" Anica "

– Não, não e não! - repeti pela milésima vez.

– Por favor, por favor! - ela me olhou de uma forma que me fez amolecer o coração e diminuir minha irritação.

Ana sabia muito bem como conseguir o que quer, ela é muito insistente e as vezes até irritante quando quer alguma coisa, puxou isso a nossa mãe, assim como os olhos castanhos e o cabelo claro.

– E vc poderia me dizer o porquê de tanta insistência? - os olhos dela brilharam ao ver uma oportunidade de conseguir o que quer.

– Ele é um príncipe Anica!

Como se isso não fosse obvio.

– Eu sei mas não entendi ainda, olhe para mim! - apontei para mim - Não sirvo para princesa, sou desajeitada, tagarela, briguenta . . . - ela me interrompeu

– Linda, inteligente, esperta, tenho certeza que ele vai te amar!

– Não sou não! - fiquei com vergonha, não costumo receber elogios, minha mãe é bem reservada e meu pai.. bem, ele é diferente, não costuma demonstrar sentimentos - E eu não quero participar de uma competição para arranjar um marido!

– Mas você não vê? é tão romântico! - Ana é sempre sonhadora, tem dez anos, acredita em contos de fada e amor verdadeiro.

– Não e pronto! - levantei da cama e comecei a calçar o tênis - é hora de voltar a realidade " tampinha " , tenho que trabalhar.

Ela ficou deitada na cama, triste, mas logo começou a rabiscar em um caderno.

Eu amo minha irmã, ela é fofa e me dá ânimo e forças para acordar todos os dias, claro, tem a minha mãe, mas não é a mesma coisa.

Meus pais se separaram e desde então nossas vidas mudaram muito. Apesar da retirada das castas graças ao Rei Maxon e a Rainha América algumas coisas melhoraram, mas outras não, se ainda houvesse eu seria da cinco.

Depois da separação deles meu pai casou-se novamente e por isso sua contribuição diminuiu , minha mãe ajuda como pode, lava roupa para fora, faz faxina, mas ainda assim não temos uma condição muito boa, Ana sofre porque não entende direito a situação, eu tento fazer o melhor mas, sei que não é suficiente, nunca vai ser ...

Comecei a pintar o quadro da senhorita Magda, mas não sabia se a tinta daria, muito menos se teria dinheiro para comprar mais. Depois, ajudei minha mãe a passar roupa e finalmente chegou a noite.

– Anica corre, o jornal oficial vai começar! - ela gritava animada

– Calma tampinha, estava secando meu cabelo. - ela me puxou até a sala, onde já estava passando o hino nacional de Illéa. E como sempre, aparece a imagem da família real. O Rei e a Rainha de mãos dadas e os três filhos, Daniel, Murilo e Angêla. Tentei prestar atenção nele mas, como gostar de alguém que não parece ter nenhuma emoção? alguém tão mesquinho a ponto de querer 35 mulheres lutando por ele? para o país inteiro ver? Não entendo que romantismo Ana vê nisso. Pode ser tudo menos isso. Amor ... isso não existe, só em livros.

– Boa noite, cidadãos de Illéa, chegou o tão esperado momento, o príncipe Daniel - falou apontando para ele, que deu um leve sorriso - completou 19 anos, e como manda a tradição tem que arranjar uma esposa para um dia governar a seu lado. As cartas serão enviadas para suas casas e se tudo sair como planejado, no próximo programa teremos as 35 escolhidas para conquistar o coração do príncipe Daniel. Agora vamos aos pronunciamentos do reino ..

Não prestei atenção no resto do jornal, Ana não parava de falar sobre a seleção, fomos deitar cedo pois, tínhamos varias coisas para fazer amanhã, dormi tentando escapar de tudo mas acabei sonhando.

Eu estava passeando em uma rua, não uma praça, muito linda, vestia um vestido incrível, macio e azul, derepente ouvi um barulho atrás de mim, ao me virar encontro ele: o principe Daniel olhando fixamente para mim.

" Daniel "

Minha vida sempre foi diferente, corrida, cheia de responsabilidades, medo e prisão. É o que acontece quando se é um príncipe. Desde cedo venho tentando terminar um relatório, mas não consigo me concentrar. De todas as coisas estranhas que já passei, essa é de longe a pior: a seleção.

Como se já fosse fácil encontrar o amor da minha vida normal, tenho que fazer isso para o mundo inteiro ver, e ainda mais com 35 garotas ao mesmo tempo. Sem chances de falha, ou de segunda tentativa.

– Daniel?

– Sim pai, algum problema?

– Não eu apenas queria saber como você está sabe, como a história da seleção e tudo mas .. lembro que quase passo mal no jornal - ele sorri e lembro que por trás desse terno e dessa coroa existe um pai preocupado e que me ama muito.

– Estou um pouco nervoso, imaginar 35 mulheres aqui me deixa maluco, tenho medo de fazer a escolha errada, de fracassar, nem sei pai, eu tô apavorado!

– Bem, saiba que você tem todo meu apoio, te ajudarei com o que precisar e aceitarei sua decisão.

– Obrigado pai, espero ter a sorte que o senhor teve.

Todos conhecem a lendária história de amor do Rei Maxon e Rainha América, de como o amor deles surgiu, entre 35 mulheres ela foi a escolhida, desde o primeiro momento. Quem sabe eu não tenha essa sorte ....

Me arrumei para a transmissão do jornal, hoje seria divulgada a noticia, amanhã todas as meninas de Illéa estarão se inscrevendo para me conhecer.

Desci as escadas e encontrei com Angêla eu um vestido rosa lindo.

– Dan! - ela falou animada vindo em minha direção, ela é a mais nova, tem apenas 10 anos. - nervoso?

– Um pouco princesa, cadê nossa mãe?

– Acho que está conversando com o Gravril, aí Dan, eu tô tão ansiosa para conhecer minha nova irmã, ela vai ter que brincar muiiiiiito comigo! eu vou procurar a Barbara.

– Vai lá pequena! - ela saiu saltitando

– Vamos irmão! - Murilo apareceu

– Ah, vamos sim!

– E aí, nervoso? - parece que só sabem me perguntar isso.

– Um pouco.

Cara eu nem estou acreditando, 35 mulheres lutando por você, devem ser todas lindas, você é mesmo um cara de sorte.

– Você terá a sua daqui a 4 anos.

– Ainda vai demorar muito. - ele falouu desanimado.

– Meninos! - minha mãe se aproximou, estava linda, com um vestido azul que combinava perfeitamente com seus cabelos ruivos.

– O jornal vai começar, vamos!

Sentamos nos nossos lugares e esperamos os pronunciamentos, depois Gravril, que também apresentou a seleção do meu pai, começou a falar.

A minha cabeça estava cheia de coisas, medos, perguntas e inseguranças. Daqui a duas semanas elas estariam aqui, e minha vida mudaria para sempre.