Licantropia: A Reserva escrita por Paulo Carvalho


Capítulo 20
Capítulo 19: Rivais


Notas iniciais do capítulo

E aí gente, tudo bom? Demorei. Muuuuuito, eu sei. Mas essas semanas foram cheias de provas, apresentações e relatórios na minha escola. Depois teve Natal e bem...ninguém ia ler isso aqui, né?! Ainda fiquei sem internet. Por isso, me desculpem. Mas aqui estou eu!!
Espero que gostem.



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Já havia escurecido há muito quando Caly surgiu novamente, carregando uma bandeja com comida. Ela sorria, e Sam novamente notou o quanto ela parecida com o irmão. Aquele sorriso anguloso e os olhos amarelo-ouro eram cópias perfeitas dos do licantropo.

–--Voltei. ---ela respondeu. ---E trouxe comida. Imaginei que em algum momento você sentiria fome e peguei um pouco do que havia sobrado.

Sobre a bandeja com metal havia uma vasilha com alguns pedaços de carne assada cobertos de vegetais variados e legumes cozidos ao vapor. Um prato de vidro cheio de rachaduras estava cheio de... aquilo era de verdade? Macarrão coberto de molho de tomate com folhas verdes que cheiravam bem.

–--Acho que você pegou mais do que um pouco. ---ela respondeu sorrindo.

–--Tudo bem. Foi o Soren que separou antes que o refeitório fosse aberto e pediu para que trouxesse para você.

–--Como ele sabia que eu não iria comer com os outros? ---Sam perguntou sentindo-se incomodada por ser tão previsível.

–--Ele disse... ---Caly limpou a garganta e fez uma imitação horrível da voz do irmão. ---Aquela garota vai morrer de fome antes que eu a convença a fazer algo que ela não quer. Diga a ela que eu desisto.

Sam riu e sentou-se em um conjunto de almofadas que haviam sido separadas por ainda estarem em boas condições para uso. Tudo parecia muito melhor do que a comida racionada da Reserva cujo máximo de variação resumia-se a um conjunto de proteínas sintetizadas e pequenas porções de vegetais simples e considerados essenciais, mas que na maioria das vezes tinham gosto de isopor.

–--Como vocês conseguem macarrão? Esse tipo de coisa é rara na Reserva, apenas os Intendentes e Generais têm dinheiro para tais coisas.

–--Quando a Resistência foi formada e as Reservas criadas, eles ergueram muros muito altos e destruíram tudo ao redor. ---Caly respondeu com ar de historiadora. Sam sorriu e deixou que ela continuasse, embora, soubesse que não havia sido exatamente daquela forma. Havia um conjunto de decisões políticas no meio disso. ---De certa forma, eles dificultaram o próprio acesso à comida estocada. Nós, entretanto, vivemos do lado de fora desde sempre. Achar comida em mercados e armazéns são coisas do nosso dia-a-dia.

–--Você sempre morou aqui do lado de fora? Quero dizer...você nasceu aqui? ---Sam perguntou mal contendo a curiosidade. Não conseguia imaginar alguém doce e feliz como Caly nascendo em um ambiente onde todos os dias havia a possibilidade de ser morto por uma patrulha ou detectado por um Rasante.

–--Hã...não. Quero dizer, sim...é muito complicado. Não sei se posso lhe contar isso. ---ela franziu as sobrancelhas e encarou o chão. ---Não que eu não confie em você, quer dizer, você salvou minha vida...

–--Não tem problema, Caly. ---Sam sorriu. ---Vamos dormir? ---ela sugeriu, tentando animar a menina novamente. A menina assentiu sorridente e Samantha a conduziu pelos corredores.

No caminho, seu cérebro tentou encontrar alguma explicação para Caly não querer contar sua história. O que poderia de haver de tão estranho ou assustador em sua história? Sua mente vagou por uma antiga lembrança de Soren se referindo aos seus companheiros como licantropos. Não era uma expressão comum entre os de sua espécie. Denotava doença. Na época ela havia desconfiado que talvez, ele tivesse nascido dentro de alguma Reserva. Se seu palpite estivesse correto, era de se presumir que Caly, sua irmã, também era de lá. Ou talvez seus pais tivessem fugido? Os pais de Soren também eram licantropos? Subitamente, Sam notou que não sabia muita coisa sobre Soren. Decidiu que iria mudar aquilo assim que visse o Filho da Noite novamente. O problema era quando isso aconteceria. Uma incômoda sensação invadiu o peito de Samantha.

–--Onde eu vou ficar? ---Caly perguntou.

–--Na minha cama. ---Sam sorriu.

–--Mas, e você? ---ela semicerrou os olhos dourados.

–--Pensei que você não iria se incomodar em partilhar essa maravilhosa cama de casal. ---ela piscou. ---Até porque, nenhuma de nós é muito grande, não é?

–--Não preciso ser grande. ---ela respondeu enquanto se deitava. ---Você é pequena, mas é mais forte e inteligente que a maioria dos licantropos nessa alcateia. Eu queria te perguntar isso. Como você consegue? Quero dizer... nós, licantropos, somos muito mais fortes que um humano. E você é humana, não é?

–--Sim. ---Sam riu. ---Total e completamente humana. Eu não sou mais forte, Caly. Mas fui treinada para lidar com essa fraqueza.

–--Me disseram isso. E como é esse treinamento? ---Caly se apoiou nos cotovelos.

–--Alguns de nós, os aspirantes à Patrulha, passam anos treinando técnicas de combate, modalidades de luta. Toda semana éramos divididos em grupos e tínhamos que criar uma estratégia para capturar todos os componentes do time adversário. Tudo isso é feito para o caso de sermos atacados por li...Filhos da Noite. Nossos testes de força e velocidade exigem mais do que o seria pensável para um ser humano, e aprendemos a como contornar esses limites.

–--Deve ser muito difícil. Aqui, Soren treina da melhor forma que pode os que tem idade para lutar, mas não é nada comparada a isso. Não temos estratégias. Ou testes de força. É tudo muito selvagem e improvisado.

–--A Patrulha conta com isso. Não teríamos chance contra um exército bem organizado de vocês. Não em um combate corpo a corpo, pelo menos. ---Sam sorriu.

Caly sorriu, mas Sam percebeu que havia algum pensamento lhe incomodando. Resolveu deixar que ela resolvesse se lhe contar ou não. Ela desligou as luzes e o quarto foi banhado pela escuridão. Os contornos dos objetos estavam banhados de luz prateada que vinha da Lua cheia. Deitou-se ao lado da menina e ficou em silêncio por um momento ouvindo a respiração da garota ao seu lado. Virou-se para o lado no intuito de fazer uma pergunta e se assustou com os dois enormes olhos dourados que a encaravam e pareciam ter luz própria.

–--Seus olhos brilham? ---Sam perguntou.

–--Não. ---Caly riu e Samantha sentiu as agitações no colchão. ---Soren diz que é o efeito da baixa luminosidade. Nossas pupilas se dilatam de forma mais intensa do que as de um ser humano normal. Você já viu um puma a noite? É a mesma coisa.

–--Não. Nunca vi um puma a noite. Você já? ---Sam perguntou.

–--Muitas vezes. ---ela respondeu. ---É comum que eles passem por aqui, às vezes. Mas eles sempre vão embora. É quase como se eles nos entendessem. Uma vez, quando eu era mais nova, me perdi na floresta e dois pumas me farejaram. Acho que eles iam me fazer em pedaços se Soren não tivesse chegado. Você devia ter visto. Ele encarou os dois por alguns minutos e então eles foram embora. Era quase como se Soren pudesse controla-los com o poder da mente.

Sam sorriu. Pensar em Soren fazia que a sensação incômoda em seu peito retornasse, mas daquela vez a história contada por Caly fez com que a parte sistemática de seu cérebro voltasse a funcionar. Controlar pumas. Ela nunca ouvira sobre coisa parecida na Reserva. Seria uma habilidade oculta dos licantropos? Ou apenas uma coincidência. Pensou em perguntar à Caly , mas decidiu não causar suspeitas. Ao invés disso, seus pensamentos retornaram para o que atrapalhava seu sono nos últimos dias.

–--Caly, por que, Soren não tem vindo me visitar. Quero dizer...---Sam pigarreou. ---Me ver? Ele decidiu que não sou mais uma ameaça? É isso?

–--Ele não acha que você seja uma ameaça. Mas isso já tem algum tempo. ---Caly respondeu. --- Ele só está... ---Sam notou a hesitação. ---Ocupado. Alguns problemas da alcateia. Raniah é o líder e todos o respeitam, mas Soren é seu braço direito e, normalmente, realiza a maior parte das tarefas que exigem confiança de Raniah. Você senta falta dele, não é?

–--Não. ---Sam agradeceu por estar escuro, pois estava corando. ---Acho que ele se tornou um amigo. E um defensor.

Sam decidiu que Caly lhe contava a verdade e, secretamente, esperou que Soren a visitasse o mais rápido possível. Nunca iria admitir para ninguém, mas sentia falta dele. De uma forma confusa e inusitada, ele se tornara seu amigo e sua presença a acalmava, mesmo que não a tenha ameaçado nas últimas semanas.

–--Relaxe. Ninguém mais está preocupado com você. Não conheço ninguém, além de Oscar, que tenha raiva de você. Alguns tem medo, é claro. Você é da Reserva e já provou várias veze que é perigosa e não tem nada de fraca. Mas nosso problema agora não é mais você. Raniah e a alcateia está tendo maiores problemas com os Nômades.

–--Quem são os Nômades? ---Sam perguntou curiosa.

–--Ah...acho que não tem problema te contar isso. Mas não deixe que ninguém descubra que você sabe, tudo bem?

–--Pode deixar. Ficarei calada.

–--Os Nômades são outra alcateia. Ela é maior que a nossa e está nos ameaçando. O líder deles, Licaon, é um porco sádico que odeia Raniah. Eles estão ameaçando nos atacar a algum tempo, e Ran e Soren estão tentando resolver isso. É por isso que ele não tem te visitado.

–--Mas porque essa alcateia quer atacar vocês?

–--Competição. Licaon gosta de ter um exército ao seu lado para o caso se encontrar uma tropa ou Reserva qualquer, sabe? Além disso, Soren não me diz se é verdade ou não. Mas tenho ouvido boatos de que Raniah já fez parte desta alcateia e que fez algo que não deixou Licaon feliz. É tudo o que sei. Eles não contam nada para nós. Não querem nos assustar à toa. Estão tentando resolver isso pacificamente.

–--E se não conseguirem? ---Sam perguntou.

–--Guerra. ---Caly respondeu e sua voz falhou na última sílaba. ---Ainda bem que temos você, não é?


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Notas finais do capítulo

Vou aproveitar esses poucos dias para adiantar um pouco a história e diminuir ou atrasos, mas não posso garantir nada.
Espero que tenham gostado! E Feliz Ano Novo pra vcs!!



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