— Ichigo —

Cacos de vidro ao chão era tudo o que eu conseguia enxergar na penumbra de meu quarto, o dia ainda não havia amanhecido e eu nem queria que amanhecesse.

Mais uma vez havia me deixado levar pelo momento e com isso destruído boa parte das varias garrafas de bebidas que havia consumido e tudo isso por saber que a culpa era toda minha, culpa de minha impulsividade.

Não havia pregado os olhos a noite toda. A imagem dela ao lado de Grimmjow não sai de minha cabeça, fazendo-me imaginar coisas que me feriam, fazendo-me sangrar por dentro. A tristeza e decepção contidas naqueles lindos olhos violáceos ainda me atormentavam.

Nada em minha vida parecia dar certo e culpa era toda minha, tinha plena consciência disso. Erro após erro, palavras ditas sem pensar, ciumes desmedido, insegurança e principalmente, falta de confiança. Tudo isso era o que havia me feito magoa-la tão profundamente. E a prova disso era meu descontrole a noite passada.

A culpa me corroía, queria muito ir até Rukia e implorar seu perdão, mas não o faria. Respeitaria o tempo que ela havia me pedido. Deixa-la pensar seria o melhor a se fazer, afinal, com o tempo tudo passa, era nisso que eu mais queria acreditar.

A luz brilhante do sol finalmente invadia meu quarto, mostrando-me que finalmente o dia havia começado, afinal o mundo não pararia por minha causa.

Ficar ali no conforto de meu apartamento era tudo o que eu mais desejava, tanto pela ressaca que me castigava, quanto pelo medo de enfrentar aqueles olhos de Rukia mais uma vez, medo de ouvir dos pequenos lábios dela que nosso relacionamento havia finalmente acabado, mas não podia me dar a esse luxo, faltar ao trabalho não era um opção. Havia prometido a mim mesmo que não seria mais um covarde, e essas palavras não seriam da boca pra fora. Eu realmente não fraquejaria.

Depois de um bom banho e dois analgésicos já me encontrava pronto para começar minha nova rotina sem ela ao meu lado, desejando internamente que isso não durasse para sempre. .

Fazer aquele percurso até a empresa era tedioso sem ela ao meu lado, todos os dias íamos juntos e dirigir o caminho todos sem ela sentada no banco do carona fazia-me lembrar de minhas burradas. Queria muito ter ido busca-la, mas já havia me decidido em dar-lhe um tempo.

O imponente prédio da construtora Kuchiki parecia não parar , devido ao entra e sai de pessoas e veículos. O carro de Rukia ainda não ocupava nenhuma vaga do grande estacionamento. Ela ainda não havia chegado e aquilo trazia a imagem de Grimmjow mais uma vez ate mim. Realmente ele havia falado serio que a tomaria de mim e isso me inquietava.

Não queria me sentir assim, sabia o quanto ela odiava esse meu lado ciumento e inseguro, mas era inevitável quando a tinha tão longe de mim.

Caminhei lentamente até o elevador, sentindo meu celular vibrar incansavelmente. Tinha a esperança de que fosse ela me ligando para pedir carona, mas nada seria tão fácil assim.

" Fala, velho." — Atendi apatico.

" Vejo que não esta de bom-humor hoje." — Declarou seriamente, fazendo-me estranhar seu comportamento inédito, algo de muito serio devia ter acontecido.

" O que houve?" — Perguntei curioso adentrando o elevador vazio.

" Você saberia se cumprisse com sua palavra." — Disparou sem delicadeza ou deboche algum. — " Você prometeu a suas irmãs que iriam juntos visitar Masaki no hospital." — Completou, fazendo-me lembrar de mais um de meus erros.

" Eu sei. Depois me desculpo com elas." — Falei rapidamente. — " Mas houve algo com minha mãe?" — Questionei impaciente.

" Sim, ela pode acordar a qualquer momento. O corpo já se recuperou completamente e a atividade cerebral esta perfeita." — Disse com certo entusiasmo na voz, falar de minha mãe sempre o animava.

" Isso é ótimo." — Falei deixando um grande sorriso tomar conta de minha face. — " Como as meninas reagiram sobre isso?" — Perguntei observando os andares passarem lentamente.

" Estão radiantes. Yuzu e Karin não estão se aguentando de felicidade." — Respondeu com alegria.

" Que ótimo. Pai, eu estava pensando em passar um tempo ai, pode? — Indaguei o que já vinha pensado a algum tempo, talvez me afastar seria o melhor a se fazer por um tempo.

" Parece que a Rukia-chan não esta facilitando, não é mesmo?" — Disparou desanimadamente.

" É." — Respondi seco, não queria prolongar o assunto no momento.

" Tudo bem,. Pode vir, mas e seu emprego?" — Questionou com curiosidade na voz.

" Tudo bem, eu tenho umas ferias acumuladas. Tudo se resolve." — Declarei confiante de que isso era o certo a se fazer.

" Certo então, o Kaien quer falar com você mesmo, assim fica mais fácil para os dois." — Disparou surpreendo-me.

" Esse maldito ainda esta ai? O que ele quer comigo?" — Indaguei raivoso.

" Não sei." — Declarou meu pai simplesmente, enquanto a portas do elevador abriam-se a minha frente.

" Certo. Preciso desligar agora." — Falei encerrando a ligação ao ouvir a despedida de meu pai.

Sentia-me feliz por saber que finalmente minha mãe estava melhor. Ela logo acordaria e encontraria um Ichigo diferente, podendo enfim sentir orgulho do homem que havia me tornado. Estava decidido a amadurecer, tanto para recuperar Rukia, quanto para alegrar minha mãe quando ela abrisse os olhos para o mundo novamente.

Tudo voltaria aos eixos se eu não fraquejasse e era isso que iria fazer daqui para frente. Enfrentar Kaien novamente seria crucial para poder seguir sem arrependimentos. Mesmo não querendo admitir, meus atos também o prejudicaram e eu teria que aguentar tudo o que estivesse pela frente como um verdadeiro homem deveria fazer.

Manteria minha palavra e me fastaria de Rukia por algum tempo, esperando que esse tempo fizesse bem a mim e a ela, pois machuca-la eu não faria novamente, jamais.

E foi com esses pensamentos que batia a porta de Byakuya dando o primeiro, de muitos passos para minha mudança. Eu definitivamente, não fraquejaria, mesmo que tivesse que conquistar Rukia mais um milhão de vezes, eu não fraquejaria e iria até o fim para faze-la feliz, assim como ela me faria se me aceitasse ao seu lado mais uma vez.