Por Trás do Atlas escrita por Rob Sugar


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Espero que esteja bom para seu gosto!



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Bastian colocara o capitão na cama cuidadosamente. Deixara tudo que achou que ele fosse precisar. Reus agradeceu.

–Sabe que não estou com o pé quebrado, não é? – Reus disse num tom jocoso – Amanhã já deve estar melhor, o médico disse.

Bastian não riu com o gracejo de seu capitão, mas não lhe negou um sorriso amigável ao ouvir previsões sobre sua melhora. Abriu um pacotinho de açúcar e despejou tudo num copo plástico com água. Tomou o conteúdo de um só gole e abriu a porta para sair.

O amigo chamou seu nome e ele obedientemente se virou para o som. Reus agradeceu mais uma vez, mas com mais emoção e menos piadas, logo após isso, tomou um pouco da sopa que Bastian havia trazido.

–Você é o capitão, é o mínimo que eu poderia fazer. – Bastian declarou com sua frieza clássica, mas ao menos esboçou um sorriso no fim da frase – Precisando, você pode ligar.

Fez um sinal de telefone com a mão e fechou a porta do quarto atrás de si ao sair dos aposentos do capitão, mas não sem antes receber um dedão positivo de Reus, que voltou a focar-se em sua sopa.

–Ele é muito atencioso... – Reus disse a si mesmo, enquanto olhava para a bandeja que Bastian havia levado ao seu quarto.

Na bandeja, além da sopa, dava para ver uma garrafa de café, para deixar o capitão alerta pelo tempo que fosse necessário e alguns doces para que o nível de glicose não baixasse. Também identificou três sanduíches de atum, uma pilha de guardanapos, talheres de plástico e um carregador de celular.

Lembrou-se imediatamente de uma crítica não muito amigável sobre os jogadores do Atlas que tinha lido alguns meses atrás. Não entendia como o jornal ‘Bom-dia!’ permitia tanta negatividade explícita num texto tão pequeno. Com algum esforço, rememorou cada palavra sobre Bastian que aparecia na crítica.

“O jogador é um robô. Não apresenta sentimentos diante de nada, nem ninguém. Um verdadeiro Scrooge, mas com habilidade inegável. Não perguntem como ele aproveita seu tempo livre, depilando gatos com chiclete, talvez. É a única resposta que me vem à cabeça que poderia ser.”

–Não deviam dizer nada sobre ninguém se não o conhecem... – Reus pensou consigo. Terminou sua sopa e decidiu ir dormir. Já eram quase onze e sabia que uma boa noite de sono ajudaria colaboraria para a sua cura.

Reus pôs o prato de volta na bandeja e a colocou no criado-mudo que tinha do lado de sua cama. Ajeitou-se no cobertor como gostava de fazer, imitando um casulo frágil, porém seguro, de uma lagarta. Respirou fundo e fechou os olhos.

Tentava povoar a mente com alguns pensamentos positivos, mas não dava muito certo. Ele sabia que seu machucado não era grave, mas o que veio a sua mente era uma visão tenebrosa onde ele não mais poderia jogar tampouco ser o capitão, por precisar amputar seu pé, por risco de prejudicar mais alguma parte do corpo.

Desfez seu aconchegante casulo e foi, mancando levemente, até o banheiro. Jogou um pouco de água fria no rosto e fez sua higiene. Olhou-se no espelho por alguns instantes e resolveu molhar mais o rosto para garantir. Voltou a encarar-se no espelho. Tudo parecia estar bem naquele momento, ao menos por enquanto.

Retornou a cama e refez, cuidadosamente, seu casulo impenetrável de lençóis. Focou seu cérebro em imagens mais felizes e tranquilizantes que sua demissão por incapacidade de continuar, mas elas ainda o perturbaram em alguns pontos antes de cair nos braços de Morfeu e apagar de vez.

Enquanto o capitão descansava profundamente, os dois d’avanços do Atlas conversavam em um quarto adjacente sobre o que acontecia na cabeça de McPlum. Emboaba se recusava a admitir que fosse algo que não fosse solucionável, e estava disposto a se esforçar para ajudar o companheiro.

–No jogo de hoje, eu tava meio distraído. Eu sei que vocês perceberam. – McPlum começou e Emboaba restringia-se a ouvir e acenar com a cabeça. McPlum realmente tinha se distraído com alguma coisa. Ou alguém – E eu me distraí com alguém na arquibancada.

–Ah, cara! É só isso? – Emboaba tranquilizou-se. – Tinha umas gatas lá em cima, é normal você se distrair e...

–Ainda é minha vez de falar, jóquei de hamster. – McPlum interrompeu levantando a mão. Emboaba revirou os olhos e cruzou os braços. “Jóquei de hamster” era apenas um dos apelidos que tinha ganhado por ser o jogador mais baixo do time – Eu me distraí com uma pessoa na arquibancada... E era um homem.

–Alguém familiar? – Emboaba questionou. McPlum apenas o olhou franzindo o cenho – Tá, foi mal, continua.

–Obrigado. – McPlum agradeceu e prosseguiu – Não era familiar, eu nunca o vi na vida. Eu olhava pra ele e ele estava sempre com um sorriso imenso no rosto. – McPlum deu um risinho fraco ao lembrar-se da joia que tinha ficado estampada na face do rapaz – Eu sei lá. No fim do jogo ele tirou a camisa e ficou rodando lá e comemorando. Eu me senti estranho. – Emboaba ouvia atentamente cada palavra, e nem abria a boca – O pior de tudo, é que ele ainda está na minha cabeça. Pensei nele esse tempo todo. O que você acha?

Emboaba ajeitou-se melhor na cama de McPlum. Virou-se diretamente para ele, cruzou as pernas e suspirou.

–Você é gay? – ele perguntou com toda a inocência do mundo.

–Fala sério... – McPlum negou com a cabeça e se levantou – Eu devia saber que isso era besteira. – foi ao banheiro e deixou Emboaba na sua cama sozinho.

–Desculpa, mano! Eu só quero ajudar, mas não sei o que dizer. – Emboaba se desculpou indo atrás de McPlum – Talvez você tenha só sentido uma simpatia pelo cara. Uma senhora simpatia pelo cara. – ele pronunciou sarcasticamente a palavra “senhora”, formando um sorriso idiota no rosto.

–Pensei nisso. – McPlum respondeu sem abrir a porta do banheiro – Mas parecia mais do que simpatia quando eu senti. Parecia o que eu senti da primeira vez que vi a Sarai. – ele abriu a porta e ficou recostado no portal encarando Emboaba.

–Então você sentiu uma certa atração por ele – Emboaba seriou uma expressão confusa, mas compreensiva – Não é como se você gostasse dele. Nunca se falaram. Você não se apaixonou pela Sarai quando colocou os olhos nela, né? – ele perguntou ao maior.

–Não. – McPlum mentiu – Mas isso não importa. Deve ser só uma atração boba. Se eu ocupar a cabeça, com certeza vou parar de pensar nisso. – ele sorriu e abraçou Emboaba – Valeu, cara. – sussurrou e voou para a cama.

–Olha só: importa sim. – Emboaba afirmou – Se você continuar se distraindo olhando pra ele, ou pensando nele, as pessoas vão acabar se tocando. – ele preocupou o colega – Sem querer botar barra, mas é a verdade.

–Tem razão, baixinho. –McPlum disse, levantando da cama num salto – Eu só falei contigo sobre isso, mas e se... – ele saiu lentamente e abriu a porta. Olhou no corredor para os dois lados. Um silêncio tênue, mas conservador. Entrou novamente e fechou a porta com cautela – E se alguém ouvir e contar pra imprensa? Ou pra Sarai? Ou pra minha mãe?

–Você é um jogador famoso, um adulto importante no mundo inteiro, namora há quase três anos uma das mulheres mais bonitas que eu já vi em toda a minha vida, é uma das pessoas mais altas que eu conheço... – ele parou de citar as características importantes que via em McPlum e abriu um largo sorriso - E tá com medo que contem pra sua mãe que você tá duro por outro cara? – Emboaba soltou rindo.

–Eu não estou duro por ele, seu merda! – McPlum respondeu num grito e atirou um travesseiro em Emboaba que já estava no chão rindo – E nem foi engraçado! – ele continuou e jogou o outro travesseiro no colega.

–Foi mal, cara... – Emboaba enxugou as lágrimas dos olhos e soltou outra risada – Mas olha, alguém pode ouvir e contar, mas não serei eu. Te entendo perfeitamente, você ainda não sabe o que é isso, vai descobrir com o tempo, mas até lá... – ele levou o dedo à boca e soprou – Prometo que vou manter segredo.

McPlum agradeceu e abraçou o colega, que riu alguns segundos depois. Sem entender muito bem o que estava acontecendo naquele momento, McPlum o afastou e o encarou com um olhar levemente confuso. Emboaba olhou para sua virilha e riu ainda mais alto.

–Cê tá muito duro por esse cara. – disse gargalhando.

Dando as costas e bufando, McPlum prosseguiu para sua cama, enquanto o colega ainda ria de sua própria piada sem graça. Quase pegando no sono, seu celular vibrou, mas ele não estava nem um pouco aí para quem poderia ser. Era só uma mensagem.

–Cuido de você amanhã. – disse para seu celular e, ao ver que, até dormindo, Emboaba ainda estava tremendo e rindo, disse: - Dele também...


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Notas finais do capítulo

Críticas são bem-vindas (elogios também)



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