Eu Quase Namorei o Ídolo da Minha Irmã escrita por Vlk Moura


Capítulo 26
Pai


Notas iniciais do capítulo

Yeva



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O médico tinha razão, depois de uma semana tomando os remédios corretamente Vladimir já estava ótimo, já voltara a escrever a lecionar. Minha irmã me mandara emails falando que Richard estava cantando com a banda e que tudo parecia ir bem, depois do falecimento da irmã ele parecia que nunca mais voltaria a cantar, mas então voltou a fazê-lo e agora com maior determinação do que antes, dizia que coisas ruins vinham para nos fortalecer, eu pensei nessa frase durante dias e não sabia como encará-la de forma a não me sentir uma idiota. Sempre ao lê-la eu pensava no que minha tia estava fazendo conosco, era horrível, ela queria no roubar tudo, o que viria de bom depois disso, ficariamos ricas com nossas profissões? Seriamos bem sucedidas e então nossa tia iria tentar nos atacar mais uma vez? Realmente é muito complicado pensar direito nessa frase.

– Yeva? - eu pulei da cadeira, Vladimir estava ao meu lado segurando uma caneca com café, estava quente eu percebia pelo vapor que subia, agradeci e enrolei a caneca em minhas mãos. - Está tudo bem? - ele folheava a papelada que acabara de nos chegar por email.

– Não sei - apertei a caneca e olhei o líquido quente como se ele pudesse me dar a resposta para o que eu precisava.

– Precisa de algo? - eu o olhei, ele não me olhava, perguntava mecanicamente e por alguma razão aquilo me machucava, por que ele não está me olhando?

– Não... - assoprei o café e o coloquei em beber na mesa - Vou ligar para os empresários. - agora ele me olhava, sempre que falavamos deles ele me olhava - quero saber mais sobre o pai do Richard.

– O que mais você quer saber? Você cresceu com aquele homem, acho que sabe o suficiente para saber escrever.

Saí do escritório, meu pescoço estava tenso eu não conseguia focar em escrever, precisava me distrair.

Peguei o telefone, a mulher foi quem atendeu, eu fiz algumas perguntas, ela driblava as resposta e então marcou para me encontrar, na minha casa, o que eu achei muito estranho, por que na minha casa? Mas concordei, eu precisava entender tudo aquilo.

Avisei Vladimir que eu estava voltando para casa ele apenas acenou, e eu fui. Peguei o ônibus, com o porteiro peguei as cartas e deixei livre para a empresária subir quando chegasse. O apartamento não estava bagunçado, o que era estranho de ver, quando Yara estava comigo, mesmo que não fossemos muito bagunceiras, ainda assim tinhamos livros espalhados para todos os lados e papéis de partitura, eu estou sentindo falta dela. Me joguei no sofá e encarei meus livros na prateleira, muitos impressos e encadernados, nenhum em brochura, peguei dois antigos que eu tinha escrito antes do acidente, a forma como minha mãe lia meus livros e comentava, eu queria poder ouví-la mais uma vez.

– Com licença - olhei a porta, a empresária estava entrando, fui descuidada em deixar a porta destrancada - A porta estava aberta e você não veio atender, então eu...

– Tudo bem, desculpa eu estava meio perdida em pensamentos. - ela sorriu, era a primeira vez que eu a via sem estar com sua postura durona de empresária.

Quando ela estava com Richard nem parecia ser a mãe dele, era dura, fria, e sempre cobrava, nunca a vi o elogiando.

– A senhora aceita alguma coisa para beber? - perguntei.

– Estou bem, obrigada - confirmei desajeitada.

– Certo... - olhei os livros na mesa de centro e depois para a televisão que ainda estava desligada, fora da tomada.

– Você quer saber sobre o Budapeste, então serei rápida - eu a olhei. - Eu e ele nos conhecemos ainda na adolescência, namoramos durante muitos anos, mas então, ele conheceu alguém, alguém que ele nunca me contou quem era, apenas que ele a amava mais do que tudo, nós nos separamos e pouco tempo depois descobri que estava grávida dele, mandei cartas para ele contando sobre a criança e a única resposta que tive foi na letra de sua amada dizendo que estavam prestes a ter uma família. - voltei a olhar a televisão desligada - Fiquei arrasada em saber daquilo, me perguntei se ele não me traia desde a época em que namoravamos, mas ele não era alguém assim, mas saber que ele viajava muito para tentar ter a carreira de músico me fez desconfiar cada vez mais. Eu conheci meu atual marido em um show do Budapeste, quando eu fui atrás dele buscando por satisfações, eu já estava bem barriguda, Richard sempre foi uma criança muito grande eu sentia isso.

"Tentei entrar nos bastidores, na verdade, eu invadi os bastidores, o segurança me barrou, conversei com ele contei o que estava acontecendo, ele pediu para que eu relaxasse, se estava realmente grávida e não era como as outras que fingiam tal coisa - uma fila de meninas com barrigas falsas esperava permissão para entrar nos bastidores, algumas até arrumavam as espumas para que não parecessem almofadas - eu deveria relaxar par ao bem da criança. Com a ajuda dele tomei um táxi, ele me acompanhou até em casa para ter certeza de que eu ficaria bem, no caminho fomos conversando sobre nossas vidas e ele me contara que perdera a namorada justamente para o pai do meu bebê, fiquei surpresa com aquela coincidência.

"Trocamos telefones e depois de algumas semanas estavamos namorando." ela suspirou, parecia cansada "Quando fui dar a luz, meu namorado me acompanhou, encontramos com Budapeste e a sua atual esposa, eles também teriam filhos, ali, então, meu ex assumiu a paternidade e meu namorado descobriu que ele era o verdadeiro pai das crianças de sua ex, mas não assumiu as crianças, a mulher gritava com ele e ele não se importava, Budapeste assumiu as três crianças..." eu segurava as lágrimas, ela, sem saber, contava sobre minha história e a da minha irmã "Ele sempre foi um grande homem, quando faleceu naquele acidente eu tive uma depressão fortissima, meu marido chegou ao show do Richard e contou que havia batido no carro dele e da família que todos estavam mortos" meus dedos estavam mudando de cor, eu os apertava muito forte tentando me conter "Ele fugira assustado ao ver o estado em que todos estavam, principalmente após reconhecer Budapeste."

– E o Richard? - ela me olhou - Ele sabe sobre quem é o verdadeiro pai dele? - perguntei segurando os soluços.

– Não, para ele meu marido é seu pai e quero que assim continue sendo, para ele é o melhor. - confirmei e limpei algumas lágrimas.

– Posso te fazer mais uma pergunta? - ela confirmou.

– Seu marido, ele sente culpa pelo acidente que causou? - ela negou enquanto ria.

– Ele é um homem frio, a morte daquela família só o poupou de não ter de conhecer as filhas que ele sempre negou - eu a olhei assustada - Nos meses anteriores ao acidente a esposa de Budapeste tentava entrar em contato com ele, ela achava que era um direito de suas filhas conhecerem o verdadeiro pai, sempre era eu quem respondia seus emails e cartas.

– Você concorda com ela? - ela pareceu não entender - Que realmente era um direito?

– Sim, claro. Richard só não conheceu o verdadeiro pai porque meu marido nunca deixou, nunca permitiu que o causador de sua separação chagasse perto do seu adorado filho. Ele moldou Richard para ser o que ele é hoje, desde de muito jovem ele fazia isso e jogava tudo em cima de mim, assim o meu filho, meu filho de verdade, iria ter repulsa de mim e nunca perguntaria nada que pudesse remetê-lo ao Budapeste. Mas no fundo, eu sempre quis que ele conhecesse a pessoa maravilhosa que aquele baterista era, sempre quis que ele tocasse com o pai, mas Budapeste sabendo como meu marido é nunca quis tocar com Richard e foi assim que conseguimos mantê-los separados.

Eu me levantei meio atordoada, a deixei sozinha na sala do apartamento, desci as escadas aos prantos, saí do apartamento, peguei o primeiro ônibus que passou e desci em seu ponto final.

.-.-.-.

– Vlad? - era a empresária.

– Sim? - eu respondi terminando de arrumar a pilha de papéis.

– Acho bom você procurar pela Yeva, ela parecia um pouco atordoada com nossa conversa.

– Sobre o que vocês conversaram? - perguntei com curiosidade.

– Sobre o Budapeste.

– Ah... Droga! - saí do escritório.

– Algum problema? - ela parecia não entender o que tinha acabado de fazer.

– Ele é o pai dela. - falei, pude ouvir sua exclamação do outro lado da linha, ela desligou.

Tentei ligar para Yeva várias vezes, fui até seu apartamento torcendo para que ela já tivesse voltado, mas não tinha, tentei ligar mais algumas vezes, perguntei ao porteiro se ele tinha visto para onde ela tinha ido, mas não tive nada certo.

Tentei me lembrar se ela já tinha me contado onde a tia morava. Lembrei da carta em sua mesa, e do endereço que vi no envelope, mudei a marcha e acelerei. Cheguei de fora da casa, toquei a campainha, quem me atendeu foi aquele primo estranho dela, perguntei se ela estava lá, ele arqueou uma das sobrancelhas e me analisou e gritou pela mãe, ela me encarou e sorriu, me convidou para entrar, apenas repeti a pergunta que ela me respondeu com um não e algumas palavras ofensivas para minha companheira de trabalho, agradeci me segurando para não responder aquela mulher, naquele instante entendi porque já vira Yeva quase pulando no pescoço dela tantas vezes.

Tentei ligar mais uma vez, nada...

Encostei o carro tentando pensar onde ela poderia ter se metido, o celular tocou, numero desconhecido.

– Alô? Onde você está? - ela chorava, eu já estava indo para o local.

Encostei o carro, eu não a via em nenhum lugar, um posto policial, corri até ele no instante em que eu entrei senti meus ombros pesarem e meu pescoço receber um sopro quente misturado com lágrimas e soluços. A afastei de mim, ela estava acabada, os olhos inchados de tanto chorar, os lábios rachados. Ela agradeceu aos policiais que a permitiram ficar ali, entrou no carro, assumiu a pose Yeva e afundou os olhos no joelho, ainda chorava eu podia perceber isso. Queria saber o que a empresária tinha contado, mas não faria isso com ela naquele estado. Dirigi até minha casa, ela foi para seu quarto, eu já o considerava dela.

Voltei a trabalhar.

Quando fui deitar, ainda podia ouví-la chorando, bati em sua porta, nenhuma resposta, bati novamente, nada, abri a porta, ela me olhou, os olhos vermelhos, de onde vinha tanta lágrima? Fui até ela e fiz da mesma forma que ela fizera quando eu estava doente, me sentei ao seu lado e dei-lhe meu ombro para que ela deitasse, ali sim eu me segurei muito para não lhe perguntar o que tinha acontecido. Ela dormiu em instantes, mas ainda soluçava. Me deitei ali com ela em meu ombro a abracei ainda mais e dormi ali ao seu lado.


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Notas finais do capítulo

Espero que estejam gostando e este teve um pouquinho da cabeça de Vladimir para vocês :3



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