We Will Win The War escrita por Karol Póss


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Olá! Essa fanfic é para o desafio de junho e julho.
Boa leitura!



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Primeiro de janeiro de mil novecentos e quarenta e quatro, meia noite e seis.

Um forte e alto barulho ecoava pelas ruas de Berlim. Comemorações de fim de ano? Não mesmo. A alegria das pessoas que festejavam pelo novo ano que acabara de chegar deu espaço às mais profundas preces e gritos desesperados dos moradores da Alemanha.

Medo. Pavor. Tristeza. Sofrimento. Dor. Agonia.

Esses sentimentos dominavam os corações das pessoas que residiam em meio aos escombros que cobriam a cidade. Pessoas que buscavam por refugo, por segurança, por um cantinho para se esconderem. Pessoas que rezavam e imploravam a seu Deus que os mantivessem vivos e a salvos, que protegessem todos desse absurdo que ocorria ao lado de fora de suas casas.

No entanto, havia duas pessoas que eram o oposto dessas que choravam de medo pelas explosões. Um casal de arianos apaixonados, Helene e Alfons.

Do sótão de sua casa, onde quase não se era possível ouvir as bombas que estavam a explodir prédios do lado de fora de seu cantinho aconchegante o protetor. O cômodo, ao contrário do imaginado, não guardava caixas ou objetos que já não eram mais utilizados, mas sim uma cama de casal, um armário repleto de comidas enlatadas deliciosas e um pequeno fogão à lenha. Era como uma pequena casa dentro de sua própria casa.

Fora planejado por Alfons quando se deu início aos ataques da segunda guerra. Ele era um homem otimista de vinte e seis anos, porte forte e aparência máscula, olhos claros, cabelos loiros, lisos e bagunçados por charme. “Aqui estaremos protegidos”, era o que sempre dizia à sua amada Helene.

Sua esposa tinha vinte e quatro anos, possuía belíssimos cabelos claros levemente cacheados que caiam sobre seus ombros e cobriam seus seios suavemente avantajados. Dona de tamanha beleza e de um homem tão confiante, ela não sentia qualquer tipo de medo em relação à guerra que ocorria, pois acreditava nas palavras de seu querido.

Nenhuma bomba ou tiro era o suficiente para acabar com a felicidade desse casal. A força nazista precisaria de muito mais pare tentar por pelo menos um pingo de medo nesses dois apaixonados, que aproveitavam cada segundo de sua vida juntos.

Nesta noite de ano novo, eles estavam mais felizes do que nunca, bebiam alegremente e riam como se a guerra tivesse chegado ao fim, falavam sobre coisas alegres e beijavam-se fervorosamente, como se estivessem sem se ver há anos. Seu amor estava mais quente do que nunca e a antiga cama presenciou os momentos de felicidade do casal, enquanto seus gemidos formavam uma mistura homogênea com os ruídos da rua.

Pelo menos duas pessoas estavam felizes pelo novo ano que começou.

Doze de abril de mil novecentos e quarenta e quatro. Mais de três meses se passaram e o desespero ainda tomava conta do mundo. Ao contrário da esmagadora maioria, Helene e Alfons estavam alegres, comemorando o terceiro mês de gravidez.

Eles não se continham de felicidade por saber que logo seriam pais, e mesmo seis meses antes do nascimento dessa criança, mesmo antes de saber o sexo da mesma, tudo já estava comprado. O antigo sótão agora mantinha também um berço e um armário com várias roupas de bebê, algumas fraldas e mamadeiras também estavam por ali.

A felicidade também estava.

Ninguém nunca havia visto os dois tão felizes. A felicidade dos dois era plenamente visível, as poucas vezes que saiam de casa eram cumprimentados por sorrisos, eram motivo de orgulho em suas famílias, famílias que ficavam felizes apenas em ver os dois sempre tão alegres.

Infelizmente, tudo isso não parecia que iria durar para sempre.

Um grande ataque foi iniciado. Muitas bombas explodiam, era um barulho ensurdecedor. Muitas pessoas foram atingidas, muitas casas foram completamente destruídas, muitas famílias foram mortas. E as famílias de Helene e Alfons eram umas dessas.

A casa onde residiam seus pais foi atingida por uma bomba potente, que destruiu não só a casa como a vida de várias pessoas que estavam ali no local, na esperança de escapar.

A esperança acabou.

A morte de seus pais foi como a própria morte para Helene e Alfons, ambos já não sorriam mais e nem mesmo se importavam com o futuro. Eles deixaram de ser felizes e juntaram-se a maioria em seu desespero uníssono. A esperança se transformou em tristeza. A felicidade foi morta.

Nem mesmo o filho que estava por vir fora o suficiente para colocar um sorriso no rosto do casal. Era o fim. Toda a gota de felicidade havia secado.

Não havia mais salvação.

Eles se deixaram levar pelo desespero sombrio e a loucura os dominava a cada barulho de bomba que escutavam. Já não aguentavam mais chorar e contavam os segundos para suas mortes. Era terrível.

Seus amigos tentavam ajuda-los, mas parecia que tudo era em vão. Eles não queriam ser ajudados. Eles sabiam que nenhuma ajuda poderia livra-los desta situação dolorosa em que se encontraram. Eles perceberam que todos iriam morrer, que uma hora todos seriam atingidos por uma bomba. Que todos virariam pó e se misturariam com o que sobrava das paredes e tetos que foram destruídos.

Tudo seria matéria morta. Inclusive o amor.

Eles não queriam mais dormir, tinham medo de que fossem atingidos enquanto dormiam e que acabassem morrendo sem poderem se despedir. Morrer sem mesmo disserem um ao outro o quanto se amam e o quanto almejam por encontrarem-se no paraíso seria ainda pior do que apenas morrer.

Helene se sentia culpada.

Aquele pequeno coração que batia dentro de si nem mesmo chegaria a conhecer o mundo. Ela se sentia inútil por ter escolhido ser mãe em uma situação de guerra. Lembrar da morte de sua mãe só tornava as coisas ainda piores. Ela sabia o quão doloroso era perder uma mãe, mas era impossível imaginar o quão doloroso perder um filho, ou pior, morrer com seu filho. Com seu filho que nem ao menos havia nascido.

Ela e seu filho morreriam juntos.

Alfons tentava controla-la, mas ele sabia que ela estava certa. Depois de tantos anos enganando a dor e sendo um rapaz forte, Alfons percebeu o quão triste era a situação em que se encontravam. Ele não tinha palavras suficientes para apoiar sua amada, tudo o que conseguia dizer era "nós vamos sair dessa, não se preocupe querida", mas tais palavras não tinham efeito algum em Helene. Nem ele acreditava mais em suas palavras.

Eram apenas palavras vazias jogadas ao vento.

Eram apenas palavras de uma pessoa desesperava que esperava por uma ajuda divina, por uma força que ele sabia que nunca viria porque nem mesmo era capaz em acreditar que existia um Deus olhando por eles naquele momento.

Quem iria salva-los?

A guerra parecia não ter fim.

O mundo parecia não ter salvação.

Porém um dia, Alfons acordou determinado. Ele não poderia ser capaz de mudar a guerra mundial, mas era mais do que capaz de mudar a guerra que acontecia com seus sentimentos e os sentimentos de sua esposa.

Ele jurou que iria esquecer toda a dor, prometeu à Helene que eles voltariam a ser felizes como eram antes da morte de seus pais. Eles não estavam mortos ainda. Eles deveriam aproveitar a vida como se fosse o último dia de suas vidas, e não apenas ficar lamentando pela incerteza deste ser realmente o último dia.

O dia estava chuvoso, mas nem mesmo as gotas de chuva foram capazes de destruir a felicidade do casal. A felicidade que depois de três meses havia voltado para quem era digno de merece-la. Um casal tão bonito assim não poderia deixar a chama se apagar por um motivo qualquer, muito menos se esse motivo fosse a morte de outras pessoas.

Os outros morreram, mas eles ainda estavam vivos.

Eles precisam viver.

Agora, Helene já estava com seis meses de gravidez. Ela e seu marido foram às ruas comprar alguns alimentos e roupas novas, estavam ambos sorridentes e alegres, dividindo um guarda-chuva que era capaz de proteger os dois da água que insistia em cair dos céus. Todos que os viram ficaram assustados de primeira, mas logo começaram a sorrir.

Seus sorrisos eram a esperança de um povo perdido em desespero.

Sorriam para todos que passavam ao seu redor, sorriam como se não estivessem em um na de guerra, sorriam como se nunca tivesse existido uma guerra. Apenas sorriam.

Quando chegaram em sua casa novamente, eles estavam cantarolando. Canções alegres deram brilho à tão fosca residência que era o porão em que viviam. Tudo parecia ter ganhado vida, tudo parecia ter ganhado cor. Tudo parecia felicidade.

Estavam sentados na cama quando ouviram um barulho vir do lado de fora. Com certeza era um ataque. Eles haviam prometido que não entrariam mais em desespero, que não chorariam mais pela guerra, que apenas viveriam ela e se fosse a hora, morreriam nela.

O casal se abraçou, eles estavam sorridentes e diziam juras de amor um ao outro.

– Se algo acontecer conosco, eu prometo que mesmo longe eu serei sempre seu. Meu coração pertence a você, Helene. Mesmo se ele parar de bater, você continuará dona dele. Você sempre será a minha dona. - Disse Alfons emocionado, segurando as lágrimas pois não podia chorar.

– Se algo vier a acontecer conosco, eu te juro Alfons, eu te juro que sempre te amarei. Viva ou morta eu sou tua. Meu coração e meu corpo são teus. Mesmo em outro mundo eu te amarei e te pertencerei, eu te amo. - Helene respondeu, suas lágrimas insistiam em tentar escapar, mas ela é uma moça forte. - Nós vamos ganhar essa guerra juntos.

– Na verdade, já ganhamos a guerra. - Disse Alfons. - O amor é uma guerra. Sempre uma pessoa sai ferida, machucada, triste ou com o coração cortado, mas nós somos diferentes. Mesmo em uma guerra civil nós fomos capaz de mostrar que nada é capaz de acabar com a felicidade de um casal, nós pisamos em solo errado por alguns meses, mas conseguimos nos recuperar porque somos mais fortes que isso. Porque temos algo maior e mais importante para cuidar. - Seu olhar voltou-se para a barriga de Helene. - Nós já somos os vencedores, minha querida.

– Eu nunca imaginei que estivesse casada com um soltado. - Ela sorriu, deixando uma lágrima rolar sobre seu rosto. Alfons rapidamente levou sua mão ao rosto da moça e limpou a lágrima, dizendo:

– Sem chorar, uhm? Lembre-se da promessa. Juntos.

– Juntos até o fim. - Ela guardou todas as lágrimas, deixando visível o seu mais belo sorriso. Aquele sorriso que Alfons tanto amava.

– E além do fim. - Ele sorriu também, o coração de ambos palpitou.

O último suspiro os aguardava. Eles puderam sentir isso.

Helene e Alfons deram as mãos, entrelaçaram seus dedos com força e selaram seus lábios em um beijo desesperado, buscando sentir o outro o máximo que pudessem. Alfons soltou sua mão e levou-a até a barriga de Helene, acariciando-a.

O beijo se cessou.

As explosões ficavam cada vez mais fortes, o barulho estava aumentando e isso significava que os ataques estavam mais próximos de onde estavam. O casal voltou a dar as mãos, se entreolharam e disseram um ultimo "eu te amo" um ao outro.

Eles estavam assustados e nesse exato momento, tudo o que poderiam fazer era agradecer à Deus por terem se conhecido, por terem se apaixonado, por terem passado por tantas coisas juntos. Por terem vivido juntos.

O casal começou a rezar em união, a sincronia de suas palavras pareciam um coral de anjos. Eles entregaram suas almas à Deus, e pedia à Ele que os mentissem juntos no paraíso, que mesmo depois de mortos eles pudessem estar juntos.

Deus ouviu suas preces.

Eles ouviram um forte estrondo, e antes mesmo que pudessem abrir seus olhos, seus ossos já estavam sendo quebrados pelo teto que acabara de cair em cima dos dois, o sangue dominava o local. Foi uma morte imediata. Não havia fuga, não havia escapatória, eles simplesmente morreram e assim como queriam, morreram juntos.

Eles deixaram esse mundo de mãos dadas. Suas almas subiram ao céu, o seu novo lar.

Podemos ter certeza que ambos partiram sem arrependimentos. Ainda hoje, nesse exato momento, é possível afirmar que os dois estão nos céus, cumprindo suas promessas de que se amariam para sempre.


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