– Vamos lá garota, acorde. É só um pesadelo. ­

Arya sentiu um puxão forte em seu pulso e sobressaltada, acordou de seu sono atormentado. O suor colava-lhe os cabelos à testa e ela olhava para o homem à sua frente, embora não o visse de verdade. Ainda tinha os olhos nevoados pelos fantasmas de seu sono.

Sandor puxou-a outra vez e ela levou sua mão livre ao braço dele com violência em seu instinto de defesa.

– Já acordei. – Sua voz era ofegante e carregava uma raiva contida que ela não tinha certeza se era direcionada a ele.

Sandor torceu a boca e a olhou com indiferença, quando ele fez menção de se afastar ela ouviu sua voz sair insegura:

– Eu sonhei com Nymeria, minha loba. Eu a vi correndo por uma floresta escura e então... – Ela hesitou por alguns segundos, não sabia porque estava contando aquilo para ele. – Eu não era mais eu. Eu via através dos olhos dela, eu sabia o que ela sabia, eu era o que ela era. Foi uma sensação boa no começo, mas logo em seguida eu vi uma sombra saltar por cima de mim e uma dor alucinante atingiu minha coluna e em seguida o meu pescoço, eu senti o sangue escorrer quente. – A face dela adquiria angustia a cada palavra da narração e ela sentiu seus olhos umedecerem. – Quando tudo acabou, eu voltei a ser eu, digo, a ver além dos olhos de Nymeria e... quando me virei para ver o corpo da minha loba, não era ela que jazia na poça de sangue. Era eu.

Sandor suspirou. Arya não tinha certeza se ele havia prestado atenção no que ela dissera.

– Foi só um pesadelo. – Ele disse finalmente.

– É que...

Ela queria continuar a falar, quando ouvia sua voz dizer o que sentia, quando ouvia seu medo resumido em meras palavras era como se ele não tivesse mais poder sobre ela.

– Volte a dormir.

O tom dele era claro, aquilo era uma ordem.

Arya assentiu, ele já fizera demais escutando sua narrativa sem mandá-la calar a boca. O que ela podia esperar além disso? Uma canção de ninar?

Se mexeu na relva procurando alguma posição confortável, de olhos fechados sabia que ele permanecia sentado próximo a ela.

– Também está tendo problemas para dormir?

Perguntou depois de alguns instantes.

– Não tão dramáticos quanto os de milady.

O sarcasmo contido na voz dele fez Arya sorrir sem humor.

– E se meu sonho tiver sido algum tipo de premonição?

Ela não acreditava na tolice que acabara de sair da sua boca, nem mesmo que estava dizendo aquela tolice para o homem mais cético que já tivera o desprazer de conhecer, mas de qualquer maneira, não havia ninguém além dele para escutar suas teorias.

– Só falta me dizer que acha que foi uma mensagem d’Os Sete Deuses.

– Não me tome por tola, tenho motivos para pensar que minha morte se aproxima. Meus familiares são fracos e morrem como moscas, por motivos estúpidos e revoltantes.

– Você não é como o resto da corja Stark.

Arya refletiu um pouco sobre o que ele disse, considerando o notável desprezo que Sandor nutria por pessoas fracas, ela poderia facilmente tomar aquilo como um elogio.

– Pode ser, mas tenho o mesmo sangue que eles.

Não iria se dar por vencida, uma vez que aquilo continuava martelando em sua cabeça.

– Então temos um problema. – Ele fez uma pausa. – Não faço de ideia de onde achar um meistre para lhe curar desse mal.

Arya sorriu pela segunda vez naquela noite, sabia que ele não tivera intenção de diverti-la, mas o fizera.

– Então continuo em perigo.

– Você não vai mais parar de falar? – Ele perguntou com um suspiro cansado e Arya sentiu seus braços magricelos serem esfregados pelas mãos pesadas de Sandor. – Você está segura.

A umidade já esquecida nos olhos de Arya se fez notar outra vez com aquelas simples palavras. Segura.

– Estou? – Ela perguntou baixo.

– Não morrerá esta noite. – Sandor se levantou e ela o ouviu andando para longe, em seguida ele repousou seu corpo no outro lado da relva. – Nem na próxima.

O tom dele não deixou espaço para nenhuma objeção. A conversa estava encerrada e Arya sabia que ele dizia a verdade, não era o bastante para fazê-la esquecer o temor dentro de si, mas era o bastante para que seu peito se aquecesse por alguns instantes. Sob o céu coberto por nuvens, ela adormeceu. Não sonhou.