Cicatrizes. escrita por Maramaldo


Capítulo 10
#10 – Despedidas.




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Fiquei olhando o reflexo do sol na água do lago enquanto abraçava Paula. Ninguém mais banhava e a água estava novamente calma, exceto pelas minúsculas ondas que o vento forte da tarde fazia. Todos estavam sentados – alguns calados, outros conversando – descansando o pequeno almoço.

Como o tempo passa rápido... A última vez que havia olhado aquele lago calmo, com a floresta ao meu redor e o som dos pássaros ao fundo, eu era apenas um adolescente com uma mente completamente confusa. E hoje sou um adulto, fazendo faculdade de Serviço Social, namorando uma garota linda e inteligente... E ainda com a mente completamente confusa.

Não confusa por não saber o que fazer, mas confusa por as coisas andarem rápidas de mais. Por exemplo: a garota que eu conhecia desde criança vai se casar amanhã, e serei seu padrinho de casamento. Comparando pensamentos passados com a realidade atual, não poderia afirmar outra coisa.

Olhei para o grupo de amigos ao meu lado e fixei os olhos em Bruno, Laís e Mateus... Como eles haviam crescido e mudado – certamente tiveram esse mesmo pensamento quando me viram –, nem pareciam mais àquelas crianças com as quais eu brincava quando vinha para o sítio dos Dantas. Laís principalmente, pois passou daquela garota de óculos, aparelho nos dentes e espinha por todo o rosto para uma mulher realmente linda.

Ela conversava com Gustavo, e olhar para ele me fez lembrar da conversa que tive com Paula horas atrás. “Eu faria tudo por ele.”. Gustavo, além de agora ser meu cunhado, era tão meu amigo quanto Jef, ou melhor, ambos eu considerava como irmãos que eu nunca tive.

Olhei para Lay, ela conversava com Davi – provavelmente aproveitando os últimos momentos juntos antes do casamento. – E fico feliz por Lay ter encontrado uma pessoa que a faça tão feliz. Perto dos dois estava Jessica, apenas calada, olhando para o lago. Não sei se ela estava triste pelo o que fizera com Amanda ou se estava apenas pensando em outra coisa, pois seu olhar vago não demonstrava nenhuma emoção.

Aos poucos o dia ia se acabando. O sol, que antes estava no centro do céu azul, encontrava-se agora perto das arvore ao longe. Nos banhamos, contamos histórias, conversamos... Coisa que eu fazia nesse mesmo lugar anos atrás e que me alegrava muito recordar.

Claro, tentando não lembrar a história que me marcava até hoje.

Saí do lago ao lado de Paula, peguei minha camisa que estava no chão e a coloquei sobre o ombro.

– Vamos pessoal, já está anoitecendo! – Gritou Davi para os demais que ainda banhavam.

Aos poucos todos foram saindo do lago e pegando suas coisas.

No caminho de volta, Paula ajudava Lay com algumas coisas enquanto eu ia conversando com Jef.

– E a despedida de solteiro? – Perguntou ele.

– Daqui a algumas horas! – Respondi.

– Onde vai ser?

– O Bruno e o Mateus disseram que tem umas boates, casas de festa, na cidade.

– Vamos fazer uma despedida de solteiro que o Davi nunca se esqueça!

– Nunca – disse, rindo.

Ao chegarmos na mansão, todos começaram a se prepararem para as despedidas de solteiros. Havíamos combinado que nós homens sairíamos para a cidade enquanto as mulheres fariam uma festa particular na mansão. Voltaríamos tarde o suficiente para que elas já estivessem dormindo - para poder dar tempo de se arrumarem para o casamento no dia seguinte.

Perto das 20hs, Davi deu um último beijo em Lay enquanto Jef, Gustavo, Mateus, Bruno e eu entrávamos nas BMW’s dos Dantas. Sentei no banco do motorista do Série 3 M3 Coupé Sport azul – carro do sr. Ricardo – seguido por Jef que sentou ao meu lado e Gustavo que sentou no banco de trás, enquanto Davi se preparava para entrar no X5 SUV prata – carro da sra. Sara - levando Bruno e Mateus.

A viagem durou quase uma hora e meia de relógio, mas todos continuaram animados durante a viagem. Jef foi contando algumas situações engraçadas, fazendo Gustavo e eu rirmos. Davi dirigia o carro em nossa frente, pois Bruno e Mateus eram os únicos que conheciam Manaus.

Ao chegarmos, descemos do carro, fomos em direção a boate e Mateus nos entregou os ingressos. Passamos pela segurança e entramos. O ambiente era maravilhoso: tinha árvores ao nosso redor, o ambiente todo era iluminado por luzes coloridas que piscavam sem parar, lasers passava por mim a todo instante, ao fundo – perto do DJ e iluminado pelas luzes – ficava um grande lago e, no céu, a lua cheia brilhava.

– Isso é que é uma despedida de solteiro! – Disse Jef.

– Verdade – disse.

– Lucas que saiu perdendo – disse ele, rindo.

– Vocês vão ficar conversando, ou vamos nos divertir? – Perguntou Bruno.

– Preparado para sua despedida de solteiro Davi? – Perguntou Jef.

– É claro que estou! – Respondeu ele, já se animando.

Todos riram.

Descemos os poucos degraus da escada que levava ao salão principal e fomos em direção ao bar, nos desviando da multidão. Eu e Mateus decidimos não beber, pois iríamos dirigir. Ao pegarem suas bebidas, voltamos a ficar no meio da multidão, no balançar das batidas da música que o DJ tocava.

[...]

– Tia, você não precisa fazer isso – disse Layanne à sua tia Sara.

– Só quero ajudar na organização da festa de vocês – disse Sara.

Layanne andou em sua direção e a abraçou.

– Não precisa... E afinal, onde está o tio Ricardo?

– Ele está lá fora, você quer que eu o chame?

– Sim, por favor.

Sara foi em direção a porta enquanto Layanne, Paula, Jessica e Laís as olhavam. Ao chegar na varanda, ela viu Ricardo sentado em uma das cadeiras de balanço olhando o céu estrelado e a lua cheia que iluminava a noite.

– Está vendo as estrelas novamente? – Perguntou Sara.

– Estou – respondeu. – Elas são lindas.

Sara olhou para o céu e viu os pontos de luzes que brilhavam.

– Realmente são – disse ela. – Layanne está chamando você.

Ricardo levantou-se da cadeira e entrou na mansão, acompanhado por Sara.

– Oi tio, o que você está fazendo? – Perguntou Layanne.

– Estava olhando as estrelas – respondeu.

Layanne olhou para as garotas ao seu redor.

– É o seguinte, nós queremos fazer a minha despedida de solteira. Será que vocês podem dormir um pouco mais cedo hoje? Afinal, temos que acordar cedo parar começar a preparar as coisas amanhã.

– Por que eu faria isso? – Perguntou Ricardo, sério.

Jessica, Paula, Laís e Layanne o olharam espantadas.

– Estou brincando – disse ele, rindo. – Eu já ia dormir mesmo. Iremos aqui na cozinha tomar nossos remédios e já vamos subir.

– Está bem – disse Layanne.

Ricardo e Sara foram em direção a cozinha, tomaram seus remédios e voltaram à sala de estar.

– Boa noite garotas – disse Ricardo.

– Juízo – disse Sara.

– Pode deixar, nós teremos – disse Layanne, rindo.

Ao chegarem em seu quarto, Ricardo e Sara trocaram de roupa e deitaram-se na cama. Ambos olhavam para o teto, em silencio, esperando o sono chegar.

– Eu não estou me sentindo bem – disse Ricardo, depois de alguns minutos, quebrando o silêncio.

– O que houve? – Perguntou Sara, preocupada.

– Estou com uma...Queimação...Na garganta – respondeu.

Ricardo sentou-se na cama rapidamente e começou a se engasgar com alguma coisa.

– Está... Tudo... – Sara começou a falar, mas aos poucos também começou a sentir a mesma queimação na garganta.

Podia-se ouvir o som alto da despedida de solteira de Layanne enquanto ambos estavam se engasgando em cima da cama e se debatendo a procura de ar. Ricardo caiu no chão e Sara começou a vomitar.

Nenhum dos dois conseguia falar. Ricardo começou a se levantar aos poucos, com dificuldade, e viu Sara imóvel, coberta de vômito e com os olhos abertos. Mas ela não se movia, não piscava... Sua garganta queimava e ele já não suportava mais. Ao tentar falar algo, ele também começou a vomitar, e o ar parou de entrar em seus pulmões.

Olhando para o lado, Ricardo viu Sara pela última vez, e caiu no chão.


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Notas finais do capítulo

Olá, quero avisar que #Cicatrizes terminará semana que vem, ou seja, a história já começará a ser desenrolada.
Então não percam, segunda-feira, o Capítulo #11 - Câmera.



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