Y.A.L.I.E.S escrita por Becca Agronsky


Capítulo 5
Glee Club Never Dies




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Sam levantou com o celular tocando. Ele comprimiu os olhos e tateou a mão sem descolar a cabeça do travesseiro.

__Alô? – indagou ele, a voz sonolenta e portanto meio rouca.

__Filho! Desculpa te acordar essa hora da manhã, mas não pude esperar pra te contar que... seu pai foi promovido! – Sam reconheceu a voz excitada de Mary Evans pelo telefone.

__Sério? Não brinca – aquilo fez o rapaz dar um pulo da parte de baixo da beliche e bater com a cabeça na armação da cama de Blaine, a de cima.

Dwight Evans era engenheiro civil, a família Evans tinha sofrido altos e baixos quando este se vira desempregado. Aquilo levara Sam a largar a escola e ter uns dias como stripper, o que ele não gostava muito de lembrar. Ele lembrava como Quinn o ajudara aquele momento, a família dele era muito grata a ela e Kurt Hummel, na verdade o coração dele ficava meio confuso quando Stevie e Stacy insistiam em perguntar sobre ela. “Sammy, quando a Quinnie volta?” era uma pergunta frequente feita principalmente por Stacy, que deixava a Sam emudecido. Ele esperava que os irmãos a esquecessem com o tempo, mas vez ou outra ainda perguntavam por ela.

Eram boas notícias. Dwight agora além de estar empregado, conseguira uma promoção com um salário polpudo em Tarrytown, onde toda a família Evans se mudaria e mais: ficava a 1h de New Haven. Os visitaria sempre que tivesse folga! Ele sorriu, a sorte enfim sorria para ele. Queria compartilhar a notícia com alguém mas, por ser por volta das 7 da manhã, Blaine, Pedro e os outros rapazes ainda dormiam.

No dia anterior, depois de toda a tentação com a garota Stark, ele resolvera voltar para o alojamento depois de uma caminhada mais extensa pelo campus. Ele descobrira que Pedro era brasileiro e morava em Fortaleza, tinha duas irmãs, uma mais nova e outra mais velha, e era um gênio em Física, motivo pelo qual estava ali, ter vencido diversas olimpíadas e ter uma das melhores notas no placar geral do país. Fisicamente você não esperaria muito dele em questão intelectual. Por ser muito alto e forte, daria fácil um jogador de rugby, mas o cabelo bronze e a pele clara em contraste com os olhos castanhos claro não davam muito a ele um ar de estrangeiro. Eles foram apresentados também a Miles Porter, um garoto que almejava estudar Química e que tinha aparência frágil e era baixo para a idade que dizia ter, mas não se engane pelo tamanho, o rapaz era extrovertido e moleque, tinha tiradas rápidas e Sam não entendia como alguém daquele espécime poderia ser um nerd. Por último, o mais velho do grupo, Jaime Dunham, que queria completar seu terceiro curso de graduação, mas nem ele sabia direito qual desejava. Ele tinha pele de cor escura e pequenos dreads no cabelo.

Sam decidiu que uma caminhada pelo campus o ajudaria a espairecer a mente. Após pegar seu iPod Shuffle, desceu os 4 vãos da escada devagar, haviam alguns estudantes semi-nus caídos pelos gramados, afinal os primeiros raios de sol começavam a sair lentamente ao céu. Era uma visão bonita quando se escutava a tão batida Don’t Stop Believing do Journey.

Ele seguira em direção ao Sterling Law Building, o prédio de direito, onde as aulas deveriam começar pontualmente as 8h da manhã de segunda. Ele tirou o celular do bolso e deu uma olhada no mapa. Atravessando a Elm Street, o Cross Campus era um grande complexo para os estudantes de música, era um campus também bem frequentado pelo pessoal de Artes Cênicas, que sempre buscava a perfeição de ser um artista completo. Os prédios por aquele lado do campus continuavam no estilo gótico com vitrais e grandes abóbadas na arquitetura. A biblioteca de música ficava em uma sessão reservada na Sterling Library, que impressionava pelas estantes a perder de vista, Sam achava que seria interessante dar uma olhada ao redor, enquanto era cedo e o campus parecia estar, em sua grande maioria, no milésimo sono.

Sam passou os olhos pelas enormes fileiras de livros, humanas e exatas, que se contrapunham de um lado para o outro, no teto as abóbadas transpassam por cima uma das outras e uma grande e moderna escada apontava para a biblioteca de música. Haviam pelo menos 3 salões com tipos diferentes de arquitetura, todas inovadoras. Ele utilizou as escadas e se deparou com outra biblioteca... mas musical, olhou com os olhinhos brilhantes de um Golden Retrivier as várias coletâneas musicais ali presentes em várias formas de mídia, rodeou os apoios para instrumentos que estavam instalados no pequeno palco improvisado por ali, o que indicava que haviam concertos ali. Estudar escutando música clássica? Aquilo sim, era chique. Ele passou os dedos por uma sessão antiga de discos de vinil. Você podia sair do Glee Club mas o Glee Club não saía de você.

What day is it?

And in what month?

This clock never seemed so alive
I can't keep up, and I can't back down
I've been losing so much time

Ah, aquela música que ele tinha mandado para Quinn para tentar conquista-la quando estava interessado nela... You and Me, do Lifehouse. Era uma de suas músicas preferidas e ele tinha escolhido para alguém que o tinha magoado tanto, agora ficaram as lembranças de um relacionamento fracassado baseado em interesse. Aquilo sempre fora claro para ele, benefícios para os dois lados mas...

'Cause it's you and me and all of the people
With nothing to do, nothing to lose
And it's you and me and all of the people and
I don't know why I can't keep my eyes off of you

Aqueles cabelos loiros ondulados não lhe eram estranhos, os dedos levitavam ao som de alguma música que tocava em um enorme headphone do Beats na cabeça da garota, ela escrevia por vezes coisas em um caderno e então dançava com os ombros juntos e os olhos fechados, crente que ninguém a observava.

All of the things that I want to say

Just aren't coming out right

I'm tripping on words, you've got my head spinning

I don't know where to go from here

Sam sorriu e tirou os fones do seu iPod do próprio ouvido. Quinn parecia feliz, as maçãs do rosto dela estavam vermelhas e ela estava agitada.

__Oi? – ele tirou os fones do ouvido dela que pôs as mãos no rosto em sinal de surpresa.

__SAM! – ela deixou um gritinho escapar e depois baixou a voz -__Eu não...não esperava te ver aqui – ela o abraçou com excitação e depois o largou, rápido demais -__Por que não me mandou um whatsapp ou coisa assim?

A música já não mais tocavam nos ouvidos de Sam, mas a letra ainda ressoava em sua cabeça enquanto Quinn continuava a tagarelar perguntas.

Something about you now
I can't quite figure out
Everything she does is beautiful
Everything she does is right

__Sam? – a voz de Quinn o arrancou de seus pensamentos, ele sacodiu a cabeça e sorriu.

__Estou conhecendo o campus, Blaine está no alojamento dormindo, achei que seria uma boa hora para explorar o resto...o Sterling Law Building fica distante daqui?

__Na verdade não, é só atravessar essa rua – ela falou, mas Sam não parava de admirar como o rosto dela parecia brilhante. Por que ele não tinha ligado para ela antes? Aliás, por que ela parecia tão feliz?

__Como está com Puck? – ele indagou, mal sabendo da onde saíra aquela pergunta.

__Terminamos – Quinn disse rápido, mordendo os lábios -__Achamos que era melhor, distância, responsabilidade, estudos, trabalho... era muita coisa... se for pra dar certo então ficaremos juntos.

Hm, parece que Blaine e Quinn andaram se falando, ele pensou.

__Eu sinto muito – Sam mentiu, mas falou por educação -__e o Biff? Ele não tentou reatar?

__Tenta até hoje – ela deu de ombros e pegou o celular – __Mas não é algo que eu queira mais, jamais voltaria com ele...vamos, eu levo você no Sterling Law.

Os dois atravessaram a Wall Street conversando sobre a faculdade. Quinn o informara os melhores lugares para festa, almoço, janta, lanche e outros tipos de passeio. Sam se perguntara internamente como ela sabia de tudo isso, um ano parecia pouco para tanta informação. Quer dizer, ele morou por 1 ano em Lima mas não sabia de outro lugar a não ser o Breadstix e o Color Me Mine.

__Já tomou café da manhã? – Sam perguntou, enfiando as mãos nos bolsos.

__Sim, na verdade cheguei hoje pela manhã de Nova York, Rachel agradeceu as suas flores e os chocolates suíços de Blaine

__Pelo menos me acompanhe pelo café da manhã, ta? Mal comi desde ontem, estava bem eufórico – ele disse e os dois pararam no primeiro quiosque a vista.

“Não sei o que estou fazendo” pensou Sam consigo mesmo, atônico, seria estranho se os dois estivessem ali sozinhos conversando sobre o dia-a-dia? Seria um encontro? Ele pegou um muffin, ovos com bastante bacon e suco de laranja. Era mais um brunch que um café da manhã, mas ele estava realmente faminto.

Quinn mexia no celular quando ele chegou com a bandeja, ela olhou o prato dele e sorriu.

__Pelo visto comendo como sempre, não sei como não engorda, eu te invejo – ela falou, girando um anel no dedo.

__Trouxe bacon pra você, sei como adora – ele disse e enfiou um pedaço de bacon na boca dela, antes que percebesse.

O que foi aquilo? O próprio Sam não sabia responder, mas quem passasse ela diria que aquele casal estava em um encontro. Sam engoliu em seco e baixou os olhos, nervoso.

__Desculpa, não quis ser grosseiro mas...

__Você lembrou da minha paixão por bacon – ela disse sorrindo, depois de engolir o alimento e limpar a boca com um guardanapo, ela era tão fina.

__Er, só não consigo estar em uma mesa sem que ninguém coma, coisa de caipira do interior – ele falou, envergonhado, meio que se escondendo por trás das garfadas exageradas que levava a boca.

__Somos todos caipiras, eu sou só uma garota de Fairbrook, Township...Lucy Caboosey, lembra?

__Eu gosto da Lucy Caboosey – ele respondeu de imediato.

__O que?

__Ei! Olhem só quem eu encontro por aqui! – disse uma voz familiar.

Emily Stark sorriu quando pôs os olhos nele e depois virou o rosto vagarosamente até encarar Quinn.

__Lucy? Que está fazendo com o Sonnen?

__É Sam... – ele gemeu

__Não me diga que já se conhecem – ela puxou uma cadeira do lado e se meteu entre os dois, ignorando Sam.

__Sam e eu nos conhecemos há uns 4 anos, estudamos na mesma escola e namoramos alguns meses – Quinn disse, na maior naturalidade.

__Ah, não me diga! – Emily sorriu olhando de um para o outro -__Mas bem, aquelas coisas de escola, não?

Silêncio. De novo não. Sam não queria sofrer novamente nas mãos de Quinn. Sabia o quão pouco ela tinha mudado, afinal Puck havia dito a ele o motivo dela estar com Biff. Talvez aquele nervosismo todo não passasse de uma recaída ao ve-la e lembrar daqueles tempos, porque linda ela era e ele sabia o quão bem ela podia usar aquilo a favor dela para manipular as pessoas ao redor.

__Claro – disse Sam, quebrando o clima - __além do mais não daríamos certos juntos, não temos nada em comum e pensamos bem diferente, somos bons amigos.

__Ele está certo – complementou Quinn, sem se dar ao trabalho de fingir um sorriso e levantando-se – foi coisa de colegial... bom, eu vou andando, tenham um bom dia, estou cheia de coisas pra fazer.

Merda.


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Notas finais do capítulo

Oi, pessoal tudo bem? Os capitulos podem tardar um pouco a sair agora que minhas aulas recomeçaram.
Sobre esse capítulo, recomendo escutar a música do encontro de Sam e Quinn, pois é linda
https://www.youtube.com/watch?v=9v7dmuIGo3U