Masquerade escrita por okayokay


Capítulo 2
Traição


Notas iniciais do capítulo

Não estava muito animada para escrever já que houve pouquíssimo retorno. Mesmo assim, decidi dar uma segunda chance para a recém-começada fic.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/524191/chapter/2

Dois anos atrás

Tiffany Morgenstern

Acordo com Angel In Blue Jeans tocando. Tateio o meu celular com a ponta dos dedos e vejo que é o alarme. Desligo o celular e coloco a mão na cabeça. Que dor.

Olho para o lado e vejo Sebastian do meu lado. Meu Deus. O que foi que eu fiz?

Me arrasto até o banheiro e encontro uma escova de dentes nova no armário. A uso e depois jogo fora. Vejo minha roupa jogada em um canto do quarto e suspiro. Eu não podia ter feito isso. Não de novo.

Regulo a água do chuveiro na água gelada e tomo um banho frio. Nada melhor para despertar em um dia de calor. Prendo o cabelo loiro em um coque e sinto as gotículas de água caírem sobre a minha nuca. Fecho os olhos para apreciar aquele momento.

Sinto mãos em minha cintura e pelo canto do olho vejo Sebastian atrás de mim. Pelado.

Tento me afastar dele, mas ele me pressiona contra a parede e prende os meus braços.

– Me deixa tomar banho.

– Tenho outros planos.

– Sebastian, por favor... foi um erro. Não iremos repeti-lo novamente.

Ele é tão lindo. Seus cabelos castanhos escuros estão bagunçados e seus olhos azuis claros estão mais vivos do que nunca. Sua pele está bronzeada por causa das férias em Cancun com os amigos e o seu sorriso está radiante. É difícil resistir a aquele sorriso de lado maravilhoso.

E ele dá um sorriso. Não é um simples remexer dos lábios, mas sim aquele sorriso. Aquele de lado, sacana, que faz qualquer pessoa se ajoelhar e se render. Eu sinto algo dentro de mim derreter e é como se estivesse pronta para atender todas as vontades dele de repente. Eu não podia fazer isso.

– Eu preciso me arrumar, Sebastian. Você está me atrasando.

Nos conhecemos desde que nascemos praticamente. O nosso grupo é assim, somos formados por seis adolescentes filhos de milionários. Somos amigos inseparáveis, unidos no começo pelo interesse dos nossos pais, mas depois as coisas se tornaram mais fortes quando passamos por um problema dois anos atrás, quando estávamos no primeiro ano. Eu sentia que eu era verdadeira perto deles. Eu era só Tiffany, não Tiffany Morgenstern, a filha caçula de Ronald Morgenstern, o dono da do maior shopping de Nova York.

Como que eu poderia olhar na cara dos meus amigos agora? Como eu que eu daria risada das piadas de Madison sabendo que eu havia dormido com o seu namorado, que por acaso é um dos meus melhores amigos? Como eu ia explicar que tudo aconteceu porque eu estava bêbada e carente? Bom, a primeira vez foi assim. Agora a noite passada... eu simplesmente cedi. Fui fraca.

Acontece que ele sabe meu ponto fraco. Seus lábios carnudos e macios logo estão no meu pescoço, fazendo trilhas de beijos molhados e chupadas fracas. Respiro descompassadamente de olhos fechados. Se ele tentasse algo a mais, eu sabia que seria fraca novamente. Eu sabia que a carne tomaria conta de mim e que eu me deixaria levar.

A questão é que eu quero ficar com ele, mas a culpa balança contra o meu rosto como o vento abafado de uma cidade litorânea em pleno verão. Golfadas de ar entram pela minha boca, porque sem perceber eu estou trancando a respiração. Sinto alguns respingos de água gelada contra os meus tornozelos, mas nada muito forte que me faça acordar daquele delírio.

Suas mãos param na parte interna das minhas coxas. Meu corpo inteiro congela e logo se desfaz, como uma onda se quebrando contra um iceberg. Eu derreto.

Sou fraca. Esquento. Desisto.

Passo os dedos pelos seus cabelos escuros macios levemente molhados e o puxo para um beijo caloroso. Nossos corpos se tocam bruscamente e eu sinto um tremor se formar na minha barriga, subindo para o meu peito e bambeando as minhas pernas ao mesmo tempo. De repente não sei o que fazer com as mãos, com a língua e com todo o meu corpo. Quando ele me toca, é como se nada mais existisse. Toda a culpa que eu sentia ou o remorso que eu provavelmente viria a sentir se dissipou e tudo o que eu sentia era desejo. A vontade de jogá-lo em uma cama e ficar presa a ela o dia todo, de parti-la ao meio de tanto me movimentar.

Sebastian costumava provocar essas sensações em mim. Sempre foi assim. Lembro-me de como eu fiquei magoada aos meus doze anos quando descobri que ele havia beijado Madison uma semana depois de eu ter perdido o meu BV com ele. Lembro-me de quando eles anunciaram o namoro no ano passado. Todos tínhamos a mesma idade, estávamos no mesmo ano. Todos juntos, com as vidas mais entrelaçadas do que qualquer jornalista poderia imaginar.

O empurro mais contra o meu corpo, como se fosse possível. Sinto sua respiração abafada contra a minha nuca, meu corpo pressionado contra as lajotas frias do box de vidro e a água gelada caindo direto no ralo. Sebastian me jogou contra o box com uma força um pouco exagerada e eu senti uma rápida dor latejante no começo, mas a dor foi substituída por uma sensação boa. Não era a minha primeira nem segunda vez, então conforme mais eu fazia, menos doía. É tudo uma questão de prática.

Me viro porque aquela posição é muito desconfortável para mim. Fico cara a cara com ele, que avança. Retomamos de onde tínhamos parado e conforme ele faz força, eu cravo minhas unhas nas suas costas. Sinto algo gelado tocar meus dedos e percebo que fiz as costas de Sebastian sangrarem. Afasto minhas unhas de lá e pouco uma mão em seu ombro e a outra desaparece nos seus cabelos escuros e macios.

Prometo a mim mesma que essa seria uma despedida, apesar de saber que não funcionaria assim.

§§§

Ajeito meu cabelo com os dedos mesmo, já que não acho uma escova no quarto de Sebastian. Bom, talvez ele não precise de uma, afinal seu cabelo fica lindo bagunçado. Apesar disso, meus fios loiros estão comportados.

Me olho por completo no enorme espelho que cobre uma parede inteira no quarto dele.

Narcisista, murmuro para mim mesma. Então eu me lembro do meu closet cheio de espelhos, assim como o meu quarto e o meu banheiro. Eu também sou uma narcisista, não posso julgá-lo.

Visto uma blusa preta sem mangas e uma saia curta rosa pink com o contraste do salto pata azul bic. Vi uma combinação muito parecida de uma atriz no último Oscar. Essa era a roupa que eu usava na noite passada, então eu teria que ir com ela mesmo. Não dava tempo de passar em casa.

Sebastian diz que vai descer primeiro e conferir se não há ninguém em casa. Ele promete me dar um toque no celular, dizendo quando está tudo certo. Espero por alguns minutos, ainda me olhando no espelho, quando a mensagem no WhatsApp chega.

Desço as escadas com cuidado. O salto pata pode ser confortável, mas ainda é um salto fino. Olho pela casa tão conhecida e frequentada por mim. Brandon Scotterfield, o pai de Sebastian e Melodie, um renomado juiz. Famoso por condenar a prisão perpétua um serial killer nos anos 90. Ele sempre discriminou a pena de morte e convenceu muita gente de que era errado fazendo o seu discurso de que quando alguém fazia algo errado, ela deveria pagar com o tempo e o isolamento, não com a vida.

E ainda tem Chloe Scotterfield, a mãe de Sebastian. Uma mulher alta, magra, de cabelos loiros e lisos na cintura com olhos azuis cintilantes e enormes cílios naturais, sardas quase invisíveis na altura do nariz e grandes dentes brancos. Uma modelo já aposentada, hoje em dia é sócia da minha mãe, Phoebe. As duas são grandes estilistas e possuem um belo estúdio em um bairro nobre da cidade.

Apesar de gostar muito de Chloe, eu não contava com o fato de achá-la em uma das salas da casa. Sebastian havia dado o sinal, o que significa que tudo estava limpo.

Parece que ele estava errado.

– Tiffany - ela sorri, mas vejo a surpresa nos seus olhos. - O que faz por aqui tão cedo?

Sempre educada, Chloe me cumprimenta com dois beijinhos no rosto, um de cada lado. Sua bochecha toca na minha, mas seus lábios passam longe, como os costumes da sociedade mandam.

– Vim oferecer carona ao Sebastian - digo, digerindo a minha mentira como se fosse verdade. Se eu falasse com convicção, poderia convencer até a mim mesma. - Soube que o carro dele está no concerto e que o seguro ainda não liberou um reserva.

– Pois é, querida. Você é amiga dele e sabe como meu filho é um desastre no trânsito - ela sorri com seus grandes dentes perfeitos e brilhantes. - Além disso, preciso que o convença a renovar a carteira. Ele não quer um motorista particular e a carteira dele está vencida. Se não fosse Brandon, provavelmente ele teria passado pelo menos uma noite encarcerado.

Chloe adora uma conversa, isso ficou claro. Se ela desconfiou do que eu fazia ali, não demonstrou e ignorou por completo, enterrando o assunto e começando outro.

– Nós sabemos como ele preza pela liberdade em todos os setores de sua vida.

Penso no assunto. É verdade. Eu sabia como havia sido difícil para Madison fazê-lo pedi-la em namoro. Sebastian sempre gostou de ser livre, mas parece que minha amiga o amarrou de um jeito que mulher alguma havia conseguido.

– Em todos os setores - repito.

– Sinta-se a vontade, querida. Estou indo para o estúdio, passe lá mais tarde.

Concordo com a cabeça e vou em direção a cozinha com o passo apressado.

– Por que você demorou tanto?

– Por que você não me disse que sua mãe estava em casa?

– Eu não achei ela no quarto, então pensei que não estava.

– Você não pensou em olhar no closet ou no banheiro?

– Não - ele dá de ombros. - Você sempre foi uma boa mentirosa, Tiffany. Tenho certeza que dessa vez não foi diferente.

Algo me atinge no estômago e eu respiro fundo para não estapeá-lo.

– Por que você está comendo? Não vamos encontrar com o pessoal na cafeteria?

– Exatamente, na cafeteria. Não em uma padaria.

Bufo.

– Como você pode comer tanto e ter um corpo desse?

Sebastian não é o tipo de cara bombadão, mas tem músculos suficientes para encantar as mulheres que tem fetiche por homens desse tipo.

– Há um lugar chamado academia, onde eu vou pelo menos três vezes por semana.

– Eu disse para sua mãe que ia te dar carona. Estou com meu carro lá em casa. Vamos buscar.

Nós seis moramos no mesmo condomínio fechado. Há piscinas ao ar livre e aquecidas, quadras de futebol, tênis e vôlei e basquete, há quiosques que funcionam perto das piscinas no verão e um belo bosque.

Minha casa é na esquina depois da casa de Sebastian. As casas de esquina sempre são as maiores. As chaves do meu carro estão na minha bolsa e eu desativo o alarme do Santa Fé prateado. Sento no banco do motorista e Sebastian no do passageiro. Respiro fundo e coloco a chave na ignição.

Seria um longo primeiro dia.

§§§

Scarlett Wilkins

Quando eu entro na cafeteria em frente ao Instituto St. Cloud todos olham para mim. Está um dia quente lá fora e eu sou a única garota de calça jeans. Bom, pode-se considerar o fato de que a calça é toda rasgada e que eu estou com uma blusa cinza sem mangas com o desenho do símbolo do Batman na frente. Quase me desequilibro da minha bota de cano curto e cadarços com salto cheio de tachinhas quando vejo Adam.

Fazia uma semana que ele estava me evitando. Desde que voltamos de Cancun ele não foi em nenhuma das duas vezes em que reunimos a nossa turma. Na primeira vez ele disse que havia perdido o horário e a segunda desculpa foi que estava doente. Tentei convencer a mim mesma que talvez fosse verdade, mas algo dentro de mim me dizia que não era verdade.

Seu cabelo castanho está mais curto e seus estalados olhos cor de mel se fixam em mim. Seu maxilar abaixo dos seus lábios carnudos se contraí e seu rosto cor de oliva que antes tinha uma expressão feliz se torna sombria. Provavelmente ele me odeia.

Adam van der Windsor, um dos meus melhores amigos e meu primeiro crush. Eu já havia amado muitos homens, sempre fui uma mulher desapegada e facilmente influenciável, além do que na maioria das vezes me apaixonava uma vez por semana, mas com Adam foi diferente. No começo eu pensava que eu só o achava bonito, porém o sentimento especial que eu nutria por ele foi crescendo dentro de mim e eu não pude evitar. Percebi que estava apaixonada no nono ano, mas ele nunca me deu a maior bola. Até Cancun.

Franklin Wentworth está sentado entre Adam e Madison, que está na ponta. Caminho até ela e deposito um beijo na sua bochecha. Percebo que ela usa um vestido branco decotado e apenas uns três dedos acima do joelho, algo bem incomum para ela. Além disso, ela calça uma sapatilha da mesma cor. Sombra clara ao redor dos enormes olhos azuis claros, batom bege na boca da Jolie mirim, esmalte claro, cabelos loiros deixados naturalmente lisos... essa realmente não é a Madison que eu conheço.

Me sento na outra cadeira da ponta, deixando a cadeira vaga ao lado dela para Sebastian, seu namorado, e a outra para Tiffany. Bom, confesso que a minha intenção era ficar na cadeira ao lado da de Adam, mas ele nem olhou para mim.

– O que aconteceu? - pergunto.

– Como assim, darling?

– Suas roupas, sua maquiagem... você.

Madison Hartfold, a minha melhor amiga, dá um sorriso de leve. Eu sempre tive amigas e conhecidas bonitas. Até inimigas. Mas nenhuma delas era tão linda quanto Madison. Poderia até dizer que ela é mais bonita do que eu e Tiffany. Se eu não amasse Adam e todos os outros homens bonitos que me cercam, provavelmente eu tentaria algo com ela. Madison tem o tipo de beleza que é colocado em um pedestal e eu não duvidaria se alguma mulher me dissesse que havia ficado maravilhada ao olhá-la.

– Não tive tempo de me trocar, Lett.

Madison tem a mania de diminuir o nome das pessoas. Os famosos apelidos. Para os amigos e pessoas importantes, apelidos carinhosos, para o resto ela só jogava as migalhas. Apelidos engraçados para pessoas desprezíveis.

– Ela passou a noite com Sebastian - Frank conta, apontando para Madison.

– E onde ele está? - pergunto.

– Chloe o atrasou. Eu disse que chegaria na frente - ela diz.

Tiffany e Sebastian entram na cafeteria ao mesmo tempo. Como não há paredes, apenas vidros, vejo que os dois haviam chegado com o carro dela. Claro, o carro dele estava no concerto.

– Bash! - Madison levanta e fica enlaça os braços ao redor do pescoço do namorado, o beijando calorosamente.

Vejo que Tiffany está com uma cara estranha. Lembro-me da noite passada com um turbilhão de emoções todas misturadas e uma dor me atinge na parte da frente da cabeça. Me vejo tomando uísque demais e fumando.

Me lembro de ver Tiffany na balada com aquela roupa.

Ela contorce o rosto quando Sebastian aperta a cintura da namorada, a puxando mais para si. Vejo que a emoção no seu rosto pode ser as mais variadas, mas os seus olhos verdes estão flamejando. Isso só pode ser raiva. Ou inveja.

– Eu senti a sua falta, amor - Madison sussurra.

Eles não haviam se visto alguns minutos atrás? Por que ela sentiria a falta dele?

Penso que tudo não passa de exagero e drama, mas as ideias vêm a minha cabeça de uma forma embaralhada, mas logo se formam consistentemente e me atingem como uma onda quebrando nas rochas.

Tiffany estava com a mesma roupa de ontem e havia dado carona para Sebastian. Ela nunca usaria a roupa do dia anterior se não tivesse dormido fora. E ela deu carona para Bash e...

Respiro descompassadamente quando aquele absurdo me ocorre. Não. Sebastian namora Madison, que é melhor amiga de Tiffany, que namora Frank, que é melhor amigo de Sebastian. Seria muita traição...

É então que uma pergunta despenca em cima da minha cabeça: se Sebastian e Tiffany estavam juntos ontem a noite, onde que Madison havia dormido para estar com a roupa do dia anterior?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Roupa das meninas: http://www.polyvore.com/cgi/set?id=129193691&.locale=pt-br