Masquerade escrita por okayokay


Capítulo 24
Even After Death


Notas iniciais do capítulo

O capítulo que todos esperavam!!!
A verdade será revelada



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Scarlett Wilkins  

Um ano antes  

Cancun  

Me sentia enjoada. Talvez fosse a quantidade de remédios para a dor que eu estava tomando por causa do pé torcido. Fiquei em casa enquanto todos foram para a praia. Adam voltou e nós nos beijamos. As lembranças dos nossos corpos colados e suados naquela tarde escaldante ainda me invadem. Consigo me lembrar claramente da sensação maravilhosa, algo que nunca experimentei com tamanha intensidade. Todos os anteriores pareciam nada comparados a ele.  

Depois de tomar mais um remédio, esse ainda mais forte que os outros, me senti melhor. Decidi sair da casa alugada de dois andares e dar poucos passos até a praia em frente. Meus amigos haviam ido em outra, mas achei que me sentia boa para caminhar, sentir a areia quente nos meus pés e depois a água gelada em meus dedos.  

No final da tarde, eles voltaram e recordaram do seu dia com sorrisos. Naquela noite, percebi que Tiffany olhava demoradamente para Bash. E quando ele falava, ela abria um sorriso enorme. Foi a primeira vez que desconfiei.  

Já de noite, nós decidimos fazer uma fogueira. Cada um foi pegar alguma coisa enquanto eu e Maddie levamos cadeiras para a praia.  

— Eu tenho frequentemente pensado sobre minha morte - ela comenta, quebrando o silêncio.  

— Que horror, Maddie! - falo enquanto passo o abridor de garrafas para ela.  

— É sério - ela sorri, mas não há divertimento em seus lábios, como sempre costumava ter. - Eu não sei, só não consigo parar de pensar em como vai ser.  

— Torço para que seja de idade - digo -, mas o mais provável é que seja disputando o último sapato de uma recém lançada coleção.  

Ela ri alto.  

— Eu também acho isso provável - ela para de rir. - Nunca disse o quão grata eu sou. É por isso que organizei essa viagem.  

— Pensei que era apenas mais uma das nossas viagens anuais.  

— Para os outros, é. Para mim, é muito mais do que isso.  

Largo a garrafa gelada de cerveja na areia e seguro as mãos de Maddie.  

— Pare de pensar sobre a sua morte. Vai demorar muito, eu tenho certeza disso.  

Ela sorri tristemente.  

— Eu gostaria de ter tanta certeza assim também.  

— Você confia em mim?  

— Sim - ela responde prontamente.  

— Então saiba que eu não deixarei nada te acontecer - ela sorri para mim - e, se por acaso aconteça, eu a vingarei.  

Maddie volta a rir.  

— Tipo matando meu assassino?  

Dou risada também.  

— Você acha que eu não conseguiria?  

— Você sempre foi sentimental, Lett. Não sei se teria a coragem.  

— Bom, espero que não cheguemos ao ponto em que preciso me por a prova.  

Maddie se recosta na cadeira.  

— Eu quero ser imortalizada. Não pela figura que meus pais representaram, mas por quem eu sou. Quero ser lembrada.  

— Você vai ser lembrada, Maddie.  

Ficamos em silêncio por um tempo, ela olhando para o nada e eu notando todos os detalhes em seu rosto.  

— Eu só não gostaria de morrer queimada. Ou afogada.  

— Madison! - quando grito, ela dá risada.  

— Tudo bem, tudo bem - levanta as mãos em sinal de rendição. - Vou parar.  

— Do que vocês estão rindo? - Bash pergunta, divertido.  

— Madison está com umas ideias na cabeça. Ela não para de pensar em...  

—... em como poderíamos tornar essa viagem muito mais do que praia e cerveja - ela me interrompe, me olhando feio. - Conversei com algumas pessoas e fiquei sabendo de uma festa aqui perto.  

Naquela noite, todos fomos para a festa e enchemos a cara. Acabei esquecendo daquele papo de morte. Parecia bobagem. 

Dias atuais  

Suíça  

Eu errei o tiro.  

No nervosismo, acabei acertando seu braço.  

— Lett, eu posso explicar - ele murmura. - Por favor, me deixe...  

Me aproximo e encosto o cano da arma em sua testa.  

— Por quê? - sussurro. - Vocês nem se conheciam direito.  

— Você se engana... os boatos eram verdadeiros.  

— Como? - rosno. - Você é odioso!  

— Eu a matei porque ela me pediu! 

O choque me atinge, mas a descrença vem logo depois.  

— Maddie jamais pediria uma coisa dessas. Ela amava viver.  

— Todos a traíram. Quem amaria viver desse jeito?  

— Você não sabe do que está falando - Bash nos interrompe. Não tinha ouvido a porta ranger.  

— O que ele está fazendo aqui?  

— Eu sei porque você veio - Bash fala. - O bilhete foi uma isca.   

— Bash? - murmuro. - O que está acontecendo?  

— Dameron descobriu quem era o procurador de Maddie e me ligou no intervalo do segundo ato.  

— Por isso todo aquele papo sobre eu poder morrer? - vocifero. - Você me mandou até aqui, sabendo quem ele era? Sabendo que ele também tentaria me matar?  

— Eu poderia ter te matado aquela noite - ele fala -, mas não o fiz. Eu a tinha em minha mira.  

— Mas não matou. Madison não deixaria.  

— Do que você está falando? - pergunto.  

— Ela não passaria uma procuração para um amante qualquer. Madison jamais poderia estar apaixonada e, mesmo que estivesse, nunca seria burra a esse ponto. Roubar dinheiro do seu pai para isso? - Bash questiona. - Ela sempre foi mais esperta. Sempre soube que tinha muito mais por trás dessa história.  

— Bash... - seguro seu braço, implorando por explicações.  

— O velório com caixão fechado, sendo que ela levou um tiro na barriga. O quanto ela demorou para morrer. Sua certidão de óbito perdida no IML...  

Ele se virou para o assassino.  

— Onde ela está?  

— Morta - ele responde, se levantando, segurando o antebraço sangrento.  

— Eu vou perguntar pela última vez, Patrick: onde Madison está?  

Ele suspira. 

— Vamos para o meu apartamento, preciso dar pontos no meu braço e lá eu explico tudo para vocês. 

Pego a arma e a destravo novamente. 

— Ótimo, mas saiba que da próxima vez eu não vou errar. 

§§§

Não prestei atenção no nome do prédio. Ele era grande e branco, com várias sacadas de vidro e a portaria vazia. Patrick chama os dois elevadores e o da esquerda chega primeiro. Ele aperta o número 15.  

Começo a suar frio. 

Quando o elevador para e ele vai na frente para abrir a porta larga e branca, sinto como se meu coração fosse sair pela boca. Deixo Bash entrar na frente. 

Não há ninguém no apartamento. 

Ele parece pequeno. A sala é espaçosa, com uma televisão grande pendurada na parede com um painel escuro e uma mesinha de centro com um livro em cima dele, mas não consigo enxergar o título. A cozinha é americana e é apenas um corredor. Não há mesa de jantar, apenas três banquetas escuras no balcão da cozinha. Não sei o que há mais para dentro, apenas vejo um corredor estreito e algumas portas fechadas. 

Patrick pega o notebook em cima do sofá no tom grafite, mas sente dificuldade para digitar. 

— Você pode pegar uma caixa branca no armário do banheiro para mim, Scarlett? 

— Vai querer que eu te costure também? 

Ele sorri de forma debochada. 

— Eu posso fazer isso sozinho. 

Vou a procura do banheiro, mas acabo me distraindo. A segunda porta a direita está entreaberta e eu a abro por completo. É um quarto onde há uma cama de casal e as cortinas brancas balançam por causa da sacada aberta. 

Por que Maddie não está aqui? 

Ouço eles conversarem e decido pegar logo a dita caixa e voltar para a sala. Porém, meu celular treme no meu bolso. Uma mensagem. 

Venha me encontrar. 

Sem identificação nem nada. Não precisava. 

Venha sozinha. 

Ela sabe que estou no apartamento de Patrick com Bash. Ela está me observando. Só não consigo deixar de pensar porque ela não queria Bash lá. 

§§§

Sebastian Scotterfield 

No notebook, Patrick faz uma chamada de vídeo que é rapidamente aceita. Drake, seu irmão mais velho, aparece na tela. 

— O que está acontecendo? - pergunto. - Onde ela está? 

— Eu vim sozinho - Patrick fala. 

— Madison nunca ia colocar uma procuração no seu nome se não tivesse um plano. 

— Madison colocou uma procuração no seu nome? - Drake repete, surpreso. Parecia falso para mim. 

— Nós tínhamos um plano - Patrick continua. - Íamos sumir depois da formatura, mas deu tudo errado. Conte para ele, D. 

— Eu comprei a passagem - o mais velho tenta me convencer. - Apenas uma. O corpo de Madison passou por mim no hospital. Eu atestei sua morte. Não há a menor chance dela ter me enganado. 

— A menos que ela não precisasse enganar - me viro para Patrick. - Por que você a chamou quando Scarlett o encontrou no terraço? Se ela não estivesse viva, você não a procuraria dessa forma. 

— Parecia um bilhete que ela mandaria - ele suspira. - Eu esperava que ela viesse atrás de mim, atrás dos nossos planos. Esperava que estivesse viva. Nós íamos fugir. Isso... Berna, eu digo, era algo que ela queria. Vir até aqui sem Madison não é o que eu queria fazer, mas precisei. Precisava me esvaziar depois de sua morte. 

Tudo parecia muito suspeito pra mim. O quão envolvido Drake estava? Patrick estava mentindo, isso eu tenho certeza. Mas Maddie está aqui, eu podia sentir. Na Suíça... ela não ia deixar todas essas pistas a toa. O dinheiro desviado, a procuração, o contato de Dameron para Scarlett... 

Eu a conheço, ela era mais esperta do que isso. Eu sei que é. 

§§§

Scarlett Wilkins 

Saio do quarto e nem me dou ao trabalho de pegar a caixa no banheiro. Me dirijo até a porta. 

— Onde você vai essa hora? - pergunta Patrick. 

— Não é da sua conta. 

Saio batendo a porta e aperto o botão do elevador com pressa. Entro correndo e torço para a porta fechar logo. Patrick me segue e assim que ele fica frente a frente comigo a porta se fecha. 

Se ele for de escada, pode chegar ao mesmo tempo que eu. Assim que o elevador libera, corro e puxo o pequeno portão que só abre por dentro. A portaria está vazia. 

Me escondo atrás de uma coluna quando escuto Patrick gritar pelo meu nome. O vejo na rua procurando por mim, mas ele acaba desistindo e volta para dentro. 

Sinto uma mão segurar meu pulso com força. A mão é grande demais para ser feminina. 

— Te achei. 

Ele deve ter dado a volta no prédio. 

— Bash, por favor, volte para dentro. 

— Por que você saiu correndo daquele jeito? 

— Tem algo que eu preciso fazer. Por favor, não me impeça. Só volte e... 

— O que está acontecendo? 

Não respondo. De repente, ele vira os olhos e seu corpo parece mole. O vejo se desmanchar na calçada. Apenas depois me dou conta da pancada que eu ouvi. A pancada que o atingiu na cabeça. 

— Scarlett? - uma voz me chama em meio a escuridão. A rua estava escura demais para vê-la, mas eu sabia quem era. Mesmo leve, era sempre autoritária. Porém, dessa vez, parecia meio desesperada. 

Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar, em qualquer tempo. 

§§§

Seco meus olhos, mas as lágrimas insistem em sair. 

— Eu agradeço por ter confiado em mim a chave para te achar - digo -, mas você deveria falar com ele

Ela sabe de quem eu estou falando. Se ajeita no banco em que sentamos, próximo ao prédio. De lá, podemos ver o corpo de Bash estirado na calçada, desacordado. 

— Eu não o chamei aqui, Lett - ela fala. - Eu chamei você. Eu confiei em você. É por isso que te contei agora tudo o que aconteceu durante esses dias em que estive morta. 

— Maddie - seguro suas mãos. - Você não o viu no seu enterro. Eu vi. O desespero dele, a angústia... o medo. A falta. Eu senti tudo isso vindo dele. Quando soube da possibilidade de nós acharmos o seu assassino, fez de tudo para virmos para a Suíça. Ele descobriu que você estava viva, ele juntou todas as informações. Você tinha que ver o brilho nos olhos de Bash no terraço quando ele falava e acreditava veementemente que você estava viva. 

Vejo seus olhos encherem de lágrimas e as enxugo, deixando as minhas escorrerem pelo meu rosto, sem me importar. 

— Ele pode ter errado muito com você, mas tudo o que ele tem feito para te compensar... eu acho que é o suficiente. Ele está provando cada dia que realmente te ama, até mesmo depois da morte. 

Ela olha para o corpo dele na calçada. Ele começa a se mexer. Está acordando. 

Levanto e a puxo comigo. 

— Vá - digo. 

— Mas...  

Sorrio para ela. 

— Nós podemos conversar mais tarde. Agora tem outra pessoa que precisa mais de você.

§§§

Sebastian Scotterfield

Ela emerge da escuridão com um vestido longo cor de creme. Seu cabelo está mais ondulado do que o normal, caindo como uma cascata pelos ombros. Seus grandes olhos brilham e eu não sei defini-lo.

Tenho vontade de agarrá-la pelos ombros e nunca mais deixá-la ir. Quero beijá-la e tocar cada extremidade do seu corpo. Quero fazê-la tremer. Também quero perguntar porque ela confiou em Patrick e não em mim a sua morte. Quero perguntar porque fez isso comigo e com todos nós, porque ela havia nos enganado. Quero abraçá-la até o fim dos meus dias e sentir o seu corpo junto ao meu pelo resto da minha vida.

Eu sempre falava que a amava e sabia que era verdade, mas apenas em breves ocasiões eu sentia a intensidade dessas palavras. Agora, porém, a certeza me inundava. Eu jamais poderia viver sem ela novamente.

— Scarlett deveria ter vindo sozinha.

Isso é um tapa na minha cara.

— Maddie...

— Nós deveríamos voltar para o apartamento.

Mas ela não está olhando para mim. Está olhando para a pequena escuta no seu vestido.

— Não - a pego pela mão e arranco a escuta. A jogo no chão e piso. Não perderia um momento sequer.

Caminhamos em silêncio por algum tempo até uma pracinha ali perto. Há um banco branco bem ornamentado rodeado por lâmpadas cheias de mosquitinhos. Nos sentamos.

— Como você soube? - ela pergunta, as mãos no colo.

Suspiro. Ela estava sendo tão fria, tão técnica.

— Scarlett me contou sobre Dameron. Tudo me parecia suspeito demais. A procuração para Patrick... você nunca faria isso. Sempre foi esperta demais para morrer dessa forma.

Ela sorri para mim pela primeira vez.

— Nós nos casamos em segredo para que eu pudesse passar a procuração para o nome dele.

— Vocês casaram? - questiono, surpreso.

— O seu pai é juiz, Bash. Você deveria saber dessas coisas.

Respiro fundo.

— Por que você se fez de morta?

— Bash...

— E por que não confiou em mim? - as perguntas jorram dos meus lábios como água de uma torneira. - Eu te amei acima de qualquer coisa, perdoei suas chantagens e tudo o mais. Por que você me deixou sofrer a sua morte? - minha voz soa meio brava. - Por que você me deixou?

Ela abaixa a cabeça e fica em silêncio.

— Você estava com ela. E também tem as suas filhas. Não queria atrapalhar...

— Não é por isso - falo. - Nós sabemos bem disso.

— Todos vocês me traíram. Eu tinha poucas pessoas em quem podia confiar de verdade. Eu os amava, mas não acreditava mais em vocês.

Ela está desviando o assunto, percebo. Eu a conheço como ninguém.

— Agora me conte o seu motivo final.

Ela parece tirar um peso das costas quando diz as três palavras mágicas:

— Eu estou morrendo.

O mundo desaba ao meu redor. Ela continua:

— Dois meses antes de Cancun, fui fazer meus exames anuais no HH. Drake descobriu uma doença incurável no sistema nervoso. Então eu decidi reunir o pessoal como uma despedida e contar para vocês sobre a minha doença - ela me encara -, mas você me traiu no que deveria ser a nossa última viagem juntos. Então eu decidi me vingar de Tiffany. Me vingar de você. Fiz Patrick se apaixonar por mim para que ele me ajudasse.

— Você o colocou contra a própria irmã...

— Ele já a odiava - ela fala. - Drake é o primogênito de ouro, Tiffany a caçula protegida. Patrick sempre se sentiu de lado. Não foi difícil convencê-lo.

Ela me encara de forma profunda, como se quisesse que eu tocasse a sua alma. Como se quisesse me convencer a entender seus motivos.

— Drake descobriu um experimento na Suíça. Eu decidi dar prosseguimento no plano, apenas fazer algumas alterações.

— E seu plano inicial era...?

— Patrick ia me matar na noite da formatura, durante o meu discurso.

Fico chocado demais para dizer qualquer coisa. Por mais que a doença fosse incurável, ela poderia viver muito tempo ainda, mas decidiu viver apenas um ano. Tudo isso por vingança.

— Quando descobrimos o experimento, apenas alteramos o plano. Ele ia fingir me matar.

Maddie volta a desviar o olhar. Como se sentisse vergonha.

— Durante esses meses, desviei dinheiro do hospital do meu pai e da Red Night para poder nos bancar aqui. Milhões - ela dá ênfase. - Mas na boate sempre foi dinheiro vivo, por isso não há registros. O nome Hartfold não pode estar envolvido com isso, por isso o rombo está no nome dos van der Windsor.

— Você roubou o seu pai e deixou o pai de Adam com uma dívida enorme.

— Apenas peguei minha herança adiantada - ela se defende. - Então casei em segredo com Patrick, passando a procuração para o seu nome.

— Você confiou demais nele.

— Ele estava completamente apaixonado. Mais do que você jamais estaria. Jamais me trairia.

— Maddie - me aproximo. - Se você tivesse visto meu desespero... a minha tristeza. Gracé está arrasada, em depressão.

Ela arfa, como se sentisse culpa, mas depois revira os olhos.

— Nunca foi uma mãe muito atenciosa.

— Mas é uma mãe, apesar dos pesares - digo. - Você não entende. Quando você tem filhos, algo dentro de você muda.

Ela se levanta.

— Não entendo por sua culpa. Você poderia ter tido um futuro ao meu lado, ou pelo menos uma parte dele, mas preferiu me trocar.

— Madison - pego sua mão e a faço sentar novamente. - Quando comecei a desconfiar que você estava viva, meu coração encheu-se de alegria. Eu atravessei o oceano para te encontrar. Banquei minha viagem e a de Scarlett. Se eu não te amasse jamais teria feito tudo isso.

— Então por que você ficou com Tiffany?

— Eu estava errado e já pedi perdão. Você disse que me aceitava de volta, mas jamais pensei que arquitetava um plano de vingança.

Madison suspira.

— Nada disso importa agora - seus olhos estão distantes. - O experimento deu errado. A radiação a que fui exposta só fez minha doença piorar. Tenho menos de meses de vida.

Minha cabeça gira. A esperança na qual eu me agarrei parece ter me largado em meio ao espaço. Eu estou a deriva, totalmente sem gravidade. Fios que me prendiam a Terra não estão mais lá. Maddie não está mais lá.

— E o que você pretende fazer?

— Não posso voltar - ela fala. - Vou viver o tempo que me resta aqui na Suíça.

— Maddie, nós estamos sendo investigados. Já perdi a conta de quantas vezes fui na delegacia prestar depoimento. Se você está viva...

— Eu morri, Bash - ela me interrompe. - Morri naquela formatura. Fui imortalizada, como eu sempre disse que seria. Você quer que eu volte para vocês se safarem, para que o mundo me odeie e então eu morra como uma qualquer de uma doença sem cura? Esse não foi o final que eu sonhei pra mim. Não vou deixar isso acontecer comigo.

Concordo com a cabeça. Não poderia obrigá-la a mais nada.

— Como você espera que eu aja normalmente quando voltar sabendo o que eu sei?

Ela pega minha mão.

— Não volte.

— Patrick é seu marido agora - minha voz soa meio amargurada.

— Só no papel. Ele já sabe que eu não o amo. Bash, eu sei que lá no fundo você quer.

Eu queria. Como eu queria. Passar alguns meses ali com ela, naquele lugar frio e lindo. Apenas eu e ela. A despedida que nós dois merecíamos.

Mas não era assim tão fácil. Havia um processo nos Estados Unidos pelo seu assassinato, eu era um dos suspeitos. Não poderia estar viajando. Eles poderiam me considerar um fugitivo. E daí Madison morreria de verdade e como eu poderia voltar para a minha família, para os meus amigos?

— Volte comigo - peço. - Meu pai vai nos ajudar. Você não vai ser presa por ter forjado a sua morte, prometo.

Ela afasta a mão.

— Não posso.

E se levanta para voltar a repetir:

— É melhor voltarmos para o apartamento.

Não é isso que eu quero. Meu coração procura outra saída, mas não encontra. Não poderíamos acabar desse jeito.

— Venha comigo - a puxo pela mão até o carro que aluguei na cidade.

— Aonde nós vamos?

— Você confia em mim?

Ela sorri.

— E eu tenho escolha?

§§§

Tranco a porta do hotel assim que entramos.

— É óbvio que você ficaria no mais caro de Berna - ela sussurra.

Sorrio para Maddie e me aproximo.

— Já que nós vamos seguir caminhos diferentes, pensei em uma despedida apropriada.

Madison toca o meu rosto.

Your phonebook full of numbers 'stead of names

All them vain decisions keep you jaded

You could have found the one but you won't change

— Eu preciso saber se você sente o mesmo - ela murmura próximo a minha boca. - Eu preciso saber se você me ama do jeito que eu amo você.

A puxo para um beijo urgente. Parece que nós havíamos renascido das cinzas, assim como Maddie voltou da morte. Como uma fênix. Só para morrer de novo.

Mas nós... o nosso fogo era vivo, a nossa história se manteria para sempre.

So aren't you glad to meet me?

I think you should

I'll be glad to meet me if I were you

— Eu vou te amar até depois da morte.

E eu sabia que aquela seria a nossa última noite juntos. Não queria soar nostálgico, mas aproveitei cada instante, pois era evidente que não se repetiria. E eu sentia muito por isso. Porque o seu gosto, o seu toque, o seu cheiro... era inigualável. Saber que eu nunca mais a teria para mim me entristecia, mas decidi não pensar nisso. Não agora.

Porque nesse momento era apenas nós dois naquele quarto de hotel. Maddie e Bash. Bash e Maddie.

Pra sempre. Mesmo depois da morte.


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Notas finais do capítulo

Eu estou tão animada!!!!
Quero saber o que vocês acharam, o que imaginavam que iria acontecer, se seus palpites foram certos ou não.
xx



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