Contagem Regressiva escrita por Beatrice


Capítulo 19
Capítulo 18: A imprudência cobra seu preço


Notas iniciais do capítulo

E aí, gente o/ Como estão?
Muuito obrigada mesmo a quem comentou no capítulo anterior, vocês são incríveis ♥ E obrigada também a todos que leram, e quem começou a acompanhar agora: seja muito bem-vindo!

Eu não ia postar tão cedo, mas queria que vocês vissem logo esse capítulo hahaha. Ele contém um flashback importante e já começa a explicar algumas coisinhas ;) Espero que gostem e tenham uma boa leitura!



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Seguiram em silêncio por todo o caminho.

Jason não sabia o que falar, tampouco queria deixar Rebeca mais preocupada com suas perguntas. O único som que chegava a seus ouvidos era o motor do carro funcionando, pois até mesmo o rádio estava desligado. A estrada estava quase vazia àquela hora da madrugada.

Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto de Rebeca, mas ela se manteve quieta. Ficou olhando pela janela o lado de fora, enquanto segurava com uma das mãos o colar que Serena lhes dera. Jason sentia o coração apertar ao vê-la daquela forma, mas não se intrometeu.

Havia colocado o seu próprio colar, e finalmente pôde ver o pingente. Eram idênticos: um pequeno pássaro de cobre com as asas abertas e uma grande cauda. Parecia estranhamente familiar, mas não conseguiu lembrar exatamente de onde o reconhecia.

Manteve os olhos pregados na estrada a sua frente, e dirigiu não soube por quanto tempo, imerso em suas próprias dúvidas. Não acreditava que estava levando Rebeca junto consigo para... nem mesmo ele sabia para onde estava indo. Tentara esconder os sonhos dela por meses, talvez com a esperança de que, se ela não soubesse, corresse menos perigo, e agora os havia revelado.

No primeiro dia em que fora a Yale, tomara um susto tão grande ao ver Rebeca pessoalmente pela primeira vez que o coração quase saltara do peito. Nunca esqueceria que apenas se aproximara para ver se ela estava bem após quase ser atropelada por uma moto – uma brincadeira irônica e sem graça do destino, como se quisessem relembrá-lo de que ela sempre morria.

Mas, naquele momento, ela estava bem, e havia sorrido para ele. Jason mal acreditou que depois de catorze anos conseguira conhecer a garota que aparecia em seus sonhos desde o acidente. Reconhecia seus traços melhor do que reconhecia os seus próprios. Havia desenhado cada um deles dezenas de vezes. As maçãs do rosto eram altas, o nariz era fino e um pouco arrebitado, os lábios bem delineados... Sabia até mesmo o modo como eles se curvavam quando ela sorria.

Estava determinado a não deixar que os sonhos se tornassem reais. Faria o que fosse preciso para manter Rebeca segura.

Seu estômago se embrulhou ao imaginar o que os aguardava. Os avisos de Serena reverberavam em sua cabeça, deixando-o ainda mais nervoso. Em breve alguém aparecerá para explicar tudo como deve ser feito. Esperem por ele. Se era a mesma pessoa que arremessara o bilhete por sua janela mandando-o sair de New Haven, mal podia esperar para conhecê-lo e acertar seu rosto em cheio com um soco por toda a porcaria que jogara em sua vida.

Quando, por fim, estacionou em um motel de beira de estrada, o sol já estava nascendo. Jason não fazia ideia de que cidade estavam; apenas seguira em frente sem prestar atenção às placas. A princípio, havia pensado em ir para a mansão de seu avô em Allentown, mas desistira disso. Se tinha de ir embora, não iria para um lugar tão óbvio como aquele.

Desceu do carro junto com Rebeca, que já havia parado de chorar. Pegaram as bagagens no porta-malas e as arrastaram até a recepção. Alugaram um quarto para descansar e trancaram a porta ao entrar.

— Deveríamos dormir um pouco — sugeriu Rebeca com a voz embargada. — Depois podemos discutir o que fazer e para onde ir.

Jason apenas assentiu e foi pegar nas mochilas alguma roupa confortável quando a viu fazer o mesmo. Virou-se de costas para lhe dar mais privacidade e só voltou a encará-la quando ouviu o som das malas sendo levadas até a parede para abrir espaço.

Havia somente uma cama de casal no quarto. Rebeca puxou as cobertas e olhou para Jason.

— Vem cá — chamou, fazendo um aceno com a cabeça.

Jason se acomodou ao lado dela. Ela se aconchegou ao seu peito depois de tirar os óculos e fechou os olhos. Ele a abraçou apertado, sentindo o cheiro de canela que exalava de sua pele e seus cabelos, querendo confortá-la para sempre. Rebeca tinha um aroma inconfundível, capaz de acalentar qualquer um.

Exausto, mas relaxado, foi assim que adormeceu quase instantaneamente.


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— Bom dia, flor do dia! Ou boa tarde, tanto faz.

Jason piscou os olhos antes de abri-los ao acordar abruptamente com a voz de Rebeca, animada ao extremo. O rosto dela foi a primeira coisa que viu, tão perto e sorridente que parecia que ela havia pulado na cama para acordá-lo. Direcionou o olhar para a janela e descobriu que o sol estava se pondo, o que significava que dormira no mínimo doze horas.

Resmungou algo que acho ser um bom dia para Rebeca, mas nunca se sabia o que poderia sair de sua boca logo após acordar. Ele poderia estar dizendo “Estou com hemorroidas” que jamais saberia. Não que estivesse com hemorroidas; foi meramente um exemplo ilustrativo.

— Ah, qual é a dessa cara de sono? — Rebeca perguntou, afastando-se minimamente. — Até parece que dormiu pouco.

— O que deu em você? — Jason indagou, esfregando os olhos para espantar o sono.

— Tenho novidades — ela respondeu com um sorriso orgulhoso de si mesma. Jason se sentou na mesma hora. — Agora você se anima, não é? Tome, pegue isto.

Jogou um lanche e uma garrafa d’água no colo dele e foi pegar seu notebook. Jason queria protestar dizendo que não estava com fome e só queria saber o que ela havia descoberto, mas sua barriga roncou de forma comprometedora.

— O que você achou? — resolveu perguntar enquanto mordia um pedaço do lanche.

— Para começar, sei o que aquelas coisas que nos atacaram ontem são. — Ela mostrou uma imagem na tela com as duas criaturas idênticas da noite anterior. Estavam esculpidas em um vaso, e tinham os pescoços de cobras entrelaçados. — São serpopardos, uma mistura de serpentes e leopardos como já deve estar óbvio.

— Nossa, não tinha um nome melhorzinho não? — Jason indagou distraidamente, tomando um gole da água.

Rebeca revirou os olhos.

— Enfim, eles são monstros da mitologia egípcia. Pesquisei mais um pouco sobre eles, mas não há nada que mostre qualquer ligação com os números que você vê, nem nada mais do que já aconteceu até agora. Apareceram lá do nada.

— Isso é ótimo, ter mais um beco sem saída nas mãos — Jason disse amargamente. — Você sabe para que servem esses colares que Serena nos deu?

Rebeca balançou a cabeça e fechou o notebook.

— Ainda não, mas estou trabalhando nisso. — Remexeu no pingente por um momento, baixando o olhar. — Eu nunca sequer desconfiei que elas pudessem saber de alguma coisa. Mas, olhando agora... A maioria dos artesanatos que Serena faz são para proteção, e esses ela nunca vendeu. Até mesmo a Nilza com aqueles incensos exagerados.

— Você não tinha como imaginar — Jason tentou consolá-la. — Nenhum de nós tinha.

— É, bom, de qualquer forma eu tenho sim uma novidade sobre eles. Pode ser só coisa da minha imaginação, mas não é o mesmo pássaro que está pintado em um quadro na casa do seu avô? Aquele que ele disse ser o favorito.

— Então é daí que me parecia familiar! — Jason exclamou. — Mas isso significaria que meu avô também tinha uma participação nisso tudo.

— Sim, e pode ter sido por isso que... — ela não completou.

— Que o mataram — ele falou no lugar.

— É. Mas as novidades param por aí — Rebeca disse com uma careta. — Só nos resta continuar pesquisando para achar mais alguma pista.

— Serena disse que alguém viria nos visitar para explicar tudo — ele a lembrou. — Espero que venha rápido.

Rebeca assentiu, meio perdida em pensamentos. Então, decidiu desabafar com um suspiro:

— Você devia ter me contado sobre os sonhos antes.

Embora não houvesse raiva em seu tom, Jason se sentiu como um réu no tribunal.

— Sinto muito — falou. — Eu... eu não sabia como contar. Quero dizer, já é bizarro o suficiente eu ver esses números, eu não sabia como você reagiria se eu contasse dos sonhos também.

— Para ser honesta, nem eu mesma sei como reagir ainda — ela confessou, suspirando. — Eu gosto de viver e quero continuar fazendo isso. Não é legal quando seu namorado de conta que vê você sendo morta pelos últimos catorze anos.

— Também não é legal ser o namorado que dá essa notícia — Jason disse com um meio sorriso.

Aquilo era o que mais gostava em Rebeca: não havia problemas em conversar com ela. Era sempre fácil e leve, e ela era uma das únicas pessoas que não o fazia sentir medo antes de dizer alguma coisa. Estava acostumado com olhares tortos de médicos e até mesmo de outros pacientes. Rebeca nunca o olhara com rejeição.

— Eu achava que namorar era só receber umas flores e assistir a um filme água com açúcar junto com outra pessoa, mas olha onde estamos agora — ela comentou.

— E eu só estou feliz por ter saído do hospício — Jason desabafou. — Acredito que estar livre do lado de quem eu gosto é melhor do que ficar trancafiado em um quarto.

— Achei que nunca fosse ouvir você falando algo positivo — Rebeca brincou.

Ele riu, após o que voltou a terminar a sua comida. Rebeca buscou algum objeto dentro da mala por um momento, procurando no meio de todos os seus pertences, e finalmente tirou um pequeno porta-retrato retangular, que ficou observando por longos minutos em completo silêncio.

Espanando os farelos de pão da calça, Jason se aproximou dela com cuidado ao notar seu olhar nublado, quase pesaroso.

Espiou por cima de seu ombro a foto. Era ela alguns anos mais jovem, fazendo careta enquanto abraçava um rapaz pouco mais velho que sorria divertido para a câmera. Tinha os cabelos loiros e barba rala, além dos mesmos olhos verdes que ela.

— Quem é? — Jason perguntou de forma gentil, ainda que curioso. Podia ver pela expressão de Rebeca que era um assunto delicado.

— Ele é... — Ela parou a tempo e engoliu em seco. — Era — corrigiu-se — meu irmão. Sabia que Serena tinha mandado essa foto na mala.

Jason pousou sua mão na dela.

— O que aconteceu?

Mas Rebeca se afastou do contato, depositando o porta-retrato na mesinha de cabeceira.

— É uma longa história.

— Você não quer contá-la?

— Você não quer ouvir — ela afirmou.

— Quero, sim — pediu Jason. Não pela primeira vez, percebeu que não sabia quase nada sobre a vida de Rebeca, enquanto ela sabia tudo sobre ele. Sentia uma vontade enorme de conhecê-la melhor, saber seu passado. — Me conte sobre você.

Ela hesitou por tanto tempo que ele começou a achar que ela não falaria mais nada. Jason aguardou. Não iria obrigá-la a falar, até porque também escondera várias coisas durante meses. Entenderia se não recebesse uma resposta.

— Eu cometi muitos erros, Jason — disse Rebeca por fim. — Fiz coisas erradas. Não quero que você me julgue.

— Eu nunca vou te julgar — ele assegurou, e era a mais pura verdade. Não era ninguém para fazer tal coisa, nem tinha esse direito com um passado como o seu. — Nunca pedi para que fosse perfeita.

Ela o fitou intensamente.

— Você me perguntou por que eu não falo mais com meus pais. Tem a ver com o que houve com o meu irmão.

Então Rebeca começou a contar.

— Eu e minha família nunca tivemos muito dinheiro. Mal tínhamos o suficiente para passar o mês, mas eu não ligava tanto para isso. Se estivéssemos juntos, para mim estava tudo bem. Meu irmão e minha mãe também pensavam dessa forma e eu cresci assim. O problema era meu pai. Ele era obcecado por dinheiro, só se importava com isso, até chegar um ponto em que a falta chegou a consumi-lo.

Ainda se lembrava dessa época. Era adolescente quando o pai começara com a bebedeira e com o cigarro. Saía de manhã e voltava tarde da noite, completamente fora de si berrando frases sobre como Rebeca e Tristan haviam estragado sua vida e a mãe deles não fazia nada para ajudar. Chegava a ser violento certas vezes, arremessando cadeiras e quebrando louças.

— Tudo o que vocês fazem é me trazer dívidas e mais dívidas! — ele gritava. — Queria ver se não fosse eu a sustentar essa casa, todo mundo estaria na rua e ninguém me agradece por isso!

Tristan já era bem mais velho quando saiu de casa. Arranjou um trabalho e mudou-se para um apartamento pequeno e barato no centro da cidade.

— Eu não queria envolvê-lo nas nossas vidas de novo — explicou Rebeca a Jason. — Por isso nem eu nem minha mãe pedimos dinheiro emprestado, já que ele mal tinha para si mesmo. Só que as dívidas começaram a aumentar. Então eu resolvi me intrometer.

Tinha 17 anos quando descobriu algo para ajudar em casa. Nos arredores da cidade e na região, havia corridas de carro ilegais que aconteciam periodicamente. Rebeca não pensou duas vezes antes de começar a participar delas para ganhar dinheiro.

— E acontece que eu era a melhor. Convenhamos, quantas vezes você vê uma garota sendo a melhor pilota nessas corridas? Além disso, eu era a única. Comecei a ficar famosa, era praticamente a atração principal, em quem todas as apostas eram colocadas. As pessoas iam até lá só para me ver, e a cada corrida eu ganhava mais.

Rebeca respirou fundo, tomando coragem para continuar. Seu olhar estava perdido no tempo, passando por todas as memórias.

— Fiz isso por aproximadamente um ano e as coisas em casa se estabilizaram. Eu dizia aos meus pais que estava trabalhando, eles não faziam ideia da verdade. Mas as corridas ficavam mais perigosas conforme os dias passavam. Era mais gente participando, pessoas agressivas, e as apostas corriam soltas, cada vez mais altas, até que o encarregado começou a adicionar obstáculos nas pistas.

Rebeca ganhava todas as competições. Seu amigo era o único que sabia o que ela fazia, e no dia da corrida mais esperada do ano a convenceu a parar com aquilo. Nunca havia aceitado a situação muito bem por ser perigoso, mas ela não lhe dava ouvidos.

— Beca, por favor, você tem que parar — a voz dele ainda era clara em sua mente quando se lembrava do dia. — É muito perigoso. Eu te ajudo com o dinheiro. Faço qualquer coisa por você, te ajudo a passar por isso, mas por favor, pare com as corridas.

Ela hesitara. Odiava o que fazia, mas prosseguiria com aquilo o tempo que fosse necessário se sua mãe estivesse bem.

— Só mais esta noite — dissera. — Se eu ganhar esta, nunca mais vou precisar correr de novo com o prêmio que estão oferecendo. Só mais hoje e eu juro que vou parar.

E foi naquela noite que tudo dera errado.

No meio da corrida, a polícia aparecera e invadira o local. Rebeca ainda tentou fugir por estar com o carro roubado, mas acabou batendo em um poste ao ser interceptada. Foi presa e levada à delegacia para esperar pelos pais. Seu pai teve de desembolsar praticamente tudo que tinha para pagar sua fiança. Quando voltaram para casa, ele explodiu:

— Tudo o que você faz é merda atrás de merda! — berrou. — Olha no que você se meteu! Jogou tudo que sua mãe e eu investimos em você no lixo! O que é que você está pensando da vida, garota?

— Como se você realmente se importasse! — Rebeca gritara de volta, com lágrimas de raiva e vergonha manchando o rosto. — Você está pouco se ferrando pra o que eu faço ou deixo de fazer, só se preocupa com a merda do dinheiro! Pra você seria melhor se eu tivesse morrido na estrada.

— Beca, não diga isso... — sua mãe tentou intervir.

— Você nunca me agradeceu pelo que eu já gastei com você — seu pai tornou a bradar, vermelho de ódio. Parecia prestes a bater nela. — Só me traz mais problemas a cada dia que passa!

— Ótimo, então pare de se importar comigo! Eu não quero sua atenção, não quero mais nada de você! Você nunca foi um pai de verdade pra mim!

— Então vá embora, Rebeca! Vá embora dessa casa, porque ninguém mais te quer aqui. De um jeito ou de outro você só faz todo mundo sofrer!

Com a vista embaçada pelas lágrimas e os protestos da mãe, Rebeca correra até o quarto para jogar tudo em uma mochila e partir. Se não a queriam ali, ela não ficaria. Estava cansada de toda aquela gritaria, das acusações, de tudo. Pegou a mochila e saiu da casa.

— Rebeca, espere! — sua mãe a chamou, correndo atrás dela.

— Vem comigo, mãe — ela implorara, desesperada. — Vamos embora daqui, você não precisa ficar com esse babaca. Eu posso dar um jeito. O Tris tem um apartamento, podemos ficar lá alguns dias...

— Não, querida — ela negara, abraçando-a. Seu coração se quebrou naquele momento. — Vá embora e viva sua vida. Quero que você seja feliz a todo custo, não importa o que faça. Nunca mais volte.

E Rebeca partira, mas não tinha para onde ir. Pegou o celular e tentou ligar para seu amigo, mas ele não atendia. Perdeu as contas de quantas vezes ligou e mandou mensagens, rezando para que ele atendesse. Uma chuva torrencial começou a cair e, sem rumo, desesperada e sozinha, ela acabou em um bar.

Horas mais tarde, já estava mais bêbada do que todos ali. Tinha o rosto escondido entre os braços no balcão, os olhos fechados. Estava quase caindo no sono ali mesmo quando ouviu alguém dizer:

— Becky?

Havia somente uma pessoa no mundo inteiro que tinha permissão para chamá-la por aquele apelido. Ergueu a cabeça tão subitamente que ficou prestes a desmaiar quando o bar girou trezentos e sessenta graus.

— Venha comigo, vou te tirar daqui — disse Tristan, seu irmão, passando um braço dela por seus ombros para apoiá-la.

— Não, hic, eu quero ficar — ela replicou entre um soluço, grogue, tentando se desvencilhar, mas ele a segurou.

— Não vai ficar aqui, você não está bem.

Rebeca resmungou qualquer coisa, reclamando que queria ficar, mas Tristan a levou até seu carro e a colocou no banco do carona junto de sua mochila.

— Por que eu estou molhada? — ela perguntou com a voz engrolada. — Eu não tomei banho.

Ele a ignorou após dar a partida, mesmo com a chuva forte que caía.

— O que aconteceu com você?

— Eu bebi umas coisas que me ofereceram — Rebeca falou vagamente, encostando-se no banco ao sentir o sono chegar. — Até que era gostoso, me fez esquecer a... — Ela riu. — Essa é a parte boa, eu não lembro do que me esqueci. Acho que essa era a intenção.

Tristan balançou a cabeça e pôs o carro em movimento.

— Vou te levar para minha casa e amanhã você me conta o que realmente aconteceu.

— Eu não quero ir para a sua casa — ela fez birra, tirando o cinto de segurança. — Quero ir embora da cidade. Me leva embora, Tris. Eu não gosto daqui.

Ele não respondeu. Ficou concentrado no caminho, já que mal podia ver através da cortina de água que se derramava. As rodas do carro derrapavam pelas ruas molhadas, e mal enxergava os sinais do semáforo.

Foi numa confusão de buzinas que outro carro surgiu e cruzou seu caminho, forçando Tristan a desviar para evitar uma colisão. Porém, seu próprio carro escorregou e não parou a tempo de evitar a batida contra um muro.

— Eu não estava com o cinto — Rebeca terminou sua narrativa. — Não sei como sobrevivi. Disseram que foi um milagre. Quando a ambulância chegou, eu estava desmaiada ao lado do carro apenas levemente ferida, e a porta do carona estava aberta, mas eu não me lembro de nada. Só de acordar no hospital e receber a notícia de que não haviam conseguido salvar meu irmão. Eu fui embora assim que recebi alta e nunca mais falei com meus pais.

O quarto foi mergulhado em um silêncio profundo quando Rebeca parou de falar. Seus olhos estavam vermelhos, mas ela não chorava. Jason não sabia como reagir, nem se deveria falar alguma coisa ou apenas esperar para ver se havia algo mais que ela gostaria de contar. Seu passado esclarecia por que ela não bebia nada alcóolico e por que reagira daquela forma na formatura quando ele a chamara de “Becky”.

Como Rebeca não se mexeu, ele a abraçou delicadamente. Imaginou que aquele gesto poderia valer mais do que alguma frase bonita. Estava em parte feliz por saber mais sobre ela, em parte triste pelo que acontecera a seu irmão.

De repente, uma lembrança cutucou sua mente e ele se viu impelido a falar.

— Beck, eu sonhei com isso.

Ela levantou a cabeça imediatamente.

— Com o quê?

— Esse dia — ele explicou. — Com o acidente. Eu... eu vi vocês no carro e o vi batendo, mas... — Franziu as sobrancelhas, como que para ter certeza de que a memória estava certa. Fazia anos desde aquele sonho em específico, mas era difícil se esquecer de algo tão marcante. — Foi a única vez em que você não morreu.

— Mas... Caramba, o que isso significa? — Rebeca perguntou para o ar, frustrada. Depois balançou a cabeça. — Tudo bem, vamos ter paciência e esperar por essa pessoa que vai nos explicar tudo. Por enquanto, tudo que podemos fazer é decidir para onde vamos agora. Quanto mais longe, melhor.

— Que tal o próximo motel que não fique a mais de seis horas de distância? — Jason sugeriu, já cansado só de imaginar ter de dirigir por tantas horas.

— Contanto que paremos para comer alguma coisa decente...


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Notas finais do capítulo

Eu tentei mesclar o flashback com a narração da Rebeca, mas se algo ficou confuso não tenham medo de me dizer para que eu possa arrumar, ok?
Mas então, o que acharam dessa história? Finalmente pudemos conhecer um pouco mais sobre ela *-* E já dei algumas pistas do que vai ter nessa história haha. Contem-me suas opiniões, teorias, estou aberta a tudo. Não fiquem com vergonha de comentar, gente! Eu adoro saber o que vocês estão achando ^^



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