Lágrimas de sangue escrita por Gothica


Capítulo 8
A visita.


Notas iniciais do capítulo

No último capítulo, houve uma inesperada explosão na cidade. E agora? O quê irá acontecer?

Espero que gostem. =3
Boa leitura!



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Alguns dias se passaram depois da explosão na cidade. Ninguém havia descoberto quem fora o culpado daquela tragédia que abalou tanto a cidade e os moradores. A situação foi tão séria que foram chamadas autoridades de outros países para tentarem resolver o caso. Não havia uma testemunha. Nem mesmo os que foram atingidos, mas sobreviveram, viram quem botou a bomba no local.

– Papai! Papai! A campainha está tocando! - Dhuly disse sacudindo os braços e sorrindo. A campainha nunca havia sido tocada. Quando trazia alguma babá, eu mesmo fazia questão de deixá-la dentro da casa, para que ela não soubesse onde era. A buscava em casa e botava dentro do carro com vidros pretos, o que não permitia a visão de fora. - Quem é?! Abre, abre!!

Nem mesmo eu sabia quem poderia ser. Com toda a segurança que tínhamos, seria muito difícil uma pessoa normal ao menos encontrar a casa. Quem dirá chegar até a campainha.

Dhuly pegou minha mão e correu para a porta, me puxando. Ela dizia repetidas vezes "abre, abre!". Resolvi abrir.

Abri a primeira porta e pelo interfone, mandei a pessoa entrar. Quando entrou, abri a segunda e repeti a frase. Ela entrou.

– Pois não? - Eu disse abrindo a terceira porta. A que dava para dentro da casa.

A pessoa a nossa frente usava uma roupa longa e preta, que cobria todo o seu corpo e rosto. Só pude ver seu batom vermelho muito forte.

– Dhuly!

Quando me virei, a pessoa estava com Dhuly nos braços, lhe dando um longo abraço como se não a visse por muito tempo. Pela voz, não reconheci o sujeito.

– Quem é você? - Perguntou Dhuly.

– Ora! Como assim? Sei papai nunca falou de mim? - A pessoa tirou toda aquela roupa e pude ver seu rosto. Era uma mulher. Uma mulher como eu. Seus olhos vermelhos continuavam profundos como sempre foram.

– Mãe?!

– Oh, querido! Que saudade!

Eu fiquei boquiaberto naquele momento. Não via minha mãe desde que eu era um demoninho. Desde que era bebê. Ela me largou com meu pai, que sofrendo, não sabia o que fazer e me abandonou com poucos 2 anos. Sempre tive raiva da minha mãe por esse motivo. Meu pai não teve culpa de não saber como cuidar de mim. Eu entendi o seu lado... Mas o que minha mãe fez não tinha perdão.

– Me larga! - Eu a fastei e corri até Dhuly. - E fique longe dela.

– Papai, ela é sua mãe?

Olhei para Dhuly e balancei a cabeça soltando um suspiro.

– Ah, bebê! Você não sentiu falta da sua mãe? - Ela disse já acariciando meu cabelo.

– Sentir falta? Sentir falta de alguém que abandonou meu pai com um bebê de 2 anos? Você sabia que com 2 anos tive que me virar sozinho? Sou independente desde então!

Ela soltou uma enorme gargalhada, o que me fez ficar com mais raiva. Dhuly só ficava nos encarando, paradinha atrás da mesa da sala.

– Ela fez isso mesmo, pai?

Balancei a cabeça em afirmação. Dhuly podia ver pela minha expressão de raiva que eu não estava mentindo. Ela ficou séria e foi para a cozinha calada. Talvez não quisesse assistir a nossa briga.

– Não acredito que você guarda rancor de sua mãe.

– Como não guardar?

– Eu não queria ter tido você. Não tive escolha. - Ela dizia aquilo naturalmente, como se eu não tivesse sentimentos.

Dhuly voltou com um maça na mão. Olhando para minha mãe, ela abriu os braços e disse:

– Me dá um abraço, vovó! Papai nunca falou de você!

Eu fiquei sem reação. Aquilo para mim era como uma traição. Eu tinha acabado de dizer que ela havia me abandonado e Dhuly pediu um abraço? Fiquei muito confuso.

Quando minha mãe estendeu os braços e correu até Dhuly, algo aconteceu. Algo muito inesperado para mim.

Dhuly rapidamente fez duas de suas garras crescerem. Pôs as duas dentro da boca e quando as tirou, estavam com seu sangue que queima. Em movimentos rápidos, ela enfiou as duas garras em minha mãe. Uma na frente e outra pelas costas, mas as duas diretamente no coração. O líquido queimou sua pele com rapidez e facilidade, e a força com que Dhuly fez entrar a garras, rasgou a pela de Fabíola, minha mãe. Ela, com dificuldade para respirar, tentou usar o resto de suas forças para voltar a sua forma normal de demônio, mas não conseguiu. Minha mãe morreu ali. Morta por minha filha.

Eu fiquei paralisado por um tempo. Várias emoções e pensamentos se misturaram na minha cabeça. Fiquei apenas olhando para Dhuly, que abrindo a pele de Fabíola, arrancou sem dó seu coração. Minha mãe caiu morta, deixando uma enorme poça de sangue no chão. Dhuly correu até a cozinha e voltou com as mãos limpas e com uma caixa na mão, entregando-a para mim.

– Pra você papai. - Ela disse estendendo os braços e abaixando a cabeça, como um plebeu que entrega algo valioso ao rei.

Peguei a caixa em silêncio. Ainda não sabia o que pensar ou falar.

Abrindo, lá estava o coração. A caixa tinha um forro acolchoado vermelho, que escondia o sangue que ainda escorria. A caixa, por dentro e por fora era preta. Nunca a tinha visto pela casa. Não fazia ideia de onde Dhuly tinha tirado aquilo.

– E-eu... Eu não... - Olhei sério para Dhuly. Ela me olhava com os olhos bem abertos. Pude ver que sua pupila estava bem pequena, quase imperceptível. Era assustador. Nunca tinha a visto assim.

– Desculpe, papai... - Seus olhos se encheram de lágrimas, e antes que uma delas caísse, resolvi abrir a boca.

– Filha! Isso foi... Magnífico! - Ainda estava confuso, mas era exatamente isso que eu queria dizer a ela. - Você foi rápida e inteligente. Foi... Foi muito surpreendente.

Consegui esconder o medo que estava sentindo. Eu não disse nada que desse a atender para ela matar minha mãe. Eu não pedi que fizesse isso! Ela tomou a decisão sozinha. A matou sem dó e ainda retirou o coração e me deu, como se fosse uma joia qualquer.

Dhuly sorriu. Olhando para minha mãe, ela disse:

– Isso foi por ela ter te abandonado. Faria isso com qualquer pessoa que tenha te magoado, papai.

Eu ainda estava perplexo. Estava muito assustado. Não ensinei aquilo à ela. Não mandei matar minha mãe. Nem mesmo disse como se matava um demônio. Ela acertou em cheio.

Não sabia como expressar o que estava sentindo no momento. O que fiz foi fingir que nada aconteceu para poder limpar toda aquela sujeira.

– Vamos limpar? - Botei a caixa com o coração em cima da mesa e quando me virei, Dhuly segurava dois esfregões e um balde de água.

– Mãos a obra!

Ela sorriu e depois gargalhou. Sua pupila não era mais visível em meio àqueles olhos vermelhos. Sua gargalhada foi alta e mais grossa do que de costume. Aquilo estava começando a me preocupar.


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