Em casa, para me lembrar sempre dela, eu havia deixado o capacete sobre a prateleira mais visível, mas só naquele dia eu vi, bordado em seu interior em letra azul um grande R. Para que eu também não me esquecesse dela... Como se isso fosse possível.

Então no Natal seguinte, ela não estava ali...
E quando os fogos explodiram anunciando a virada de ano, não era os olhos dela que brilhavam ao lado dos meus...
E quando eu fiz quatorze anos Rosalie não estava ali...

Lembro bem que naquele ano meu único pedido era para que ela voltasse.
Mas já estávamos em julho, e nada acontecera. Era verão, e nossa estação ainda demoraria a chegar.
E, de uma vez por todas, eu deixei de acreditar em pedidos de aniversário, porque não havia dado certo novamente. Eu já havia pedido uma irmãzinha – anos antes – e nunca vinha, eu havia pedido que Rose ficasse sempre comigo, mas mesmo assim ela fora embora, e agora eu pedia para que ela voltasse, mas ela continuava sem aparecer.
Chegava a ser idiotice continuar acreditando.
Mas, mesmo assim, eu não podia evitar desejar, dia após dia, que meu pedido de aniversário se tornasse realidade, pelo menos o último deles.

Era inverno ainda, eu recém completara quinze anos e, como quase todos os dias, eu passava por aquele lugar. Pelo nosso lugar. Sim, parece idiotice, mas era como se eu soubesse que um dia, se ela voltasse – e eu esperava que sim – ela iria para lá, porque aquele era o nosso lugar e, em minha mente, ela tinha certeza de que poderia me encontrar lá.
Foi um dos invernos mais frios da região, o que nos obrigava a sair de cachecol e luvas todos os dias. Depois da escola eu passei por lá, chutando a neve como havia adquirido o hábito, até dar de cara com uma árvore, e eu ri, vendo que ainda estava escrito, claro que agora um pouco mais alto, em nossas letras borradas, o meu nome e do lado o dela. Não havia nada que nos ligasse, como em verdade era na época em que escrevemos isso.
- Um dia nossos filhos vão ver isso – uma voz sussurrou atrás de mim e eu sorri, primeiro maneei a cabeça, já fazia tanto tempo que não a escutava que na certa podia ter sido alguma alucinação. – Eu estou mesmo aqui – ela gargalhou, como fazia quando éramos crianças, e eu sorri agora tendo a certeza de que não era uma ilusão.
Virei para ela e a agarrei em um abraço apertado a tirando do chão, meu rosto mergulhou em seus cabelos e eu podia sentir que seu perfume não havia mudado, continuava o mesmo aroma que, depois de um tempo, se tornou tão característico dela.
- Eu devia te bater por ficar tanto tempo sem dar noticias – murmurei e ela riu pondo o rosto contra meu pescoço, seu hálito quente me fez sentir sensações que eu nunca pensara existir antes. Eu não sabia o que estava acontecendo.
Mas eu sabia que não éramos mais crianças.
Ainda rindo ela se afastou, Rosalie estava ainda mais bela, seu cabelo loiro um pouco mais comprido, e já não possuía a franja que volta e meia caia sobre seus olhos. Suas bochechas continuavam coradas e sua pele clara.
Apesar de tudo ela continuava sendo a minha Rose.