Nas suas lembranças escrita por dayane


Capítulo 10
Capítulo 10




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Carlos me obrigou a esperar por ele no hall de entrada enquanto ia buscar Rusk. Eu tinha negado fielmente a possibilidade de ir até o apartamento dele, mas a possibilidade de ver Rusk era sedutora demais para negar.

Assim que me viu, o pequeno vira-lata correu em minha direção saltando sobre minhas pernas e implorando por carinho. Fiquei brincando com Rusk até o momento em que ir para a rua tornou-se mais sedutor, ao pequeno cachorro, do que ficar brincando comigo.

Juntos, nós três, caminhamos calmamente. Carlos e eu trocando palavras quaisquer sobre assuntos banais. Algumas vezes ele questionava sobre minha vida, descobrindo que eu havia mudado de emprego e que estava pensando em começar uma nova faculdade.

– Já se formou? - Ele perguntou assustado. E quando eu disse que fazia mais de um mês que eu tinha recebido meu certificado, Carlos demonstrou amargo arrependimento por não ter dado atenção a mim. - Eu odeio quando a vida de meus amigos parecem mudar da noite para o dia, sendo que na verdade eu que estive ausente.

Era verdade, Carlos estava sempre ausente, ausente em interesse por minha vida. Eu acreditava que era a única que sofria disso.

Acreditava, mas na verdade temia que Carlos fosse tão indiferente aos melhores amigos quanto era comigo.

Sempre achei fascinante pessoas que demonstram prazer pelas novidades dos amigos. Que escutam e debatem sobre o assunto como se não tivessem nada de melhor a fazer. Carlos foi assim comigo, no começo, antes de ir à Chicago. E também parecia ser assim com Daniel e com João.

– Tem visto Daniel e João?

– Não muito. - Ele respondeu. - Muito trabalho, pouco tempo.

– Entendo. - Não eu não entendia. Como pode uma pessoa ser tão importante para si? Por qual motivo alguém se entupiria de trabalho? - Mas pelo menos sai com alguém, né?

Os olhos dele correram para mim. Mesmo querendo esconder, pude ver que Carlos questionava o motivo daquela conversa. Ele caçava a armadilha, como se eu estivesse montando uma vingança cruel e humilhante.

– Quando sobra tempo.

Lhe sorri.

– Ufa. Achei que você tinha se tornando um viciado em trabalho. - Ainda desconfiado, Carlos gemeu a resposta monossilábica.

Há pessoas que vivem para si. E eu conseguia ver que, na verdade, Carlos era um menino bobo, acreditando que, na vida, as pessoas lhe seguirão por toda a eternidade. Talvez ele não saiba, mas até mesmo grandes amizades se gastam. Acabam quando ambas partes, se interessam pela vida de um só.

E eu senti pena de Carlos. O doce e brilhante Carlos, que agora se tornava amargo e sem graça.

– Podemos parar um pouco no parque? - Ele perguntou.

Eu o olhei e depois movi meus olhos para a direita. Ao meu lado estava um parque bem cuidado, que permitia a entrada de animais, desde que devidamente acompanhados e que o dono recolhesse as sujeiras do animal.

– Tudo bem.

Caminhamos um pouco, fizemos Rusk correr atrás de uma bolinha e depois, quando a brincadeira perdeu a graça, tomamos sorvete de frutas, sentados sobre o gramado bem aparado – Carlos comprou um sorvete para Rusk, mas antes tomou a metade dele.

Eu respirei fundo, sentindo o prazer do cheiro típico de um gramado recém cortado. Rusk adormeceu sobre meu colo, aquecendo minhas pernas. Ao meu lado, Carlos arrancava alguns fios de grama que ficaram maior do que deveriam estar. A conversa não fluía. Ele até que tentava me agradar, questionando peculiaridades de minha vida, mas acabávamos caindo em em seu universo perfeito e cheio de novidades.

Eu sentia falta daqueles momentos em que conversávamos sobre filmes e series. Das conversas sobre jogos que eram lançados para diversas plataformas e das novas músicas. Sentia falta de me sentir próxima a Carlos.

– O livro deve sair mês que vem.

– Bom. - Comentei.

– Quer ir no lançamento? Vamos colocar diversos escritores iniciantes e o pessoal de revisão e tradução estarão lá, também. - Carlos me olhou esperançoso. - Quem sabe você não conhece mais pessoas?

Eu torci meus lábios.

– Agradeço.

– Vamos Paula! Eu que deveria estar fulo com tudo o que aconteceu!

– Oi?

– Certo, você deve achar que sou trouxa, mas não sou! Eu percebi que você está se mantendo afastada.

Acariciei o pelo de Rusk e o removi de meu colo. Rusk acordou e tentou voltar ao lugar onde estava, mas rapidamente me ergui. Carlos e eu estávamos assistindo nossa amizade se definhar. Assistindo e contribuindo para que o processo fosse mais rápido.

Ele estava desconfiado e eu acoada. E sem perceber, aquela aproximação só estava nos afastando.

– Posso não querer ir por diversos motivos. Mas não ache que você seja um deles. - Limpei minha calça e peguei minha bolsa - Há poucas pessoas que gosto. - Partir não doeu. Se ele sentia tal distancia, talvez devesse começar a olhar os próprios defeitos.

***

No dia seguinte, fui acordada as seis da manhã. Carlos me ligava insistentemente.


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