Existe sempre uma história que desperta nossos piores e mais profundos medos. Medos que você nem esperava existir. Eu vou contar uma história assim. Escute, e tente não temer pelos seu segredos.

Anos atrás, uma garota andava despreocupada pela rua, e sem razão aparente, uma faca atravessou seu rosto pequeno e delicado.

Ela não queria estar morta. Sabia que estava morta, mas não queria estar. Tentou esconder, tentou realmente esconder, mas com o tempo foi se tornando impossível. Sua morte era o seu maior segredo. Ela encobria seu mau cheiro com perfumes e colocava perucas para cobrir sua cabeça agora careca, pois seus cabelos caiam e caiam.

O peso do segredo a sufocava, e a faziam tremer só por pensar naquilo. Ela um dia por fim, contou para sua melhor amiga que estava morta.

No dia seguinte, enquanto tentava novamente encobrir seu mal cheiro, uma batida na porta a assustou. Abriu-a, e encontrou sua melhor amiga e parentes ali. Eles a seguraram enquanto a garota se debatia, e acabaram por a levar para um cemitério distante. Cavaram uma cova e a enterraram ali.

Com o ódio substituindo o sangue que a muito tempo correrá pelas suas veias, a garota saiu da cova, sem se preocupar com seu mal cheiro e com sua cabeça pelada. Andou por toda a cidade, e encontrou a casa da menina que um dia pensou ser sua melhor amiga. Abrindo a porta com um estrondo, a morta-viva pegou uma faca, e caçou a menina. Entrou em seu quarto, e a enforcou com o travesseiro, logo depois, com a faca, abriu um longo talho pelo seu corpo.

O sentimento de vingança foi substituído por uma dor da perda tão grande, que ao lado da sua melhor amiga, a garota aceitou que não era mais uma pessoa viva. E pegou a faca, dando um fim eterno ao seu coração que insistia em não bater, porém em continuar vivo.

Segredos. Cada um pode causar desfechos tão trágicos. Horríveis. Segredos são feitos para ser guardados. Tema por eles.

Olhei para os meus primos assustados que tremiam diante o que havia contado. Eu não havia me assustado. Eu havia comparado histórias.

Segredos. Eu guardo tantos.

A televisão está ligada. Está mostrando imagens minhas dando um escândalo ao lado do corpo de Lúcia. Meus primos se viram, e Mateus me pergunta, com uma vozinha doce.

– É você?

Uma lágrima que tento impedir, escorre pelo meu rosto.

– Sim. Sou eu Mateus.

Ele coloca a mãozinha gelada e macia no meu ombro, tentando me reconfortar.

Eu estaria mentindo se falasse que não sinto falta dela. Lúcia deixou lembranças fortes e um pedaço que falta em mim. Mas não me arrependo. E o pior:

O desejo de matar novamente, agora me consome.

Ver os olhos de uma pessoa e sua pele perder a cor. Gravar suas últimas palavras. Me sinto uma sínica. Mas o desejo me corroí.

Preciso encontrar um jeito de acabar com ele.

Nem que seja da pior maneira possível; o saciando.