Masquerade escrita por okayokay


Capítulo 22
Cúmplices




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Scarlett Wilkins

Tocava uma música eletrônica animada, todos se reuniam perto da piscina. Não havia muita iluminação, mas esse era o objetivo. Haviam quiosques espalhados e não havia sequer uma pessoa de mãos vazias, vários copos de plástico jogados no chão.

Dentro da casa, ávidos por algo a mais fuçavam atrás de bebidas mais fortes, até que acharam duas garrafas de vodka. Em meio aos jardins, pessoas se beijavam de forma calorosa, sabe-se lá o que acontecia no andar de cima. 

Nunca fui muito popular. Gostava de ir em festas como qualquer adolescente, mas não ia caso minhas amigas não fossem. Lily havia sido transferida de colégio depois que uma sextape sua foi divulgada e Amber se afastou demais de mim depois disso, me fazendo desconfiar que ela nunca foi realmente minha amiga. 

Comecei a andar com os meninos então. Conhecia alguns desde pequena, tipo Adam van der Windsor. Contei para ele sobre como minhas amigas haviam me deixado e ele falou que iria me apresentar para seu grupo. Era constituído basicamente por Madison Hartfold, a menina mais popular do Institute St. Cloud, e seu namorado, Sebastian Scotterfield, além de seus outros amigos, Tiffany Morgenstern e Franklin Wentworth.

Todos eram tão ricos que no começo me senti meio intimidada. Não que eu fosse pobre, pelo contrário, tinha uma casa grande no mesmo condomínio dos cinco, carro próprio, ganhava tudo o que queria e viajava sempre que podia. Só que, perto deles, eu não era nada. Apesar disso, eles me acolheram de uma forma tão linda  que eu logo me senti integrada. Isso foi logo no começo do ano.

Então comecei a frequentar outras festas com eles. Não aquelas do pessoal do colégio de sempre, mas festas com gente mais rica do que o normal, regada a bebida e outras coisas.

Então eu conheci Jackson. Ele era alto, loiro, olhos azuis e um sorriso encantador, além de pertencer ao time do colégio e ser extremamente rico, sendo o dono das festa mais badaladas do instituto. O típico menino que qualquer garota se apaixonaria.

Adam me disse para tomar cuidado inúmeras vezes.

— Eu sei o que estou fazendo - eu falava para ele com um sorriso no rosto.

— Eu me preocupo, Lett. Eu e a trouxe para o grupo e odiaria que algo de ruim te acontecesse por causa disso.

Então eu o abraçava. Por muito tempo gostei dele e ele não parecia notar, então Jackson apareceu e mudou tudo. Ele passava bastante tempo comigo e com o pessoal, parecia ser o cara certo, afinal nunca ouvi comentários sobre ele ser galinha, como acontecia com Adam.

Eu estava enganada.

Jackson queria dormir comigo, isso era evidente. E eu o enrolei por semanas. Sua festa, então, parecia ser apenas uma desculpa para o que ele realmente planejava.

No meio da madrugada, quando muitos já estavam dormindo em qualquer canto de tão bêbados, ainda havia algumas pessoas na piscina. Jackson me chamou para entrar com ele e, mesmo não tendo levado biquíni, entrei de roupa.

— Não posso ficar muito tempo - sussurro em seu ouvido, as mãos em seu pescoço. - Vou dormir na casa de Maddie e ela tem compromisso amanhã cedo.

— Você não precisa dormir lá - ele murmura, mordendo minha orelha. - Para falar a verdade, você não precisa nem dormir.

Sinto um arrepio percorrer toda a minha espinha e sorrio para ele. Eu sabia exatamente como esses meninos agiam: falavam coisas sedutoras, faziam as meninas tremerem de vontade até elas cederem. A questão é que eu gostava de Jackson, não como gostei de Adam, mas gostava de estar perto dele. E por isso tinha que ser difícil, porque caso cedesse, ele me dispensaria assim que o sol nascesse. Não podia deixar isso acontecer.

Mas parece que ele não se importava com o fato de eu negar. Sua mão subia por baixo da minha blusa que estava agarrada em meu corpo por causa da água, apertando meu peito.

— J, pare! - o empurro depois de negar três vezes e saio da piscina pela escada. - É melhor eu ir embora. Maddie! - chamo pela minha amiga. Vejo que não há ninguém na área da piscina.

— E você vai me deixar aqui assim? - ele pergunta, indignado. Dou de ombros. Irritado, Jackson avança. - Nem pensar.

Tento correr para os jardins, mas ele me agarra pelo pulso e me pressiona contra o seu corpo.

— Pare de resistir, S. Eu sei que você quer.

Qualquer vontade que eu tenha tido foi desfeita naquele momento. No fundo, eu tinha a esperança que ele não me forçaria a nada. Deus, eu o conhecia! Como ele podia fazer algo assim? 

Mas eu sabia a verdade. Jackson, bêbado ou sóbrio, não importa.

Ele me empurra contra um pilar grego perto da piscina e aperta minhas coxas. Tenho vontade de vomitar quando sinto sua mão dentro do meu shorts.

— Vai, Lett! - escuto a voz de Maddie ao longe. Ela pensava que eu ansiava por aquilo. A verdade é que eu queria, mas agora não mais. Não depois disso.

Eu não deixaria isso acontecer.

— Se for pra você ficar parada desse jeit...

Não deixo ele terminar. O empurro mais uma vez e, quando ele me puxa, dessa vez estou preparada. Me desfaço do seu enlaço e encaixo minha mão em sua cabeça. Junto toda a raiva e o nojo que tenho dentro de mim e a empurro com força contra o pilar.

Ouço o estralo. Vejo ele cair e, logo em seguida, vejo o sangue saindo da sua cabeça. Ouço o copo que Maddie segurava na mão cair.

Tudo parece silencioso agora.

— Lett... - ela segura meu pulso. A afasto bruscamente pela lembrança de minutos atrás de Jackson fazendo o mesmo movimento. - Calma! Você está bem?

Não sinto lágrimas em meus olhos. Não sinto tristeza. Não sinto nem mesmo um vazio, só quero ir embora dali.

— Ele queria me forçar - respondo roboticamente, olhando o nada. - Agora ele não pode mais me forçar a fazer nada que eu não queira.

Sinto ela me abraçar e quando isso acontece, vejo nossos amigos me observando ao fundo. Eles se aproximam.

— O que aconteceu aqui foi um acidente, sim? - Maddie olha para todos eles. - Ninguém irá contar. 

Adam havia me dito que eles se conheciam há tempos, assim como eu e ele, e até andavam juntos, conviviam e riam, mas que depois daquela noite, eles se tornaram amigos de verdade. Cúmplices.

Ouço um tilintar no fundo da minha mente. Aos poucos, acordo. Quando finalmente desperto por completo, vejo que estou toda suada. Também escuto o meu celular tocando.

— Estou chegando aí - a voz de Bash é gritante, ao fundo escuto várias buzinas.

— Cinco minutos - murmuro e desligo o telefone.

Escovo os dentes com calma e lavo meu rosto, como se as memórias impregnadas em mim pudessem ir embora pelo ralo junto com a água.

Não podiam.

§§§

— Você vai essa semana - Bash entrega para mim minha passagem. - Nós nos encontramos semana que vem. 

Concordo. Não havia contado a ele sobre tudo com objetivos financeiros, mas acabou vindo a calhar, já que eu tinha pouquíssimo dinheiro guardado, já que tudo o que eu ganhava na Red Night ficava pra administração, pois eu queria sair logo de lá. Bash, então, se tornou o financiador da nossa viagem.

— Eu finjo que vou visitar meus avós maternos e você decide viajar para espairecer - falo. - Espanha, não se esqueça. Tire fotos para postar no domingo no Instagram.

A passagem de Bash tinha conexão na Espanha. Havíamos combinado dele mentir dizendo que estava lá e, então, ir para a Suíça mais tarde. Seria mais seguro.

Acertamos os últimos detalhes e nos despedimos. Amanhã cedo partiria.

§§§

Passo na Red Night me despedir de Wendy. Como eu e Bash havíamos combinado, minto dizendo que vou visitar meus avós maternos.

— Você me disse que eles não tinham nada para nos oferecer.

— Financeiramente - pondero. - A morte de Maddie me tocou de uma forma muito grande. Senti essa necessidade de vê-los...

— Você sabe quando volta?

Sabia que era perigoso. Esse dinheiro rastreado podia me levar a lugares inimagináveis. Penso em como o acesso ao teatro na formatura era restrito. Nós éramos uma banda famosa, afinal. Os seguranças revistaram todo mundo e apenas pessoas na lista podiam entrar. O atirador ou achou uma brecha ou era alguém de confiança.

O assassino de Maddie pode ser o mesmo que roubou o seu dinheiro.

— Não tenho previsão - omito.

Respiro fundo. Naquele último ano eu e Wendy havíamos nos aproximado demais. Ela era a única família que eu tinha e mentir me apertava o coração.

 – Eu vou voltar para te tirar daqui como eu prometi.

Ela sorri e me abraça.

Saindo da boate, dou de cara com Zac entrando.

— Wilkins - ele sussurra, surpreso.

— Zac.

— Aqui é o último lugar onde eu esperava te ver.

— Minha irmã ainda está presa nesse mundo - murmuro. - Não por muito tempo.

Ele assente. Um silêncio desconfortável impera no salão. Nós nunca fomos de ficar constrangidos calados, sempre era algo acolhedor. Agora parecia feroz, porém ninguém se atrevia a partir.

— Srta. Wilkins - o motorista de Bash adentra o local, já na faixa dos seus sessenta, constrangido. Um velhinho simpático e muito engraçado, para falar a verdade. - A senhorita vai se atrasar para o seu voo. 

— Voo? - Zac questiona. - Você vai embora?

— Texas - minto mais uma vez. - Avós maternos.

— Eu pensei que Wendy fosse sua única parente viva.

— Não costumo conviver com eles. Os vi apenas em um Natal - conto apressadamente. Não sei porque sentia necessidade de me explicar. Não somos nada um do outro.

— Parece que eu me surpreendo com você a cada dia mais - ele resmunga, raiva e mágoa em seus olhos.

— Zac...

Vejo que o motorista de Bash não está mais ali.

— Não - ele se afasta antes que eu possa me aproximar. - Já dissemos um ao outro tudo o que tínhamos pra dizer.

— Não tudo.

Nos encaramos por um bom tempo. Sinto como se meu corpo fosse altamente inflamável e ele fosse gasolina. Estava prestes a queimar.

Meu celular treme em meu bolso. Mensagem de DR. Dameron Riles.

"Uma passagem comprada às pressas no mesmo dia do assassinato. Meia-noite. USA-FRA-SWI."

Ele conseguiu. Podia ser um tiro no escuro, mas valia a tentativa. Uma hora após o tiroteio. Podia ser o assassino de Maddie.

Ver Zac ali quase me fez contar. Quase. Ele merecia saber, mas por ainda estar com raiva de mim, não sabia o que ele poderia fazer com a informação. Sabia que era sua irmã e que ele buscava respostas tanto quanto eu, mas eu não podia arriscar a essa altura do campeonato. Pelo menos não isso.

Antes que ele perceba, eu colo nossos lábios. Ele nem resiste, como se quisesse fazer isso a muito tempo, mas lutava contra seu desejo. Sua boca é ardente e eu sinto minhas pernas bambearem como nunca. É como se meu corpo estivesse se desfazendo aos poucos.

Por falta de ar, me afasto. Ele me encara com a expressão vazia, mas eu vejo seu olhar flamejar. 

— Me desculpa por ter mentido - começo. - Me desculpa por não ter confiado em você o suficiente para contar tudo sobre mim e, acima de tudo, me desculpa por ter partido seu coração.

Sinto lágrimas em meus olhos.

— Se você tivesse me conhecido um ano atrás... - talvez tudo fosse mais fácil, penso.

— Eu não teria me apaixonado - ele fala pela primeira vez, a voz rouca que eu tanto adoro. - Eu amo quem você é aqui e agora.

É um golpe nas borboletas em meu estômago. Elas saem voando e eu tento prendê-las novamente para que não voem para meu rosto, mas já é tarde demais, a gaiola foi arrebentada.

Ele se aproxima.

— Quando você voltar nós continuamos nossa conversa - ele sussurra em meu ouvido. - Scarlett.

E simplesmente vai embora.

§§§

Quando chego em Berna procuro pelo Hotel Schweizerhof, o que não foi difícil achar, levando em conta que era o melhor hotel de lá. Bom, Bash havia decidido bancar toda a viagem e ele acabou escolhendo o hotel, então não me preocuparia com preços. 

Converso com Dameron por Facetime, apenas avisando que cheguei bem, assim como ele havia me pedido para fazer. 

— Por que S231-B7? - pergunto depois de um tempo.

— Não faço ideia. Madison apenas disse que esse seria o nosso código.

— O que ela tinha contra você? - decido questionar. Aquela pergunta latejava em minha cabeça há algum tempo.

— O quê? - ele parece surpreso. - Nada.

— Tá, vocês roubaram dinheiro juntos - falo o óbvio -, mas não pode ser só isso.

— Madison veio até mim e me ofereceu essa parceria - sinto que ele pondera as palavras. - E então ela me ajudou quando eu precisei.

— No quê? - pergunto. Como ele não responde, logo me apresso a dizer: - Desculpa, sou apenas curiosa. Deve ser algo pessoal. Não precisa dizer.

— Eu sou gay - ele fala, me surpreendendo. Nunca que eu iria desconfiar. - Meu pai é um senador republicano e eu sou seu primogênito.

Meu Deus. Não queria nem imaginar pelo que ele havia passado com aquele pai, havendo um grande conflito de interesses naquela família.

— Madison ia duas vezes ao mês no banco e eventualmente nós conversávamos. Ela me incentivou a contar para minha família e foi comigo quando eu revelei aos meus pais. Isso - ele levanta o cabelo e aponta para uma cicatriz na têmpora - foi o que meu pai me deu em troca, além de me tirar todas as propriedades que ele havia colocado em meu nome.

— Dameron... sinto muito.

— Foi então que ela me incluiu no roubo do HH. Eu simplesmente a ajudava a desviar por uma pequena quantia, mas então nós começamos a repartir gastos. Ela dizia que era uma forma de se desculpar por ter me feito enfrentar minha família - ele sorri. - Eu falava que não havia porquê se desculpar, já que eu nunca me senti tão livre e tão feliz.

Madison o ajudou, assim como fez comigo. Pelo menos não o apunhalou pelas costas depois.

— Scarlett, me prometa uma coisa - ele para de sorrir. - Se essa viagem a levar até o assassino de Madison... não faça nada precipitado, sim? Deixe que as autoridades cuidem disso.

Sorrio para ele.

— Eu sei onde estou me metendo, Dameron. Não se preocupe.

Quando ouço um barulho na fechadura, desligo o Facetime e encaro a porta. Bash entra.

— Soube que vocês andou passando a tarde no SPA do hotel - ele fala, sorrindo.

Não consigo deixar de sorrir de volta.

— Você me coloca num hotel desses e acha mesmo que eu não vou desfrutar?

— Vamos lembrar que não viemos a passeio.

Concordo com a cabeça.

— Trouxe o que eu pedi?

Ele coloca as malas perto da cama.

— Não foi fácil, mas conheci um cara no aeroporto da França e ele me deu umas dicas - Bash abre uma das malas e tira de lá uma arma. Uma Glock. - Primeiro de tudo: você sabe usar isso?

— Aprendi algumas coisinhas na Red Night - pego a arma de suas mãos. Ele me encara e eu reviro os olhos. - Além disso que você está pensando, idiota.

— Lett... você me disse que só usaria em último caso.

— E eu vou - guardo a arma junto com minhas coisas. - Se eu tiver certeza que estou diante do assassino de Maddie, farei algumas perguntas e depois vou matá-lo.

— Você fala com tanta tranquilidade... até parece que não é nada novo.

Eu vi minha mãe ser morta pelo meu pai, penso. Nada me surpreende depois disso.

— Eu terei minhas respostas, Bash. Não me importa o custo.

Era como eu pensava no começo de tudo, quando entrei nisso. Mas antes de vir para cá, a conversa com Zac na boate não me sai da cabeça. A promessa do que pode ser... não sei se estou disposta a arriscar minha vida nessa "missão" como eu pensei que estaria. Acima de tudo, tinha medo. Não queria deixar esse mundo antes de viver tudo que eu tenho vontade.

Não queria que ele me matasse como fez com Maddie.


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Notas finais do capítulo

Finalmente a morte de Jackson foi revelada. E aí, o que acharam? xx



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