Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 5
#5 – Fogueira.




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/524889/chapter/5

– Ele não está em lugar nenhum! – Disse Gustavo, descendo a escada.

– Onde ele poderia estar? – Perguntou Jef para Gustavo.

– O celular dele só dá fora de área – disse Paula, para todos.

– E tem mais uma coisa: – disse Gustavo, olhando para todos que estavam na sala de estar – as coisas dele também sumiram.

– Sumiram? – Perguntou Lay. – Como assim sumiram?

– Sumiram. Desapareceram. – Respondeu.

– É bem típico dele – disse Amanda encruzando os braços e andando até o outro lado da sala.

– Como assim? – Perguntou Lay.

– Fugir! – Respondeu ela. – Ele nunca encara os problemas, sempre foge deles. Idiota! Imbecil!

– Nada – disse Paula. – Fora de área – colocou seu iPhone no bolso da calça.

Olhei pela janela e vi que já estava escuro lá fora. Mas ninguém estava ligando, pois todos estavam preocupados com Lucas que, sem avisar a ninguém, foi embora.

– Gente, se o Lucas foi embora então não podemos fazer nada – disse. – Essa foi a escolha dele. Talvez ele tenha fugido da situação embaraçosa que arranjou por aqui ou, como Yasmin, aconteceu alguma coisa para ele ir... – droga, estava sendo o centro das atenções de novo – Nós vamos acampar ou não? – Concluí rapidamente.

– Pedro tem razão – disse Lay. – Vamos seguir em frente.

Aos poucos todos foram ficando animados novamente. Pegamos todas as coisas que havíamos deixado separado no canto da sala e fomos para o lado de fora.

– Tem um campo a mais ou menos uns quinze minutos ao norte – disse Lay. – É lá que iremos acampar.

– Tomem cuidado! – Disse o sr. Ricardo, que estava ao lado da sr. Sara, na varanda. – Espero que se divirtam!

– Tchau meninos – disse a sra. Sara.

– Tchau tios, pode deixar, teremos cuidado – disse Lay para os dois idosos abraçados na varanda. – Vamos! – disse ela para nós.

Pegamos uma trilha que ficava ao lado da estrada e seguimos em frente.

– Obrigada – disse Lay, me dando um leve empurrão com o ombro.

– Pelo quê? – Perguntei.

– Por animar o pessoal novamente – respondeu. – Já estava achando que não iríamos mais acampar.

– Não há de quê! – Olhei para ela por alguns instantes e depois voltei a olhar o pequeno caminho que seguíamos. – Só vai ficar me devendo um pedaço de torta de fim de tarde – continuei.

– Nossa! Quanto tempo não fazemos isso.

– Agora já temos um motivo para voltarmos a fazer.

E voltei a olhá-la novamente.

[ANTES]

Entramos em uma das mais famosas padarias do Rio de Janeiro, sorrindo. Olhei para o relógio de parede que ficava atrás do balcão: 18h11min; e fiquei feliz por estar mais uma vez ao lado dela.

– Não acredito que você fez isso – disse Lay, sorrindo sem parar.

– E o que você queria que eu fizesse? – Perguntei.

– Sei lá, talvez ter dito que você não sabe dançar – respondeu.

Fizemos nosso pedido e fomos para uma das mesas vazias.

– Do jeito que você fala parece tão simples – disse.

– Mas era o que você devia ter feito – ela continuava rindo.

– Então tá, encontro uma das garotas mais lindas da faculdade em uma festa, ela me convida para dançar, e você quer que eu diga não?

– É – respondeu.

– Estão aqui seus pedidos – disse a garçonete, trazendo nossas tortas.

– Obrigado – agradeci.

E como sempre fazíamos, comi o primeiro pedaço da torta de morango de Lay e ela comeu o primeiro pedaço da minha torta de chocolate.

– Hmmm... Parece que você sempre escolhe a melhor torta do dia – disse.

– Mas a regra é bem clara – disse ela, após comer um pedaço da minha torta – não podemos escolher o mesmo sabor.

Comemos em silencio por um ou dois minutos.

– Lamento você ter pisado o pé da garota, fazendo ela cair no meio do salão de festa e um cara ter derramado o copo de cerveja no vestido dela – disse ela, rindo novamente.

– Vai, continua rindo...

[AGORA]

– Chegamos! – Disse Lay, mostrando o imenso espaço diante de nós.

O lugar continuava lindo. O céu – que estava sem nuvens – estava completamente estrelado e, no horizonte, quase escondido pelas árvores na outra extremidade, estava a lua cheia mais bela que eu já vi.

– Que lugar lindo! – Disse Jessica.

Olhei para o lado e vi que todos estavam vislumbrados com a beleza do lugar.

– Vamos acampar mais lá para frente – disse Lay, já começando a caminhar.

Quando enfim decidimos o lugar que ficaríamos, colocamos nossas coisas no chão. Bruno e Gustavo tentavam acender a fogueira enquanto Paula e Jessica arrumavam as coisas e os demais tentavam, com dificuldade, montar as barracas.

– É isso aí – gritou Gustavo, sorrindo.

– Já acenderam a fogueira? – Perguntou Jessica, impressionada.

– Nada que um pouco de álcool e um isqueiro não resolvam – respondeu Bruno, rindo.

Todos riram.

Quase uma hora depois, todas as barracas estavam prontas. A fogueira estava acesa. E todos estavam sentados ao redor da fogueira. Paula sentou ao meu lado e lhe dei um pequeno sorriso.

– Se lembra da última vez em que estivemos aqui, Pedro? – Perguntou Lay, do outro lado da fogueira. Seu rosto, iluminado pelo fogo, estava lindo.

– Um pouco – menti, pois lembrava claramente de tudo. – Faz muito tempo.

[ANTES]

Aqui é o paraíso – pelo menos era assim que eu o imaginava. Árvores por todos os lados, campos, rios... Tudo parece ser tão grande diante dos meus olhos de adolescente. Um mundo parcialmente inexplorado, onde cada nova árvore que eu via, cada nova grama que eu pisava, fazia com que tudo se tornasse novo, de novo.

– Eu vou te pegar – ouvi o som de sua bela e delicada voz. – Aí está você!

Olhei para trás enquanto corria, e a vi. Sua blusa vermelha era tão colada em seu corpo que fazia destacar seus pequenos seios, e sua calça jeans, meio sujas de terra, a deixavam mais... sexy? Nunca pensei que a adolescência me faria olhá-la com esses olhos.

Cheguei a uma imensa área aberta, sem árvores, e continuei correndo.

– Você não me pega – gritei para a garota que estava cada vez mais perto.

Assustei-me. Nossa, como ela era rápida.

E antes mesmo de chegar no meio daquela área aberta, ela me puxou pelo braço e nós dois caímos. Senti seus pequenos seios sobre o meu corpo quando nós paramos de rolar e ela ficou em cima de mim, rindo.

– Peguei você – disse ela.

– Você é rápida.

Demos algumas risadas da situação e tudo ficou em silencio. O vento não balançava mais as árvores ao longe, nenhum pássaro cantava, não havia som algum. Fiquei olhando seus olhos escuros... Meu coração batia tão rápido. O que está acontecendo comigo?

– Venha comigo – disse ela, quebrando o silêncio que pairava ao nosso redor.

[AGORA]

– É uma pena que você não tenha vindo para o sítio por todo esse tempo – disse Laís, que estava do meu outro lado, me despertado. Ela ficou me olhando fixamente por alguns instantes, e então olhou para baixo.

– Podemos contar algumas histórias – disse Davi.

– Que não sejam de terror – disse Paula.

Logo em seguida todos começaram a murmurar, concordando.

Jef pegou alguns sacos de salgadinho que estava em uma das mochilas e começou a distribuir. Um acampamento completamente diferente dos que eu via nos filmes americanos, onde não se acendiam a fogueira com álcool e isqueiro e esquentavam marshmallows na fogueira para comer, em vez de comer salgadinhos industriais. Tirando isso, a parte de contar histórias e dormir em barracas me fazia relembrar dos bons momentos que eu tive nesse lugar há muito tempo atrás. Momentos que estavam esquecidos em alguma parte da minha memória e que aos poucos vinham à tona.

– E que tipo de história poderemos contar? – Perguntou Mateus.

Todos ficaram se entreolhando, sem saber o que responder. Iria sugerir para alguém contar histórias que nos façam rir, já que quase ninguém queria ouvir histórias de terror. Mas resolvi ficar calado, pois tinha quase a certeza de que eles iriam dizer para eu começar, já que eu tinha dado a ideia. E eu não queria ser o centro das atenções novamente.

– Que tal histórias de romance – disse Amanda.

– Romance? – Perguntou Gustavo, fazendo uma cara enfezada.

– É, tipo... – ela me olhou antes de continuar – O de Pedro e Paula.

Todos começaram a nos olhar e a murmurar. Isso não estava acontecendo, não poderia estar. Eu e Paula nos encontrávamos há meses e prometemos manter segredo. Claro que agora estávamos oficialmente juntos, mas havíamos conversado na noite de ontem e concordamos em espalhar a notícia aos poucos e não detoná-la como uma bomba – como Amanda acabara de fazer.

– O que foi? – continuou ela. – Vocês não acham que estão sendo discretos, ou acham? Vamos lá, admitam logo que vocês estão juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado dos primeiros capítulos de Cicatrizes :D
Vocês poderão estar comentando os capítulos postados nos comentários, lerei todos.
Postarei o Capítulo #6 segunda-feira!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cicatrizes." morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.