Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 15
#15 – Mortes.


Notas iniciais do capítulo

[Último Capítulo]



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PARTE #1 – LAYANNE DANTAS.

– Não, não o mate – Aquela imbecil implorava. – Mate a mim, mas não mate ele.

– Matá-la primeiro? Até que não é uma má ideia – aproximei-me dela –, até porque, seu irmão não apresenta nenhuma ameaça nessas condições – olhei para a armadilha de urso que prendia o pé de Gustavo. – Como você desejar!

Clic.

Sem pensar duas vezes, querendo logo acabar com aquilo tudo e voltar para os braços do homem que eu tanto amava – que estava me esperando em nossa futura mansão –, disparei a arma na direção daquela estúpida que quase acabara com tudo. Mas algo que eu não esperava aconteceu. Tudo foi tão rápido.

– Pedro! – Ouvi Paula gritar.

– Pedro? – Falei, sem entender nada.

O que ele estava fazendo ali, era para ele estar em nossa mansão me esperando. Vi o sangue manchar sua camisa branca na direção de seu peito e me apavorei. Não era para ele estar ali!

– Eu te amo – disse ele, olhando para aquela idiota.

– Eu também te amo – disse Paula.

Em nenhum momento ele me olhou. A cicatriz em meu braço ardia conforme via ele morrer lentamente nos braços de Paula, como se aquela marca não tivesse mais um propósito para existir. E estava certa. O rosto de Pedro tombou para o lado e comecei a chorar. Tudo estava acabado. Ele estava morto.

Tudo o que eu fizera, tudo o que eu planejara tinha sido em vão. Todas aquelas mortes que tinham sido parte de um plano de trazê-lo de volta para o nosso lugar não tinha mais nenhum propósito.

A morte de Yasmin Lima:

[ANTES]

Entrei no banheiro unissex, meio nervosa e a olhei pelo espelho.

– Oi – disse.

– Oi – respondeu Yasmin.

– O que você está fazendo? – Perguntei.

– Concertando minha maquiagem – respondeu ela dando um último toque, e foi quando aproveitei para pegar a faca que estava em minha cintura. – E você, não deveria estar no... – disse ela, se virando para me ver.

Mas antes que pudesse completar a frase, enfiei a faca em seu pescoço. Senti seu sangue descer por minhas mãos e então puxei a faca. Ela começou a tentar falar, mas começou a se engasgar com o próprio sangue.

Ajoelhando-se, ela continuou olhando para mim e aos poucos ela foi parando de respirar, até tombar no chão sujo de sangue. Arrastei seu corpo para um buraco no lado de fora que havia feito semana passada, enterrando suas coisas – menos o celular. – Depois limpei todos os vestígios de sangue no chão do banheiro e em minhas mãos, e, antes de voltar para o avião, mandei uma mensagem de texto para todos.

[AGORA]

A morte de Lucas Meireles:

[ANTES]

Afastei-me de Davi, que segurava a lenha para a fagueira, e caminhei pela floresta com o machado que ele usava para arrancar alguns galhos de árvore. Me surpreendi quando vi Lucas de cabeça para baixo, preso por uma corda em seu pé, tentando em vão alcança-la. Comecei a me aproximar, de modo que ele não me visse, mas o barulho das folhas me denunciaram.

– Quem está aí? – Perguntou Lucas, com sua voz meio rouca.

Não respondi, apenas continuei me aproximando. Lucas tentou se virar, para olhar para trás, mas não conseguiu.

– Tem alguém aí? – Ele se debatia, tentando se virar. – Acho que caí em uma daquelas armadilhas que o sr. Ricardo falou.

Quando estava próxima, pisei em um galho que se partiu na mesma hora.

– Isso não tem graça – disse ele. – Quem está aí?

Ele tentou virar a cabeça para olhar para trás, mas antes que ele pudesse me ver, levantei o machado e atingir sua cabeça. Desci seu corpo da minha armadilha e o escondi, pegando seu celular para também mandar alguma mensagem de texto.

[AGORA]

A morte de Amanda Cavalcante:

[ANTES]

Peguei o celular de Lucas e mandei uma mensagem de texto para Amanda:

“Amanda, quero conversar com você. Estou aqui na mansão.

Lucas.”

Minutos depois ela saiu da barraca e foi em direção a trilha na qual havíamos seguido mais cedo. Sem perder tempo, comecei a segui-la, e, mais uma vez, as folhas me denunciaram e ela olhou para trás. Me escondi rapidamente atrás de uma das árvores, avistei um pedaço de madeira e o peguei.

– Tem alguém aí? – Perguntou ela.

Silêncio.

Ela então começou a acelerar o passos, e resolvi fazer o mesmo, me aproximando cada vez mais. Quando estava próxima o suficiente, ela olhou para trás, ficou me encarando por alguns segundos, e depois falou:

– O que você está fazendo aqui?

Não consegui dizer nada. Ela olhou para baixo e viu o pedaço de madeira que eu segurava.

– Você está me assustando – disse ela.

Comecei a andar lentamente em sua direção, e ela ficou imóvel, sem saber o que fazer. Com certeza estava com medo. Nervosa. Confusa.

Levantando o pedaço de madeira que segurava, a golpeei na cabeça, fazendo-a cair no chão. Ainda consciente, ela voltou a me olhar, e então me preparei para bater nela novamente.

– O que você está fazendo? – Perguntou ela, gritando.

Mas eu não respondi. E a sangue frio, comecei a dar uma série de golpes em sua cabeça – no fundo eu gostava daquilo. Amanda não sabia o que estava acontecendo e nem o porquê de eu estar fazendo isso com ela. Ela estava ali para encontrar o amor de sua vida, e eu estava fazendo aquele encontro acontecer.

Alguns minutos depois, o corpo dela jazia, e comecei a arrastá-lo para fora da trilha, jogando-o no meio da floresta. Fui até o corpo de Lucas e, um por um, arrastei-os para o lago, prendendo-os atrás de uma grande rocha que ficava ao longe. Eles agora poderiam ficar juntos. Para sempre.

[AGORA]

A morte de todos: o veneno que eu coloquei nos remédios que meus tios tomavam antes de dormir; quando cortei o pescoço de Davi Feitosa quando ele entrou no quarto; quando pressionei o travesseiro contra o rosto de Mateus Dantas e Jessica Sousa, deixando-os sem respirar; quando perfurei o peito Bruno Dantas e o arrastei para o quarto de Mateus; o tiro que eu dei em Jeferson Ribeiro e Laís Dantas; a morte dos meus pais.

Tudo tinha sido em vão com a morte do homem que eu amava.

Estava tudo acabado.

Quer dizer... Nem tudo. Pedro havia se jogado na frente de uma bala por causa de Paula, e, se agora ele estava morto, então a culpa era dela. Quase todas as vezes que meu plano ia por água a baixo ela estava no meio e agora ela tinha causado a morte o homem que eu amava.

Chorando, levantei a arma e apontei-a em sua direção.

Estava decidida. Iria mata-los!

PARTE #2 – PAULA OLIVEIRA.

– Não, não o mate – Implorei desesperadamente. – Mate a mim, mas não mate ele.

– Matá-la primeiro? Até que não é uma má ideia – ela aproximou-se de mim –, até porque, seu irmão não apresenta nenhuma ameaça nessas condições – olhei para a armadilha de urso que prendia o pé de Gustavo. – Como você desejar!

Clic.

Tudo aconteceu tão rápido. Dei um passo para trás, sem exatamente saber o que fazer. Ela iria atirar, iria me matar. Fechei meus olhos, ouvi o disparo, e então esperei que a bala perfurasse alguma parte do meu corpo. Esperei o fim. Nada! Não senti nada. Abri meus olhos rapidamente para ver o que tinha acontecido e foi quando o olhei deitado no chão, com sua camisa branca suja de sangue.

– Pedro! – Gritei, agachando-me ao seu lado enquanto chorava.

– Pedro? – Ouvi Layanne falar.

De onde ele surgiu?

Ele levantou a camisa lentamente, e foi então que eu vi o que ele queria me mostrar.

– Eu te amo – disse ele, sem tirar os olhos de mim.

– Eu também te amo – disse.

Uma das minhas lágrimas caiu em seu rosto e percorreu toda a sua face. Ele apenas me olhava e seus olhos brilhavam enquanto iam se fechando lentamente. O rosto dele tombou para o lado, e comecei a chorar. Ele estava morto.

Olhei para Gustavo, ele também chorava.

Tudo estava tão confuso. Não sabia mais o que falar ou o que fazer. O homem que eu amava havia se jogado na frente de uma bala por mim, ele havia me salvado. E tudo isso por causa de Layanne, que dissera estar cumprindo uma promessa que ambos fizeram anos atrás. Tudo por causa de suas cicatrizes.

Ainda me lembrava de um dos nossos encontros, quando perguntei ao Pedro sobre a cicatriz em seu braço, e ele dissera que havia caído. Era tudo mentira. Aquela cicatriz era a oficialização de uma promessa. Mas tudo isso não importava agora. Todos os meus amigos estão mortos, e agora, o homem que eu amava. Só restava eu e meu irmão.

Olhei para Layanne e vi que ela apontava a arma em minha direção.

– Ele morreu por sua causa! – Gritou ela. – A culpa é sua!

– Minha culpa? Você o matou!

– Por sua causa eu nunca mais vou tê-lo! – Ela chorava.

– Eu também o amava! Mas não precisei matar ninguém para tê-lo. Você é um monstro, você é que deveria ter morrido, não ele – gritei, enquanto ainda continuava agachada ao lado do corpo de Pedro.

– Você não faz a mínima ideia do que eu sentia por ele, mas posso fazê-la sentir a dor que eu estou sentindo agora. – Ela apontou a arma para Gustavo.

– Não! – Gritei.

E então ela atirou. Ouvi o grito de Gustavo e virei-me em sua direção. A bala havia atingido sua perna – a que não estava presa na armadilha de urso.

– E se você perder a pessoa que você mais ama? Seu querido irmãozinho?! – Ela levantou a arma, apontando na direção da cabeça de Gustavo.

Ela iria mata-lo. Ela iria matar meu irmão.

Olhei para o corpo de Pedro e meus olhos seguiram seu corpo até a camisa levantada. Em sua cintura estava uma faca e uma arma. Clic. Ela iria atirar. Peguei a arma da cintura de Pedro, apontei na direção de Layanne, e atirei. Tudo aconteceu tão rápido que demorou para digerir o que eu acabara de fazer.

Layanne me olhou, surpresa. Em seu peito, em vez de um furo de bala – no qual esperava – estava um dardo tranquilizante. Ela largou a arma que segurava, se ajoelhou, e caiu no chão, imóvel.

Estava tudo acabado. Pedro não havia me salvado uma, e sim duas vezes – quando ele levantara a camisa e me mostrara a arma que carregava em sua cintura. O alívio me dominou por completo e, sem saber o que fazer, comecei a chorar, me debruçando sobre o corpo do homem que eu amava.

UMA SEMANA DEPOIS...

“Hoje está fazendo uma semana que os corpos de vários jovens e de um casal de idosos foram encontrados em um sítio em Manaus, Amazônia. Os jovens eram do Rio de Janeiro e foram para esse sítio por causa de um casamento, mas o que eles não esperavam era que a noiva fosse fazer uma coisa dessas.”, disse a repórter, virando-se para seu companheiro. “E tudo isso por que ela amava o padrinho do casamento. Essa é uma história que chocou todo o Brasil, e queremos lembrar que das quinze pessoas que estavam envolvidas nessa história, apenas três sobreviveram. Dois irmãos, que não quiseram ser identificados, e a própria assassina, que confessou todo o crime e que agora está presa, esperando o julgamento.”, disse seu companheiro. “O padrinho, que era namorando de uma das pessoas que sobreviveram, morreu ao se jogar na frente de uma bala para salvá-la.”, disse a mulher. “Realmente é uma coisa inimaginável. E tudo isso aconteceu por causa de uma promessa, e por causa das cicatrizes que a noiva e o...”.

A televisão desligou e olhei para o lado.

– Não se torture – disse Gustavo, arrastando a cadeira de rodas.

– Desculpe, é que... Ainda não consigo acreditar em tudo o que aconteceu.

– Eu também não.

– Quando você vai tirar esse negócio da perna mesmo?

– Vai demorar um bom tempo – ele riu. – Tem alguém que vai levar comida na cama pra mim por alguns meses.

Como era bom vê-lo fazendo piada.

– Isso sim é tortura – disse, também rindo.

– Vamos, temos que ir. Não quero perder o voo e estou louco pra chegar em casa.

– Onde estão nossos pais?

– Estão lá fora, nos esperando – respondeu.

Deixamos o pequeno quarto que ficamos hospedados por uma semana e fomos para o Aeroporto Internacional Eduardo Gomes. Meu pai ajudava Gustavo e minha mãe me abraçava o tempo todo. Podia sentir a felicidade que ambos sentiam por eu e Gustavo termos sobrevivido.

Horas depois, observava pela janela do avião as árvores sendo substituídas aos poucos por grandes cidades. Estava finalmente voltando para casa. E o melhor de tudo, estava deixando tudo o que acontecera para trás. Queria simplesmente esquecer.

Encostando minha cabeça na poltrona enquanto via o céu pela janela do avião, lembrei-me da última noite em que eu e Pedro estivemos juntos...

[ANTES]

– Espera – disse ele, quando eu iria começar a beijá-lo novamente. – Você tem certeza de que quer fazer isso?

– Você é o cara mais carinhoso e incrível que já conheci, e somos oficialmente namorados agora. Tenho consciência do que estou fazendo, e... – olhei para o lado, tentando encontrar as palavras certas, e depois fiquei encarando-o – Acho que finalmente encontrei o cara com quem eu quero viver o resto da minha vida.

Ele ficou calado por alguns segundos.

– Ainda me lembro do quão nervoso estava para te convidar para sair, das risadas que você arrancou de mim, dos abraços, do nosso segundo primeiro beijo... Você me fez sentir algo que eu não sentia por alguém há muito tempo, o que me faz concluir tudo em uma única frase – disse ele.

– Ah é, e qual seria essa frase? – Perguntei, dando o pequeno sorriso que ele tanto adorava.

– Eu te amo! – Disse ele enquanto olhava em meus olhos sobre a fraca luz da lua que entrava pela janela aberta. – E eu me jogaria na frente de uma bala para salvar você.

Comecei a chorar.

– Eu também te amo! - Disse, enquanto voltava a beijá-lo novamente.

FIM


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Notas finais do capítulo

Olá,
Quero agradecer a todos que acompanharam, e que ainda irão acompanhar, Cicatrizes (principalmente Viole Baam kk). Ah! E desculpem-me se houve erros de português/digitação durante os capítulos postados. Bom, nunca havia escrito uma fic antes, essa foi a minha primeira, e espero que tenham gostado e se aprofundado nesse mistério.
Para quem quiser acompanhar outra outra história escrita por mim, estarei postando os capítulos de "Labirintos" :)

Um grande abraço a todos os leitores.

Maramaldo.



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