortável – Somos apenas amigos. Na verdade, ele é meu patrão.

Contei a história de como Killian me salvou e me transformou em sua assistente e notei que Zoe sorriu marota quando terminei a narrativa.

– Vocês moram juntos e nunca tiveram nenhum envolvimento romântico? – ela jogou fora o pote de sorvete – Duvido! Aposto como já pegou o bonitão.

Devo ter feito cara de culpada, porque ela gargalhou, me deixando ainda mais constrangida.

– Conta tudo!

– Foi só um beijo... – chutava as pedrinhas no chão para evitar olhá-la. – E não era o Killian de verdade, era um metamorfo.

– Hum... – ela cruzou os braços, me analisava – Está mentindo! Mas tudo bem, não precisa me contar.

Ficamos em silêncio. Killian e Dean ainda brigavam por bobagem e revirei os olhos, impaciente. A essa altura, já poderiam ter destruído a árvore, enquanto as pessoas de Burkittsville ainda dormiam.

– Ei, o Castiel é mesmo um anjo? – indaguei, curiosa. Sempre acreditei em anjos da guarda, mas nunca pensei que pudessem andar entre os humanos.

– Ai, é sim! – ela abriu um sorriso e soltou um suspiro que parecia de gente apaixonada – Ele não é um fofo? Meu anjinho...

– E por que vocês têm um anjo?

– Nós não, o Dean tem. O Cass tirou ele do inferno e, desde então, nos ajuda vez ou outra.

– O Dean já esteve no inferno?! – arregalei os olhos.

– Uma looonga história, não vai querer saber. Ele fez um pacto com O-Lá-De-Baixo e então ficou no inferno por uns tempos, mas aí meu anjinho o arrancou de lá. O Cass é muito poderoso! Ai, ai...

Ela com certeza devia sentir algo pelo anjo. Não cheguei a comentar nada, porque nesse momento Dean saiu porta afora, parecendo muito irritado. Suas narinas estavam dilatadas e ele apertava os punhos, além de estar com os músculos da face rígidos.

– Ei, não tem olhos na cara? – Zoe xingou, quando ele quase a derrubou ao passar por ela.

Em resposta, Dean a jogou contra a parede de madeira do galpão e os dois começaram a se agarrar. Eu quase desejei que ele fizesse o mesmo comigo, mas tive a decência de me afastar para dar um pouco de privacidade a eles. Que jeito estranho de descontar a raiva em alguém...

No galpão, Sam e Bobby arrumavam as coisas de que precisavam para queimar a árvore. Killian estava recostado ao carro, bebendo uma cerveja. Ele só bebia quando estava muito irritado e o que quer que Dean tivesse feito, fora o suficiente para deixá-lo pegando fogo.

– Vem, vamos embora – ele disse, quando me aproximei – Eles vão cuidar da árvore.

– Tá bem, patrão. Acho que você me deve uma visita ao zoológico.

Ele riu e sorveu mais cerveja.

– Você levou aquilo a sério? Eu estava brincando.

– Ah, mas você vai me levar! – cruzei os braços e fiz biquinho – Não volto pra Seattle sem minha visita à Indianapolis.

All right! – ele concordou, em seu sotaque sexy e irlandês - Precisamos mesmo relaxar, depois de ontem à noite.

Nos despedimos de Bobby e Sam, que nos asseguraram que ficariam bem e que não precisavam de ajuda com a árvore.

– Se a coisa ficar preta, chamamos o Castiel – falou Bobby, apertando minha mão e dando palmadinhas nas costas de Gancho – Fiquem longe de encrencas, crianças.

– Você também, vovô!

Bobby mostrou a Killian o dedo do meio, nos fazendo rir. Entramos no Impala, partindo em seguida. Ainda tivemos tempo de ver Zoe e Dean quando saímos em direção à estrada. Zoe estava toda descabelada e Dean parecia ter colocado toda a raiva para fora, tanto que até acenou para nós.

– Qual seu problema com o Dean? – perguntei, olhando o retrovisor e vendo o loiro e a ruiva ficarem para trás.

– Não vou com a cara dele, nem ele com a minha.

– Hum... Tem mais coisa nisso aí... Você não costuma ser tão briguento.

Ele não disse nada, nem precisava. Sabia que essa briguinha deles só podia ser coisa boba. Mas, devo dizer, eu mesma estava com raiva do Winchester mais velho. Na noite anterior ele atrapalhara nosso beijo de propósito e ainda saíra rindo, depois de Killian fazer cara feia. Depois daquela interrupção, claro, não houvera mais clima para beijo. Fiquei só na vontade...

– Já que é minha co-piloto, poderia escolher uma música boa? – ele pediu e assenti.

Procurei por algo de que gostasse entre os CDs antigos que ele guardava no porta-luvas e encontrei o de uma banda antiga chamada 3 Doors Down. Amava aquela banda desde a infância. Coloquei o CD pra rodar, enquanto deixávamos para trás Burkittsville, seus moradores loucos e as lembranças de uma noite aterrorizante. Estremeci ao pensar no espantalho e agradeci por ainda estar viva pra contar história.

– Como você consegue esquecer essas coisas? – perguntei a Gancho, que me olhou sem entender – As coisas assustadoras que caça. Elas não te atormentam nos pesadelos?

– Às vezes. Não dá pra esquecer coisas assim, Ruby, ficam gravadas na sua mente. A única coisa que pode fazer é pensar que ainda está viva. Sobrevivemos a um espantalho, fim da história. Jamais esqueceremos essa noite, mas somos capazes de superá-la.

Assenti. Ele estava mais do que certo. Eu não superara as coisas terríveis que me aconteceram. Não completamente. Mas eu não pensava naquelas coisas o tempo todo. Meus pais, e Peter, e o lobisomem, e o metamorfo, e agora aquele espantalho. Talvez eu nunca superasse, mas enquanto fosse capaz de ter pensamentos bons, essas coisas não me assombrariam. E não me assombravam mais desde que aprendera a controlar meu medo. Bem, parte dele, porque vez ou outra eu ainda entrava em pânico.

A voz do vocalista Brad Arnold preenchia o carro e Killian cantarolava as músicas, que conhecia de cor e salteado. Em determinado momento, Every Time You Go começou a tocar e me dei conta de que descrevia perfeitamente a forma como me sentia toda vez que Killian saía de casa.

I savor every minute that you're here (Eu aproveito cada minuto que você está aqui)

That you're here with me (Que você está aqui comigo)

Close my eyes and remember every breath, every memory (Fecho meus olhos e lembro de cada suspiro, cada memória)

Through all these sleepless nights alone, I still feel you (Passando por todas essas noites insones sozinho, eu ainda te sinto)

Across these miles away from home that I'll never get used to (Tantas milhas assim de casa, as quais nunca irei me acostumar).

Ele percebeu isso também, pois sorriu de lado perguntando:

– Você se sente assim quando eu não estou em casa?

– Claro que não. Não sou tão apegada a você, mal percebo que não está em casa – menti.

Every time you go (Toda vez que você vai)

You take a part of me (Você leva uma parte de mim)

A part of me with you (Uma parte de mim com você)

Every time you go (Toda vez que você vai)

I feel it in my soul (Eu sinto na minha alma).

– Não acredito em você – disse ele – Sinto sua falta quando vou embora, sei que também sente minha falta.

– Claro que sinto sua falta, mas não a ponto de sair chorando pelos cantos – mais uma mentira. Uma vez eu chorara, de tão sozinha que estava me sentindo.

Ele apenas fez cara de quem duvidava, então sorriu e começou a cantar. Ouvi-lo cantar com tanto fervor só me dava certeza de que todos estavam certos quando diziam que Killian estava apaixonado. Aquilo ficou claro pra mim quando o ouvi cantar aquele refrão.

I count the days until you're back again, back here by my side (Eu conto os dias até você voltar novamente, voltar aqui pro meu lado)/When you're apart it feels like, something in me, something in me dies (Quando você está longe parece que algo em mim, algo em mim morre)/I hear your voice over the phone and God I miss you (Ouço sua voz no telefone e Deus como sinto sua falta)/Still all these miles away from home that I'll never get used to (Ainda a tantas milhas de casa, as quais nunca vou me acostumar).

– Você gosta mesmo de cantar, não é? – sorri, divertida. Aquilo soara como uma declaração de amor e sentia-me estranhamente feliz por saber que ele também se sentia terrivelmente mal quando eu não estava por perto – Devia se inscrever no The Voice.

– Ah não... minha voz é boa demais para um programinha qualquer de TV. Prefiro continuar com meus shows no chuveiro.

Ri e balancei a cabeça, ele sempre ia ser esse cara metido e engraçado. Pelo menos era o que eu esperava.

Killian dirigiu por cerca de duas horas até Indianapolis, a capital do estado. Nunca estivera lá, mas sabia que havia muito para se ver. Pouco antes de adentrarmos a cidade, Gancho parou para abastecer e aproveitei para comprar um lanche na loja de conveniências do posto de gasolina. Não comera nada desde nossa refeição na delegacia e estava faminta, além de precisar muito de um banho.

– A gente para num hotel qualquer pra trocar de roupa – falou Killian, que viera escolher umas batatas chips – Sei que vai querer se arrumar como princesa antes de ir para o zoológico.

– Eu não me arrumo como princesa – falei e ele me encarou com uma sobrancelha arqueada, coisa que o tornava ainda mais sexy – Tá bem, às vezes. Mas sabe que estou animada? Faz tempo que não vou a um zoológico.

– Eu também! – ele apanhou umas latas de refrigerantes no refrigerador – Lembro da última vez que fui. Milah tomou meu balão da Dora Aventureira e quase saímos no tapa por causa disso.

Tive uma pequena crise de risos ao imaginar Killian, metido como era, andando pra lá e pra cá com um balão de Dora Aventureira.

– Não ria, eu só tinha seis anos... E gostava da Dora Aventureira.

– Que gay! Faz tanto tempo assim que não vai ao zoológico? Da última vez eu fui com Peter e ele me comprou um algodão-doce gigante. – pensar em Peter me deixava triste, mas logo afastei esses pensamentos – Sabe o que podíamos fazer qualquer dia desses? Ir ao parque de diversões.

– Como quiser. Faz tempo que não vou a um parque de diversões. Da última vez roubaram minha mochilinha do Barney.

Dessa vez não consegui me conter e gargalhei alto. O rapaz do caixa me olhou como se fosse louca e Killian apenas continuou a pegar coisas das prateleiras, ele mesmo lutando para não rir. A imagem de um garotinho de cabelos pretos bagunçados e olhos azuis marejados me veio à cabeça. Aposto como ele ficara desesperado por perder a amada mochila.

– Não tem graça, eu adorava aquela mochila – ele apanhou uma caixa de Toblerone, enquanto eu enxugava as lágrimas de riso. – É tão difícil me imaginar como uma criança normal? Aposto como você brincava de Barbie.

– Brincava mesmo – dei de ombros – Mas daí a usar uma mochilinha do Barney e andar com um balão da Dora... – tive outra crise de risos. Só Killian pra me fazer rir.

Recobrei minha seriedade e fomos pagar as compras. O rapaz do caixa nos cumprimentou e, enquanto passava os produtos pelo leitor de códigos de barra, começou a bater papo com um cara que acabara de entrar na loja.

– E aí, já voltou a trabalhar?

– Já, cara – respondeu o outro, vasculhando as prateleiras. Usava o uniforme do zoológico – Não sei pra quê foram reabrir aquela porra de lugar. As pessoas ainda tão revoltadas com o que aconteceu.

– Bem, foi um acidente, não foi? Pelo menos foi o que o noticiário disse. – o caixa deu uma olhada no monitor e se voltou para nós – São vinte dólares e cinquenta e sete centavos.

– Acidente – riu o cara do zoológico – Aposto como a porra do tratador largou a jaula aberta...

Killian e eu nos entreolhamos e Killian se intrometeu na conversa.

– Desculpe, mas de que acidente estão falando? Minha namorada e eu pretendemos ir a este zoológico.

– Ah, cês não souberam? – o cara do zoológico – um loiro de cabelos compridos e expressão desagradável – veio até o caixa, depositando suas compras na esteira. – Mês passado duas zebras fugiram e atropelaram uns visitantes. Disseram que a tranca da jaula tava danificada. Saiu em todos os noticiários.

– Bem, não há nenhum risco de acontecer de novo né?

O rapaz apenas deu de ombros. Ele devia odiar aquele trabalho, porque foi embora reclamando e dizendo que preferia esfregar sanitários com uma escova de dente a ter que trabalhar “naquela merda de lugar”.

De volta à estrada, adentramos Indianapolis. Avistamos alguns pontos turísticos, como o Museu de Arte e o Museu das Crianças, que se destacavam em meio às construções acinzentadas ao longo das avenidas.

Gancho encontrou um hotelzinho próximo ao zoológico e demos entrada no mesmo. Tomei um glorioso banho de banheira, dessa vez me certificando de trancar a porta do banheiro, e Gancho reclamava por eu demorar tanto. Como Killian imaginara, me arrumei como princesa, enquanto ele vestiu a primeira roupa que encontrou pela frente.

– Devo dizer, você está linda – disse ele, sorrindo ao me ver colocar um laço vermelho nos cabelos – Quero dizer, você sempre está bonita, mas hoje está mais linda do que de costume.

Sorri. Ele também estava mais lindo do que de costume, talvez pelo fato de seus cabelos estarem tão bagunçados. Ele usava camisa pólo, calças jeans e um velho par de tênis. Era tão absurdamente lindo que poderia usar um saco de papel como vestuário e ainda continuaria atraente.

– Você também está bonito, mas isso você já sabe – disse, encarando-o pelo espelho do banheiro, no qual ele entrara para me apressar.

– Claro, sou sempre lindo. – e lá estava o sorriso convencido. Ele se recostara ao batente da porta e agora me olhava com a cabeça caída de lado (já mencionei o quanto amava vê-lo daquele jeito?) – Vamos? Ou será que precisa de ajuda para se arrumar?

– Não, eu já acabei. Sabe, fiquei pensando no que o cara do zoológico disse. Será que é seguro vermos as zebras?

Apanhei minha bolsa sobre a cama e Gancho riu.

– Se elas ainda tiverem lá... Depois do tal acidente, é de se esperar que tenham sido colocadas de castigo.

– Bobo!

Meu patrão andava muito bem humorado. Eu até me esquecia de que ele podia ser durão e arrogante às vezes. Caminhamos até o zoológico, que ficava a poucas quadras dali, e me surpreendi quando Gancho entrelaçou uma mão à minha. Agora parecíamos um casal apaixonado.

– Eu não sei nada sobre sua infância – falei, enquanto desviávamos dos pedestres que vinham do lado oposto.

– Não há muito que contar – respondeu ele – Minha infância foi muito normal. Meu pai nunca foi muito presente, estava sempre trabalhando. Nossa mãe era a que mais se esforçava, e às vezes os dois discutiam depois que íamos dormir, achando que não iríamos escutar. Aí minha irmã chorava baixinho, temendo que eles se divorciassem, e então Liam e eu íamos ao quarto dela para tranqüilizá-la. Nosso pai nunca se importou muito conosco. Quando ele nos levava para passear, era porque minha mãe o pressionava. Nessas horas ficávamos radiantes de felicidade, era o único momento que passávamos com ele.

Ouvi-lo falar da família sempre me deixava triste. E pensar que o pai dele ainda estava por aí, nem se importando com os filhos.

– Mas fora isso, tudo foi sempre muito normal. Eu era feliz, bem mais feliz do que sou hoje. Você sabe, depois de tanta dor e sofrimento, é meio difícil encontrar felicidade, mesmo que nas pequenas coisas. Agradeço a Deus por ter você. Sempre me faz sorrir.

Sorrimos um para o outro e Killian passou a mão por minha cintura quando atravessamos numa faixa de pedestres. Ele realmente gostava de mim, ou não estaria me levando num passeio ao zoológico.

Quando finalmente chegamos à entrada do mesmo, Gancho pagou os ingressos e parou na loja de presentes, onde – em meio a tantos bichos de pelúcia – encontrei um pinguinzinho muito fofo, que Killian me deu de presente. Ele também comprou um relógio de bolso pra guardar de lembrança.

Seguindo o mapa do zoológico, resolvemos visitar a exibição de animais da floresta primeiro, já que resolvêramos deixar a exibição do oceano – que era ali perto – por último, pois o show dos golfinhos só aconteceria mais tarde. Passamos por vendedores ambulantes e ri com a animação de Killian ao comprar algodão-doce.

– Você faz ideia do quanto eu amo algodão-doce? – dizia ele – Eu não como isso há anos... Olha o tigre!

Nesse momento, adentrávamos o pavilhão de observação, no qual as pessoas podiam ver os animais mais de perto, por trás de um vidro. O tigre estava com a pata grudada ao vidro, encarando as crianças que soltavam gritinhos e risinhos de animação. Nunca vira um animal selvagem tão de perto e confesso, ficara com um pouco de medo. Era como se o vidro fosse quebrar a qualquer momento. Felizmente, um dos biólogos do zoológico explicava aos visitantes que os vidros eram blindados e quase impossíveis de serem quebrados.

– Awwww, Killian! Eu quero um tigre – brinquei, quando filhotinhos fofos vieram até o vidro e ficaram nos olhando.

– Uhum, vou acrescentar à minha lista de Natal desse ano – riu ele, batendo uma foto nossa com os tigres ao fundo.

Vimos orangotangos e lêmures, que pulavam de um lado para outro em suas jaulas; a águia-americana, símbolo nacional dos Estados Unidos; e os ursos-pardos, que cochilavam preguiçosamente. Também havia morcegos, que se penduravam de cabeça para baixo por trás do vidro. Killian, claro, não deixou de fazer piada.

– É o Batman! – falou, apontando um morcego mais afastado dos outros – Veio se camuflar entre os outros, enquanto tira um sonequinha.

– Desde quando o Batman vira morcego? – achei graça.

– Ele não vira?

– Não, claro que não! Ele nem tem poderes, só equipamentos de ultima geração.

– Ele não tem poderes? É por isso que todos gostam do Homem-Aranha!

Killian era uma piada. Já nos afastávamos em direção à exibição de pássaros, quando nos voltamos ao perceber uma agitação na jaula dos morcegos. Voavam pelo pequeno espaço, como se estivessem loucos para sair dali, e se chocavam com força ao vidro. Todos eles emitiam pequenos guinchos, como se fossem um coral, o que tornou toda a cena muito angustiante. Os visitantes pareciam assustados, assim como eu. Tentavam entender o que estava acontecendo, mas nem os biólogos e tratadores, que estavam por perto, pareciam saber. Logo, porém, a agitação passou e, como se nada tivesse acontecido, todos se aquietaram e voltaram a se pendurar de cabeça para baixo.

– Isso foi estranho! – comentou Gancho, antes de me puxar para fora – Você está bem?

– Não... – eu estava assustada sem saber por que – Morcegos não costumam se agitar tanto, costumam? Pareciam meio irritados...

– Devem estar estressados. Eu não gostaria de ficar o dia todo naquele cubículo.

Pausa para usar os sanitários e comer um cachorro quente. Sentamos num banco sob uma árvore e Killian desatou a falar, muitíssimo animado. Ele estava agindo como uma criança feliz e pus-me a imaginar como ele teria sido na infância.

– Hum, acho que não nos daríamos bem se tivéssemos nos conhecido quando crianças – disse ele, sugando refri pelo canudinho – Eu sempre fui briguento e odiava garotas.

– Você odiava garotas? Não acredito!

– Eu nem sempre fui mulherengo – ele riu – Talvez até gostasse de você, mas, provavelmente, infernizaria sua vida.

– Você seria capaz de uma coisa dessas? – fiz biquinho – Eu era uma criança fofa, você não ia querer me atormentar.

– Claro que ia, eu era terrível! Perdi a conta de quantas vezes chamaram minha mãe na escola. Eu até coloquei cola no cabelo de umas meninas. Sem mencionar a vez em que soltei uma barata na sala, ou a vez em que coloquei minhocas na mochila de uma garota metida, ou a vez em que soltei uma bomba de fedor na sala dos professores.

– Meu Deus, Killian, como você era atentado! Não acredito nisso!

– Você não sabe metade das coisas que eu já fiz na vida. – ele riu, jogando fora as embalagens vazias de seu lanche.

Tomei coragem para perguntar uma coisa que estava louca para saber.

– Quantas namoradas já teve?

– Ih, muitas pra contar. Brincadeira! Surpreendentemente, só tive três. A primeira foi Aurora, que foi a garota metida em cuja mochila coloquei as minhocas. Nós até que combinávamos sabe, eu sempre fui convencido, admito. Éramos populares no colegial e até ganhamos o prêmio de Rei e Rainha do Baile.

– Por que terminaram?

– Ela me deu um pé na bunda. Se apaixonou por um tal de Phillip e me largou pra escanteio. Aí conheci Ariel, minha segunda namorada. Ela era uma ruiva bem gostosa – ele riu quando fiz cara de quem não estava gostando daquilo – Oh, não se preocupe, você é mais gostosa do que ela.

– Killian! – bati nele com meu pingüim de pelúcia (embora tivesse gostado do elogio).

– Ai! Foi um elogio. Mas como eu ia dizendo, ela era uma ruiva gostosa, simplesmente espetacular. Infelizmente, Gold e Milah me obrigaram a terminar com ela, depois que comecei a vida nas caçadas. Eu não podia contar a ela a verdade, então sempre inventava milhões de mentiras quando me atrasava para nossos encontros. Não era justo fazer isso com ela, aí resolvi terminar logo.

– E a terceira?

– A terceira foi Elsa.

– Elsa de Frozen? – brinquei.

– Hum, quem me dera! A Elsa que eu namorei estava longe de ser uma princesa fofinha. Ela é caçadora também. Nem sei por onde anda aquela mulher.

– Como se conheceram? – não sabia por que estava tão curiosa pra saber detalhes de sua vida amorosa. As perguntas simplesmente saíam de minha boca.

– Eu salvei a vida dela e da irmã durante uma caçada e ela me deu um beijo como agradecimento. Depois disso começamos a nos ver com freqüência, até que começamos a namorar. Mas ela sempre foi muito ciumenta. Pra falar a verdade, nem sei se aquilo era mulher. Ela agia como homem às vezes, precisava ver como ela me espancava.

Gargalhei ao imaginar Gancho apanhando de uma mulher.

Fomos ver a exibição de pássaros e foi minha vez de agir como criança feliz. Aquela era uma área interativa, na qual podíamos alimentar alguns pássaros e ver os flamingos bem de perto. Percebi que Killian me filmava e ralhei com ele, que apenas ria e narrava para a câmera:

– ... e aqui estamos com minha assistente, a senhorita Ruby Lucas. Diz “oi” Ruby-Loob!

– Killian, para com isso! – tentei esconder o rosto.

– Oh, ela está um tanto tímida. Como podem ver, está alimentando uns periquitos.

– Isso não é um periquito! – falei, com um pássaro colorido sobre meu dedo indicador.

– E o que é então?

– Eu não sei!

Gargalhamos. Gancho estava a fim de me irritar.

– Ela é meio desinformada, não liguem! Você não viu a placa, Ruby-Loob? É um Lório arco-íris. – ele filmou a placa e apenas ri.

– Obrigada por me informar! Oh, ele é tão fofinho! Você bem podia me dar um desses, Killian.

– O que diabos vai fazer com um passarinho? Um cachorro seria mais útil.

– Ótimo, então quero um cachorro!

– Certo, vai ganhar como presente de aniversário.

Achei que ele estava brincando quando disse que ia me dar um cachorro, mas mais tarde, aquilo acabou mesmo acontecendo. Fomos ver os outros pássaros, que ficavam presos por serem aves de maior porte, até que chegamos aos flamingos, que ficavam soltos para interação. Logo me apaixonei pelos bichinhos, que além de serem engraçados, eram muito dóceis.

– Agora é minha vez de filmar! – tomei a câmera das mãos de Killian, apontando a lente para ele – Diga “oi”!

– Ooooi! – ele acenou, no meio de uma turma de aves cor-de-rosa – Quem vos fala é o lindo, charmoso, encantador e extremamente sexy Killian Jones. – sorriu convencido – Isso aí, Ruby-Loob, filme bastante, preciso mostrar ao mundo o quanto sou lindo.

– E convencido!

– Ei, você não quer um flamingo? – ele brincava com os bichinhos, que o cercaram de todos os lados – Talvez possamos roubar um desses depois que os funcionários ficarem distraídos.

– Até parece! Onde é que iríamos esconder um bicho desse tamanho?

– Na sua bolsa! Tem de tudo aí dentro!

– Como sabe? Você andou bisbilhotando minha bolsa? – pus uma mão na cintura e ele fez cara de inocente.

– Ah, bem, é que eu estava curioso pra saber o que carrega aí dentro. Não se preocupe, não roubei nada. Ai! Essa coisa acabou de me bicar!

De fato, Killian levara uma bicada na orelha, o que fora hilário. Gargalhei ao ver a cena, enquanto ele se pôs a reclamar da dor. Por sorte, a bicada não chegara a arrancar sangue, mas fora o suficiente para deixar Gancho revoltado. Talvez os flamingos não fossem tão dóceis assim.

– Tem algo estranho acontecendo – falei, quando os bichos começaram a ficar agitados.

Bateram as asas com força e começaram a atacar as outras pessoas com bicadas. Foi uma gritaria sem fim. Os tratadores tentavam acalmar os bichos e, como acontecera com os morcegos, depois de uns segundos os flamingos aquietaram, como se nada tivesse acontecido. Algo de muito estranho estava acontecendo naquele zoológico.

– Minha orelha está doendo! – Gancho reclamava, sem nem se importar com o que acabara de acontecer – Esses bichos não foram feitos para contato humano.

– Killian, tem algo de muito estranho aqui – desliguei a câmera – Não percebe? Alguma coisa está deixando os animais estressados.

– O que quer dizer? Acha que tem algo de sobrenatural aqui?

– Acho!

– Animais ficam estressados, é normal!

– Não, não é isso, é outra coisa... Você não está sentindo? Tem alguma coisa muito ruim por aqui.

Ele me olhou como se fosse louca. É, talvez eu estivesse louca, mas era capaz de sentir uma aura negra no local. Não sabia como era capaz de sentir aquilo, mas era como se detectasse a presença de algo terrivelmente ruim.

– Não se preocupe, não deve ser nada. – foi tudo o que ele disse, antes de se afastar.

***

Não havia apenas animais por ali, mas outras opções de entretenimento, como um cinema 4-D, um carrossel e uma pequena montanha-russa. Killian e eu parecíamos crianças. Tivemos a cara de pau de andar de carrossel, cada um com um sorvete de casquinha, e Gancho ainda filmara tudo. Ríamos feito idiotas, mas estávamos realmente nos divertindo. A montanha-russa não fora algo tão eletrizante, embora as criancinhas gritassem a cada descida radical, e Killian dizia que qualquer dia desses teríamos de ir a um parque de diversões de verdade.

Fomos ver os animais africanos, começando com os javalis. É claro, Killian fez piada, dizendo que aqueles eram parentes do Pumba, de O Rei Leão. Havia elefantes, hienas e chitas. Plataformas elevadas facilitavam a vista. Gancho filmava tudo, dizendo que devia registrar o momento, e eu apenas fazia comentários aleatórios. Um leão rugiu ali perto e todos correram para ver. Mesmo estando atrás de um vidro, tive medo de me aproximar do bichano, que rugia para os visitantes. Fiquei pensando no que haviam dito sobre o vidro ser blindado. Até parecia que havia uma rachadura lá no canto... mas devia ser coisa da minha cabeça.

– Vem, é hora do show dos golfinhos! – Killian me puxava pelo braço, como uma criança impaciente que puxa os pais.

– Mas ainda não vimos os animais de deserto...

– Podemos fazer isso depois.

Eu ainda queria dar uma volta no trenzinho, mas teria de deixar aquilo para depois. Alcançamos o pavilhão do oceano e entramos por uma porta automática. Crianças animadas passaram por nós fazendo comentários e Killian comprou ingressos para o show dos golfinhos, que teria início dali a meia hora. Aproveitamos para ver os outros animais enquanto isso.

– Hum, isso vai ser interessante – comentei, quando avistamos os enormes aquários.

Havia peixes de tudo quanto é tipo e cor. Os aquários imitavam o habitat natural dos mesmos, de forma que havia rochas, algas e até corais. Avistei um peixe-palhaço e, quando o mostrei a Killian, ele ficou super animado, dizendo que aquele era o Nemo. Logo descobri que, apesar de já ser um marmanjo, Gancho era um grande fã de Procurando Nemo.

– Olha, olha, olha! É a Dory! – ele vibrou, apontando para um peixe cirurgião-patela, que nadava perto do vidro. Assim como a Dory do filme, era de cor azul, com uma espécie de símbolo preto no dorso e nadadeiras e cauda de cor amarela. – Oi, eu sou a Dory! – disse, imitando voz de mulher.

– Ah meu Deus, não vá me dizer que decorou as falas do filme – ri, filmando a cena. De fato, Gancho sabia todas as falas de Dory e começou a agir como um retardado, repetindo-as.

– P. Sherman, 42 Wallaby Way, Sidney. Ei, Ruby-Loob, quando a vida decepciona, qual é a solução?

– Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar, nadar, nadar – cantamos juntos, rindo feito bobos.

Dali vimos morsas, leões e cavalos marinhos, além de pingüins fofos, que nadavam sob uma plataforma de vidro na qual tive medo de pisar. Gancho, claro, me obrigou a pisar no vidro, dizendo que eu era uma boba e que aquela coisa era forte demais para quebrar. Tiramos milhões de fotos e chegamos a deitar no chão para conseguir uma imagem dos pingüins ao fundo.

Passamos por mais uma área interativa, que era uma piscina na qual tubarões japoneses nadavam. Eles eram pequenos e inofensivos, de modo que os visitantes podiam tocar neles sem acabar machucados. Não quis mexer com os bichos, no entanto, não depois do que vira os flamingos e morcegos estressados fazerem.

– Que medrosa! – riu Gancho, segurando a cauda de um dos tubarões, que nadou para longe. – Não permitiram que tocássemos nos bichos se representassem perigo.

Dali a pouco passamos pela jaula dos ursos polares e fiquei louca quando os filhotinhos vieram até o vidro, curiosos. Havia dois ursos adultos: um dormindo e o outro nadando em sua piscina gelada. Imaginei como seria abraçar um daqueles e Killian tratou de me tirar dali antes que nos atrasássemos para o show.

Ainda tivemos tempo de ver o aquário dos golfinhos, entrando por um túnel sob a piscina na qual eles nadavam. Foi a coisa mais linda que já vi na vida! Estávamos cercados por água, separados dos mamíferos apenas pelos vidros grossos. A água tinha um tom azul tão bonito que quis ficar ali pra sempre.

Por fim, visitamos o aquário da orca, que nadava tranquilamente e parecia sorrir para os turistas. Killian resolveu me envergonhar quando começou a falar baleiês.

Procurando Neeeemo... onde é que ele tááááá... quero saber como chega lááááá....

– Killian, tem gente olhando – revirei os olhos, constrangida pelos olhares das pessoas.

E ele só rindo... Esse é o momento em que sentimos vergonha alheia pelas idiotices das pessoas...

Nos encaminhamos para o show dos golfinhos e adentramos o imenso teatro – não sei se teatro é a definição correta para o lugar, mas era o que parecia – na qual o show aconteceria. Por sorte, encontramos uma fileira de lugares bem na frente, com vista privilegiada. Me atentei aos detalhes, enquanto o lugar ia lotando aos poucos.

O teatro era um espaço enorme e arredondado, com paredes bem altas e um teto escuro cheio de luzes grandes – daquelas usadas em palcos. No centro ficava o aquário dos golfinhos, que agora podíamos ver de outro ângulo. Parecia-se com uma piscina gigantesca, envolta por armações de vidro para segurança dos turistas. Havia cinco ou seis golfinhos por ali, mas estavam fora de vista, provavelmente por estarem se exibindo para as pessoas que visitavam o túnel sob a piscina. A parede do fundo era um cenário pintado que ambientava uma floresta. Também havia pequenas construções, casas de madeira que pareciam reais, mas que deviam servir apenas como parte do show.

Gancho nos comprou pipoca (adorava ter alguém que pagasse as coisas pra mim), enquanto treinadores vestindo maiôs de surfista se preparavam para o show.

– Oi! – alguém se sentou ao meu lado e me surpreendi ao ver Zoe – Você nem se despediu de mim aquela hora!

– Você e o Dean estavam tão ocupados que não quis interromper... – sorri marota – Que está fazendo aqui?

– Aqueles dois vieram também? – perguntou Gancho, amarrando a cara ao avistar os Winchesters, que se sentaram do outro lado de Zoe.

– Tio Bobby disse que vieram pra cá, então convenci o Dean a nos trazer até aqui. – informou ela, fazendo barulho ao mastigar pipoca – No caminho descobrimos uma história bizarra de zebras atropelando as pessoas. Viemos investigar e presenciamos umas girafas estressadas, que tentaram dar cabeçadas em nós... Sem falar nos lêmures irritados, que quase mataram uns aos outros. Eu não sei vocês, mas estou achando que é um dos nossos casos.

Lancei a Gancho um olhar “Acredita em mim agora?” e ele amarrou a cara ainda mais.

– Esse caso é nosso, chegamos primeiro! – resmungou.

– Chegamos em segundo – retrucou Dean, como se tivesse alguma importância.

– Olha só, é melhor não brigarem aqui e agora – Sam interferiu, antes que começassem a discutir – Temos muito que fazer. Precisamos descobrir o que tá acontecendo aqui. Relaxa tá, Dean?

Os dois ficaram quietos, mas ainda se encaravam com ódio. Gancho suspirou e apoiou a cabeça em meu ombro, ligando a câmera em seguida.

– Ah Killian, de novo? – reclamei.

– Eu quero fazer um vlog – ele brincou – Como se sente, Ruby-Loob?

– Faminta! Essa pipoca está murcha...

Ele gargalhou.

– Uma fato sobre a Ruby-Loob: ela está sempre faminta. – roubou uma pipoca do meu saquinho, já que acabara com as suas – Estão murchas mesmo. Quer um cachorro-quente?

– Quero!

– Segure aqui! – me passou a câmera e foi comprar cachorros-quentes na barraquinha ali perto, enquanto Zoe sorria marota e dizia que Killian devia gostar mesmo de mim.

– Bobagem! Ele só está sendo gentil! – falei, filmando tudo que encontrava pelo caminho. Ri ao focar em Gancho, que mandou um beijo para a câmera enquanto esperava pelos hot dogs.

– O Dean não faz essas coisas pra mim, não é Dean? – reclamou Zoe, encarando o loiro, que estava esparramado no assento ao lado de Sam. – O Sammy é o único que se salva nessa família.

Dean mostrou o dedo do meio e rimos com sua cara de mal humor. Talvez ele não quisesse estar ali. Gancho retornou com os cachorros-quentes, dizendo que escutara uma conversa entre o cara do hot dog e um funcionário do zoológico.

– Não foram apenas os flamingos, morcegos, girafas e lêmures – cochichou para nós – Parece que uma cobra atacou um tratador. Tiveram de fechar o pavimento de animais do deserto. E sabem do que mais? É a primeira vez que reabrem o zoo depois do acidente com as zebras.

– Então há algo perturbando os animais – falei, com a câmera ainda ligada – O que pode ser? Um espírito ou algo assim?

– Um espírito – os outros quatro concordaram. Já deviam ter visto algo parecido.

Paramos de falar, porque nesse momento o show começou. Uma mulher ao microfone nos deu as boas vindas, apresentando os treinadores – das quais não me recordo o nome – em seguida. Eram duas mulheres e um homem, que se posicionaram por trás do vidro que separava a piscina das arquibancadas. Dali a pouco os golfinhos começaram a aparecer, chamados pelo som dos apitos que os treinadores carregavam no pescoço, e as pessoas vibravam batendo palmas e fazendo “awwww” a cada vez que um deles guinchava.

A mulher ao microfone dava informações especificas sobre os mamíferos marinhos, as quais não consegui prestar a atenção, pois Zoe e Killian soltavam gritinhos infantis. Os golfinhos saltavam espirrando água e demonstravam um pouco de sua inteligência ao ficar perto do vidro e acenar com as nadadeiras. Os treinadores os instigavam a dar uma volta em torno deles mesmos e os recompensavam com pequenas iscas. A cada salto que davam, gotículas de água caíam na platéia sentada perto do vidro (Gancho guinchava como uma criancinha a cada vez que isso acontecia). Um dos treinadores segurou um aro de metal sobre a piscina e, um a um, os bichinhos pularam por ele.

Foi então que, no meio da apresentação, uma das treinadoras entrou na piscina para interagir com os golfinhos. Enquanto se segurava nas barbatanas dos mesmos e era puxada por eles, um homem surgiu no cenário do fundo, perto de uma das casinhas de madeira. Achei que fosse um dos funcionários, já que usava o uniforme do zoológico, mas estremeci de leve ao perceber do que se tratava. Agarrei o braço de Gancho quando o homem desapareceu e surgiu novamente numa das bordas da piscina, junto ao vidro.

– Eu vi! – Killian exclamou, alarmado.

Cutuquei Zoe discretamente, que nada percebera. Antes que pudesse dizer a ela o que tínhamos acabado de ver, os golfinhos se agitaram lançando água pra todo lado (todos pensaram que aquilo fizesse parte do show) e, na confusão, a treinadora na piscina foi lançada de encontro ao vidro, batendo a cabeça e desmaiando. Gritos preencheram o teatro quando a mulher afundou na água, e, no mesmo momento, os outros treinadores e funcionários do zoológico correram a tirá-la de lá. Os golfinhos continuaram agitados e emitindo guinchos, o que dificultou o resgate da treinadora. Felizmente, ela foi retirada de lá com vida, embora sua cabeça sangrasse na parte de trás.

– Meu Deus... Eu disse a você, Killian, eu disse a você...

– Agora eu acredito – ele respondeu, me encarando com uma expressão assustada – Não sei como percebeu isso antes de mim, Ruby-Loob, mas estava certa... Nunca vi algo tão sobrenatural acontecer num lugar público.

O show terminou antes do esperado. Seguranças nos tocaram de lá, pedindo sinceras desculpas pelo acontecido, e nos juntamos à multidão que se encaminhava para a saída. A treinadora ferida saiu numa maca e depois disso o oceanário foi fechado para perícia. Embora os treinadores e biólogos não soubessem explicar o ocorrido, sabiam que havia algo de errado com aqueles animais. Felizmente, estavam com sorte: iríamos caçar aquele espírito.

– Como é que ninguém viu o espírito? – eu não conseguia entender – Estava lá, bem perto.

– As pessoas não costumam acreditar nessas coisas, só alguns estão aptos a vê-los – explicou Sam, as mãos enfiadas nos bolsos.

– O que exatamente vocês viram? – perguntou Zoe a mim e Killian. Ela e os Winchesters estiveram tão entretidos com a apresentação, que sequer notaram as ações do fantasma.

– Bem, ele simplesmente apareceu perto do vidro e ficou observando o que se passava. Parecia meio zangado, como se não gostasse de estar vendo aquilo. Era um funcionário do zoológico, tenho certeza. – contei a eles.

– Então ele morreu aqui – falou Sam – e deve ter sido recentemente. O acidente com as zebras foi há apenas um mês. Talvez tenha sido o responsável pela abertura da jaula.

Decidimos nos dispersar para procurar informações. A notícia do que acontecera à treinadora se espalhou como folhas ao vento e logo todos comentavam o caso. Saí com Gancho em direção ao prédio da administração do zoológico, onde ele esperava encontrar dados sobre o funcionário morto, e entramos no mesmo discretamente, torcendo pra que ninguém nos visse. Felizmente, todos os funcionários estavam concentrados perto do aquário, o que nos deu tempo de investigar a área.

– A sala de arquivo – Gancho me puxou até uma porta trancada, num corredor branco e sem graça. – Me dá um grampo!

– Você não vai fazer isso! Se alguém nos pegar, estamos ferrados!

– Ruby, não temos tempo para seu discurso de garota honesta.

Retirei um grampo que usara para prender uma mecha vermelha de cabelo e o entreguei a Gancho, culpada por ajudá-lo a cometer uma infração daquelas. Observei enquanto ele enfiava o grampo no buraco da fechadura, remexendo nela com destreza e destrancando a porta.

– Anos de prática! – ele explicou, percebendo meu olhar de admiração. Fechou a porta quando entramos na sala e então abriu a gaveta de um dos arquivos empoeirados.

Fiz o mesmo, encontrando pastas amareladas. Eram os registros dos funcionários do zoológico. Havia fotos deles, além de seus dados pessoais. Gancho só encontrou uma papelada sem utilidade e quando achei a pasta com a foto do fantasma, ele se aproximou para dar uma olhada.

– Michael Tillman... Ele era biólogo e tratador.

– Bem, se ele era biólogo, devia amar os animais, o que não faz sentido. Por que iria querer perturbar os bichos? – indaguei, um tanto confusa. Não era uma especialista em espíritos, mas Killian era, porque explicou:

– Às vezes, espíritos que estão presos no mesmo lugar por muito tempo tendem a ficar agressivos. Ou podem ficar assim se tiverem morrido de maneira trágica. No nosso caso, acredito na segunda possibilidade.

– Então o Michael morreu aqui e de uma forma muito trágica... Alguma hipótese?

– Bem, ele tem cara de tratador de elefantes, não tem? Pode ter sido esmagado.

– Killian, não é hora pra brincadeira – ralhei, mas estava rindo – Eu acho que ele está mais pra tratador de girafas. Mas sabe de uma coisa? Qualquer animal desse zoológico pode ter tendências assassinas, até os ursos polares fofos.

– Bem, suponho que teremos de procurar pela informação completa.

Reviramos os arquivos, mas não havia nada que nos desse uma pista sobre a morte do Michael. Estávamos em meio ao ato de guardar os arquivos de volta nas gavetas, quando a porta da sala se abriu repentinamente.

– Mas que merda é essa aqui? – era o cara loiro que víramos mais cedo na loja de conveniências. Arrastava um carrinho de limpeza, o que explicava seu ódio por aquele emprego. – Que diabos estão fazendo?

– Nós só estávamos...

– Vou chamar o segurança!

– Ah, não vai não! – Gancho o agarrou pelo colarinho com uma força surpreendente, socando-o contra a parede e o segurando pelo pescoço.

– Gancho!

– Calma, cara! Calma, calma... eu vou fingir que não os vi aqui... – o rapaz ficou de olhos arregalados. – Me deixe ir...

– Não sou idiota! Chapeuzinho, cadê a foto do Michael? – entreguei o arquivo com a foto e Killian quase a esfregou no rosto do rapaz – Conheceu ele?

– Conheci...

– Senta aí! – Killian o empurrou para uma cadeira no meio da sala. Fiquei surpresa por ele estar agindo com tanta brutalidade, mas confesso, até que sentira falta de seu lado durão. – Tem duas opções: ou me conta tudo sobre esse cara, ou fica amarrado aqui até te encontrarem.

Encontrei um rolo de fita adesiva e puxei um pedaço da fita, como ilustração do que Killian acabara de dizer. Por alguma razão, não fora com a cara do loiro. O rapaz pareceu pensar em suas opções, então decidiu que seria mais sensato se nos contasse o que sabia.

– Ah merda... Eu posso ser demitido por contar isso, mas foda-se, odeio esse emprego mesmo... – suspirou e então encarou a foto de Michael Tillman – O Mike trabalhou aqui por muito tempo, era tratador dos animais africanos. Ele adorava essa merda aqui... Há um ano, quando entrou na jaula dos elefantes, um deles ficou irritado e o derrubou com a tromba, aí pisou na cabeça dele até esmagá-lo. Foi terrível! Desde então, coisas estranhas têm acontecido. Parece que a coisa piorou desde o acidente das zebras.

Gancho e eu nos entreolhamos e então ele questionou:

– Por que o elefante ficou irritado?

– Eu sei lá! Você não ficaria irritado se tivesse numa porra duma jaula ouvindo os gritinhos daquelas criancinhas toscas? É só isso! Posso ir? – o loiro fez menção de se levantar e Killian o empurrou de volta com força excessiva.

– Não, fica aí! Sabe onde é que ele foi enterrado?

– O elefante?

– Não, o Michael... – Killian revirou os olhos.

– Gancho, acho que temos um problema... Hoje em dia ninguém é enterrado mais.

– Isso aí! Ele foi cremado! – falou o loiro.

– Ah merda...

***

Pelo o que entendi, teríamos de procurar um objeto ao qual o Michael era ligado. Era o único jeito de destruir o espírito, já que não havia restos mortais dele. O cara loiro, que se chamava Felix, ficou desconfiado e tivemos de contar a ele o que realmente fazíamos ali. Ele achou que estávamos zoando a cara dele, mas acabou por acreditar.

– Espera aí, tão me dizendo que essas coisas loucas tão sendo feitas pelo espírito do Michael? Isso é loucura!

– Alguma outra explicação, espertinho? – perguntou Gancho, um tanto irritado.

– Tão me dizendo que são caça-fantasmas tipo os Ghostbusters?

– Isso não importa agora. Vai nos ajudar ou não?

– Tá bem! De que é que cês precisam? – ele se levantou, meio contrariado.

– De um objeto do Michael, alguma coisa de que ele realmente gostasse.

Felix pensou por uns momentos, então abriu a porta, botou a cabeça para fora e saiu fazendo sinal pra que o seguíssemos.

– Mike tinha um chapéu que adorava. Ele tinha um armário na sala de funcionários, mas o esvaziaram quando ele morreu. Devolveram algumas coisas pra família dele, mas cês tão com sorte, o chapéu ficou.

– Felix? – um homem gordo parecendo o Seu Barriga surgiu no corredor. Carregava uma maleta e andava como um pingüim – Limpe minha sala, preciso resolver umas coisas. Parece que teremos de fechar o zoológico por uns tempos, estão nos acusando de maus tratos aos animais – Felix fez cara de quem gostara da notícia. O homem, então notou nossa presença – E quem são esses?

– Ah... somos da vigilância sanitária! – falou Killian, tirando do bolso um cartão de fiscal da vigilância sanitária, no qual havia sua foto. Já mencionei que meu patrão sabia como falsificar documentos? Com isso, podíamos até nos passar como agentes do FBI. - O senhor sabe, é só uma visita de rotina, para assegurar que tudo está de acordo.

– Mais essa?... – Seu Barriga suspirou, seu estresse se tornando aparente – Por favor, venha comigo.

– Oh, vá na frente, preciso ir ao banheiro – disse. Vimos Killian se afastar e então fui com Felix pra pegar o chapéu.

– Não vai me dizer seu nome, boneca? – ele perguntou, sorrindo exageradamente. Será que ele esteve interessado em mim esse tempo todo? Por favor... como se eu fosse querer algo com ele.

– Chapeuzinho Vermelho. – Jamais revelávamos nossos nomes verdadeiros.

– Tá bem, vou fingir que acredito. – ele riu.

Entramos na sala de funcionários, na qual havia armários daqueles de escola, algumas mesas, uma cafeteira e um galão de água mineral. Pelas enormes janelas, avistei o fluxo de pessoas lá embaixo. Pelo visto, outro acidente acontecera, dessa vez no pavilhão de animais da floresta. Tapei a boca ao ver uma garota ser retirada numa maca, coberta de sangue. Um bando de curiosos cercara o local e policiais e funcionários tentavam afastar os mesmos.

– Aqui. Era a coisa que ele mais adorava, acha que vai servir? – ele me passou o chapéu, que tirara de dentro do armário que pertencera a Michael. Então olhou pra baixo e viu a cena que se passava – Uou! Agora é oficial, esse lugar vai colapsar e falir.

– Não se acabarmos com a série de tragédias.

Queimei o chapéu dentro de uma lixeira.

***

– E onde é que estiveram esse tempo todo? – perguntei a Zoe e os Winchesters, que acabara de encontrar.

– Procurando informações – falou Zoe, que comia um algodão-doce, quase sem se importar com o acidente que acabara de acontecer – Dean subornou um funcionário e arrancou umas informações dele. Íamos procurar pelo túmulo de Michael Tillman pra queimar os ossos, mas aí o Sammy se lembrou de que hoje em dia todo mundo é cremado. Você nos poupou o trabalho de procurar por um objeto que pertenceu a ele. Agora que queimou o chapéu, tudo ficará bem.

– Não estou muito certa disso...

Avistei Gancho sendo levado por dois policiais. Seu Barriga vinha marchando atrás deles, sua cara inchada estava vermelha e suada e ele parecia muitíssimo estressado. Fui até Killian, querendo saber o motivo de sua prisão. Pelo visto, haviam descoberto a farsa.

– É ela! É a parceira dele! Prendam-na! – Seu Barriga apontava pra mim.

– Corre, Chapeuzinho! – gritou Gancho e fiz como ele me mandou.

Um dos policiais veio atrás de mim, tentando me segurar, e só tive tempo de correr sem rumo. Escutei quando Zoe pulou nas costas do policial, derrubando-o, e fiz menção de voltar pra ajudá-la, mas nesse momento gritos aterrorizados vieram da exposição de animais africanos.

– Jesus amado! – fez o policial derrubado por Zoe. – Jesus amado! JESUS AMADO!

Jesus amado! Uma multidão vinha aos tropeços, feito Corrida de São Silvestre. As pessoas gritavam em pânico. Alguns caíram no meio do caminho e por pouco não foram pisoteados. Outros se esconderam em banheiros, lanchonetes, qualquer coisa que encontravam pelo caminho. Parei no lugar, sem saber o que fazer. Afinal, por que é que estavam correndo?

– Jesus amado!

– Misericórdia! – guinchou Zoe.

– COOOOOORRRREEEEEEE! – foi o grito de Dean Winchester, que puxou Zoe e Sam e saiu em disparada.

Uma manada de elefantes vinha em nossa direção.

Gancho gritava pra mim, me mandando correr. Eu ia fazer isso, mas descobri que ele estava com uma mão acorrentada a um banco. Um dos policiais o prendera ali e agora tentava soltá-lo, mas acabou por perder a chave com a confusão de pessoas que passavam aos trancos e barrancos.

– Você tem que ir! Você tem que ir! – ele berrava pra mim, enquanto eu era atropelada por gente que vinha na direção oposta.

O policial o abandonara ali e saíra correndo junto com os outros. Até o Seu Barriga, naquela gordura toda, fugira tão depressa que largara os óculos para trás. Tentava encontrar as chaves, mas era impossível. Gancho berrava, as pessoas berravam, o chão tremia, os elefantes... qual é o barulho que os elefantes fazem? Ah isso não importa agora! Parecia o fim do mundo!

– VAI, RUBY! VAI AGORA! EU ESTOU MANDANDO VOCÊ IR!

– NÃO VOU TE ABANDONAR AQUI!

Fiz a coisa mais idiota do mundo. Abracei Gancho, enquanto quase éramos levados pelo mar de pessoas. Eu queria dizer que o amava, porque, muito provavelmente, seríamos esmagados pelos elefantes. Eu sei, um péssimo jeito de morrer. Mas eu não ia abandonar aquele homem ali.

– NÃO SEJA IDIOTA, VAI LOGO!

– NÃO SEM VOCÊ!

– RUBY! VOCÊ É UMA SOBREVIVENTE, AGORA VAI! VAI!

– Não... – sussurrei, puxando-o para mais perto e afundando a cabeça em seu peito. Se eu ia morrer, então ia morrer agarrada àquele homem gostoso. – Killian... eu...

– QUE ESTÃO FAZENDO PARADOS AÍ?

– Dean?

Dean e Sam voltaram para nos salvar! Cada um pegou uma ponta do banco e, adivinhem, correram carregando aquela coisa, com Gancho ainda preso a um lado.

– VOCÊ VAI ME DEVER MUITO POR ISSO! – Dean berrou para Killian, por cima do barulho dos gritos e dos elefantes.

O chão tremia tanto que parecia um terremoto. Se eu não estivesse no meio do pandemônio, teria achado aquela cena engraçada: dois idiotas correndo com um banco de madeira e outro idiota com o braço preso ao mesmo. Entraram no primeiro lugar que viram, que era o pavimento de animais da floresta, onde acontecera o acidente. A porta de vidro estava trancada e Dean não pensou muito, apenas arremessou seu lado do banco contra ela, fazendo cacos de vidro explodirem pra tudo quanto é lado. O banco caiu com o baque e Killian foi levado junto, desabando em cima dos cacos de vidro.

Entrei no pavimento bem quando um elefante ia passando e quase desabei em cima de Sam, que me segurou antes que me estabacasse no chão.

– Killian, você tá bem? – gritei, indo ajudar o coitado.

– Estou bem – ele espanava alguns cacos que se grudaram à sua roupa – Au! Cortei meu dedo... Merda!

Agarrei seu rosto, forçando-o a olhar pra mim. Estava perfeitamente bem, tirando o dedo cortado.

– Você não disse que tinha queimado o chapéu? – perguntou Dean, nervoso – Aquela droga de espírito ainda tá solta por aí.

– Eu destruí o chapéu – afirmei – A não ser que aquele loiro filho duma égua tenha me enganado...

– Cadê a ruiva? – indagou Gancho e Dean respondeu que a mandara ficar num lugar seguro.

– Você, seu exibido, vai me dever muito por isso – ele apontava um dedo para Killian, que tentava se livrar da algema em seu braço usando a técnica do grampo – Tá me ouvindo? Nos arriscamos por sua causa! Eu poderia ter sido esmagado pela manada de elefantes, mas a ruiva disse: “Vão salvar o Killian!”. Por que fui escutar aquela ruiva? Ela me deixa maluco!

– Se acalme, Dean – foi tudo o que Sam disse.

O tremor já passara, mas ainda ouvíamos gritos ao longe. Sabe se lá o que aconteceria quando aqueles elefantes saíssem pra rua. Eu já imaginava o terror, o pânico instaurado em Indianapolis.

– Ruby, você tem certeza de que queimou todo o chapéu? – perguntou Sam, me olhando com aquela carinha fofa.

– Tenho! Só sobraram cinzas!

– Tem algo de errado... Seja lá o que está fazendo isso, não é o Michael.

Talvez Felix tivesse me enganado ao me dar aquele chapéu, mas, pensando melhor, por que é que ele faria isso? Nós estávamos sozinhos, ele poderia muito bem ter fugido de mim quando teve a oportunidade.

Atrás de nós, por trás dos vidros, os animais estavam perturbados. Os tigres arranhavam os vidros; os morcegos rodavam em círculos, chocando-se uns aos outros e contra os vidros; os lêmures soltavam pequenos guinchos, brigando uns com os outros; os ursos pardos se atracavam e os orangotangos...

– Cadê os gorilas? – perguntou Dean, quando paramos em frente à jaula dos símios.

– São orangotangos... – Killian revirou os olhos.

Vidro e sangue se espalhavam pelo chão. O vidro daquela jaula era bem fraquinho, talvez porque nunca tivessem imaginado que os orangotangos pudessem se rebelar e quebrar tudo. As pessoas os achavam bonitinhos. Aquele sangue devia ser da garota que saíra na maca. O vidro devia ter desabado sobre ela e os orangotangos deviam ter sido realocados para uma jaula mais segura.

– O que é a gente vai... – parei em meio à frase, me escondendo atrás dos rapazes. Um orangotango perdido vinha em nossa direção, arrastando-se no chão e parecendo uma vassoura ambulante.

Felizmente, ele não nos atacou, apenas parou e ficou nos olhando, parecendo achar graça. Deu um apertão na bunda de Gancho e então foi embora, enquanto eu me acabava de rir.

– Ai, doeu... Não ria! Se quiser apertar minha bunda, fique à vontade – ele disse, malicioso.

Me limitei a revirar os olhos. Zoe ligou para Sam, dizendo que se refugiara num dos prédios próximos ao zoológico e que as ruas estavam uma loucura, já que dois dos elefantes ainda estavam à solta.

Vocês têm que acabar com isso agora! – escutei ela berrar pra Sam – Ah, e diga ao Dean que o carro dele foi pisoteado por um elefante.

– MEU CARRO! MEU... NÃO ACREDITO NISSO, NÃO ACREDITO NISSO! MERDA! – ele se voltou para Gancho, berrando com ele – SE NÃO FOSSE POR VOCÊ, EU JÁ ESTARIA LONGE DESSA DROGA DE LUGAR!

– EU NÃO PEDI PRA SER SALVO!

– EU DEVIA TER DEIXADO VOCÊ LÁ!

Começaram a discutir, enquanto Sam e eu tentávamos acalmar a situação. O fato de morcegos guincharem ali perto não ajudava em nada. Eu só queria ir pra casa, deitar numa cama confortável, me entupir de pizza até engordar e beijar a boca de Gancho, que nesse momento estava chamando minha atenção pelo fato de estar gritando tantos palavrões. Mas antes que eu pudesse fazer tudo isso, teria de acabar com um espírito vagabundo e que tinha um péssimo senso de humor.

– CHEGAAAAA! – berrei, fazendo os dois se calarem – PAREM DE AGIR COMO CRIANCINHAS! TEM ALGO ROLANDO AQUI, CASO NÃO TENHAM PERCEBIDO, ENTÃO ENCONTREM UM MEIO DE ACABAR COM ESSA MERDA, ANTES QUE UM BANDO DE GAZELAS GALOPANTES TENTE NOS MATAR!

Eu e minha boca... Dean soltou um grito afeminado, vendo um grupo de gazelas vindo ao longe. Uma delas adentrou o pavilhão, quase nos atropelando, então deslizou pelo vidro quebrado e foi se chocar contra uma parede. Os três me olharam de olhos arregalados, depois que as outras gazelas passaram do lado de fora do pavilhão.

– É melhor resolvermos isso... – falou Gancho, saindo do pavilhão – Tem algo de muito estranho por aqui.

Não havia sinal de gente, devíamos ser os únicos por ali. Havia um rastro de plantas amassadas, lixo espalhado, mesas de piquenique reviradas, cacos de vidro, pedaços de cerca, entre outros.

– Tá parecendo coisa de espírito vingativo – falou Dean. – Se você acabou com o espírito do Michael, então quem mais pode estar aqui?

– O elefante! – Killian exclamou repentinamente, nos assustando.

– Que elefante, Killian?

– O elefante que matou o Michael! – exclamou Sam – Mas é claro! Depois do acidente, o colocaram isolado dos outros. O cara que o Dean subornou nos disse que o acidente nunca foi divulgado. O diretor do zoológico escondeu os fatos, temendo que sacrificassem o animal. Talvez ele tenha algo a esconder.

Saímos feito loucos, procurando pelo elefante assassino. Talvez ele tivesse fugido com os outros, mas Sam, que era muito estudado, sugeriu que procurássemos nas jaulas que ficavam em área especial.

– Quando animais novatos chegam, são levados para essas jaulas em quarentena. – explicou – São examinados e preparados para a convivência com os outros. Talvez tenham levado o elefante pra lá.

Não foi difícil encontrar a área de preparação dos animais. Ficava na parte mais escondida do zoológico, perto da jaula dos leões. Havia um prédio onde preparavam as refeições dos animais e onde os mesmos eram monitorados por câmeras. Também devia ter uma ala veterinária, para onde iam quando ficavam doentes. Entramos no prédio, que era o único lugar arrumado no zoológico inteiro. Alguns animais rebeldes tinham sido levados para lá, presos em gaiolas de metal, e agora estavam abandonados no saguão de entrada. Os orangotangos faziam barulho e flamingos se debatiam.

– Que estão fazendo aqui? – um homem vestindo guarda-pó branco veio caminhando, um tanto desconfiado. Parecia o Seu Madruga, só que bem mais novo.

– Cadê o elefante assassino? – Dean foi logo perguntando.

– Elefante assas... Está falando do elefante responsável pela morte de uns dos funcionários?

– Esse mesmo! Cadê ele?

– Miko está preso numa jaula especial, para segurança de todos. – Seu Madruga respondeu calmamente, enfiando as mãos nos bolsos do guarda-pó. – Peço que se retirem, aqui não é seguro para vocês.

– Lá fora também não é seguro! – Dean estava raivoso. Enfiou a mão no bolso do casaco e retirou um revólver – Me mostra agora a porra do elefante, ou atiro na sua bunda!

– Calma! – Seu Madruga ergueu as mãos em sinal de rendição – Calma... Isso não vai ser necessário... Venham comigo!

Caminhamos por uma série de corredores, até que saímos na parte de trás do prédio, onde, de fato, havia jaulas especiais. O elefante era o único ali. Quando botei meus olhos naquela coisa, pensei o mesmo que os outros.

– Essa coisa tá possuída! – exclamou Dean, espiando o elefante de longe – Olha, olha... Que coisa demoníaca!

Havia uma aura negra naquela coisa. Os olhos não pareciam normais, brilhavam de um jeito sinistro, conforme a criatura caminhava pela jaula. Parecia exibir um sorriso maldoso, quase como se tivesse consciência dos estragos que causara.

– Miko sofre de uma perturbação mental – ia explicando Seu Madruga, que era veterinário – Não sabíamos que esse tipo de coisa podia acontecer com animais, mas ele tem mostrado um lado agressivo e insano. Parece que ficou lélé da cuca.

– Lélé da cuca? – riu Gancho – Esta coisa está muitíssimo possuída. Alguma ideia de como tirar esse espírito daí?

– Eu nem sabia que espíritos possuíam animais... – falou Sam, arriscando-se a aproximar-se mais da jaula.

– Sam! Sai daí! – guinchou Dean, puxando o irmão de volta – Vai que a coisa sai em disparada.

O elefante fez um barulho com a tromba (ainda não sei como é o nome do som que os elefantes fazem) e bateu a cabeça nas grades de ferro, tentando arrebentá-las. Sam e Dean recuaram, assustados.

– Perdão, mas estão falando em espíritos? – perguntou Seu Madruga, confuso – Quem são vocês? Caça-fantasmas?

– Caçadores de Criaturas Sobrenaturais – informou Dean – Diz aí, mais alguém morreu neste zoológico?

– Hum... – ele pareceu desconfortável – Nós... nós não falamos sobre isso...

Dean apontou o revólver pra ele.

– Desembucha!

– Tá bem, tá bem... Há algum tempo, antes do acidente de Michael Tillman, havia dois tratadores que cuidavam do Miko. Era um casal... e o rapaz estava apaixonado pela moça...

– Que romântico! – debochou Dean – Resume ô, Seu Madruga!

– Bom, o caso é que a moça não o amava e rejeitou seu pedido de namoro, daí ele tirou uma arma e disse que, se ela não ficasse com ele, ia atirar no Miko. Ele era completamente louco! A moça disse: “Se quiser matá-lo, vai passar por mim antes”, e se colocou na frente do Miko. Aí ele atirou... Ela morreu, o elefante ficou perturbado... Meses depois veio a morte de Michael Tillman. E, desde então, Miko tem ficado preso aqui... O diretor deu um jeito de abafar essas tragédias, mas aqui dentro, todos sabem sobre as três mortes.

– Três? – Gancho franziu a testa.

– O rapaz se matou, depois de perceber o que tinha feito. Ficou se sentindo terrivelmente culpado. Por favor, não digam a ninguém que lhes contei isso...

– Fica tranqüilo!

– Então é isso... a moça tinha um carinho especial pelo elefante. – disse Sam, mais uma vez me surpreendendo com sua inteligência – Quando morreu, o espírito deve ter ficado preso a ele. Deve estar em busca de vingança por sua morte prematura...

– Bom, só tem um jeito fácil e rápido de acabar com esse espírito – Dean guardou a arma no bolso – CASTIEL!

O anjo surgiu no mesmo instante, assustando Seu Madruga. Apontou um dedo para a cabeça do elefante, que parecia querer pegá-lo pelo pescoço e retorcê-lo até quebrar seus ossinhos, então houve um brilho dourado. O espírito foi expulso de dentro do elefante, e, antes que tivesse tempo de revidar, explodiu em chamas.

– Aquilo foi... aquilo foi incrível...

– É, Seu Madruga, foi incrível... – concordou Dean.

***

– Meu carro... – Dean chorava, após termos passado meia hora nos explicando para as autoridades policiais, que, por uma estranha razão, acreditaram em tudo o que disséramos – Meu carrinho... Merda! Merda! Merda! – chutou a parte traseira do Impala, que era a única coisa inteira.

– Você pode consertar, Dean! – Sam revirava os olhos, ao lado de uma Zoe que mastigava sorvete de limão com geléia de menta e hortelã – Podemos rebocá-lo até o ferro-velho do Bobby!

– Sabe quanto vai custar um reboque até Sioux Falls? Uma fortuna! Merda – chutou o carro – de elefante! – outro chute.

– Eu pago! – anunciou Killian, para surpresa de todos – Estou em dívida com você... por ter salvado minha vida...

– Ah... então tá bom! – o loiro abriu um enorme sorriso. Bateu a porta do carro, que empenara, e olhou para Zoe – E aí ruiva, quer outro sorvete?

Ela fez que sim e eles se afastaram em direção à sorveteria mais próxima. Felizmente, os animais fujões haviam sido recapturados e agora eram levados de volta para o zoológico. Killian me olhou, ignorando o bando de gazelas que passava por ali em gaiolas.

– Você é louca, sabia? Se não fosse pelos Winchesters, nós dois teríamos morrido... Por que não correu?

– Eu não podia deixar você lá... Eu só... eu só não queria te deixar sozinho...

Ele afastou uma mecha de cabelo que caía no meu rosto. Estava muito sério, como um pai que repreendia uma criança travessa.

– Você nunca mais vai fazer isso de novo, tá bem? Nunca mais! – deu uma pausa e ficou me encarando, seus olhos absurdamente azuis brilhando mais do que de costume – Antes de os Winchesters voltarem pra nos ajudar, você ia me dizer uma coisa... o que era?

Eu ia dizer: eu te amo. Por alguma razão, não consegui dizer as palavras naquele momento. Talvez precisasse de outro momento desesperador pra ter essa coragem.

– Eu... – não disse nada, apenas fiz uma coisa que estava louca pra fazer desde a noite anterior. O agarrei pela gola da blusa, unindo nossos lábios com força excessiva. Nossos dentes se chocaram, mas ele não se importou, apenas agarrou meus cabelos, me puxando para mais perto. O beijo dele era desesperado e possessivo. Quase engolimos um ao outro. Tudo o que importava, era que estávamos juntos. E eu nem me importei por estarmos num lugar público, em que jornalistas e câmeras pipocavam. O beijo de Killian era bom demais e o abraço dele melhor ainda.

Mais tarde, mal me importei por Zoe ter filmado a cena pelo celular e feito “awwww” ao fundo. Também não me importei quando vovó e todos os caçadores nos viram pela TV. Eu só queria saber de agarrar meu homem...


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Notas finais do capítulo

Ah, eu fiz uma playlist com músicas da fic. Algumas não apareceram aqui ainda, mas se vocês escutarem, podem ter algumas pistas do que está pra acontecer. https://www.youtube.com/playlist?list=PLNvKliXT5R_4yRHGTLa6GvhFiskLig5Qe
Ah e outra coisa, estou pensando em dividir em temporadas. O que acham disso? Me digam nos comentários. Beijos



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