Aproveitando que Rosalie ainda dormia, eu fui mesmo para o banho, um banho rápido para voltar ao seu lado, mas pelo menos foi o suficiente pra me fazer acordar.
Assim que sai, ela continuava deitada agora abraçada a um travesseiro e eu sorri analisando seu rosto, tudo tão perfeito na medida certa, ela estava enrolada ao cobertor, mas seu pé ficava pra fora. O cabelo caía em seu rosto e eu, delicadamente, o joguei para trás da orelha para que pudesse continuar a observá-la, ela se mexeu, mas não acordou.
Esperei alguns minutos para ter certeza de que minha mãe já havia saído, as mulheres com quem ela se encontraria eram as senhoras da cidade que ficavam fazendo caridade e ajudando os outros, mas claro que obtinham algum lucro com isso, e junto muita influência. Rosalie deveria estar por lá.
Preparei outros sanduíches – que é a única coisa que eu sei fazer na cozinha – e peguei cookies que mamãe havia feito mais cedo, coloquei tudo numa bandeja e prontinho, nosso café estava ali.
Assim que entrei no quarto Rosalie havia se sentado na cama, meio perdida eu acho, enquanto tentava reconhecer o lugar, mas não demorou muito, afinal tudo continuava igual, a parede camuflada e os soldadinhos de exército na estante, mas agora havia a diferença de uma estante um pouco mais larga no meio das outras, e ali estava o presente que ela havia me dado. Presente que eu havia encarado como uma lembrança de despedida.
Eu a vi sorrir ao olhar o objeto e sorri também pondo a bandeja no chão, ela se espreguiçou e logo pegou o cobertor de volta, fazia frio em Rochester.
- Eu achei que você ia se livrar dele – ela disse apontando para o capacete.
- Nunca – eu respondi. – Eu até andei treinando – eu disse. – No natal seguinte papai me deu um carro desses menores, só para praticar – ela sorriu sabendo o que eu fazia com o carro. – Então, algumas vezes eu peguei o carro e fui até a estrada...
Ela sabia bem de que estrada eu falava, porque passava exatamente pelo nosso lugar. Uma estradinha mais estreita e silenciosa, praticamente perdida ali, porque era de difícil acesso.
- Antes de o inverno chegar eu passava horas por lá...
Então eu vi como seu sorriso diminuiu. Ela havia perdido tantos momentos.
- Quando começar a esquentar eu te levo lá – eu disse e ela sorriu assentindo.
- Eu vou cobrar! – ela disse piscando.
E, por alguns instantes, o que acontecera na noite passada parecia estar esquecido. Mas só parecia.
- Sabe – eu disse instantes depois sabendo que era o certo. – Se você quiser voltar para casa, acho que agora é uma boa hora –, mas eu não queria que ela fosse. – Porque sua mãe deve estar no mesmo lugar que a minha, sabe, aquelas reuniões – ela assentiu.
- É – ela disse dando de ombros terminando de comer um sanduíche. – Eu só não sei como te agradecer...
- Eu cobro outra hora – eu disse sorrindo.
Mas agradecimento suficiente já era ela se livrando daquele maldito.